sábado, 22 de janeiro de 2022


Dos Votos que não Parecem... mas São


   “Quem, podendo fazê-lo, não comparece na assembleia de voto a fim de exercer o seu direito sagrado,
 não passa, ou de alguém no fim da linha da desilusão com o sistema e sem esperança de que as coisas algum dia mudem,
ou de um preguiçoso inveterado, de chinelos e roupão

"Vota o povo, esquecendo-se de que as extremas são o refúgio perigoso dos desencantados,
e daqueles que não sabem bem para que serve isso de ir votar
"

 O voto em branco é o cartão vermelho, não ao regime democrático,
mas aos seus atuais atores que nos deixaram nesta lastimável situação
 


Falamos e escrevemos, as mais das vezes, de pessoas que conhecemos como quem conhece um monumento: vemo-las, ouvimos das suas bocas o que querem que ouçamos, e pouco mais, além daquilo que escrevem ou dizem outros que, afinal, pouco melhor as conhecem do que qualquer de nós. 

Por sua vez, outros, que não nos conhecem, leem-nos, e nós lemos outros; e alguns de nós votam, depois.

Ora, imaginemos, em determinado país e como mero cenário virtual, um eleitor informado por estas pessoas que mal conhece, postado em frente a um conjunto físico de materializações individualizadas dos partidos políticos que cada uma destas representa.

Ponto de vista do observador
Do ponto de vista desse eleitor, para cada direção que se voltasse, a sua decisão apenas poderia ser tomada no sentido de votar ou não votar no partido materializado nessa direção, já, que nisto de votar, não há cinzentos: apenas bolas pretas e bolas brancas, sim ou não.

Pode, pois, dizer-se que, até por imposição legal, o sentido de voto de um eleitor em cada partido é, inevitavelmente negativo em relação à totalidade menos um daqueles que se apresentam a eleições, uma vez que, limitado por lei a votar, quando muito, numa força partidária, automaticamente excluirá, no ato, todas as outras.

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Esta impossibilidade legal de preencher mais do que uma quadrícula no boletim, sob pena de nulidade do voto, deve fazer-nos pensar na extraordinária importância da decisão de escolher um partido primus inter pares *). Deve fazer ver, a cada um de nós, que o simples facto de determinado programa eleitoral corresponder àquilo que um eleitor pensa que será o melhor para o seu país é insuficiente para que, apenas por isso, o mesmo eleitor lhe confie o seu voto, uma vez  que não se deve, com indesejável ligeireza, vulgarizar o que é, afinal, uma enorme e exclusiva distinção.

Para justificar a escolha, torna-se imprescindível que o anúncio da política defendida e da estratégia para a desenvolver seja credibilizado, quer pela prática política anterior do partido, quer pela bondade e idoneidade dos exemplos que invoca para ilustrar o que propõe. Isto, seja em funções governativas ou na oposição, seja no parlamento ou, fora dele, no recato das reuniões de militantes ou perante todos, em órgãos de comunicação.

Não parece, de facto, sinal de maturidade política um cidadão deixar-se, levianamente, manipular por programas ou manifestos. Sobretudo, sabendo-se que são amiúde elaborados com base nas momentâneas e instáveis tendências do mercado de eleitores, moldando-se, depois, os discursos da campanha ao sabor e à medida daquilo que, antes do ato eleitoral, as  pessoas mais pediam, em lugar de, sem prejuízo de uma saudável flexibilidade e capacidade de adaptação, cada partido se manter firme nos seus princípios estruturantes - desde que, naturalmente, ainda se lembre de quais eles são...

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Não sendo legítimo, a qualquer força política, pretender o mal do país em que opera, espera-se que todas elas prossigam o bem, apenas diferindo nos processos e meios preconizados para o atingir.

Todavia, bem se sabe que, naquilo que, efetivamente, podem realizar, diferem cada vez menos entre si, sobretudo porque, se o país integrar uma organização internacional no género da poderosa Comunidade Europeia, resta-lhe uma relativamente estreita margem de manobra política a nível nacional; e, cientes os agastados eleitores dessa afinal pouco significativa diferença entre aquilo que, em funções governativas, cada partido poderá, efetivamente, fazer - independentemente das loas que tiver andado a alardear em campanha eleitoral para os nossos votos ganhar ou reter -, cada vez mais se vota menos nas ideias e mais nas pessoas que, mais provavelmente, irão implementar aquilo que lhes convém implementar, em lugar de as primeiras defender.

Debatem-se, não obstante, tais atores com o eterno problema de não contarem, nas suas hostes, com políticos carismáticos que possam e queiram assumir a liderança, tendo, amiúde, de se contentar com aqueles que, continuadamente, se vão arrastando nas mesmas funções ou em semelhantes, apesar do pouco atraente odor a bafienta estagnação que, com o passar do tempo, vão ganhando.

Este facilmente constatável facto de as pessoas dos políticos contarem cada vez mais, e o ideário dos partidos cada vez menos, poderá explicar inesperadas transferências de votos entre a extrema-esquerda e a extrema-direita ou vice-versa, sinal evidente de nos encontrarmos perante a tendência, também indesejável, de escolher as pessoas sem olhar às políticas, como cada vez mais se vê acontecer. Não pretendem estes eleitores das extremas implementar uma política cuja prática desconhecem porque, onde moram, jamais terá sido, plenamente, implementada: apenas querem mudar as pessoas, seja lá a política qual for.

No caso português, cada vez mais o eleitor parece intuir que o problema dos principais partidos do centro não reside nos princípios ou nas políticas que defendem, mas sim na prática do compadrio a qualquer preço, do nepotismo, do mais ou menos encapotado caciquismo, cujo efeito imediato é afastar quem, competente, bem formado e de boa-fé estaria disponível para, com verdadeiro espírito de missão, levar o País onde todos nós, de esquerda, de centro ou de direita, gostaríamos de o ver.

A não muito difusa ideia deste deplorável estado da Nação latente no espírito de um eleitorado carregado de canudos, mas genericamente desinteressado destas coisas e maioritariamente pouco evoluído, leva ao inevitável protesto emotivo, excitado, irracional. Protesto que leva alguns a arriscar, a troco de nada, o tudo que é de todos, ao votar, ora numa extrema-esquerda de ideais dissimulados, ora numa extrema-direita que de si só não diz o que não pode dizer, sob pena de a mandarem, definitivamente, calar.

Assim vota o atarantado e pouco esclarecido eleitor que não sabe, já, para que lado se virar. Não sabe, em suma - ninguém sabe - onde encontrar um partido capaz de convencer alguém de que será capaz de, efetivamente, fazer as coisas evoluir, melhorar, serenar.

Comparece na assembleia
Vota o povo, esquecendo-se de que as extremas são o refúgio perigoso dos desencantados, e daqueles que não sabem bem para que serve isso de ir votar.

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Entre escolher as políticas sem olhar às pessoas e escolher as pessoas sem olhar às políticas, encontram-se casos, aparentemente raros, de equilíbrio. Raros, porque, para o desequilíbrio, concorrem o nível cultural, o interesse pessoal, o ambiente político familiar, laboral ou escolar, a semelhança pessoal com o candidato, a empatia, entre tantos outros factores.

O ideal seria, evidentemente, que o partido com que cada um politicamente mais se identificasse fosse dirigido pela pessoa que mais confiança lhe inspirasse também. Mas, estes, são casos raros: tanto mais raros em países em que boa parte dos dirigentes partidários pouca ou nenhuma confiança inspira a quem se pergunta: "Votar? Mas em quem?"

Intrínseca ou superveniente, esta falta de credibilidade leva a que a democracia não opere no sentido tradicional da participação na escolha de quem nos irá representar ou governar, já que votar num partido cujos lugares cimeiros se encontrem povoados de gente que não é de fiar, será não apenas um ato de insana irresponsabilidade, como uma negação da liberdade que cada um supostamente tem de dizer que, assim, não podemos continuar; e a alternativa de votar em grupos de cidadãos independentes é coisa de que os bem instalados partidos nem querem ouvir falar.

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Sucede, porém, que isto de um eleitor dizer não, entendem alguns que corresponde a ficar comodamente refastelado no sofá, com tamanha passividade a contribuir ativamente para que a taxa de abstenção continue a medrar.

Engano puro: a abstenção não é uma forma respeitável de manifesto antissistema, antes ficando a democracia cada vez mais enfraquecida à medida que ela avança. A taxa de abstenção é, antes de mais, um importante indicador da consciência e motivação políticas do universo dos eleitores, variando no sentido inverso de cada uma destas.

Quem, podendo fazê-lo, não comparece na assembleia de voto a fim de exercer o seu direito sagrado, não passa, ou de alguém no fim da linha da desilusão com o sistema e sem esperança de que as coisas algum dia mudem, ou de um preguiçoso inveterado, de chinelos e roupão, indigno de beneficiar da decisão de quem vota e do esforço de quem passa largas horas de um dia de descanso a trabalhar nas mesas onde decorre a votação.

Também o voto deliberadamente nulo - típico de quem prefere, para exprimir desagrado ou revolta, desenhar bonecos mais ou menos obscenos no boletim de voto, nele escrever palavras vomitando ódio a este ou àquele, ou semelhantes manifestações de falta de respeito e de educação - apenas serve para magoar os olhos e os espíritos daqueles a quem cabe desdobrar o boletim quando da contagem, etapa indispensável da votação. O voto nulo é, no mais saudável entendimento, aquele que corresponde a um erro legítimo no preenchimento do boletim, e não a um inútil, inapropriado e mais ou menos ordinário protesto.

Uma elevada contagem de votos nulos apenas sugere que haverá muitos eleitores tão incapazes que nem uma simples cruz sabem fazer; e, isto, todos sabemos que, apesar de tudo, não é verdade, por muito que, quem assim protesta, involuntariamente acabe por fazer crer.

Como nos manifestarmos, então, eficazmente contra o lastimável estado da Nação?

Quando, por mais letras que tenham, os programas políticos estão vazios e as pessoas a eleger nada nos dizem, também, o sentido do voto será, por uma questão da mais elementar honestidade, negativo em relação a qualquer partido; e, sendo ridículo e ineficaz o voto deliberadamente nulo e sumamente condenável a abstenção, o voto em branco apresenta-se como a única opção.
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Em Janeiro de 2022, em Portugal, as coisas apresentam-se-me como segue:

A suposta defesa simultânea de demasiadas causas demasiado fraturantes de demasiadas minorias nem sempre representativas ou suficientemente perseguidas levou o Bloco de Esquerda a perder, completamente, o Norte, restando-lhe viver no desespero de quem tem à frente o muro da indiferença quase generalizada dos já enfadados eleitores entusiásticos de outrora. Ataca, impiedosamente, a extrema-direita - e muito bem... -, esquecendo-se, no entanto, que tem nas suas fileiras destacados membros das FP-25. Entretém-se a mostrar a Coordenadora em pequenos núcleos urbanos onde o Movimento vai passeando a evidente inutilidade ao repetir ad nauseam, para disfarçar os seus verdadeiros propósitos e a responsabilidade no chumbo do Orçamento, chavões copiados da eterna lenga-lenga do Partido Comunista Português sobre a falta de meios dos organismos do Estado e a perseguição a trabalhadores que já nem o podem ver.

Contra tudo e contra todos, e rejeitando a mais elementar racionalidade, o PCP, embora fiável nos compromissos que assume, mantém-se cegamente fiel aos seus princípios estruturantes, a ideias e políticas de tempos há muito idos e noutras paragens nascidas. Segue uma ideologia que defende, expressamente, a tomada do poder pela luta armada: é nisso que acredita. Reconhece, desta forma, a total incompetência para chegar ao poder pela razão e, consequentemente, para também pela razão o exercer. Não dispõe, patentemente, de gestores políticos competentes, capazes de, num quadro de liberdade cuja verdadeira essência o Partido ainda hoje não entende, administrar a República, tampouco se mostrando capaz de, um dia, alguns captar para as suas hostes.

Do Livre, talvez nem valha a pena falar: se nem numa única - e, para ele, preciosa - deputada foi capaz de ter mão, nenhum crédito alguma vez virá a ter o seu contributo para a definição dos destinos da Nação.

O eterno, desgastado e completamente descaracterizado Partido Socialista, de socialista nada tem, apresentando-se hoje como uma caótica massa indefinida, ali mais ou menos ao centro, eivada de fumos de corrupção: uma espécie de próstata dilatada na imensidão da sua prosápia, entalada por paredes de tecido à direita e à esquerda, formadas por gente com quem, ou não quer falar, ou com ele não quer falar, Pouco mais é, hoje, do que um empecilho com tiques ditatoriais que, como qualquer próstata dilatada, nenhum fluxo para a liberdade por ela deixa passar.

Mesmo pondo de parte as recentes polémicas envolvendo a porta-voz, evidente se torna que o >Pessoas, Animais e Natureza se esqueceu, definitivamente, das pessoas, que da natureza pouco fala, e parece só se interessar pelas saladinhas, pelos tornedós de tofu e pela legítima defesa de alguns adoráveis bichinhos - não sei se das cobras venenosas também. Tremo só de pensar no que seria um governo formado por aquela gente que anda ao sabor do vento soprado pelos desígnios do PS, na esteira da moda iniciada pelo inexistente Partido Ecologista Os Verdes, que se constituiu abcesso do PCP.

O Partido Social Democrata lá vai fazendo a sua romaria, dirigida por um líder que, sem dúvida, transpira honestidade, mas está só: não tem a quem confiar responsabilidades governamentais numa amálgama de gente em tudo semelhante à do PS. É um líder que, ora toca bombo ora é o bombo da festa. Bem-intencionado e com muita vontade de fazer alguma coisa, mas completamente só num deserto de quadros partidários, alguns dos quais seguramente seriam tão incompetentes ou mais ainda do que certas pessoas que pelo atual Governo passaram e outras que ainda lá continuam a ocupar lugar.

A Iniciativa Liberal poderia ser uma possibilidade, mas aqueles rapazes e raparigas, muito originais e empreendedores sem dúvida, não têm estofo, não têm substância, não têm consistência, como ficou bem demonstrado naquela parvoíce dos Santos Populares*). Para negacionista, já cá temos um outrora juiz e, francamente, a receita não é de agradar. Para a IL querer ser alguém na política, tem, ainda, um longo caminho a percorrer, e muita coisa a afinar. Acresce que um partido que se diz liberal não tem lugar num país cuja população não sabe viver em liberdade, que odeia regras apenas porque o são, que as confunde com atos ditatoriais, que entende que o capricho individual vale mais do que qualquer lei, que sempre encara os deveres de má catadura.

Do Chega!, francamente, chega! O Chefe já se pavoneou que bastasse, já se divertiu à grande e à francesa*), já passeou o seu incomensurável ego por tudo quanto era sítio, já se pseudo-demitiu não sei quantas vezes, e faria bem em deixar-se daquelas coisas e ir tratar da vida fazendo algo que servisse para alguma coisa ou, pelo menos, não atrapalhasse. O Partido parece não passar de uma histriónica amálgama de ressabiados façanhudos, que só sabem que são do contra, sem saber, porquê ou, sequer, de que contra são. O Chega! não tem identidade, não existe, como bem o prova o facto de, para evitar as loucas arbitrariedades locais que redundaram no triste e alucinado espetáculo das autárquicas, tenha tido o tal cada vez mais eterno Presidente que, desta vez, avocar, com poder absoluto, a decisão e a responsabilidade pela formação das listas de candidatos.

(Acabo de me lembrar daquilo que resta de um tal Partido do Centro Democrático Social / Partido Popular, praticamente relegado à categoria de inexistente, não sei ao certo se por culpa do Presidente que lhe deu corpo e depois se foi, se por culpa da Presidente que depois por lá passou, ou por culpa do Presidente que quis muito sê-lo, continua a querer, mas parece ser o único a pensar assim)

O resto, é paisagem, como se viu naquele paupérrimo debate a onze na RTP 1. Têm, pois com certeza, esses quase protozoários todo o direito de existir e de gastar dinheiro a candidatar-se, às vezes parecendo que apenas o fazem pelo privilégio de mostrar as carantonhas dos dirigentes na têvê. Mas isso é lá com eles; e, se pretendem continuar a esbanjar dinheiro e a querer confundir o conceito de partido político com o de grupo de pressão, que lhes faça muito bom proveito, na certeza de que não é com qualquer deles que, algum dia, poderemos contar para toda esta confusão clarificar.

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Começa agora mais uma campanha eleitoral. Melhor: continua, porque em campanha todos os partidos sempre estão.

Uma campanha inútil, uma vez que jamais a validade de uma promessa para o futuro se sobreporá, num espírito minimamente lúcido, à da prática continuada nos meses ou anos que a terão antecedido. Não no espírito do meu caro Leitor, e no meu também não.

Já aqui disse que, desde que não sejam extremistas inveterados, me é indiferente quem irá ganhar a eleição de dia 30 de Janeiro: da forma como os vejo, entre maioritariamente corruptos e incompetentes, por um lado, e maioritariamente incompetentes e corruptos por outro, venha o Diabo e escolha.

Bem longe das egrégias figuras dos respetivos fundadores, os partidos tradicionais, aos anos 70, mais parecem hoje viveiros de profissionais da política, que nada mais alguma vez foram e hoje lutam para a sobrevivência de uma imagem que não merecem, frutos bravios de um ensino instável e volúvel e de uma educação que jamais terão tido e, manifestamente, não têm capacidade para, por si próprios, adquirir.

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Ninguém pode ser interrogado quanto à forma como votou ou irá votar no dia das eleições. Mas não é menos certo que ninguém está proibido de o declarar espontaneamente, exceto após o encerramento da campanha eleitoral.

Irei votar, claro! Mas o sentido positivo do meu voto será... nenhum.

Será um voto tão branco, como branco, vazio é o panorama político em Portugal, cenário apático ideal para que um dia caiamos sob o jugo de um ditador ou de equiparável animal.

Certo é que, tal como a abstenção, um voto em branco pode ter como efeito privilegiar partidos não democráticos, cujos apaniguados não deixarão de, pressurosamente, ir depositar o seu voto expresso. Todavia, esse efeito não ocorrerá, esse risco não se correrá, se apenas votarem em branco os absolutamente desiludidos, como o que aqui escreve, e os ainda esperançosos que, a não votar em branco, iriam protestar votando nos inenarráveis partidos extremistas, que todos sabemos o que têm por trás.

Em vez de, inconscientes do real e bem próximo risco que correm ao protestar votando em extremas, melhor fariam os últimos optando, também, pelo voto em branco. Sabiamente. Sensatamente. Esclarecidamente, como se quer numa verdadeira democracia.

O voto em branco não é desejável: é, simplesmente, a alternativa acertada e democrática ao voto nulo deliberado e, sobretudo, à abstenção. É o cartão vermelho, não ao regime democrático, mas aos seus atuais atores, que nos deixaram nesta lastimável situação.

Os votos em branco não parecem votos. Mas são...


  LEIA  AQUI  O  ARTIGO SEGUINTE DESTA SÉRIE DEDICADA AO ATO ELEITORAL!  

11 comentários:
  1. Já sabes o que penso. Tocaste num ponto importante que é abstenção e disseste uma coisa muito acertada: "ficando a democracia cada vez mais enfraquecida à medida que ela avança". Facilita o status quo e o avanço dos extremos mais mobilizadores.
    Gostei da expressão do BE estar num "muro da indiferença" - diria que o BE e o PCP. Deixaram de ser um partido de protesto para ser um partido do sistema que levaram às eleições atuais.
    DO Livre, não estou tão pessimista. Foi um erro que custou MUITO caro ter eleito aquela deputada onde o partido deixou de se rever. Confundir a Joacine com o partido e ideias de Rui Tavares é um erro pelo que vi e ouvi nos debates. terão os eleitores esse discernimento?
    Eu já votei hj de manhã, veremos na 2ªf da próxima semana o que sai.

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  2. Gostava de poder comentar este seu texto, mas para que o comentário pudesse alcançar algum proveito, mínimo que fosse, precisava de entender o que pretende significar com esta sua asserção: "Não sendo legítimo, a qualquer força política, pretender o mal do país em que opera, espera-se que todas elas prossigam o bem, apenas diferindo nos processos e meios preconizados para o atingir.". Afinal, em que consiste o "mal" do país? E o seu "bem"? Se há um "bem" e um "mal" tabelados, como parece ser o seu entendimento, então convém que esclareça qual será o papel dos partidos, quaisquer partidos, no seu entender! Como se justifica o aparecimento de tantas e tão diversas propostas, contraditórias algumas, na cena política? É que, a não ser assim, corre-se o risco de um falar em alhos e o outro responder em bugalhos, e isso é coisa que, de certeza, não queremos, nem precisamos.
    Saudações democráticas.

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    1. Muito obrigado pela sua observação.
      O que pretendo significar é que, independentemente do sentido e das cambiantes daquilo que defende, cada partido pensa estar a pugnar pelo que é melhor, não para o próprio, mas para a generalidade dos cidadãos, uma vez que todos eles, e não apenas alguns, se propõe governar. O importante é que cada força partidária esteja, plenamente, convicta da bondade dos seus propósitos - e é a este 'bem' que me refiro -, não existindo, evidentemente, um conhecimento daquilo que, num dado momento e num dado país, será 'bom' ou 'mau', conhecimento que apenas poderá, em parte, advir do resultado daquilo que acabará por ser aplicado por quem governa.
      Votos de uma boa semana.

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  3. Caro senhor António Ladrilhador,


    Obrigado por ter acedido a clarificar o seu entendimento sobre a noção de "bem" e de "mal" na vida politica.
    Embora esteja, agora, melhor habilitado para entender o seu pensamento, continuo com uma dificuldade, que é a seguinte: no que respiguei do seu texto, no comentário anterior, diz o senhor que as forças politicas, na procura do dito "bem" do país, apenas se poderiam diferenciar "... nos processos e meios preconizados para o atingir.". Donde, pensava eu, que, na sua ideia, haveria um programa definitivo para Portugal, não interessando, agora, indagar da sua proveniência, restando aos partidos tomá-lo em mãos e concretizá-lo, cada uma à sua maneira!
    Ora, este seu esclarecimento não exclui, de modo definitivo, esta minha interpretação, pois, ao escrever que cada partido deve pugnar pelo que é melhor "... não para o próprio, mas para a generalidade dos cidadãos..." , não tem em conta que os partidos mais não são do que a representação dos vários interesses, muitos deles contraditórios entre si, existentes na sociedade. Se assim é, cada partido deve levar a sufrágio as suas ideias, disponibilizando-se, depois, se assim o entender, a encontrar os consensos que permitam, aí sim, concretizar uma governação consentânea com o sentido das propostas mais votadas nas eleições.
    Dito isto, passo ao seu texto, começando por dizer que, face à racionalidade que perpassa por todos os seus escritos, bem como ao modo como organiza os seus juízos, é difícil compreender a ligeireza vastas vezes exibida em conclusões/premissas infundadas!
    Por comodidade de exposição, transcreverei algumas dessas conclusões, com sublinhado meu, e procurarei mostrar como as mesmas não assentam em qualquer realidade palpável, ou, pelo menos, exposta. Assim:


    "cada vez mais se vota menos nas ideias e mais nas pessoas que, mais provavelmente, irão implementar aquilo que lhes convém implementar, em lugar de as primeiras defender." (sublinhado meu)


    Quais os factos em que baseia a conclusão sublinhada? Ou, apenas, está a a julgar intenções? (intenções que bem sabe não poder provar, ou exigir que os visados provem!) s


    "No caso português, cada vez mais o eleitor parece intuir que o problema dos principais partidos do centro não reside nos princípios ou nas políticas que defendem, mas sim na prática do compadrio a qualquer preço, do nepotismo, do mais ou menos encapotado caciquismo..."


    julgo que no exercício de cargos públicos, pelo menos, o compadrio é crime. Se o senhor conhece factos anómalos dos quais tira essas conclusões deve denunciá-los, e, até, pode fazê-lo anonimamente! Já agiu nesse sentido?


    "... ao votar, ora numa extrema-esquerda de ideais dissimulados..."


    Dando de barato a designação que usa para catalogar como de extrema-esquerda o BE e o PCP, não acha que devia explicar, com factos, as razões pelas quais afirma que tais partidos dissimulam os seus ideais?


    "... já que votar num partido cujos lugares cimeiros se encontrem povoados de gente que não é de fiar..."


    Este maldizer dos políticos tem alguma correspondência em factos que conheça, ou não passa de conversa de café?

    (continua)

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    1. Obrigado pelo seu comentário, do qual apenas a primeira parte recebi (até à menção de 'continua'), pelo que apenas a essa primeira parte passo a responder.

      "Os partidos mais não são do que a representação dos vários interesses, muitos deles contraditórios entre si, existentes na sociedade". Se me permite, devo dizer que, na minha opinião, esta sua afirmação se encontra errada.
      Qualquer partido aspira, em princípio, à governação: não à governação de determinado grupo representativo de um ou outro interesse, mas à governação do Estado, entendido como integrado pela 'res publica' e pela TOTALIDADE dos cidadãos que dela são detentores. O que difere entre partidos é a forma como o conseguir, designadamente naquilo que respeita à prioridade na aplicação de cada medida. Aqui ressalta, por exemplo, a opção defendida por uns de, primeiro, aumentar os salários prosseguindo, por esta via, o crescimento económico, e a inversa, defendida por outros, de incentivar a atividade empresarial primeiro, passando depois ao aumento dos salários. Penso que, uns e outros, pretendem o bem-estar geral dos governados. Têm, simplesmente, formas diferentes de olhar para eles, qualquer uma delas correspondendo ao 'bem', no sentido em que todos estarão de boa-fé, embora, necessariamente, se uns estiverem certos, os que defendem o oposto estarão errados - algo que só o tempo dirá, se alguma vez disser.
      Na minha maneira de olhar para a política, a representação dos interesses de grupos específicos cabe, não a partidos políticos, mas a sindicatos, associações patronais diversos grupos de pressão, que não confundo com partidos políticos ou com a sua nobre, abrangente e complexa missão.
      A não ser assim, uma vez eleito qualquer partido, ai dos pobres representantes militantes dos outros, que o eleito não encararia como beneficiários de uma sábia e prudente governação.
      Fui o mais claro que consigo, quanto a este ponto, que me permito considerar definitivamente esclarecido entre nós.

      Ao sustentar que 'cada vez mais se vota menos nas ideias e mais nas pessoas' baseio-me na minha interpretação da evidência que a todos nós diariamente chega através da análise conjunta de: 1) evidentemente inexistentes alterações aos programas eleitorais apresentados; 2) teor das mensagens passadas no decurso dos debates e ações de campanha; 3) as oscilações nas intenções de voto.
      Se (1) os programas eleitorais são estáticos e (2) o conteúdo dos debates e dos discursos de campanha pouco além vai do ataque, por vezes rasteiro, aos adversários políticos, resta-me concluir que, (3) o que influencia quem participa nas sondagens - que valem o que valem, mas são o que temos... - não são, maioritariamente, as ideias que as falas não esclarecem, mas a forma mais ou menos picaresca e empolgada como, a cada dia que passa, se exprimem os diversos candidatos. É neste sentido que digo que se vota, cada vez menos nas ideias e mais nas pessoas. Ou acredita o meu caro Leitor, seriamente, que a maior parte daquela turba ululante que aparece com cartazes e bandeiras se dedicou, empenhadamente, a ler e absorver os enfadonhos textos dos programas políticos?... (continua)

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    2. (continuação)

      Os crimes de compadrio e de nepotismo são, tanto quanto sei, algo que não existe, dado que se não enquadram na previsão do n.º 1 do art.1º do Código Penal Português, assim não me parecendo fazer qualquer sentido a sua objeção.

      Por fim, quanto à dissimulação de ideais, já sobejamente me pronunciei noutros textos, pelo que considero inútil continuar esta vertente da discussão.

      Acrescento, porém, que nem para aqui alguma vez trouxe aquilo que penso que considera 'conversa de café', nem tenho o hábito de atacar, gratuitamente, políticos ou partidos políticos, muito menos de os 'maldizer: apenas me insurjo contra determinadas práticas de uns ou de outros, direito que plenamente me assiste, desde que fundamente, como já fiz. A simples sugestão é, aliás, claramente contraditória com a sua conclusão pela racionalidade que passará por todos os meus escritos, menção que, naturalmente, agradeço, penhorado.

      Saudações cordiais.

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  4. Caro Senhor António Ladrilhador,

    Lamentavelmente, o restante do meu comentário ter-se-á perdido nos meandros da internet, provavelmente por responsabilidade minha. Dado que não possuo cópia do que alinhavei, não vou tentar repô-lo. Aliás, nada de útil traria à discussão, uma vez que as questões que aí levantava prendiam-se com realidades concretas e, a essas, já percebi que nunca responderá. Claro que tem todo o direito de se insurgir contra as práticas que entender. Era o que mais faltava que assim não fosse! O ponto é, se essas práticas, tal como as descreve, existem. Ao contrário do que diz, e é só a minha opinião, entendo que nunca fundamentou várias das acusações genéricas que produziu. Por isso, é que eu falava em conversas de café ou de táxi, por não se diferenciarem do linguajar da "rua". E não há qualquer contradição entre o reconhecimento da racionalidade que exibe nas conclusões principais do seu texto e a fragilidade apontada às premissas em que assenta essa mesma racionalidade. Fossem estas inabaláveis, e tudo estaria bem! Julgo que me faço compreender. E, o Senhor, que tanto rigor técnico exige em qualquer afloramento jurídico que se faça, sabe bem que quando se acusa alguém, por exemplo, de corrupção, mesmo que em tom genérico, exige-se muito mais do que meras conjecturas, exigem-se provas! Eu sei que não é a si ou a qualquer cidadão que compete apresentar provas, ou julgá-las, mas enquanto pessoa responsável, que se diz, julgo que não tem o direito de manchar, gratuitamente, a imagem de alguém, mesmo que seja político, ou outra qualquer figura pública.
    Por outro lado, não sendo eu da profissão e, pese embora o erro técnico de considerar o compadrio como crime, o senhor entendeu muito bem aquilo que eu quis dizer, não vale a pena disfarçar... Como entendeu bem ao que me referia, quando evidenciei que os partidos, em meu entender, representam os vários interesses existentes na sociedade, ao nível da superestrutura do poder, do Estado. O senhor sabe bem que por detrás de qualquer partido há uma ideologia, e é com base nela que cada um constrói o seu programa. Por isso se fala em direita e esquerda. Ou não será?! Claro que, nada disto leva ao abafar dos menos votados em eleições, como se comprova em qualquer regime democrático.
    Saudações cordiais.

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    1. Bem, meu caro Leitor, contrariamente ao que pretende, eu não acusei quem quer que fosse do que quer que fosse, ainda que genericamente: limitei-me a opinar que, necessariamente a partir daquilo que vou vendo e lendo, 'cada vez mais o eleitor parece intuir que o problema dos principais partidos do centro não reside nos princípios ou nas políticas que defendem, mas sim na prática do compadrio a qualquer preço, do nepotismo, do mais ou menos encapotado caciquismo'. Deixe que repita: PARECE-ME (não acuso) que O ELEITOR (não eu) INTUI (não acusa, tampouco) que (...).
      Não sei se existe compadrio ou nepotismo ou o que quer que seja, nem tenho como o saber: apenas opinei que me parece que o eleitor português pensa que sim, o que colho, esclareço, sobretudo, dos desabafos que, em campanha eleitoral, se vão ouvindo por parte das pessoas que se cruzam com ações de rua. Independentemente de qual possa ser a sua, é esta a minha conclusão. Como facilmente confirmará, foram estas as ideias que exprimi, e não outras, pelo que apenas estará a pretender pôr na minha pena palavras que não escreveu, quem outro sentido às palavras pretenda dar.
      Rejeito, assim, liminarmente qualquer sugestão sua quanto a uma acusação minha que, face ao que escrevi no texto que comenta, me não parece fazer qualquer sentido.
      Quanto à ideologia, claro que qualquer partido a tem muito própria, ou, não existindo diferenças, não faria qualquer a sentido a existência de diversos partidos; e é essa diferença de ideologias que conduz a abordagens diferentes da governação. Assim sendo, ão vejo, francamente, em que discordamos.
      Cordiais saudações.

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  5. Caro Senhor António Ladrilhador,

    Desculpe insistir no assunto, mas foi o senhor que escreveu isto, no texto aqui comentado:

    "Já aqui disse que, desde que não sejam extremistas inveterados, me é indiferente quem irá ganhar a eleição de dia 30 de Janeiro: da forma como os vejo, entre maioritariamente corruptos e incompetentes, por um lado, e maioritariamente incompetentes e corruptos por outro, venha o Diabo e escolha."

    É este tipo de discurso que entendo como incongruente com o saber que emana dos seus escritos, e que não posso deixar de criticar.

    Explique-me, pois, em que parte do meu comentário extravaso daquilo que consta do seu texto, como reflexo do seu próprio pensamento?


    Saudações cordiais.

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  6. Caro Leitor
    O meu pensamento é o de um cidadão moderado, que procura a estabilidade e a paz social, para o seu País e para os seus. Não sou, de facto, adepto das posições extremadas de quem me parece apenas defender interesses sectoriais - ou nem isso - e utiliza discursos extremados, aparentemente apenas para garantir a sobrevivência no quadro político.
    Agradeço o seu comentário, e fica registada a sua posição.
    Cordiais saudações

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