"Se se pretende educar uma população
e elevar o nível da sua consciência ética e cívica,
há que fazê-la governar por pessoas competentes
e de reconhecidamente elevada qualidade humana:
não, nunca, por tugas
elementares que,
nada tendo de excelente, devemos tratar por Excelência
apenas por serem amigos de alguém democraticamente eleito"
1. A Política e a Vital Importância
da Comunicação
2. A Comunicação
Política em Tempo de Pandemia
3.
Do Desempenho do Segundo Mais Alto Magistrado da Nação
4. O Bombo da Festa
5. As Contradições de Odemira
6. Inabilidades Avulsas na Comunicação
7. O Primeiro Responsável pela Governação
8. O Estado da Nação
1. A Política e a Vital Importância da Comunicação
Todos dependemos, em menor ou maior grau, do Estado em que estamos
imersos. Literalmente imersos,
em certos casos quase afogados; e tanto maior é o mergulho quanto mais
impositivo é o Estado, mormente por via da muito justificada insegurança que
lhe incute a incompetência genética grudada a certos órgãos ditos
de soberania, em diversas épocas, sedes e áreas do governo ou da
administração.
Essa incompetência decorre, essencialmente, da abundância e da proliferação,
nos mais diversos lugares, de indivíduos oportunistas, ambiciosos, gente de
defeituosa formação profissional e, sobretudo, humana, políticos feitos à
pressa, abundância essa que fortemente contrasta com a escassez de pessoas
devidamente formadas, educadas e, sobretudo, com aquele verdadeiro espírito de
missão que, ingenuamente, alguns de nós ainda acabam por, ingenuamente,
associar às coisas da governação.
A insegurança endémica - impossível de erradicar de militantes desnorteados
que, uma vez eleitos deputados, certos partidos destacam para altas funções
governativas -, leva os partidos aos quais incumbe governar a, cada vez mais,
querer estar presentes onde não são chamados, a intrometer-se em aspetos do
foro privado ou familiar de cada cidadão, nas decisões mais corriqueiras da
vida quotidiana e, no plano público, em tudo quanto lhes parecer suscetível de
dar visibilidade e de fazer os governantes e os Partidos que os lá poem
parecer indispensáveis e insubstituíveis, na ilusória crença de que essa
aleatória e tonta azáfama os ajudará a ganhar cada próxima eleição.
Crença ilusória, porque, da verdade indiscutível de não ser possível governar
sem comunicar resulta, inevitavelmente, ser impossível governar bem sem
comunicar bem; e resulta, também, que, quando se comunica mal, mesmo
que se governe mais ou menos bem, sempre o comum dos mortais ficará com a
ideia, certa ou errada, de que se está a governar pior do que, efetivamente,
poderá estar a acontecer.
Ocorre, assim, que a comunicação, verbal e não verbal, dos incompetentes e,
também, dos competentes que comunicar não sabem, acaba por se tornar,
progressivamente, tão insatisfatória que redunda, fatalmente, num efeito
desastroso que, seguramente, não explica o peso das intenções de voto que
sondagens certamente muito rigorosas e cientificamente elaboradas possam,
continuamente, assegurar a partidos aparentemente fadados à eternidade no
exercício das suas funções, e aos quais, embora nada tendo contra, cada vez
encontremos menos razões para agradecer.
2. A Comunicação Política em Tempo de Pandemia
Em política, não é verdade que o que importa é que falem de nós, mesmo que
digam mal de nós.
Muito pelo contrário, aplica-se a velha contrariedade atribuível à mulher de
César: para se ser, importa parecer, sobretudo quando nem se vislumbra
qualidade numa governação da qual todos os dias damos por nós a acreditar em
cada vez mais do muito mau que se vai ouvindo dizer.
Um bom exemplo poderá ser o que se passa no país da malograda Seleção das
Quinas, no qual a população se sente cada vez menos governada, mais baralhada,
menos tranquila e, sobretudo, muito pouco motivada a seguir leis e
recomendações, incluindo as de carácter sanitário, que nos convidam a usar
sempre máscara, a guardar distanciamento, a não apertar a mão e a aos
ajuntamentos dizer “Não!”.
A vontade de nos portarmos bem desvanece-se, nomeadamente, quando, num cenário
de emergência sanitária, a comunicação foi, durante longo tempo, assegurada
por
um sujeito a quem parecia restar apenas uma centelha de vida, como que
acabado de arrancar a um sono reparador*), e que, talvez incomodado por lhe ter caído o barrete de dormir,
ia soltando palavras entrameladas num arrazoado desconexo e lamuriento*), proferido perante audiências ávidas de estímulo, de segurança, de confiança
e de motivação para continuar a acreditar que, contra esta coisa da COVID,
valia a pena lutar.
Também não ajuda que uma senhora algo cambaleante, com o ar escanzelado e
idoso de uma rígida e implacável mestre-escola de antanho e de palmatória na
mão, discorra dias seguidos e horas a fio sobre temas sem novidades que o
sejam realmente, procurando, porventura, disfarçar a inutilidade do seu
desinteressante e ineficaz esforço comunicacional com
um desfilar de toilettes eventualmente apropriado a outras
ocasiões*), mas não quando, num tempo já muito sofrido, se trata de transmitir uma
imagem de concentração, de seriedade e de rigor no por ela trabalho
desenvolvido numa área fundamental.
No meio de muito disparate junto, o que dizer, então, de uma Direção-Geral
que, no início de um mês em que se realizava sessenta mil testes diários da
COVID-19, afirma que
o objetivo é chegar aos cem mil*) para, no fim do mesmo mês e em vez dos tais cem mil, os iniciais e
reais sessenta mil terem, ao invés, descido para menos de trinta mil? Claro
que, em alguma medida beneficiada por essa efetiva redução de testes, a
contagem diária de novos infetados lá acabou por cair para níveis muito
convenientes a quem pretendia, à viva força, desconfinar: quanto menos testes
se fizer, menos infetados se irá encontrar.
Agora, lançando novamente a confusão, vêm peritos dizer que é
necessário reforçar a vacina de toma única da Jansen, ao mesmo tempo que a
própria Farmacêutica garante que assim não é.
Que dizer, também de um INFARMED que, numa semana, muda duas vezes de opinião
quanto à perigosidade de determinada vacina, ao sabor daquilo que vai ouvindo
lá de fora, até parecendo que apenas pela televisão é informado, e mal?
Tudo isto numa área “onde, sem esquisita erudição, é melhor não tocar semelhantes matérias”.
Seria, também, imperdoável não referir aqui o fiasco dos fiascos, que à
República terá custado bom dinheiro:
quase toda a gente ficou sem saber como funcionaria a
Stayaway Covid *) – se funcionasse -, mesmo depois de essa milagrosa e indispensável aplicação
muito badalada ter sido nas televisões e nos discursos ministeriais, e de a
população se ver ameaçada com a devassa dos telemóveis e com a aplicação de
sanções a quem neles a não instalasse.
Da
Stayaway Covid, poucos meses decorridos e muitos milhares de euros
deitados fora, ninguém sabe o que é, já ninguém ouve falar.
Procurando trazer alguma humanidade à coisa, uma Ministra da Saúde de aspeto
jovem e aparentemente cheia de boas intenções – e que agora, ao que parece,
apenas sonha com o dia em que se irá embora -
dirigia-se às câmaras com a timidez de uma colegial na sua primeira e mal
preparada prova oral; e, até falando, por vezes, com as mãos atrás das
costas*), dizia, já no início de Março e perante uma audiência ávida de soluções, que
ainda era cedo para se perceber o que tinha acontecido… no Natal
passado. Isto, quando todos - menos, pelos vistos, a dita Senhora - há muito
sabíamos ter sido o facilitismo governativo que nos pôs a circular no Natal
por esse País fora, o que o vírus muito agradeceu.
- x -
Certo é ser obrigação de quem governa pronunciar-se sobre tudo aquilo que sai
da normalidade, já que o silêncio indevido deixa sempre a sensação de que se
considera estar o anormal dentro da normalidade.
Mas, deixar a esta gente tão mal preparada o cuidado de comunicar o que
deveria ser uma mensagem límpida e inequívoca, inspiradora daquela tão
necessária dose de confiança nestes dias vitais, apenas lança a confusão e
aumenta o descrédito de uma governação já de si trôpega, amadora, deixada à
sua sorte por quem tem, claramente, lá pela Europa demasiadas coisas em que
pensar, “a bem da Nação” desgovernada que por cá teve de deixar.
3. Do Desempenho do Segundo Mais Alto Magistrado da Nação
Se, como no Partido Socialista há quem pretenda,
a Assembleia da República é o coração da democracia*), cumpre, para que se mantenha saudável, livrá-la das gorduras, do
colesterol, o que se revela particularmente difícil quando é dirigida por um
histórico militante socialista constantemente chamado à atenção – pelos
vice-presidentes, pela secretária, e, até, pela dirigente da bancada do
partido a que pertence – pelo seu patente desconhecimento, do Regimento, e
pelas consequentes irregularidades na condução dos trabalhos do plenário,
deixando a ideia de que muitas mais seriam se não fosse o diligente desempenho
de quem o assessora em tão altas funções.
Talvez por tudo isto já poucos lhe liguem, no Parlamento, quando, esgotado o
tempo, os manda calar...
Além do mais, essa importante figura do Estado arrasta-se, literalmente, nas
cerimónias públicas em frente às câmaras de televisão e apresenta, no
Parlamento, um ar permanentemente exaurido, por vezes bufando o ar num gesto de
enfado que podem alguns confundir com boçalidade e falta de educação, o que não
ajudaria no que se refere à eficácia da parlamentar comunicação.
Depois, diz coisas, profere apartes e desabafos que mais valeria guardar para
si, como é o caso do
último mimo que acabou por fazer com que ficasse apeado em Lisboa,
tal como o Presidente da República*), tendo antes um infeliz ministro sido enviado a Sevilha para ficar associado
ao desaire da nossa também enfadada Seleção.
Sendo a pessoa bem conhecida e tudo isto há muito sabido – além do facto de se
estar a, digamos,
marimbar para o segredo de justiça*) e com este, quem sabe, para outros pilares do funcionamento da
democracia e do Estado -, não poderemos deixar de nos questionar sobre as
verdadeiras razões na base da eleição do dito militante para um segundo
mandato, depois de um primeiro que, com a qualidade do seguinte, dificilmente
poderia ter permitido, sequer,sonhar.
- x -
Que qualquer um possa candidatar-se a Presidente da República, assim se
correndo o risco de o mesmo qualquer um, ainda que iletrado, pouco educado e
intelectualmente pouco dotado, vir a ser eleito,
é um mal da Constituição para o qual já aqui chamei a atenção*).
Mas, sendo a segunda figura do Estado Português – teoricamente, pelo menos, já
que, por vezes, chega a parecer que é um certo ostensivamente abastado e
arrogante jogador de futebol -, o Presidente do Parlamento é eleito pelos seus
pares, supostamente mais letrados, educados e dotados do que a generalidade de
uma população para a qual saber dar uns toques na bola parece importar bem
mais do que estar apto a dirigir eficazmente o principal órgão legislativo da
Nação.
4. O Bombo da Festa
Não param os partidos, a imprensa, toda a gente de bater no monolítico
Ministro da Administração Interna, exemplo ímpar de fidelidade canina ao seu
amigo Primeiro-Ministro.
Nada empático, de ar sempre zangado e façanhudo, um dos governantes mais
essenciais à manutenção da ordem pública comunica pior que mal, movimenta-se
atabalhoadamente e aos arranques como um robot; tem, globalmente, uma
linguagem corporal que afasta, quase causa alergia e gera, seguramente,
estupefação.
Em situações para ele incómodas, responde de forma enviesada ou assobia para o
lado, como perante os inaceitáveis excessos a que assistimos nas comemorações
da vitória do Sporting na chamada Liga NOS; ou no caso do crime de ofensas
corporais extremamente graves cometido por elementos afetos a órgãos sob sua
administração e que levaram à morte de um cidadão estrangeiro, procurando,
neste caso, como em outros, justificar o injustificável com chavões proferidos
de punhos fechados e em tom mais adequado a um militante perorando num comício
perante a multidão, do que a um alto quadro do Estado desculpando-se pelas
suas imperfeições. Tempos depois, como o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras
o tinha deixado ficar mal, manda eliminá-lo, integrá-lo, o que a ato tão
ditatorial quanto irracional quisermos chamar.
A completa falta de aparência da mais ténue humanidade no caso do
atropelamento mortal de um funcionário da BRISA pela viatura oficial em que o
Ministro seguia, e a contradição entre versão oficial do Ministério da
Administração Interna (MAI) e a da Concessionária da autoestrada em que o
sinistro ocorreu,
não podem deixar de suscitar as maiores dúvidas quanto à eficácia política
da obstinação do Primeiro-Ministro em manter em funções tal personagem*). A menos, naturalmente, que mais ninguém de confiança
aceite ocupar o difícil lugar,
de má memória no que aos mais recentes titulares diz respeito*).
A viatura acidentada imobilizou-se a escassos metros da vítima, que ficou
mesmo ali ao pé, e não houve um momento da mais elementar humanidade que
impulsionasse o Ministro e sua companhia a precipitar-se para junto do
sinistrado.
O homem não só nem saiu do carro para ver o que se tinha passado – e não será
fácil imaginar qual teria sido a reação espontânea, em idênticas
circunstâncias, do Presidente da República… -, como não se interessou, mais
tarde, pela família da vítima. Até emitiu um comunicado sugerindo que seria do
próprio trabalhador vitimado toda a responsabilidade pelo sucedido; e, mesmo
quando convidado pelo Presidente a dizer alguma coisa que fosse, apenas
respondeu, perante as câmaras da televisão, com um seco: “Não! Não!”
A cereja no topo do bolo terá, porém, sido a afirmação da Guarda Nacional
Republicana (GNR) quanto ao facto de ter sido
impedida, por ordem superior, de efetuar, na viatura sinistrada,
todas as diligências de prova que entendeu necessária*) . Ora, sabendo-se quem é o superior hierárquico máximo da Guarda – o
MAI -, não será difícil adivinhar de onde terá vindo a ordem superior.
Que um político proeminente,
atolado até aos ouvidos em suspeitas de nepotismo*) - e que, provavelmente por isso mesmo, tenha sido convidado a não se
recandidatar a deputado – venha a terreno falar de
imoralidade para defender o dito ministro*), não será, talvez, a melhor forma de lhe limpar a imagem, também…
Se se pretende educar uma população e elevar o nível da sua consciência ética
e cívica, há que fazê-la governar por pessoas competentes e de
reconhecidamente elevada qualidade humana: não, nunca, por
tugas elementares que, nada tendo de excelente, devemos tratar por
Excelência
apenas por serem amigos de alguém democraticamente eleito.
Num outro episódio mediático, as conclusões, porventura precipitadas, a que a
generalidade da população parece ter chegado quanto à nomeação do cônjuge do
dito Ministro para um alto cargo de controlo e supervisão também não ajuda a
formar a tal imagem de isenção e idoneidade em que o exercício da soberania
deverá, desejavelmente, assentar. Mas, enfim,
dado que, por tanto terem as más-línguas falado de nepotismo, o cônjuge,
outrora Ministra teve de abdicar do lugar, é considerado normal e saudável
nesta nossa infeliz e manipulada democracia que, de alguma forma, o Partido
o houvesse de compensar*).
O que mais espanta é que, em plena audição parlamentar, o dito cônjuge,
questionado quanto a alguma entidade reguladora europeia ter como
administrador “um familiar direto de um ministro” – não “uma mulher” –, se tenha manifestado ofendido enquanto mulher e vítima de “tentativa de menorização” por “machismo e misoginia”, apenas tendo sido timidamente chamada a
sua atenção para o desfasamento da resposta relativamente à pergunta
formulada.
Trata-se de
mais um episódio de exploração notoriamente abusiva da estafada lengalenga
feminista para justificar o injustificável*), e para alguém se insurgir, como que por automatismo, contra um tema com que
não tinha sido confrontado.
Como se o que transparece do desempenho do Ministro não bastasse, por si só,
para lhe retirar toda a legitimidade substantiva para se manter no lugar,
faltava, para piorar as coisas, esta nova vertente familiar.
5. As Contradições de Odemira
Igualmente danoso para a imagem da governação não deixa de ser o facto de o
mesmo Ministro da Administração Interna se achar no direito de ordenar a
forças de segurança que irrompam à bruta, com armas e canídeos, por uma
propriedade privada a fim de dela o Estado tomar posse, numa desesperada,
incompetente e autoritária tentativa de resolver uma situação de
emergência sanitária nascida de outra situação, porventura bem mais grave, de
aparente exploração de trabalho quase escravo de imigrantes amontoados em
contentores apinhados de beliches arrendados a preço do ouro por pessoas
indignas de ser chamadas empresários.
Também não terá ajudado o facto de uma ministra procurar justificar a anterior
inércia governativa sobre este tema da quase escravatura com o facto de os
empresários cumpridores não haverem denunciado às autoridades o que se passava
noutras empresas, assim demonstrando a Ministra que, ao mais alto nível do
Estado, ainda se confunde a atividade empresarial com a de informador, outrora
essencial ao funcionamento da polícia política em tempos que até custa
recordar. Isto, tratando-se de uma situação de exploração de humanos cuja
existência era, patentemente, impossível o Governo ignorar.
No rescaldo, não pode haver grandes dúvidas quanto ao facto de, com o seu
estilo cáustico e ar façanhudo, o desajeitado e ensimesmado Ministro da
Administração Interna se ter convencido – vá lá saber-se como ou porquê - de
que os proprietários de segundas habitações de férias não hesitariam em
disponibilizar as suas casas para acolher imigrantes confinados: é que um dos
piores vícios da maior parte dos ditadores de pacotilha consiste em, à força
de tanto pensar que todos devemos pensar como eles, acabarem por se convencer
de que, efetivamente, assim pensamos. O que é um erro crasso, claro está.
A jovem Ministra da Presidência justificava, entretanto, a entrada de rompante
de forças de segurança, às quatro da manhã, numa propriedade privada em
Odemira, com alegadas dificuldades em assegurar adequada tradução aos
trabalhadores migrantes; mas, mesmo às quatro da manhã e, supostamente,
contando eles já com a tal tradução tão difícil de assegurar, os embasbacados
realojados à força – alguns dos quais falavam inglês e poderiam, facilmente,
servir de intérpretes junto dos outros - não faziam a mais pequena ideia do
que se estava a passar.
Desconheciam, nomeadamente, a razão pela qual estavam os miseráveis tugúrios
que habitavam a ser invadidos e eles de lá removidos contra vontade, como se
se tratasse de coisas ou de animais.
Já para a GNR, o facto de haverem os trabalhadores sido desalojados a desoras
deveu-se a não especificadas “razões de segurança”. Para o Presidente
da Câmara Municipal de Odemira, terá sido, antes, por causa da necessidade de
articular, com representantes da massa insolvente – que, mais do que
provavelmente, dormiam a sono solto nessas horas impróprias -, tão precipitada
e achaboucada intervenção.
Ah, como seria bom para a tranquilidade de todos nós que certas pessoas não
contornassem tanto a verdade, e o Estado falasse todo a uma só voz!
Toda esta exploração humana se refere, ainda para mais, a uma zona onde a
sempre atenta Secretária de Estado da Integração e das Migrações considera
viver-se
um notável exemplo de integração de migrantes que para cá vêm trabalhar*).
Assim sendo, quantas mais “desconhecidas” e exemplares Odemiras como
esta por esse Portugal iremos, ainda, encontrar?
- x -
A tarefa de qualquer Governo minimamente civilizado e cívico não se resume a
cuidar dos interesses daqueles que pagam impostos: cabe-lhe, também - e
principalmente - zelar por aqueles para quem, por nunca terem tido o direito
de viver plenamente, o dia mais importante da vida é, porventura, o da morte,
já que, da vida, pouco ou nada de bom terão para recordar.
Odemira foi, é, apenas mais uma etapa do processo de declínio e entropia de um
Governo de um só homem, por este temporariamente deixado à sorte e por conta de
cada um dos desarticulados elementos de uma heterogénea amálgama que não merece
o nome de
equipa, que só não é remodelada porque, se estes são maus, o
Primeiro-Ministro bem sabe que outros que viessem de fora do seu círculo bem
piores poderiam ser ainda.
Em equipa que ganha, não se mexe.
Mas esta não ganha, só (nos) empata, e bem mereceria uma boa mexida, para se
manter na competição. Perdão, na suposta governação.
6. Inabilidades Avulsas na Comunicação
Noutro tempo e lugar, a Ministra da Justiça mostrou-se notoriamente incapaz de
entender que, perante a opinião pública, se não é corrupto ou aldrabão, é
incompetente quem aparece como procurando, em benefício de mais uma daquelas
tão cobiçadas candidaturas europeias,
encobrir erros curriculares básicos*) que alguns não deixarão de aproveitar para denegrir a imagem de todo um
país, muito especial se esta nebulosa sobre a área da Justiça pairar.
Calar demasiado, fugindo, simultaneamente, à questão formulada e às mais
elementares normas da cortesia, também não será o mais adequado a uma Ministra
da Cultura que, questionada sobre a pressão social e económica sentida pelos
profissionais do setor que tutela, se limitaria a sugerir que se reunissem
para uma bebida ao fim da tarde*); ou quando o apagado ministro
da tutela e a exuberante deputada orientadora - ex-Ministra da Administração
Interna nomeada pelo mesmo Partido Socialista - ficam, meses a fio, mudos e quedos perante uma alegada
semelhança de quarenta e seis por cento, por plágio, na dissertação de
mestrado apresentada numa universidade privada portuguesa por um
recém-empossado magistrado do Supremo Tribunal de um país irmão*).
Tampouco ajudará, entre tantos outros episódios, que uma jovem governante
diga, em determinado dia, que sobre determinado assunto nem valerá a pena
falar para, apenas dois dias decorridos, se não coibir de, discursando perante
outros jovens do mesmo partido que ela, adiantar pormenores sobre o mesmo
determinado assunto do qual, na antevéspera, nem queria ouvir falar, talvez
ignorando que, como terá dito um presbítero português do século XVII, “consiste a virtude do silêncio não em cessar o ofício de falar, mas em
calar e falar a seu tempo”; ou que a mesma jovem venha, agora, anunciar, com horas de antecedência e o
ar hesitante e comprometido de quem sabe estar a fazer asneira e à espera de
que não lhe ralhem muito,
medidas de utilidade duvidosa e de formulação confusa tendo como alvo
setores vitais para a economia nacional, designadamente a restauração e a
hotelaria*).
Além do Primeiro-Ministro e, quando muito, do Ministro dos Negócios
Estrangeiros, quem tem autoridade, entre toda esta gente, como nunca tanta
foi?
Sem autoridade, não há soberania. É como se o Governo não existisse: alguém
faz coisas, muitas delas disparatadas, mas a ninguém pode ser associada uma
governação efetiva. E os ministros e secretários de estado são tantos,
tantos...
As contradições entre mensagens no Governo e na Administração são já encaradas
com naturalidade por uma população convenientemente anestesiada pela desconexa
ação de quem, excetuando os quase sobrepostos faits divers do
originados no Ministro da Administração Interna, parece limitar a sua ação
visível à gestão de uma pandemia que parecia ter entrado em velocidade de
cruzeiro, mas que as
comemorações da vitória do Sporting Club de Portugal na Primeira Liga de
Futebol, viabilizadas pela Câmara Municipal de Lisboa*), vieram, agora nas camadas mais jovens, fazer acelerar.
Na primeira Primavera da COVID, era ouvi-los elogiar, uma vez mais, o tal
civismo do povo português que ainda bem pouca gente alguma vez terá tido o
privilégio de, ao menos, vislumbrar. Vê-se, agora, o impacto negativo da
comunicação hipócrita e inábil de quem os males estruturais da sociedade
portuguesa teve, então, medo de salientar e de, contra os seus perigos, a
restante população alertar.
Além da gestão da pandemia, nada mais parece interessar, atualmente, à
política que não seja garantir que, desta vez, não se deixa de
aproveitar até ao tutano os fundos europeus que aí estarão para chegar*), e até darão para fazer, daqui a cinco anos, uma festa de arromba para
comemorar os cinquenta anos de uma democracia que ainda ninguém chegou a
entender no que irá dar, enchendo, entretanto, os bolsos de um coordenador e
de uma data de penduricalhos que, pelas benesses da romaria a que,
provavelmente, uma escassa meia dúzia irá acorrer, nem se lembrarão de
qualquer agradecimento expressar.
Perante o prolongado mutismo do Primeiro-Ministro sobre o assunto, a nomeação
unilateral – sem consultar os outros partidos ou, até, o primeiro Presidente
da República eleito em democracia - do
principescamente remunerado comissário executivo das comemorações do
quinquagésimo aniversário da revolução de 25 de Abril de 1974 chocou o País
inteiro*). O País inteiro, menos o Partido Socialista, que parece julgar-se o dono das
comemorações, tal como a
Associação 25 de Abril se julgou dona do aniversário comemorado em
2021*).
Tiques ditatoriais de um Partido que se julga “o dono disto tudo”; e
com alguma razão, já que os nada parecem entender, mesmo em casa própria, de
política ou do ofício de governar.
7. O Primeiro Responsável pela Governação
“A anarquia está em toda a parte, quando a responsabilidade não está em
parte alguma”*), e a
verdade é que, nestes primeiros seis meses de 2021, enquanto o
Primeiro-Ministro andou – e muito bem - a larear a Presidência Portuguesa por
essa Europa fora, ficou o País à mercê de um punhado de desarticulados
governantes, manifestamente incapazes de, sem o treinador, dar conta do
recado.
Num tal cenário, não pode deixar de vir ao espírito o desnorte e o quase
silêncio da Administração da Benfica SAD quando há poucos dias, abruptamente
deixou se poder contar com os bons ofícios de um presidente com um estilo de
governação também monolítico e centralizador.
Aparentemente, ninguém capaz havia para deixar a governar cá na terrinha, onde
a irresponsabilidade reinava e os lobos iam tomando conta de um povoado
guardado por gente com ar inseguro, como a Ministra da Presidência nas suas
comunicações hesitantes, tíbias e desconexas, em que já ninguém entende quem
entender se não faz.
É verdade que, no que à popularidade diz respeito, o sorriso, ainda que tenso
e fechado, de um primeiro-ministro pode valer milhares de votos contra
desiludidos, perdidos, estafados e sisudos oponentes; tal como para assegurar
uma certa boa-vontade dos contribuintes pode servir, de vez em quando, o
permanente sorriso de um Ministro das Finanças, por muito malquista que a sua
atuação possa ser.
O que a maior parte dos políticos não entende, porém, é que o sorriso – mas um
sorriso franco, aberto – e um discurso coerente e firme são componentes
essenciais da comunicação.
Ora, o Primeiro Ministro já deu sinais de irascibilidade*) e, pelos vistos, aprecia, entre os seus amigos, o estilo, começando
pelo eterno Ministro da Administração Interna que, teimosamente, o primeiro se
obstina, não apenas em, contra tudo e contra todos, manter em funções, como
até em elogiar na sua atuação.
Vale também, quanto a irascibilidade, a pena lembrar o Secretário de Estado
Adjunto e da Energia que, referindo-se ao programa da RTP Sexta às Nove, disse, com todas as letras, que "estrume, só mesmo essa coisa asquerosa que quer ser considerada um
programa de televisão"*).
Chegam as eleições autárquicas e, apesar de amigos,
Primeiro-Ministro e Ministro da Administração Interna andam de candeias às
avessas*), defendendo cada um deles o seu modelo de votação, enquanto
o primeiro e o Ministro das Infraestruturas e da Habitação – como eles
gostam de nomes compridos… - se envolvem numa sempre negada mas evidente
peleja*), a que agora se junta, para ajudar à festa, a normalmente apagada chefe da
bancada parlamentar do Partido Socialista.
A agir assim, não será de admirar que o cidadão comum acabe, progressivamente,
por comparar quem o governa a egocêntricos indivíduos sem rei nem roque, sem
rumo, incapazes de, primeiro, planear e, depois, resolver eficazmente os
imprevistos, mais não lhes restando do que o recurso a tiques ditatoriais de
quem parece sempre preferir entrar à força, através de requisições civis e
outras medidas extremas. Falam o menos possível, como quem tem culpas no
cartório ou não está inteiramente à vontade com a sua consciência – ou, mais
simplesmente, não faz a mínima ideia de como atuar -, em lugar de convidar,
não apenas à negociação, mas à própria colaboração de pessoas eventualmente
habilitadas a encontrar formas alternativas de resolução.
Também em nada beneficia a credibilidade do Primeiro-Ministro o silêncio – ou
o falar tardio - em questões sensíveis, como a da passagem de informações aos
russos pela Câmara Municipal de Lisboa. “Não devemos juntar à demência do real a tolice de uma explicação”*), mas há limites para aquilo que o CEO do País pode calar; e dentro
desses limites não se inclui, seguramente,
o silêncio quanto à detenção e às acusações que impendem sobre o
recandidato à presidência da dita Nação Benfiquista a cuja comissão
eleitoral de honra o dito CEO teve a imprudência de se associar*).
Não pode, sobretudo, manter o silêncio sobre estes e outros casos, relativamente
aos quais são, para Portugal, gravosos e evidentes os danos reputacionais na
Europa por onde andou, durante seis longos meses, a deambular.
Depois, quando a falta de coordenação política permite que a autonomia
ministerial vá longe demais, alguns ajustes têm de ser feitos, como a
desautorização do Ministro da tutela no caso da nomeação do presidente do
conselho de administração da TAP*), com todo o impacto mediático negativo que consigo acarretou.
Ora, voltando à mulher de César – o romano, não o açoriano -, a soberania,
para ser efetiva, depende muito da aparência de qualidade e de consistência no
seu exercício, que atitudes pouco ou nada edificantes por parte de quem tem
obrigação maior de saber estar não contribuem para dignificar. Isto acontece
especialmente quando lugares de topo de um ministério ou de uma câmara
municipal forem ocupados por militantes diletos do Secretário-Geral do Partido
que, esquecendo-se de que quem começa como figurante raramente chega a astro,
nem tentam disfarçar as suas candidaturas a uma mais ou menos rápida sucessão
de quem poderá ter-se esquecido de que, em política, é insensato dar força a
alguém sem, ao mesmo tempo, nos prepararmos para mais tarde poder
vencê-lo.
Será distanciamento, ou uma já muito expressiva debilidade política do
Primeiro-Ministro no seio do próprio Partido Socialista?
O recente incidente com a Concelhia do Porto dá que pensar…*) tal como não pode deixar de fazer pensar a indigitação, para
presidir ao novíssimo Banco de Fomento, de um putativo conselheiro
financeiro de um certo empresário recentemente detido para interrogatório e
de cuja comissão de honra, na recandidatura à presidência da
Nação Benfiquista, o mesmo Primeiro-Ministro fez parte *). E, tanto tempo depois, ainda falam da mulher de César, coitada...
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O Governo tem lepra.
Está a cair aos bocados, com
ministros a precisar de ser removidos*), e
outros a querer ir, recatadamente, tratar das suas vidinhas*), em lugar de, independentemente do eventual mérito de um ou outro, estar a
deixar desgastar a imagem pela incontrolável e justificada irrisão que o
ridículo de que se reveste, em Portugal, o exercício da soberania, suscita em
milhões de desgovernados que por aqui andam a penar.
8. O Estado da Nação
O défice de soberania que inquina uma qualquer estrutura governativa e
parlamentar eivada de impreparados arrivistas - alguns dos quais pouco mais
terão feito na vida do que arrastar-se pelo pantanal dos órgãos partidários e
afins e, outros, lambuzar-se com as benesses e proventos proporcionados pelos
mesmos – decorre da perda de legitimidade para governar e legislar por parte
de quem, em lugar de refletir sobre as questões de fundo e planear
estrategicamente grandes opções de acordo com uma linha coerente e bem
definida, mais parece preocupar-se em cuidar de, sob o ponto de vista da
popularidade fácil, maximizar o aproveitamento mediático de emergências com as
quais, patentemente, está impreparado para lidar e satisfatoriamente
resolver.
Recorre-se, assim, à velha tática de pintar o quadro mais tenebroso em que os
governados sejam capazes de acreditar para, em seguida, aparecer como o
obreiro de… coisa nenhuma.
Num tal quadro, o facto de, no topo da pirâmide, poder estar alguém que pareça
carregar às costas um aeroporto móvel que ora vai ser construído aqui, como
sem dúvida alguma ali, como desta vez é que é mesmo acolá e, quando enervado
ou irritado, come metade das palavras que pensa, não agravará muito, talvez, o
enorme dano causado pelos seus seguidores mediante uma comunicação
institucional tão pobre como a que estas linhas procuraram caracterizar.
No mesmo cenário, não será de admirar que na população se instale a convicção
crescente de que a democracia poderá não passar de uma excelente ideia com um
péssimo resultado, pelo qual ninguém parece querer responsabilizar-se.
Que pessoas habitarão um país em que, para algumas das mais altas funções do
Estado, os partidos não conseguem arregimentar gente menos incompetente e mais
adequada do que esta? Será que, afinal, o mal não é exclusivo do
tal Partido de que já nem se consegue ouvir falar, e cujas pessoas e
valores de antigamente apenas conseguimos, com nostalgia, recordar?
Não estamos em presença de um simples e pontual défice de autoridade, mas já
de um inilidível défice de soberania, desde há meses agravado, e de que
maneira, pelo défice de escrutínio democrático decorrente da redução drástica
da quantidade de debates parlamentares, redução essa da responsabilidade, em
conluio, do Partido Socialista e do Partido Social Democrata, contra toda a
restante oposição e perante
um primeiro veto presidencial, cuja verdadeira mensagem nem houve o cuidado
de respeitar*).
Portugal continua, assim, em imparável deriva para o paraíso de oportunistas e
de incompetentes em que meia dúzia quer transformá-lo, como acontece em
qualquer pseudodemocracia que, a tais abusos e desmandos, verdadeira e eficaz
oposição não saiba concertar.
Já as sondagens – com cujos indicadores tantos se admiram – são bem fáceis de
explicar: mal ou bem, lá vão estes socialistas formados à pressa levando o
barco, ora a um porto, ora a outro, às apalpadelas, cedendo aqui, cedendo
acolá, sem rumo definido, enquanto as tripulações alternativas que governar se
propõem, além de claramente incapazes, nem têm, ao menos, quem as saiba
comandar.
Em quem mais iriam os Portugueses, num tal cenário, votar?
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Quando, algures, aos primeiros raios de Sol do último Sábado de Fevereiro e
fazendo vista grossa ao dever geral de confinamento, mais de quarenta por
cento dos habitantes saem de casa para, pelo paredão da praia, ir
caminhar; quando, por parte de quem supostamente governa, é flagrante a
pusilanimidade perante a oligarquia do futebol, a ponto de, com os novos casos
de COVID a triplicar,
termos ficado sem as
romarias dos Santos e as inerentes receitas comerciais,
por causa das imprudentes e
ilegais comemorações de uma
final estrangeira da
Champions e da muito tuga vitória do Sporting na Liga NOS*), algo está a funcionar mesmo muito mal, quer ao nível da soberania, quer ao
da indispensável e subjacente necessidade de comunicar.
Como escreveu um autor irlandês da atualidade, num trecho bem ilustrativo da
comunicação política que por aí vai:
“Vivemos numa cultura de advocacia extrema, de confronto, de julgamento e de
veredicto.
A discussão cedeu lugar ao debate. Comunicar transformou-se numa competição
de vontades. O discurso público tornou-se obnóxio e insincero. Porquê?
Talvez seja porque, no fundo, debaixo de todo este palavreado,
tenhamos chegado a um ponto em que sabemos que sabemos... nada.
Mas ninguém está disposto a dizê-lo”.
Sic transit gloria mundi