quinta-feira, 25 de novembro de 2021


A como É o Camarão?

A cartelização dos preços parece estar a institucionalizar-se como prática corrente nos hipermercados, supermercados e mercados que tais: os mesmos que passam o tempo a aliciar-nos com cartões de desconto, promoções incríveis, fabulosas ofertas e outros daqueles chavões que a fértil imaginação dos publicitários não cessa de inventar.

Claro que a semelhança entre qualquer cadeia deste tipo e a Santa Casa da Misericórdia não passará de uma miragem aos olhos de alguns. Mas, se esta eticamente discutível estratégia de marketing continua a vingar, não será, certamente, por não ter acolhimento entre os menos esclarecidos fregueses - que são muitos... - que para as suas comprinhas por lá continuam a passar.

Um caso que há anos ocorre e em que nenhuma autoridade parece ter reparado, ou faz vista grossa, é a do preço do quilo de camarão numa destas cadeias que visito com alguma frequência. Não é que aprecie particularmente o petisco, nem é coisa que compre muitas vezes. Calhou, simplesmente, olhar um dia e outro, e aquilo começou a fazer-me alguma confusão.

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Quem estiver atento, por certo reparará que, nessa cadeia de supermercados, em, pelo menos 90% dos dias do ano o preço do camarão de calibre 20/30 está em promoção, descendo, supostamente, de uns catorze euros para um pouco mais de dez, com muito ligeiras variações. A cadeia tem, sempre, o cuidado de escrever na etiqueta do preço "promoção de 15/11/2021 a 30/11/2021", por exemplo. Até aí, nada de mal.

Acontece, no entanto, que, logo no dia seguinte ao do termo da promoção, invariavelmente aparece outra etiqueta com "promoção de 01/12/2021 a 15/12/2021" ou coisa parecida, e assim sucessivamente, numa pretensa promoção infindável e em contínuo ao longo de (quase) todo o ano.

Fica a pergunta: o que é, afinal, uma promoção?

Parece legítimo assumir que por promoção se entende uma campanha destinada a promover pontualmente um produto novo; ou, pelo menos, um que registe uma quebra significativa nas vendas, caso em que, pela via da baixa de preço, se pretende voltar a captar o interesse do mercado, dessa forma chamando a sua atenção. Seria razoável, parece-me, que uma verdadeira promoção como estas, estivesse limitada a, digamos, uns 15% ou 20% por cento dos dias do ano, assim se evidenciando, de forma inequívoca, que de uma ação pontual se tratava, e não de uma verdadeira armadilha para atrair clientes distraídos ou menos informados para um produto cujo preço habitual é, afinal, o da  dita promoção, assim não constituindo esta qualquer situação de exceção.

A contínua baixa de preço ao longo do ano tem, como único efeito, o de simular condições pontualmente favoráveis que, afinal, não existem, visando o promotor unicamente induzir em erro o consumidor, indiscutivelmente burlá-lo de forma despudorada, apelando ao muito lusitano querer ser  o tal chico esperto que aproveitou uma grande promoção

Seria, assim, como uma Black Friday todos os dias. O Paraíso!

Claro está que não acontece apenas com o camarão. São, pelo menos, dezenas os produtos que nessa cadeia  - e, provavelmente, em outras... - passam praticamente todo o ano em promoção, como é o caso escandaloso de certos vinhos tintos que parecem já ter nascido com 65% de desconto, e estão, há vários anos, nessa fantástica... promoção.

Os funcionários das autoridades competentes não costumam ir ao "super"? Andam distraídos? Ou acham absolutamente normal este tipo de manipulação?

Ou andará por aí alguma outra motivação?

* *

Não é nova, esta questão das promoções mal pensadas ou pensadas à revelia de certos princípios que todos gostaríamos de ver seguir.

Exemplos não faltam, como alguns relativamente recentes encontrados aqui e ali.

quarta-feira, 24 de novembro de 2021


Maria José Morgado


 

"A única maneira de defender a liberdade

é limitar a liberdade de cada um"

Maria José Morgado*)
(entrevista a 'Por Outro Lado - RTP) 




Aplica-se, antes de mais, à necessidade de privar da liberdade quem comete crimes, claro está.

Mas não será abusivo lembrar este princípio também quando falamos das investidas de certas minorias de escassa representação na comunidade que, embaladas pelos anseios eleitoralistas de certas forças políticas,  procuram, mais do que defender os seus legítimos direitos, impor aos outros ideologias globalmente rejeitadas por uma maioria que, em democracia, tem todo o direito de o fazer, precisamente por ser uma maioria e por, em democracia, prevalecer, até no voto, o primado da maioria.

Ou terão as coisas mudado tanto que assim já não será?

Diversos artigos polémicos sobre
POLÍTICA
estão disponíveis no correspondente separador no topo desta página.
NÃO PERCA!

terça-feira, 23 de novembro de 2021


PAN: O Partido do Frei Tomás

Aquilo sempre me fez uma certa confusão, um assim designado Porta-voz - que secretário-geral e presidente já não se usa - de porte atlético, alto e espadaúdo, num partido ecologista em que o dito Porta-voz, em campanha eleitoral, se exibe sentado num comboio a deliciar-se com uma mísera saladinha. Se ali não havia à mistura umas viandas menos convencionais compradas em nome dos vizinhos para compensar as contas das alfaces e do tofu...

Enfim, o Porta-voz vai-se, e uma Porta-voz*) vem, com uma carinha laroca e um corpinho de fazer inveja a qualquer deputado do PEV - que, honra lhe seja feita, nos mostra deputados a condizer com a dieta que outros dizem ter adotado.

As dúvidas quanto à bondade dos propósitos não melhoram, compreensivelmente, a tal nova Porta-voz - 'vegana, feminista e workaholic'*) e de ar tão positivo e proativo, como agora se diz, nas múltiplas declarações que profere - parece ter andado envolvida em negócios um bocadinho enviesados, digamos, relativamente àquilo que o Partido diz defender. A fazer fé no que dizem os meios de comunicação, claro está...

Ah, e corre, também, por aí uma história acerca de uma acumulação indevida de funções no setor privado e no Estado*), que deve ser absolutamente falsa, ou não teria sido tão enfaticamente negada, tal como falsa também deve ser uma estupidez qualquer que para aí inventaram acerca de não ter declarado ao Tribunal Constitucional uma imobiliária em nome do marido*), empresa que faria parte dos bens comuns do casal.

Já se sabe que tudo isto são coisas da campanha eleitoral, sem qualquer correspondência com a realidade - ou, pelo menos, muito mal interpretado -, que não é, apenas, a ponta do iceberg, e que, na política, os adversários são todos "Feios, Porcos e Maus".

Convenhamos, no entanto, que já são maldades a mais, não vos parece?

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A ser verdade - não deve ser... -, será que esta gente que se mete na política nunca ouviu falar de computadores, de bases de dados e dessas coisas todas que, cada vez mais, tornam impossível esconder o que quer que seja da comunicação social? Acaso pensam que basta um sorriso de plástico e meia dúzia de palavras fortes e monocórdicas para fazer esquecer o mais ou menos discutível passado que, por uma razão ou por outra, a maioria de nós acaba por ter?

Episódios semelhantes deveriam inibir tanto alguém que os viveu de ir para a política, como alguém que ouve mal de dirigir uma orquestra. Mas não: ao que parece, continuam a ter o desplante de, politicamente, se promover, supostamente na defesa de causas absolutamente incompatíveis com os seus anteriores - e, quem sabe, atuais...- comportamentos.

Em véspera de eleições, claro que o PAN sempre diria que "mantemos total confiança" na dita Porta-voz. O contrário, seria mergulhar no mesmo charco em que os partidos da direita andam, desesperadamente, a esbracejar para se manterem à tona do, cada vez menos molhado, oceano de votos.

Pobres animaizinhos portugueses, que, se aquilo implode, ainda acabam por ter de se contentar com o esforço abnegado de algumas mais interventivas associações particulares e organizações não governamentais!

Muito fala Frei Tomás: faz como ele diz, mas não faças como ele faz

segunda-feira, 22 de novembro de 2021


João Villaret - Recado a Lisboa

João Villaret - Recado a Lisboa


Há palavras que não podem ser cantadas, porque são elas próprias uma canção. Mas, quando a música delas parece fazer parte e a voz as entoa num cântico profundo que delas parece emanar, a arte acontece, insubstituível, única, irrepetível, de tal forma que bem poderiam os vindouros deixar de a adulterar com remakes, com novas versões cantadas por quem jamais se poderá querer igualar.

Com música de Armando da Câmara Rodrigues tocada ao piano por Carlos Villaret, e dito por João Villaret*), que lhe deu o texto, aproveite uma pausa para descontrair e deixar entrar o Recado a Lisboa, que pode ouvir aqui.


Fonte da imagem: img.discogs.com

sábado, 20 de novembro de 2021


Na Sala de Pequenos-Almoços

 

O respeito pelas mais elementares normas de cortesia e de etiqueta é o garante último de que saberemos comportar-nos e controlar-nos, mesmo quando em tudo diferimos ou divergimos, quando estamos entre amigos ou inimigos, entre parceiros ou adversários. É que o ambiente natural não é o único que importa preservar: existe o ambiente social, que também importa saber enriquecer, cultivar


Aos Primeiros Alvores do Dia
Aos primeiros alvores, quando tudo em nós resiste à inevitável mudança da horizontal para a vertical, do escuro para a luz do Sol, do conforto do hotel para o bulício da rua, em trabalho ou em gozo de férias, a sala de pequenos-almoços é o entreposto ideal para atenuar os efeitos da dolorosa transição.

Ainda para mais, se o espaço é agradável, o buffet farto, e o serviço simpático e eficiente.

Anos atrás, estas três expetativas seriam legítimas e naturais, nenhuma menos agradável havendo a acrescentar, já que, salvo um ou outro episódio esporádico e menos edificante, para tal grande razão não se iria encontrar.

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Hotel arejado, amplo, tranquilo.

Num canto da sala, sentado pacatamente, um discreto casal nos cinquenta ou sessenta trocava frases em surdina, aqui e ali deslizando pela sala para guarnecer o prato, quase sem se fazer notar. Ambos com a roupa informal, discreta, de pequenas férias numa bonita cidade em Portugal.

O elevador chega. A porta abre-se. Expele três bocas escancaradas e palavrosas nos seus quarentas, fatos de treino num berrante azul e rosa, a gritar alarvidades em suposto português da América enquanto os pés as havaianas fazem falar.

Escolhida a mesa, chinelam para o buffet, atropelando comentários aos assuntos mais diversos que, sem dó nem piedade, impõem ao casal do canto - já que, os ouvidos, quando a gente come à mesa, não tem como tapar.

Minutos depois, o elevador. Tugas boçais, como se tirados de certos cartazes da campanha autárquica, com graça nenhuma.

No carrinho, um infante de tenra idade geme e grita a desdita, ou alguma desconhecida e lancinante dor. O mano, de três ou quatro encantadores aninhos, dá largas à birra de um capricho negado pelos progenitores.

Pais Indiferentes aos Filhos
Imunizados da choradeira, a mamã e o papá, indiferentes, olham placidamente em redor. Buscam, deleitados, a mesa com melhor vista, omitindo o mais débil esforço para suster as lágrimas dos mimados – ou ignorados – futuros doutores.

Pára o elevador. Mais gente chegou. Como aqueles dois espécimes que, há muito ido o Verão e num hotel de cidade, se lambuzam de calções de banho e havaianas copiadas das dos outros três. Bonés na cabeça com as palas para trás, como alguns humanoides pensam que é moda, que lhes fica bem, que os faz parecer sabe-se lá quem. 

Talvez se sintam importantes influencers, manipuladores ou vendedores de banha da cobra, a mitigar um pouco as frustrações que uma chuva de palavrões projeta no ar matinal de uma outrora tranquila e civilizada sala de refeições.

Outros, mais discretos, sentam-se, hesitantes, ponderando se será prudente por ali ficar ou não.

Entre eles, uma jornalista famosa, desses programas de horário nobre, quase irreconhecível nas enormes olheiras sem a maquilhagem que lhes colam à pele na televisão. Resolve ficar. Cotovelos na mesa, sorve, lânguida e ruidosa, o café com leite, debitando, a espaços, vocábulos esparsos para a farta cabeleira pelos ombros, bigode hirsuto e barba por fazer que em frente come parecendo nem ouvir.

Irremediavelmente comprometida a digestão, o casal do canto precipita o fim da refeição. Levanta-se, ajeita as cadeiras e, desta vez, prefere as escadas, para evitar a confusão.

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Respeito pelas Normas de Cortesia e Etiqueta
A sala de pequenos-almoços de um hotel português de três ou quatro estrelas é um microcosmo do Mundo em que vivemos hoje em dia. Ou, pelo menos, do Portugal que habitamos e aos vindouros vamos deixar: bisonho, fechado, enfadonho, atarantado, humanamente pobre e feio. Faz pensar nas imensas mágoas e tensões latentes na mente e no espírito daquela atarantada gente, bem como no dia em que, com estrondo, fatalmente irão estoirar.

A galopante indiferença de uns poucos perante o ambiente que, em cada lugar, a cada um dos outros é legítimo esperar encontrar, surge como uma das notas dominantes de um inovador mas inqualificável conceito que uma parte cada vez maior da população confunde com liberdade: não passa de uma elementar, básica, risível e parola demonstração de completo desrespeito pela tranquilidade alheia; pelas expetativas de quem a um lugar se dirige com determinado propósito, com todo o direito de esperar aí encontrar condições adequadas, como anteriormente sempre encontrava e a cultura (ainda) dominante sugeriria que continuasse a encontrar.

O respeito pelas mais elementares normas de cortesia e de etiqueta é o garante último de que saberemos comportar-nos e controlar-nos, mesmo quando em tudo diferimos ou divergimos, quando estamos entre amigos ou inimigos, entre parceiros ou adversários. É que o ambiente natural não é o único que importa preservar: existe o ambiente social, que também importa saber enriquecer, cultivar.

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A forma de trajar é uma das vertentes.

Nada explica e, muito menos, legitima que, em lugar de obedecer ao mais elementar preceito da boa educação que diz “em Roma, sê romano”, se opte por, onde quer que seja, impor à comunidade as regras de meia dúzia - quantas vezes, até, de um só - que queira parecer original, por pouco mais de si lá ter para mostrar. Apenas se torna incómodo, digno de pena, patético, ridículo em toda a imensidão do seu miserável comportamento, como alguém que não sabe estar nem dos outros quer saber.

Cada um tem o direito de se vestir e de agir como bem lhe aprouver; mas apenas quando está só ou com quem pense e sinta de forma idêntica: que o mesmo vá buscar onde estiver. Ninguém alguma vez  terá um direito legítimo de impor, a espetadores acidentais ou involuntários, condutas, atitudes ou trajos inadequados ao tempo, ao lugar e às demais circunstâncias; que lhes não interessem, que patentemente lhes desagradem ou os violentem nos seus hábitos, educação ou convicções.

Quem assim agir, terá sido educado como as duas criancinhas que, no hotel, a plenos pulmões berravam as suas mágoas ali mesmo ao lado de pais sem educação ou carinho para lhes dar, virados para o próprio umbigo, insensíveis à perturbação causada a quem tinha pagado para, com todo o direito, ali saborear uma tranquila e pacata primeira refeição.

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Será que esta liberdade que insulta a Liberdade considera ofensivo afixar, à entrada da sala, uma papeleta, um quadrinho, qualquer coisa que informe, em letras bem visíveis, que não é permitida a entrada, pelo menos, a hóspedes em chinelas e calções, ou especificando qualquer outra roupagem estapafúrdia que por lá seja uso encontrar?

Dá mau aspeto o papelinho à porta, dirão. Pois dá. Mas não será bem pior o desfile de manifestações variadas e inacreditáveis de falta de educação com que, de outra forma, cada vez mais nos iremos deparar? É que a forma como trajam sempre diz alguma coisa do modo como as pessoas se irão comportar.

Poderão os estabelecimentos abertos ao público continuar a ignorar os efeitos nocivos da deriva educacional de uma sociedade cada vez mais decadente? Mais do que outros, os estabelecimentos de hoteleria e de restauração, num Portugal em que a captação de turistas estrangeiros é vital para dinamizar a economia?

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As normas de conduta em publico, em sociedade, muito especialmente as que se referem à forma de trajar, nasceram do consenso; e, em quanto não violar as leis do Estado, a sua inobservância ou alteração apenas deve ser permitida ou promovida junto de quem a tal estiver recetivo, e vivida em núcleos que, também consensualmente, comportamentos menos consensuais escolham adotar.

Tudo quanto vá fora disso, não passa de agressão egoísta, oportunista e gratuita de terceiros, visando a subversão de modos de vida estabilizados cuja manutenção é essencial à Humanidade, à paz que viabiliza o progresso moral e espiritual que permite contemplar, pensar, sonhar, criar.

Enquanto continuarmos a digladiar-nos para sobressair ao nível comezinho do usufruto imediato e dos comportamentos a ele inerentes, não sobrará espaço nem tempo para investir, ainda que levemente, no crescimento e aprimoramento intelectuais ou espirituais. Os únicos desenvolvimentos que sairão de um combate deste tipo serão os habituais arranhões e equimoses, muitas vezes até corporais.

Se cada um se abstiver, antes, de impor ao outro aquilo de que gosta mas ele não, e cuidar de fazer pelo outro aquilo de que não gosta mas ele sim, as relações interpessoais serão muito diferentes e o Mundo será, para todos, um lugar muito mais agradável para se estar, para dar e para usufruir.

Assim, é que não...

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Esta coisa da falta de maneiras é, a par de outras por vezes bem mais sérias, uma das características mais irritantes de entre as que parecem omnipresentes, como se fizessem parte de boa parte da população.

(leia aqui a sequência)

sexta-feira, 19 de novembro de 2021


Chaves: Antiga Estação Ferroviária

Estação ferroviária de Chaves, na extinta Linha do Corgo

Desativada, em 2010, a Linha Ferroviária do Corgo, fica a imagem de tempos em que a Estação Ferroviária de Chaves*) ainda estava ativa.

Como ela, muitas outras foram encerradas em muitas outras linhas. Outras se lhes seguirão.