"Sessenta mil candidatos a bolsas de estudo receberam o pagamento relativo
ao mês de Dezembro", ouvi há dias já não sei em que estação de televisão. Não sei se terão,
também, noticiado os pagamentos relativos aos meses anteriores, nem se irão
massacrar-nos com outras notícias igualmente desinteressantes nos meses que se
seguem.
Não é novidade a figura ridícula de quem não tem notícias com interesse para
dar, nem reportagens prontas para entrar no ar quando escasseia a
matéria-prima das picardias políticas, dos fora de jogo que não eram, dos que
eram e não chegaram a ser e das catástrofes que, felizmente parece que só
acontecem por esse mundo fora. Mas mais ridícula tal figura se torna ainda por
anunciar, como se de grande coisa se tratasse, algo que não passa de chamariz
para o embuste em que continuam a cair os infelizes estudantes que, ou saem da
universidade com notas altas - mesmo muito altas - e lá acabam por se orientar
lá por fora, ou, com uma muito maior frequência e probabilidade, irão parar a
um call-center, tábua de salvação para os que, simplesmente, tiveram
aquelas notas que, não sendo excecionais, revelam, pelo menos, que andaram na
escola a fazer o que se esperava que andassem a fazer.
Para estes, todos sabemos que, ao nível dos conhecimentos adquiridos, não
existe emprego compatível para todos, ou, sequer, para a maior parte; muito
menos, na respetiva área de formação. Mas, como é preciso mostrar números lá
para fora, ninguém lhes diz que vão ficar atrasados na vida profissional
indiferenciada em que outros começam a singrar e a ganhar o sustento antes
deles: eles que correm desesperadamente pelo canudo que permitirá, um dia, aos
babados e mais ou menos parolos mamãs e papás, convidar os vizinhos, parentes
e amigos para uma grande festa, com um enorme bolo que diz: "Temos Doutor!".
Será esse, para muitos, o ponto alto da carreira académica. O
derradeiro, também...
Em Portugal, "Licenciado", quer dizer "igual a todos os outros que se arrastam pelos call-centers", sonhando com a maravilhosa vida há muito
imaginada... que jamais chegarão a ter.