Dedicado aos jovens ciganos e aos jovens comunistas
que os velhos patriarcas pouco ou nada deixam ser
"São iguais os velhos ciganos e os velhos comunistas no preciso ponto em
que
ambos ignoram o pleno significado da palavra das palavras:
Liberdade!
A liberdade temperada pelo respeito essencial ao bem-estar
de qualquer país, de qualquer partido, de qualquer comunidade"
"Perante o escancarado féretro que o aguarda, procura o Partido, para
prolongar o último e patético alento,
alimentar as urnas com
cacofónicas reivindicações de um impossível
que apenas os
economicamente analfabetos ainda conseguem considerar
possível.
Mas, os analfabetos estão em vias de extinção;
e, com
eles, a ignorância, tradicional mas hoje quase inerte substrato do
voto comunista em cada eleição"
1. Motivação
2. Do Respeito pela Lei e pelos Usos Instituídos
3. Da Indiferença e da Tirania da Tradição Cigana
4. Da Indiferença e da Tirania da Prática do PCP
5. Crepúsculo
1. Motivação
Para “perplexidade” do advogado de defesa, uma juíza portuguesa
considerou, em sentença prolatada há alguns dias, que as agressões levadas
a cabo nas pessoas de colaboradores de determinado restaurante “são inadmissíveis e envergonham a etnia cigana”*).
A primeira parte da declaração é pacífica, uma vez que, a pronúncia pela
inadmissibilidade dos atos, parece que ninguém contestou. Já a segunda, a da
suposta vergonha para a etnia cigana, mereceu honras de notícia, quanto
mais não fosse por, nos dias que correm, ser
in fazer eco do que quer que se escreva ou diga acerca de qualquer
minoria. Seja o que for, em abono ou desabono, já se sabe que cola, que
vende; e, estando os leitores já saturados das intermináveis,
porquanto comoventes e terríveis, histórias e historietas da invasão da
Ucrânia, pendurar-se um comentador na suposta e estafada defesa de minorias
sempre aparecerá aos menos esclarecidos como uma mais-valia, uma
bandeira agitada, um pouco de sal e de pimenta no ror de notícias sem novidade
e comentários sem substância que se vê por aí.
Não será, porém, despiciendo recordar àqueles que são capazes de encontrar
laivos de racismo até no mais banal comentário de uma juíza com juízo, que
quem o proferiu foi a mesma magistrada que, anos atrás, foi acusada de, entre
outras decisões mais ou menos polémicas num ou no outro sentido,
ter violado direitos constitucionais de arguidos neonazis, simplesmente por
haver determinado que, enquanto meio de prova, fossem analisadas por peritos
as tatuagens que aqueles ostentavam no corpo*).
Não passará, assim, de nova e mais do que forçada fabricação mediática
qualquer insinuação quanto à interferência do preconceito, seja na atuação
genérica da decisora, seja nas considerações que, na leitura do acórdão, esta
oportunamente teceu.
2. Do Respeito pela Lei e pelos Usos Instituídos
As sábias e pedagógicas considerações proferidas em tribunal, estupidamente
consideradas polémicas, trazem à balha a velha questão da existência de dois
tipos de ciganos - os bons e os maus, com todos
os graus intermédios -, tal como a de dois tipos de negros e a de dois tipos
de brancos, verdes, azuis, todos.
A propósito, e antes que meia dúzia de exaltados comece por aí aos gritos,
convirá lembrar que, se podemos falar de democratas,
de fascistas, de comunistas, de
progressistas e de reacionários,
de portugueses e de franceses,
de africanos e de europeus, razão não haverá para
nos caírem em cima quando, por comodidade de expressão e sem que isso traduza
menos respeito ou afloramento de discriminação, falamos de
ciganos referindo-nos à organização dita social da comunidade cigana, à
cultura cigana, a certos aspetos da etnia*): não, necessariamente, à raça*) cigana, o que, naturalmente, seria impróprio sob qualquer ponto de vista que
com as ciências ditas exatas não tenha a ver.
Ora, de um modo geral, encontra-se socialmente estabelecido que qualquer
ilícito penal, qualquer crime, de qualquer tipo, envergonha os restantes
elementos da etnia - enquanto grupo social - que o infrator
integra, tal como envergonha os restantes membros de qualquer comunidade a que
pertença: país, região, religião, escola, empresa ou outra forma de
organização, e seja qual for a cor ou tom da pele, que, decididamente, nunca
deveria ser chamado a esta discussão.
Isto, é evidente, sabido e sentido por todos e, como tal, não carece de
demonstração.
Em grupos firmemente estabelecidos na comunidade, de raízes sólidas e
reputação firmada, cada ovelha ronhosa envergonha as restantes. Os atos
condenáveis que pratica chocam pares, parentes, companheiros,
correlegionários, que tendem - quando isentos, de boa-fé e socialmente
responsáveis e sensíveis - a ser os primeiros a censurar a conduta ilícita ou,
mesmo, criminosa. São, também, estes que promovem e exercem, no âmbito social,
disciplinar ou criminal, indispensável e expedita ação em claro sinal de
repúdio que, além de prevenir a contaminação interna da podridão e a
consequente proliferação de ilícitos, transmite, para o exterior da
coletividade, o necessário à salvaguarda da respetiva reputação.
Tal não sendo feito, essa reputação sofre ainda mais quando o prevaricador
pertence a setores ou grupos minoritários que lutam pelo reconhecimento de
legítimos direitos, e cujos elementos, nomeadamente os
socialmente saudáveis, se veem - por vezes, com indesejável frequência
e dispensável sofrimento, quase sempre, por serem vítimas do aproveitamento
político, do egoísmo ou da pura maldade – na contingência de ter de,
legitimamente, se manifestar de forma indignada e veemente contra a
inaceitável discriminação típica das lastimáveis civilizações que, formalmente
os acolhem, mas, substantivamente, os rejeitam.
Neste conceito de socialmente saudável apenas cabem, naturalmente,
aqueles que, no respeito pelos valores da liberdade, da democracia e do
respeito pelo semelhante, observam as leis e os usos da comunidade em que
escolheram viver, abstendo-se de, seja por que razão for, procurar impor-lhe
tipos de organização social, modos de vida ou traços culturais que a maioria
autóctone não quer para si, não aceita, não admira, ao que,
democraticamente, lhe assiste todo o direito.
3. Da Indiferença e da Tirania da Tradição Cigana
No mesmo conceito de socialmente saudável não existe, evidentemente,
lugar para aquela meia dúzia de mofinos aprendizes de sociopata que procura
impor as suas regras: para párias que violam a lei, a desrespeitam ou
insultam. Em liberdade, cada um tem todo o direito a viver a seu bel-prazer,
como foi formatado ou educado, ao seu estilo, mas, jamais, com uma patente e
egocêntrica indiferença pelo modo de vida da comunidade que o acolhe, na qual,
jamais tencionando integrar-se, se limita a imiscuir-se; e foi essa
indiferença que, no que a boa parte diz respeito, muito injustamente granjeou
aos ciganos a proverbial aversão que certos setores da sociedade inequívoca e
ativamente manifestam, e que outros parecem incapazes de, pelo menos,
disfarçar.
Não me refiro, que fique claro, aos ciganos que, respeitando os valores da
liberdade e da democracia, se integraram nas sociedades previamente
estabelecidas nas terras onde eles escolheram viver. Quanto a esses, qualquer
distinção no plano social e humano apenas poderia basear-se na ideia de raça,
o que não passaria de um rematado e vazio dislate, de uma inaceitável
manifestação do sectarismo primário que é próprio de indivíduos de pobre jaez.
Há, não obstante, que considerar que o impacto fortemente negativo sobre a
eficiência rodoviária provocado pelas carroças puxadas por equídeos insalubres
e lazarentos em que - habitualmente em contravenção com as mais elementares
normas de salubridade e de circulação e segurança na estrada -certos ciganos
insistem em continuar a fazer-se deslocar não passa de um aspeto menor e, de
algum modo, folclórico de algo bem mais grave que àquele subjaz.
Já folclóricos não poderão ser considerados não raros julgamentos e
condenações por furtos, roubos ou cenas de mais ou menos expressiva violência;
ou, até,
bodas para as quais a lei proibia, em plena pandemia, serem convidadas
centenas de pessoas*), que as autoridades se viram obrigadas a dispersar.
Típica dos déspotas, dos tiranos, dos machistas, dos racistas, a causa
profunda e ainda não muito remota destas constantes e persistentes violações
da lei e manifestações de desrespeito pelos costumes instituídos terá sido a
recusa, décadas a fio e por parte dos mais velhos patriarcas ciganos por
muitos ainda respeitados quais anacoretas, em permitir que os jovens que o
desejassem se integrassem nas comunidades que os rodeavam. Terá sido a
proibição de que as raparigas ciganas casassem com rapazes de outras
raças, a proibição de que os jovens se instruíssem e se desenvolvessem
intelectual e culturalmente visando tornar-se elementos válidos e produtivos
da sociedade.
Tudo isto apenas por receio de que a aquisição, pelos vindouros, de
competências que os quase analfabetos patriarcas patentemente não detinham e
jamais seriam capazes de vir a deter, um belo dia permitisse àqueles
destituí-los e ocupar os seus lugares, ciosamente assegurados por uma suposta
tradição centenária ou milenar, mas, seguramente, pela força, pelo temor de
quem, sem qualquer competência para tal, dirige despoticamente um grupo,
porque, na vida, outra coisa não é capaz de fazer.
Importa-lhes, outrossim, impedir quem pensa e estuda de expor a inutilidade
prática, a inanidade, a vacuidade do domínio dos patriarcas: a ineficácia, a
irracionalidade de posições e de políticas anquilosadas por eles preconizadas
e defendidas, há muito desfasadas da realidade do tempo e do lugar. Encaram
estes velhos caducos a contestação e a simples evolução como perigosamente
conducentes ao inevitável e crescente desrespeito pela monolítica hierarquia
por parte de quem já se questiona e, pela própria cabeça, procura pensar. Por
parte de quem olham como apóstata porque, simplesmente, não entende como pode
quem se diz superior e sábio continuar a defender o indefensável, o insano, o
ilógico, apenas para que se mantenha no poder, na ribalta, num palanque de
chão podre uma meia dúzia de ignorantes, arbitrários e incompetentes heróis de
lutas de outrora que no poder, não tem hoje, evidentemente, qualquer lugar.
Dizem as más línguas que estes tradicionais ciganos apenas sobrevivem à
custa de subsídios e de roubar. É possível. Mas, que alternativa resta a quem,
desde cedo, se vê impossibilitado de ganhar o sustento pelo trabalho e de,
através dele, validamente se integrar na sociedade? A quem tal é negado, não
apenas pelo preconceito irracional e abusivo, mas, sobretudo, pela falta de
competências decorrente da proibição de estudar, de se valorizar, a não ser no
seio de uma comunidade nómada e pouco respeitadora das normas e dos valores
estabelecidos e estabilizados?
Como pode, afinal, admitir-se, num supostamente civilizado estado de
direito, que uma comunidade ou família faça depender a entrega de um
foragido à justiça portuguesa da decisão, na mais alta instância, do
respetivo patriarca cigano?
4. Da Indiferença e da Tirania da Prática do PCP
Terá dito o mais falado ditador português que “muitos dos que se têm sentido oprimidos nos últimos trinta anos já
demonstraram em discursos, e jornais e em outros atos públicos, estar em
condições de gozar dessas liberdades e com tão grande amplitude que não
chegarão para mais ninguém”.
Apenas desvalorizada pela identidade do seu autor, a ironia assenta como uma
luva a certos grupos -tanto sociais, como os ciganos, como políticos,
como o Partido Comunista Português (PCP) -, que, em nome e a coberto da
propalada defesa de direitos minoritários, galgam, espezinham e desprezam a
maioria legítima de que diferem, embora o direito à diferença digam defender.
Apesar de o PCP não ser propriamente conhecido pela
diversidade étnica com que recruta os seus deputados e quadros
proeminentes*), tem em comum, com a tradicional e anquilosada liderança da fatia retrógrada
e reacionária da comunidade cigana, a liderança cediça e retrógrada, que, numa
tentativa desesperada de se manter agarrada ao poder, não hesita em continuar,
contra toda a sensatez e evidência, a defender o indefensável, a
recusar-se a condenar algo tão condenável como a invasão de um estado por
outro*), a abrir ao Mundo as suas portas, a olhar em volta, a limpar as suas
impenetráveis paredes de vidro, a romper a crosta do secretismo e da
indiferença, a abrir as janelas e deixar entrar o ar.
Tal como os agora caducos patriarcas ciganos do antigamente se recusam a
sancionar, a condenar quem agride militares da GNR ou burla centenas de
utilizadores do Multibanco, ou, das mais variadas formas, viola a lei, também
os patriarcas comunistas que o poleiro se recusam a deixar proíbem que se
sancione, se condene regimes ditatoriais que, arbitrária e implacavelmente,
subjugam populações indefesas e incapazes de se revoltar, em total desrespeito
pelos mais elementares direitos humanos; ou quem agride inocentes cidadãos que
vivem em paz nas suas casas, que nada têm ou querem ter a ver com a política
dos grandes, mas que, sem querer, morrem por eles, pelas suas riquezas,
poder, vaidade, exaltação.
Não pode considerar-se socialmente saudável aquele que
defende estados e formas de governo alérgicos aos valores da liberdade, da
democracia e do respeito pelo semelhante, que impõem leis repressivas, que
invadem, que torturam, que matam, que exterminam. Não é socialmente saudável quem nega, por exemplo, Holodomor*) e hesita em condenar os sobejamente documentados massacres na Ucrânia -
por muito adulteradas que certas imagens possam ser -, ou se recusa a condenar
a invasão de um estado por um outro que não hesita em aniquilar, em,
indiscriminadamente, matar civis, em arrasar. Tal como no caso dos ciganos,
foi essa indiferença ou estado de negação que, muito injustamente, granjeou
aos comunistas a proverbial aversão que certos setores da sociedade inequívoca
e ativamente manifestam, e que outros parecem incapazes de, pelo menos,
disfarçar.
Esgorjando por poder, recusam-se os dirigentes comunistas, não apenas a
sancionar e a condenar o reprovável, como a permitir que os mais jovens
militantes sancionem e condenem, impondo-lhes uma férrea e implacável
disciplina partidária. Tal como os patriarcas ciganos, ao defender o
indefensável, os patriarcas comunistas portugueses envergonham aqueles que,
nos tempos da nossa ditadura, abnegadamente a ela se opuseram, com sacrifício
pessoal muitas vezes além do imaginável e entregando-se sem reservas à causa
da liberdade.
Típica dos déspotas, dos tiranos, dos machistas, dos racistas, a causa
profunda e ainda não muito remota da cada vez mais próxima morte política terá
sido a insistência, por parte dos velhos patriarcas do PCP, em formatar os
jovens, incutindo-lhes convicções que, uma vez por estes alardeadas como suas,
os tornam indesejáveis num mercado de trabalho capitalista e democrático,
apenas lhes deixando como modo de vida trabalhar para o Partido, ou
representá-lo em instituições democráticas, mesmo naquelas que, expressamente,
não admiram. Transformam jovens potencialmente válidos em parlamentares e
autarcas olhados de esguelha, incapazes de se integrar plenamente na
sociedade, profissionalmente inúteis ao mercado de trabalho, em gente que,
além de política ou politiquice, para garantir o agasalho nada mais sabe
fazer.
Importa-lhes, outrossim, impedir quem pensa e estuda de expor a inutilidade
prática, a inanidade, a vacuidade do domínio dos patriarcas: a ineficácia, a
irracionalidade de posições e de políticas anquilosadas por eles preconizadas
e defendidas, há muito desfasadas da realidade do tempo e do lugar. Encaram
estes velhos caducos a contestação e a simples evolução como perigosamente
conducentes ao inevitável e crescente desrespeito pela monolítica hierarquia
por parte de quem já se questiona e, pela própria cabeça, procura pensar. Por
parte de quem olham como apóstata porque, simplesmente, não entende como pode
quem se diz superior e sábio continuar a defender o indefensável, o insano, o
ilógico, apenas para que se mantenha no poder, na ribalta, num palanque de
chão podre uma meia dúzia de ignorantes, arbitrários e incompetentes heróis de
lutas de outrora que no poder, não tem hoje, evidentemente, qualquer lugar.
5. Crepúsculo
As duas partes que, neste texto, imediatamente antecedem contêm dois
parágrafos iguais, tal como iguais são os velhos ciganos e os velhos
comunistas no preciso ponto em que ambos ignoram o pleno significado da
palavra das palavras: Liberdade! A liberdade temperada pelo respeito essencial
ao bem-estar de qualquer país, de qualquer partido, de qualquer comunidade.
Tal como os ciganos nómadas de antanho têm, no mundo dito civilizado, os dias
contados, o PCP não passa, hoje de um doente terminal que ainda não
interiorizou que, em breve, vai morrer, apesar de, cada vez mais alto, os
eleitores lho gritarem aos ouvidos moucos.
Perante o escancarado féretro que o aguarda, procura o Partido, para prolongar
o último e patético alento, alimentar as urnas com cacofónicas reivindicações
de um impossível, que apenas os economicamente analfabetos ainda
conseguem considerar possível.
Mas, os analfabetos estão em vias de extinção; e, com eles, a ignorância,
tradicional mas hoje quase inerte substrato do voto comunista em cada eleição.
* *
Embora em vias de extinção, enquanto ela não acontece vão estes seres oferecendo, pelo exemplo que constituem, uma machadada na causa antirracista, assim potenciando os efeitos bem nefastos que esta já vem sofrendo dos excessos e dos desmandos praticados por alguns daqueles que se arrogam seus principais defensores, embora não passem, muito provavelmente, de pouco escrupulosos oportunistas que olham para a causa, ora como escada de acesso a outros voos.
[não perca aqui a sequência!]