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sábado, 2 de março de 2024


A Queda do Anjo

"A incompetência dos democratas é o berço dos ditadores"

"Foi o carisma que lançou a extrema direita, e é de falta dele que a democracia irá morrer"

"~(...) grassa a nuvem negra e lambaz da corrupção instalada, que a inércia do legislador, a inépcia do judiciário
e o titubear do judicial parecem empenhar-se em perpetuar sob o céu azul que ela há muito de nós escondeu
"


Esta coisa do bipartidarismo português nunca passou de um mito.

O que emergiu do 25 de Abril foi um Partido Socialista (PS) endeusado pelo indiscutivelmente meritório desempenho de Mário Soares na definição e posterior consolidação da lusa democracia.

A este PS, sempre procurou, sem grande sucesso, morder as canelas um Partido Social Democrata (PSD) tragicamente órfão de tenra idade do carisma de Francisco Sá Carneiro, cuja perda prematura logo viria a demonstrar as evidentes fragilidades de uma casa de nada ou de muito pouco cheia na substância.

Nunca houve dois polos: apenas um partido, dito socialista. Resolvidos os incómodos e sobressaltos que, imediatamente se seguiriam à Revolução, os restos que ficaram, de um de de outro lado do Hemiciclo, jamais passaram de paisagem mais ou menos alcantilada da qual se ia precipitando, imparável, o Partido Comunista, pontilhada por mais ou menos expressivas, mais ou menos caricatas e invariavelmente efémeras emanações partidárias de coisa nenhuma.

- x - 

Acostumou-se, pois, o nosso bom povo a vegetar politicamente sob a asa protetora de um eterno PS, em cujos patriarcas de divina áurea sempre confiou, e a cuja angelical asa protetora quase sempre se encomendou.

Uma asa, diga-se, curtida na resistência heroica de uns quantos aos desmandos da República em tempos de má memória. Uma asa que nada parecia capaz de perfurar, e que jamais se imaginaria poder soçobrar ao sopro de adversas mas, desta vez, mais moderadas tormentas.

Jamais, até que aconteceu um Sócrates, de magníloqua "narrativa", campeão da anchura, cuja indelével nódoa de narcísica jactância e básica incompetência governativa, nem que piquem e reboquem, de alto a baixo, as paredes do Largo do Rato, alguma vez as deixará. Ao que já vai parecendo, só mesmo a História o julgará...

Seguiu-se Costa, o pantanoso arrastar de criptobióticos governos que se diria de mera gestão, devotos da tesouraria, e aos quais a simples ideia de uma reforma estrutural que fosse parecia causar infernal brotoeja e comichão.

Enquanto dava golpes de rins para se equilibrar no periclitante baloiço da geringonça, Costa, qual bonecreiro, criou e orientou jovens "turcos e turcas" que, a ele "colados e coladas" como musgo, germinaram "ansiosos e ansiosas" por fazer coisas bonitas para agradar ao mestre; e por alardear ideias que, cá por fora, os burros dos mais crescidos achassem apelativas, ousadas, inteligentes e inovadoras.

Politicamente adolescentes, ignorantes da vida fora do aparelho partidário que os vira parecer crescer, cedo lograriam fazer definhar em redor, por desânimo e saturação, aquelas velhas e frondosas árvores socialistas cujo exemplo desprezavam, em lugar de dele beber ensinamentos. Delas, apenas vemos hoje levantar-se um pouco do chão ressequidas flores da memória, ao sabor de alguma brisa mais travessa.

Outrora pertinazes e pugnazes, resistentes como tartígrados, em vez de morrer de pé foram, suavemente, baixando os desalentados ramos, perdendo as poucas e envergonhadas folhas, deixando o Partido, oco de causas, desnorteado, vazio; e, à deriva, aqueles de nós que, outrora, na sua governação se aninharam, depois nele continuando a votar apenas por inércia e à falta de verdadeira alternativa.

- x -

A hipocrisia das ideologias ditas "de esquerda" - as que prometem a igualdade a expensas do défice e, depois, "os ricos que paguem a crise" -, encarregou-se a História de desmascarar.

As atuais supostas diferenças partidárias reduzem-se, assim, ao carisma de quem dá a cara: é o carisma que ganha o voto de uma população de eleitores, ora ainda ignorante, ora já desinteressada. Como bem sabem as direções de campanha, dêem-lhes palhaçada, intriga, folclore, almoços, frigoríficos, e o voto é garantido.

Foi o carisma que lançou a extrema direita, e é de falta dele que a democracia irá morrer. Quebradas as em tempos majestosas mas há muito estaladiças asas, já se estatelou no solo o último bastião, o anjo dito socialista. Tombou órfão, tal como, antes dele, os outros três Magníficos de Abril.

Costa, goste-se dele ou não, foi o último carismático nos quatro partidos dignos desse nome. Do PS do dia seguinte a Costa... ficou isto que se vê.

Fracos, como tantos outros, em ideologia, que carisma têm, que fé merecem, que confiança inspiram tão pouco acendrados meninos de coro, quais atarantados escuteiros de voz monocórdica, fala titubeante, rosto tenso, falta de planta, ar desinteressante?

Gente "com estudos", que se exprime como se perorasse em reuniões de alunos convocadas para dizer mal dos professores. Gente estuante de desejo de sobressair, de mandar, mas de discurso sem futuro, arauto das estafadas "empatia" e "humildade", mas elogiosa do passado inútil de um mestre sem obra estrutural feita, com o qual nos acena qual marco glorioso no qual algo houvesse do que se orgulhar.

Irá a falta de identidade, de estrutura, de carisma merecer a benquerença de quem vota, a ponto de confiar num partido apenas bom para agravar o caos em que a Administração Pública ele próprio afundou?

- x -

A incompetência dos democratas é o berço dos ditadores.

Como nos espantarmos então, que, encapotados, estes vão brotando de partidos de protesto, sem estrutura, sem Norte, sem causas que não a descarada exaltação do ego de pelotiqueiros e pícaros cabecilhas, e o mal disfarçado encher do bolso do hábil guloso à custa do parco provento do saturado néscio?

Como respeitar, politicamente, minúsculos partidos, velhos ou novos mas quase sempre patéticos, quase todos ínfimos grupelhos de protesto, originalidades sem esqueleto às ordens de caricatos mas despóticos pastores? Para que servem, além do aleatório agitar das águas, nelas diluindo o voto, assim perturbando mais ainda o navegar dos grandes vapores?

Politicamente falido, ideologicamente desacreditado e tecnicamente anedótico, será aquele partido de esquerda que o PS não é que nos vai tirar do lodo e acalmar as angústias? Ou um PSD consumido em guerras intestinas, no qual ninguém se entende? Onde um ou outro esqueleto mais ou menos mumificado, mais ou menos oportunista, insiste, aqui e ali, em dar à costa apenas para mostrar quão bem sabe dar tiros no pé?

Claro que não!

- x -

A paz social está seriamente ameaçada pela desigualdade no tratamento salarial das diversas forças de segurança e militares. Tudo isto, devido a uma decisão*) negligente, precipitada, quase infantil de quem, quando a tomou à pressa e com eleições à porta, muito mais teria já em que pensar.

Poucas semanas se passarão, depois de Março, sem que a bronca estale, a menos que, inesperadamente, um novo anjo por cá aterre com uma inesperada, apaziguadora e, sobretudo, milagrosa solução.

Entretanto, pairando sobre o corpo tombado do PS, grassa a nuvem negra e lambaz da corrupção instalada, que a inércia do legislador, a inépcia do judiciário e o titubear do judicial parecem empenhar-se em perpetuar sob o céu azul que ela há muito de nós escondeu.

De branco, só o meu voto de protesto.

Um voto em branco que nada muda, é certo. Mas. para melhor, pouco ou nada por cá irá mudar.

Vote eu em quem votar...

sábado, 23 de julho de 2022


Festa do Avante 2022

À boa maneira da propaganda comunista, escrevia-se, em 2013, que "a Entrada Permanente (EP) para os três dias, é um título de solidariedade fundamental para o êxito da Festa do Avante! A sua aquisição antecipada é uma expressão concreta de solidariedade com a preparação e construção da Festa".

Nessa altura, não havia, ainda, invasão da Ucrânia pela Rússia, nem o Partido Comunista Português (PCP) estava ferido de morte pela estultícia das posições quanto a ela assumidas. Nessa altura, ainda uma parte dos Portugueses lia a cartilha comunista com idolatrada fé e devoção, como se de um dogma quase religioso se tratasse para aqueles que nenhuma religião professavam e nenhuma fé de natureza metafísica queriam assumir.

Solidariedade! Quem poderia resistir à abusiva e despudorada utilização de um termo que exprime o que de mais nobre poderá haver no ser humano face ao drama dos que dele necessitam, para levar os incautos e pouco esclarecidos militantes e simpatizantes a financiar a atividade de uma organização política cujos verdadeiros propósitos, não sendo, então, evidentes, hoje já não é possível escamotear?

"Já compraste a tua EP?" Valia a pena, sim.

A monolítica e anquilosada cúpula do Partido descobrira, na Quinta da Atalaia, a galinha dos ovos de oiro: a indiferença dos mais jovens para com as coisas da política, em benefício da irresistível oportunidade de assistir, ao vivo, a um espetáculo musical cuja qualidade os levava a precipitar-se, todos os anos, para a bilheteira física ou virtual, no tal ato de solidariedade que lhes permitisse, pelo menos por escassos três dias, esquecer um pouco o horizonte negro que temos vindo a tratar de lhes propor. Ou impor.

Debandavam, claro, quando chegava a altura de ouvir a monocórdica cassette ligada à língua dos crânios do PCP; ou, pelo menos, aproveitavam para beber uma mine ou uma jola com o pessoal até que a tivesse fim a estafada lenga-lenga.

Depois, música, e mais música, e viva o PCP!

- x -

Já não é assim.

Os aficionados da Festa do Avante! não têm, agora, como assobiar para o lado, fazendo de conta que a "solidariedade com a preparação e construção da Festa" corresponde, em boa verdade, ao financiamento de uma estrutura que mais não visa do que minar, precisamente, os valores indelevelmente associados à solidariedade que diz promover.

A solidariedade para com as vítimas ucranianas é, manifestamente, algo que nem ao de leve perpassa o espírito daquela estranha gente para quem as receitas da Festa hoje aparecem como a forma possível de continuar a difundir a pérfida mensagem, e a financiar o punhado de zelotas que com o Partido ainda colaboram.

Adquirir bilhetes para aquilo mais não é, afinal, do que contribuir para a eternização de uma vergonha nacional que, com despudor e desplante sem par no mundo civilizado, entende que, independentemente da motivação de um e do outro, um estado invadido deve ceder perante o invasor.

Não será altura de os jovens e menos jovens amantes da música que por lá se toca terem a ombridade e a dignidade de dizer NÃO! ?

terça-feira, 5 de julho de 2022


Luís Marques Mendes

LMM - Luís Marques Mendes


"A autoridade é um bem que se degrada quando não se usa
"

Luís Marques Mendes*)              
(SIC - Jornal da Noite)          

Veio isto a propósito do lamentável espetáculo oferecido pelo Ministro das Infraestruturas e pelo Primeiro-Ministro na sequência do despacho mandado publicar por um secretário de estado do primeiro decidindo a nova configuração aeroportuária da zona de Lisboa, seguido da quase imediata ordem de revogação*) do mesmo transmitida pelo segundo ao primeiro.

Assim aconteceu, e de outra forma não poderia ter acontecido, já que, a omitir-se o Primeiro-Ministro de usar do poder que detém após uma decisão de tamanha responsabilidade ter sido tomada a solo por um simples ministro - que nem é primeiro e, para cúmulo, mandada formalizar a um ainda mais simples secretário de estado -, poderia alguém começar a questionar-se sobre qual ministro será, efetivamente, o segundo e qual o primeiro.

Bem, deixemos o trocadilho, que não é este o nosso assunto.

- x -

Nos tempos que correm, não admira que alguma comunicação social menos dada a estas coisas parvas do rigor na palavra falada e escrita tenha anunciado a coisa como tendo o Primeiro-Ministro revogado o disparatado despacho, algo que a lei lhe não permite fazer.*)

O erro não admira, já que, imposto pelas audiências essenciais à obtenção das indispensáveis receitas publicitárias, o frenesi de conseguir a pole position na transmissão da novidade conduz, quase invariavelmente, a que as notícias sejam papagueadas sem qualquer análise, crítica ou estudo prévios, desta forma ficando a qualidade e o rigor que as irão caracterizar a depender, apenas, do cada vez mais escasso substrato cultural do redator.

Anestesiados que muitos vamos estando pela dor provocada por sucessivos impactos de baixíssimo nível daquilo que, desgraçadamente, nos vai sendo dado ouvir e ler, lá acabamos, quantas vezes, a dar por nós a absorver, ora ideias substantivamente erradas, ora outras formalmente expressas de maneira menos correta, menos elegante - inadequada, até -, seja por arautos do facilitismo linguístico agora tão na moda, seja por pessoas educadas e cultas a quem a pressão mediática do comentário regular falado ou escrito convida, também, a facilitar. Ou, como, para dourar a pílula sói dizer-se, a simplificar.

- x -

A citação que aqui é assunto refere autoridade no sentido de habilitação legal para o exercício do poder, o que é um significado evidentemente admissível, correspondente à capacidade - nem sempre legítima - de alguém se fazer obedecer.

Não obstante, a verdadeira autoridade, bem distinta do bem mais pobre e elementar poder, emana naturalmente de quem a detém: não por lhe haver sido atribuída por outrem, mas por o sujeito a ter adquirido através do competente e credível exercício das funções que lhe tiverem sido cometidas, por tal exercício se tendo tornado merecedor da confiança na qualidade das decisões tomadas, a qual impele os respetivos destinatários à pronta, serena e, mesmo, grata obediência, independentemente de vigorar, ou não, norma que legitime a respetiva imposição.

Num tal e cada vez mais raro cenário, as relações humanas fluem, a educação manifesta-se, a alegria brota, a economia floresce e os políticos exercem, tranquila e complementarmente, o poder formal e efetivo que a Constituição e a lei lhes conferem.

A fazer uso deste poder meramente formal estão, assim, limitados aqueles que o detêm, não por o haverem granjeado por mérito pessoal imediato e direto, mas por aquele lhes haver sido confiado - quantas vezes à falta de melhor candidato... -, seja por nomeação, seja por um mais ou menos democrático ato eleitoral.

Se dúvidas houver, lembremo-nos da expressão "fazendo uso dos poderes conferidos" - seguida da identificação da norma habilitante - presente, a título de legitimação, em praticamente todos os diplomas legais.

Admitamos, enfim, que esse conjunto de poderes possa, também, ser considerado autoridade, desde que não confundamos esta, imposta e formal, com a outra, meritória e substantiva.

Assim, embora sendo preocupante que já nem palavras tão singelas como aquelas que designam as cores estejam livres da polissemia de que as inquina a conotação com certas tendências - "é um verde", "é um vermelho" e por aí fora -, também o termo autoridade pode ser utilizado para designar algo que nada tem a ver com a autoridade nobre, eficaz, verdadeira, mas apenas com a pessoa ou entidade a quem, por algum processo, tenha sido conferido determinado poder..

Tal é o caso da moda recentemente adotada por sucessivos governos para designar certos organismos que o politicamente correto desaconselha designar por polícia, departamento ou outra coisa mais condicente com as atuais atribuições daqueles. Acreditam, quiçá, que a tal confusão entre autoridade e poder acabe por garantir uma acrescida vontade de obedecer, por o termo mais sonante conseguir inspirar maior temor, uma vez que, pela outra autoridade que, habitualmente, os respetivos responsáveis detêm em dose tão fraca como quem os nomeia, é que a bom porto não chegarão.

- x -

Diga-se, por fim, que, embora preferindo, na citação acima reproduzida, poder a autoridade, não fica como deixar de concordar com a ideia nela expressa pelo Exmº Autor, bem como com a forte probabilidade de ter sido a exibição da detenção e do uso do poder a motivação última de um Primeiro-Ministro que passa por andar cada vez mais entretido com a apetecível Europa, e menos com as inadiáveis mas sempre adiadas reformas estruturais e decisões de fundo para as quais, manifestamente, não nomeou competentes ministros.

De muito pouco servirá, na verdade, uma demonstração de poder na situação descrita, bem eloquente quanto ao notório défice de autoridade do primeiro governante - défice esse aliás muitíssimo natural na sequência de uma escolha de governantes que parece ter seguido, quase exclusivamente, o critério da proximidade pessoal e da simpatia política, ou do temor inspirado por uma certa antipatia política, como terá acontecido e continuará a acontecer no caso aqui vertido.

Comprometida que, com incidentes destes, vai ficando, no Partido Socialista, a sucessão do Secretário-Geral, não estará, mesmo, na altura de o Senhor Primeiro-Ministro bater com a mão no peito e, sem mais demoras, proceder à substituição de diversas pessoas que carreou para o Governo?

O nem terá já, no Partido ou fora dele, quem com ele esteja, efetiva e saudavelmente, disposto a colaborar?

* *

Tal como acontece com o termo autoridade, a multiplicação descontrolada de sinónimos desvaloriza a essência dos vocábulos, esboroa o idioma, atirando-o para um pantanoso charco de mal-entendidos, de ambiguidades, de imprecisões.

Aliás, a discutível escolha de palavras, designadamente em algo tão sério como decisões judiciais, não é, infelizmente, coisa nova, já aqui tendo sido objeto de desenvolvida atenção,. Não passa, na verdade, de mais um efeito nocivo da tendência para a desenfreada polissemia, inevitável no reino do Tanto Faz!, da indiferença, da desistência, sob a capa daquilo a que hoje alguns chamam inovação e originalidade.

sábado, 11 de junho de 2022


Milhazes, Galamba e... o Cesto da Gávea


"Mandar alguém para o cesto da gávea tornou-se uma forma de exprimir desejo de distanciamento do autor
face ao destinatário da expressão, tendo a expressão "vai p'ró cesto da gávea" evoluído, na forma sintética,
para a expressão genérica de desagrado que se conhece, utilizada a torto e a direito por pessoas de pouco esmerada educação
"

"Não colhe aqui a estafada cantilena da origem humilde, da infância infeliz, da subida a pulso e todas as outras atenuantes
que possa invocar-se para procurar minorar o impacto desastroso provocado por quem solta, em direto e sem 
piiiii
, um palavrão daqueles"

"Noutro tempo, e independentemente da opinião que se tiver do Primeiro-Ministro de então, um membro do Gabinete
foi sumariamente convidado a afastar-se do governo por ter simulado um par de chifres na direção de um deputado da oposição
"

Vem este texto a propósito da indesejável propensão para, em nome daquilo a que, benevolamente, agora fica bem chamar genuinidade e frontalidade, não apenas se tolerar mas, até, aplaudir, em intervenções de figuras públicas, aquilo que jamais permitiríamos a um filho nosso - partindo, naturalmente, do pressuposto de que alguma atenção os progenitores ainda dedicam à nobre tarefa de educar.

Essencial ao progresso e à paz social, a verdade manifesta é que a hercúlea missão dos familiares com responsabilidades educativas não vem conseguindo evitar a propagação descontrolada do hábito ordinário e facilmente constatável sobretudo nas camadas mais jovens da população, de, a torto e a direito, proferir palavrões dos mais pesados como se se tratasse de inócuas interjeições; ou de mandar para aqui e para acolá aqueles cuja presença ou discurso em algum momento lhes esteja a desagradar.

Independentemente do sexo e da inserção social, parecem estes poetas do calão acreditar que o facto de assim se exprimirem lhes confere uma áurea de independência, de maturidade, de liberdade, de originalidade, até. Puro engano, claro, já que se limitam, afinal, a seguir uma desgraçada moda que, como qualquer moda, os torna iguais a quantos outros a seguem, e prisioneiros da obrigação de a adotar, sob pena de virem a ser marginalizados como retrógrados, démodés, pelos seus pouco educados pares.

Sendo consensualmente aceite que o exemplo vem de cima, catalizador nefasto desta tendência não deixará de ser o facto de, aqui e ali, se depararem os ditos jovens - e não só... - com a utilização dos mesmos palavrões na escrita e na fala de jornalistas e de governantes.

Lastimável, de facto. Sobretudo quando, de uns e de outros, seria de esperar que estivessem bem cientes do impacto mediático dos respetivos desempenhos sobre o processo educativo e formativo daqueles que, apesar de muita coisa que aqui não vale a pena esmiuçar, ainda contemplam aquilo que representam com algum respeito e admiração.

Fala-se aos quatro ventos dos direitos da criança, e da imperiosa necessidade de os assegurar e observar. Não terão as crianças direito à educação? Direito a, dos outros, dos crescidos, também esperar educação?

Talvez não menos do que dos direitos da criança nos enchem os ouvidos com a herança histórica e cultural disto e daquilo, com capitais europeias não sei de que mais, com património da Humanidade, com uma extensa lista de slogans destinados a salientar, e bem, o legado dos nossos antepassados.

Mas será que o património histórico e cultural exclui a elegância e a civilidade? Ou de tão escanzeladas que estão, delas já nem vale a pena falar?

- x -

Um jornalista licenciado em História da Rússia, profundamente conhecedor do idioma, da política e da sociedade desse país, com acesso a fontes locais privilegiadas, que, por alguma razão, ganhe inusitado protagonismo noticioso terá, seguramente, direito a um lugar de destaque numa redação; mas, se não consegue disfarçar a manifesta dificuldade comunicacional ao vivo, dificilmente deverá ser convidado a participar em serviços informativos no horário nobre, quando toda a gente está de olhos postos na televisão.

Não colhe aqui a estafada cantilena da origem humilde, da infância infeliz, da subida a pulso e todas as outras atenuantes que possa invocar-se para procurar minorar o impacto desastroso provocado por quem solta, em direto e sem piiiii, um palavrão daqueles: se qualquer pessoa menos favorecida e com uma sofrida vida passada pudesse, impunemente, soltar imprecações na televisão perante centenas de milhar de espetadores, tal corresponderia, aos ouvidos de quem assistisse, à institucionalização da ordinarice, à legitimação da deselegância no léxico e na vivência quotidiana.

Que a boçalidade e a insensibilidade nada têm a ver com a origem social bem o demonstram conhecidos empresários portugueses e presidentes de organizações patronais cujo trato fino e fala apurada são eloquentes quanto ao facto de o seu passado operário não ser, de modo algum, obstáculo a que se saiba estar como se deve estar, onde se deve estar e sem os ouvidos alheios ofender. Mesmo sem formação académica de nível superior, em História da Rússia ou seja no que for...

Também não se pode justificar a ordinarice com o propósito de traduzir à letra - absolutamente dispensável em tais circunstâncias -, já que existem muitas maneiras de dizer a mesma coisa evitando a deselegância na expressão. "Vai para aquilo que a gente sabe" seria uma delas, e ninguém se queixaria, por certo, da ligeira ambiguidade da opção.

Tampouco são admissíveis recorrentes referências depreciativas ao Secretário-Geral do Partido Comunista Português - como "aqui vemos o Jerónimo de Sousa lá do sítio a tirar macacos do nariz" -, por maioria de razão quando este, que também foi operário, não vocifera, não hostiliza acintosamente, não fala mal ou é indelicado com quem quer que seja.

Independentemente das atenuantes, qualquer profissional da comunicação que não entenda a responsabilidade de uma intervenção em direto deve ser mais bem aproveitado em oportunidades adequadas às suas capacidades e formação.

Uma pessoa que, para cúmulo, tem um discurso nada fluído, muito entrecortado e, em desespero de causa, bastas vezes complementado pelo pivot e por outro comentador, não tem, seguramente, lugar em diretos na televisão.

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Da mesma forma, jamais deveria ter sido convidado para novo mandato no governo um mal amado secretário de estado com sobejas demonstrações acumuladas de quase genética falta de educação, desde o chamar estrume a um programa de um órgão de comunicação social a insultar interlocutores em redes sociais com os piores dos palavrões*), passando por, devido a divergências de caráter técnico, apodar um professor jubilado do Instituto Superior Técnico de "aldrabão e um mentiroso do pior"*).

Que lugar tem este indivíduo na governação de uma democracia, de um país que se pretende livre e plural?

Que peso político avassalador não deverá tal indivíduo ter no aparelho do, pelo menos outrora, tão respeitável Partido Socialista para, a despeito da lastimável e notória incapacidade de relacionamento pessoal com os seus governados*), ser recorrentemente convidado a integrar a equipa do atual Primeiro-Ministro? Ou que habilidade ou competência muito especial e não aparente lhe será reconhecida para justificar a escolha?

Noutro tempo, e independentemente da opinião que se tiver do Primeiro-Ministro de então, um membro do Gabinete foi sumariamente convidado a afastar-se do governo por ter simulado um par de chifres na direção de um deputado da oposição*).

Também in illo tempore um ministro da cultura se demitiu do governo*) por ter, metaforicamente, ameaçado com um par de bofetadas outros cidadãos.

O que mudou, então, em Portugal, para melhor ou para pior, desde então?

- x -

À falta de melhores razões, o jornalista e o governante deram, recentemente, brado na comunicação social. O primeiro, por ter traduzido à letra o que, contra a guerra, bramavam, em russo, os espetadores de um festival*). O segundo, por se ter passado numa rede social com um interlocutor a quem mandou para o... cesto da gávea *).

Cesto da gávea é um termo náutico muito português utilizado para designar aquela espécie de cesta profunda fixada junto ao topo dos mastros das antigas embarcações, onde um vigia varria, com o olhar e um óculo, o horizonte visando detetar a proximidade de outros navios ou de "terra à vista!".

Na generalidade das línguas europeias ocidentais, o referido cesto é designado por ninho do corvo: nido de cuervo, nid de corbeau, nido de corvo, crow's nestKrähennest, e não consta que, excetuando o alemão, em qualquer delas, exista, com o mesmo significado, um termo, digamos, simplificado.

Sempre inventivo, original e amante da simplificação, lá inventou o português uma palavra só para substituir a mais longa expressão cesto da gávea; e a palavra é, nem mais, nem menos, do que a proferida, em diferentes contextos, pelos já referidos jornalista e governante dos destinos da Nação.

Ora, o cesto da gávea era, indubitavelmente, um lugar inóspito e de difícil acesso. Instável, sujeito à inclemência das intempéries, tornou-se, por excelência, o local de castigo dos marinheiros considerados culpados de faltas menores. A distância a que se encontrava do convés superior servia, ainda, para garantir que o assim punido não teria como incomodar o resto da tripulação.

Mandar alguém para o cesto da gávea tornou-se, assim, uma forma de exprimir desejo de distanciamento do autor face ao destinatário da expressão, tendo, dadas as características do local, a expressão "vai p'ró cesto da gávea" evoluído, na forma sintética, para a expressão genérica de desagrado, utilizada a torto e a direito por pessoas de pouco esmerada educação.

Atualmente, utiliza-se, ainda, como expressão de desagrado - "é feio com'ó cesto da gávea" - e, degenerando e invertendo completamente o sentido, de admiração - "é linda com'ó cesto da gávea".

Nada de mal, como vemos, até começar a ser a mesma palavra utilizada para designar o órgão sexual masculino, na forma de ordinarice, de palavrão.

- x -

Foi nesse sentido e com esse intuito manifesto, o de dizer um palavrão, que cesto da gávea foi utilizado pelos espetadores do festival musical na Rússia condenando a abominável invasão e destruição parcial da Ucrânia. Foi nesse sentido e com esse intuito manifesto que o senhor Secretário de Estado o terá utilizado numa rede social dirigindo-se alguém por ele governado, a um concidadão.

Se é duvidoso que a intenção de dizer um palavrão, de ser ordinário, estivesse no espírito do jornalista que fez a tradução, não deixa de ser certo que a palavra, nas circunstâncias em que foi proferida, deveria ter sido, pelo menos, objeto de comentário e de reprovação pelos responsáveis pela estação, em clara demarcação.

Da mesma forma, deveria o Governo - ou, pelo menos, o Partido Socialista - ter, publicamente, repudiado a atitude do governante e militante, banindo-o do Governo, a exemplo do que aconteceu no caso dos chifres em direção de um bancada da oposição.

A menos que o Governo e o Partido se sintam confortáveis com este tipo de atuação e que, a despeito dos merecidos e respeitados pergaminhos, a SIC e a SIC Notícias queiram começar a parecer-se com certos outros canais de televisão.


Por falar em falta de educação:
lembra-se do Herman Enciclopédia?

NÃO PERCA a sátira,
protagonizada por José Pedro Gomes
às maneiras desastrosas dos portugueses à mesa...
e não só.


Veja AQUI, no Mosaicos em Português





   

sexta-feira, 13 de maio de 2022


Lisboa a Quarenta à Hora


"O que, verdadeiramente, polui o ar as cidades é o constante pára-arranca, as horas esquecidas passadas nos engarrafamentos, o desespero de quem vê o tempo útil esvair-se enquanto procura, em vão, um lugar para estacionar"

"Nas horas de ponta, quando a poluição mais acontece,
quantas vezes ultrapassará os vinte ou trinta quilómetros por hora a velocidade de circulação?
"

"Tamanha e inane arbitrariedade, digna das mais abjetas ditaduras de extrema-esquerda,
demonstra bem que para, enquanto extremista, ainda mais se assemelhar ao "Chega!",
ao "Livre" apenas falta um ponto de exclamação ao nome acrescentar
"


Aliada aos maus tratos verbais recebidos - quer das bancadas das diversas assembleias ditas democráticas, quer de uma imprensa ávida de palavras fortes que vendam publicidade, quer, também, da ululante mole que, em manifestações sediças e rançosas a que já ninguém liga, faz coro com os dichotes cacafónicos expelidos por ferrugentos megafones -, a cada vez menos prestigiante imagem que, por muito boas razões, a generalidade da população tem da política e dos seus mais destacados agentes tem, como efeito imediato e indissociável, o progressivo desinteresse dessas andanças por parte de quem lhes poderia, ainda, emprestar uma réstia de credibilidade, de eficácia e de desinteressada dedicação.

O défice de formação, de educação e de conhecimento da natureza humana que encontramos nas hordas de filisteus que, cada vez mais, vão ocupando cargos eletivos nas diversas instâncias decisórias dos destinos da Nação amiúde os leva, por sua vez, a acreditar que, se os eleitores não agem da forma cívica como, ingénua ou desesperadamente, os políticos pensam que todos os cidadãos gostariam de se comportar, tal se deve à endémica falta de condições recorrentemente apontada como desculpa já mais do que esfarrapada para quando as coisas correm mal; ou, simplesmente, não correm, como acontece nas mais das ocasiões.

Deixaram-se, assim, certos executivos mais recentes da Câmara Municipal de Lisboa convencer, anos atrás, de que a solução para certos males que apoquentam os alfacinhas e os envergonhavam e envergonham lá fora seria uma vistosa sementeira de ciclovias na Cidade das Sete Colinas, elevações estas que poucos ciclistas teriam apetência ou, até, capacidade para subir a pedalar.

No imaginário destas pessoas, de um momento para o outro os automóveis passariam a ficar na garagem, à porta de casa, ou, pelo menos, nos parques dissuasores da periferia; a circulação tornar-se-ia fluída; o estacionamento, acessível por toda a cidade; o ar, cristalino e límpido por toda a parte; e Lisboa tornar-se-ia um paraíso para os habitantes e para os exércitos de turistas que a vêm financiar.

Ora, como o português quer saber é dele mesmo e o carrinho porta-a-porta é requisito indispensável, não só àquilo que considera qualidade de vida, mas, tal como a piscina no relvado da vivenda decorada com águias ou leões, aquilo que lhe dá um status, um mais do que parolo pseudo-estatuto social, o bom resultado foi, já se sabe, o de sempre: nenhum.

- x -

Acontece, porém, que aqueles dos autodenominados políticos que não passam de impreparados e ineptos indivíduos não entendem estas coisas. Embasbacam-se, incrédulos, quando lhes dizem que o problema da boa gente lusitana não é tanto a falta de meios ou de condições, como a imensa e já estrutural falta de formação, de educação e de conhecimento da natureza humana, a mesmíssima que afeta os ditos decisores que o são apenas por estarem inscritos num ou noutro partido, por outro modo de vida não lhes terem conseguido arranjar.

Vai daí que a solução para povoar as até então ineficazes ciclovias de Lisboa passou a ser - pasme-se! - semear ainda mais algumas destas ineficazes ciclovias de Lisboa, desta vez pondo-lhes mesmo ao lado bicicletas elétricas, a fim de procurar convencer a utilizá-las quem por esses montes e vales se recusava a pedalar.

Começou, por isso, Lisboa a encher-se de ciclistas, e a ver automóveis e motorizadas desaparecer do horizonte visual e olfativo das aflitas e intoxicadas famílias da Capital? Claro que não!

O trânsito continuou caótico, nauseabundo, às zonas de estacionamento verde, amarela e encarnada vieram juntar-se a castanha e a negra - penso que, tal como operação militar especial, o termo negra ninguém irá censurar...*) -, e, tal como dantes, os níveis de poluição não param de aumentar.

Não deixa de ser verdade que, principalmente nas horas de ponta, lá circulam por essas dispendiosas ciclovias uns quantos cidadãos. Circulam, mas de forma não controlada nem fiscalizada. Circulam, mas caótica e irresponsavelmente saindo das ditas vias e pedalando sobre os passeios, ignorando semáforos, atravessando artérias à toa, assim pondo em risco a segurança dos transeuntes, às mãos e aos pés de absolutos ignorantes das disposições do Código da Estrada, que nem exame de código necessitam de fazer, para mais os atrair para cima da miraculosa e impoluta bicicleta. Para facilitar...

Feitas as contas, evidente se tornou, pois, a inutilidade de andar por aí a espalhar mais um ror de ciclovias numa terra cujos habitantes não gostam, nem alguma vez irão gostar, de pedalar.

- x -

Chegado a esta conclusão, o irresistível e inigualável prazer que o Partido da Maioria Absoluta parece experimentar sempre que estende a mão à já irrisória extrema-esquerda portuguesa redundou, uma vez mais, numa demonstração da brilhante e fulgurante demagogia a que o Partido Socialista há muito nos vem a habituar: reduzir em mais dez quilómetros por hora a velocidade máxima de circulação automóvel em Lisboa*).

Do ponto de vista da despesa, a ideia é genial, já que o custo é praticamente nulo, além de uma ou outra campanha na comunicação social. Fora isso, poucos são os sinais de trânsito que terão de ser alterados, já que se trata de uma medida de aplicação genérica, e não pontual. Assim, quando se constatar que foi mais uma ideia abstrusa que fracassou perante a monolítica falta de educação e de consciência social dos destinatários, pelo menos ninguém poderá assacar à insignificante força política proponente denominada "Livre" qualquer responsabilidade pelo custo; ou, se alguém o fizer, ela facilmente a descartará.

Mas, por que é, afinal, que a medida vai falhar?

Muito simplesmente porque, como qualquer um entende, a maior parte da poluição saída do tubo de escape não ocorre quando um veículo circula a uma velocidade estabilizada, como acontece em horas de baixa densidade de tráfego, seja essa velocidade de quarenta, de cinquenta ou, até, de oitenta quilómetros por hora: o que, verdadeiramente, polui o ar as cidades é o constante pára-arranca, as horas esquecidas passadas nos engarrafamentos, o desespero de quem vê o tempo útil esvair-se enquanto procura, em vão, um lugar para estacionar.

Quantas vezes ultrapassará os vinte ou trinta quilómetros por hora a velocidade de circulação nas horas de ponta, quando a poluição mais acontece? Nessas horas em que o ar se pinta de partículas castanhas e cinzentas enquanto os motores queimam, inutilmente, preciosas toneladas de combustível perante a impotência e incompetência camarárias para fazer face ao comodismo e à falta de educação de quem, tendo alternativa, por aí anda a circular?

- x  -

Por falar em alternativa, a alternativa disponível ao Estado e à Autarquia para por termo a este lastimável estado de coisas seria, como todos sabemos, dotar a Cidade de uma rede de transportes públicos digna desse nome. Uma rede atrativa, económica, confortável, eficiente e digna de todos os encómios que cada um de nós gostaria de lhe poder associar.

Em vez disso, e porque estas coisas são caras, levam tempo, Roma e Pavia não se fizeram num dia e toda a lista de argumentos à disposição do mamute socialista de cuja cultura é característica essencial o bem típico hábito indígena de procrastinar, temos uma rede de autocarros lenta, aborrecida, atrasada, entediada, onde abanam ao sabor das curvas milhares de portugueses que nem um carrito hiper-usado têm dinheiro para comprar, porque, se tivessem, seria nele que se iriam deslocar; e uma rede de metropolitano que, comparada com outras europeias mais parece a de um comboio de brincar. Da rede de amarelos da Carris que ficam horas parados na calçada para não arrancar o farolim de trás de um selvagem mal estacionado, nem vale a pena falar.

Os táxis, os ubers e quejandos estão pela hora da morte e poluem tanto como qualquer outro automóvel, pelo que nenhum bem a este quadro negro vêm acrescentar.

- x -

O partido extremista que propôs e, sabe-se lá como, fez o pusilânime Partido da Maioria Absoluta aprovar a ridícula e aberrante medida de reduzir ainda mais a velocidade em Lisboa, tem a liberdade no nome, mas não no coração. Tamanha e inane arbitrariedade, digna das mais abjetas ditaduras de extrema-esquerda, demonstra bem que para, enquanto extremista, ainda mais se assemelhar ao "Chega!", ao "Livre" apenas falta um ponto de exclamação ao nome acrescentar.

Qual partido de extrema-direita, não hesitou o suposto "Livre" em fazer limitar, ainda mais, aos lisboetas a liberdade e a fluidez de circulação nas horas menos complicadas, unicamente a troco da fútil esperança num protagonismo desbragado que redundasse num magro punhado de votos numa próxima eleição, e em nada contribuindo para melhorar a situação nas horas de ponta em que os trabalhadores deixam as suas casas e a elas regressam depois, com as paciências esgotadas e ansiosos por, finalmente, repousar.

A moda, tida por politicamente correta por quem apenas a sua paróquia governa, de aproveitar o mais ínfimo pretexto para, por medo da crítica ou por mais ou menos inconfessável interesse, impor, aos veículos motorizados, reduções drásticas na velocidade de circulação conduz, por vezes, a aplicações tão excessivas e descabidas que acabam por tornar o politicamente correto em eleitoralmente perigoso, dada a desrazoabilidade ou mera inutilidade das decisões tomadas, bem como o manifesto desequilíbrio entre os interesses em presença.

A bárbara redução do limite de velocidade nas cidades não é, seguramente, o caminho adequado à resolução dos prementes problemas da circulação automóvel, do estacionamento e da poluição atmosférica.

Para os eleitores, a resposta está em encontrar quem saiba, queira e tenha a coragem necessária a implementar uma eficaz, eficiente, económica e confortável rede de transportes públicos que, efetivamente, incentive a imobilização do parque automóvel por parte dos habituais utilizadores.

Como tão providencial criatura parece inexistir no qualitativamente muito limitado recheio das forças políticas atuais, inevitável se torna que despropositados cuidados paliativos como este se tornem irresistíveis para os mais incompetentes daqueles que se dedicam à governação.

Para os lisboetas, para os portugueses, os problemas do trânsito nas cidades continuarão, assim, sem solução.

Tal como o problema da poluição...

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segunda-feira, 11 de abril de 2022


Ciganos e PCP: Iguais em Quê?

Dedicado aos jovens ciganos e aos jovens comunistas
que os velhos patriarcas pouco ou nada deixam ser


"São iguais os velhos ciganos e os velhos comunistas no preciso ponto em que
ambos ignoram o pleno significado da palavra das palavras: Liberdade!
A liberdade temperada pelo respeito essencial ao bem-estar de qualquer país, de qualquer partido, de qualquer comunidade
"

"Perante o escancarado féretro que o aguarda, procura o Partido, para prolongar o último e patético alento,
alimentar as urnas com cacofónicas reivindicações de um impossível
que apenas os economicamente analfabetos ainda conseguem considerar possível.
Mas, os analfabetos estão em vias de extinção;
e, com eles, a ignorância, tradicional mas hoje quase inerte substrato do voto comunista em cada eleição
"



1. Motivação
2. Do Respeito pela Lei e pelos Usos Instituídos
3. Da Indiferença e da Tirania da Tradição Cigana
4. Da Indiferença e da Tirania da Prática do PCP
5. Crepúsculo


Colaboradores de restaurante1. Motivação

Para “perplexidade” do advogado de defesa, uma juíza portuguesa considerou, em sentença prolatada há alguns dias, que as agressões levadas a cabo nas pessoas de colaboradores de determinado restaurante “são inadmissíveis e envergonham a etnia cigana*).

A primeira parte da declaração é pacífica, uma vez que, a pronúncia pela inadmissibilidade dos atos, parece que ninguém contestou. Já a segunda, a da suposta vergonha para a etnia cigana, mereceu honras de notícia, quanto mais não fosse por, nos dias que correm, ser in fazer eco do que quer que se escreva ou diga acerca de qualquer minoria. Seja o que for, em abono ou desabono, já se sabe que cola, que vende; e, estando os leitores já saturados das intermináveis, porquanto comoventes e terríveis, histórias e historietas da invasão da Ucrânia, pendurar-se um comentador na suposta e estafada defesa de minorias sempre aparecerá aos menos esclarecidos como uma mais-valia, uma bandeira agitada, um pouco de sal e de pimenta no ror de notícias sem novidade e comentários sem substância que se vê por aí.

Não será, porém, despiciendo recordar àqueles que são capazes de encontrar laivos de racismo até no mais banal comentário de uma juíza com juízo, que quem o proferiu foi a mesma magistrada que, anos atrás, foi acusada de, entre outras decisões mais ou menos polémicas num ou no outro sentido, ter violado direitos constitucionais de arguidos neonazis, simplesmente por haver determinado que, enquanto meio de prova, fossem analisadas por peritos as tatuagens que aqueles ostentavam no corpo*).

Não passará, assim, de nova e mais do que forçada fabricação mediática qualquer insinuação quanto à interferência do preconceito, seja na atuação genérica da decisora, seja nas considerações que, na leitura do acórdão, esta oportunamente teceu.


2. Do Respeito pela Lei e pelos Usos Instituídos

As sábias e pedagógicas considerações proferidas em tribunal, estupidamente consideradas polémicas, trazem à balha a velha questão da existência de dois tipos de ciganos - os bons e os maus, com todos os graus intermédios -, tal como a de dois tipos de negros e a de dois tipos de brancos, verdes, azuis, todos.

A propósito, e antes que meia dúzia de exaltados comece por aí aos gritos, convirá lembrar que, se podemos falar de democratas, de fascistas, de comunistas, de progressistas e de reacionários, de portugueses e de franceses, de africanos e de europeus, razão não haverá para nos caírem em cima quando, por comodidade de expressão e sem que isso traduza menos respeito ou afloramento de discriminação, falamos de ciganos referindo-nos à organização dita social da comunidade cigana, à cultura cigana, a certos aspetos da etnia*): não, necessariamente, à raça*) cigana, o que, naturalmente, seria impróprio sob qualquer ponto de vista que com as ciências ditas exatas não tenha a ver.

Ora, de um modo geral, encontra-se socialmente estabelecido que qualquer ilícito penal, qualquer crime, de qualquer tipo, envergonha os restantes elementos da etnia - enquanto grupo social - que o infrator integra, tal como envergonha os restantes membros de qualquer comunidade a que pertença: país, região, religião, escola, empresa ou outra forma de organização, e seja qual for a cor ou tom da pele, que, decididamente, nunca deveria ser chamado a esta discussão.

Isto, é evidente, sabido e sentido por todos e, como tal, não carece de demonstração.

Em grupos firmemente estabelecidos na comunidade, de raízes sólidas e reputação firmada, cada ovelha ronhosa envergonha as restantes. Os atos condenáveis que pratica chocam pares, parentes, companheiros, correlegionários, que tendem - quando isentos, de boa-fé e socialmente responsáveis e sensíveis - a ser os primeiros a censurar a conduta ilícita ou, mesmo, criminosa. São, também, estes que promovem e exercem, no âmbito social, disciplinar ou criminal, indispensável e expedita ação em claro sinal de repúdio que, além de prevenir a contaminação interna da podridão e a consequente proliferação de ilícitos, transmite, para o exterior da coletividade, o necessário à salvaguarda da respetiva reputação.

Tal não sendo feito, essa reputação sofre ainda mais quando o prevaricador pertence a setores ou grupos minoritários que lutam pelo reconhecimento de legítimos direitos, e cujos elementos, nomeadamente os socialmente saudáveis, se veem - por vezes, com indesejável frequência e dispensável sofrimento, quase sempre, por serem vítimas do aproveitamento político, do egoísmo ou da pura maldade – na contingência de ter de, legitimamente, se manifestar de forma indignada e veemente contra a inaceitável discriminação típica das lastimáveis civilizações que, formalmente os acolhem, mas, substantivamente, os rejeitam.

Neste conceito de socialmente saudável apenas cabem, naturalmente, aqueles que, no respeito pelos valores da liberdade, da democracia e do respeito pelo semelhante, observam as leis e os usos da comunidade em que escolheram viver, abstendo-se de, seja por que razão for, procurar impor-lhe tipos de organização social, modos de vida ou traços culturais que a maioria autóctone não quer para si, não aceita, não admira, ao que, democraticamente, lhe assiste todo o direito.


3.  Da Indiferença e da Tirania da Tradição Cigana

No mesmo conceito de socialmente saudável não existe, evidentemente, lugar para aquela meia dúzia de mofinos aprendizes de sociopata que procura impor as suas regras: para párias que violam a lei, a desrespeitam ou insultam. Em liberdade, cada um tem todo o direito a viver a seu bel-prazer, como foi formatado ou educado, ao seu estilo, mas, jamais, com uma patente e egocêntrica indiferença pelo modo de vida da comunidade que o acolhe, na qual, jamais tencionando integrar-se, se limita a imiscuir-se; e foi essa indiferença que, no que a boa parte diz respeito, muito injustamente granjeou aos ciganos a proverbial aversão que certos setores da sociedade inequívoca e ativamente manifestam, e que outros parecem incapazes de, pelo menos, disfarçar.

Não me refiro, que fique claro, aos ciganos que, respeitando os valores da liberdade e da democracia, se integraram nas sociedades previamente estabelecidas nas terras onde eles escolheram viver. Quanto a esses, qualquer distinção no plano social e humano apenas poderia basear-se na ideia de raça, o que não passaria de um rematado e vazio dislate, de uma inaceitável manifestação do sectarismo primário que é próprio de indivíduos de pobre jaez.

Há, não obstante, que considerar que o impacto fortemente negativo sobre a eficiência rodoviária provocado pelas carroças puxadas por equídeos insalubres e lazarentos em que - habitualmente em contravenção com as mais elementares normas de salubridade e de circulação e segurança na estrada -certos ciganos insistem em continuar a fazer-se deslocar não passa de um aspeto menor e, de algum modo, folclórico de algo bem mais grave que àquele subjaz.

folclóricos não poderão ser considerados não raros julgamentos e condenações por furtos, roubos ou cenas de mais ou menos expressiva violência; ou, até, bodas para as quais a lei proibia, em plena pandemia, serem convidadas centenas de pessoas*), que as autoridades se viram obrigadas a dispersar.

Típica dos déspotas, dos tiranos, dos machistas, dos racistas, a causa profunda e ainda não muito remota destas constantes e persistentes violações da lei e manifestações de desrespeito pelos costumes instituídos terá sido a recusa, décadas a fio e por parte dos mais velhos patriarcas ciganos por muitos ainda respeitados quais anacoretas, em permitir que os jovens que o desejassem se integrassem nas comunidades que os rodeavam. Terá sido a proibição de que as raparigas ciganas casassem com rapazes de outras raças, a proibição de que os jovens se instruíssem e se desenvolvessem intelectual e culturalmente visando tornar-se elementos válidos e produtivos da sociedade.

Tudo isto apenas por receio de que a aquisição, pelos vindouros, de competências que os quase analfabetos patriarcas patentemente não detinham e jamais seriam capazes de vir a deter, um belo dia permitisse àqueles destituí-los e ocupar os seus lugares, ciosamente assegurados por uma suposta tradição centenária ou milenar, mas, seguramente, pela força, pelo temor de quem, sem qualquer competência para tal, dirige despoticamente um grupo, porque, na vida, outra coisa não é capaz de fazer.

Importa-lhes, outrossim, impedir quem pensa e estuda de expor a inutilidade prática, a inanidade, a vacuidade do domínio dos patriarcas: a ineficácia, a irracionalidade de posições e de políticas anquilosadas por eles preconizadas e defendidas, há muito desfasadas da realidade do tempo e do lugar. Encaram estes velhos caducos a contestação e a simples evolução como perigosamente conducentes ao inevitável e crescente desrespeito pela monolítica hierarquia por parte de quem já se questiona e, pela própria cabeça, procura pensar. Por parte de quem olham como apóstata porque, simplesmente, não entende como pode quem se diz superior e sábio continuar a defender o indefensável, o insano, o ilógico, apenas para que se mantenha no poder, na ribalta, num palanque de chão podre uma meia dúzia de ignorantes, arbitrários e incompetentes heróis de lutas de outrora que no poder, não tem hoje, evidentemente, qualquer lugar.

Dizem as más línguas que estes tradicionais ciganos apenas sobrevivem à custa de subsídios e de roubar. É possível. Mas, que alternativa resta a quem, desde cedo, se vê impossibilitado de ganhar o sustento pelo trabalho e de, através dele, validamente se integrar na sociedade? A quem tal é negado, não apenas pelo preconceito irracional e abusivo, mas, sobretudo, pela falta de competências decorrente da proibição de estudar, de se valorizar, a não ser no seio de uma comunidade nómada e pouco respeitadora das normas e dos valores estabelecidos e estabilizados?

Como pode, afinal, admitir-se, num supostamente civilizado estado de direito, que uma comunidade  ou família faça depender a entrega de um foragido à justiça portuguesa da decisão, na mais alta instância, do respetivo patriarca cigano?


4. Da Indiferença e da Tirania da Prática do PCP

Terá dito o mais falado ditador português que “muitos dos que se têm sentido oprimidos nos últimos trinta anos já demonstraram em discursos, e jornais e em outros atos públicos, estar em condições de gozar dessas liberdades e com tão grande amplitude que não chegarão para mais ninguém”.

Apenas desvalorizada pela identidade do seu autor, a ironia assenta como uma luva a certos grupos  -tanto sociais, como os ciganos, como políticos, como o Partido Comunista Português (PCP) -, que, em nome e a coberto da propalada defesa de direitos minoritários, galgam, espezinham e desprezam a maioria legítima de que diferem, embora o direito à diferença digam defender.

Apesar de o PCP não ser propriamente conhecido pela diversidade étnica com que recruta os seus deputados e quadros proeminentes*), tem em comum, com a tradicional e anquilosada liderança da fatia retrógrada e reacionária da comunidade cigana, a liderança cediça e retrógrada, que, numa tentativa desesperada de se manter agarrada ao poder, não hesita em continuar, contra toda a sensatez e evidência, a defender o indefensável, a recusar-se a condenar algo tão condenável como a invasão de um estado por outro*), a abrir ao Mundo as suas portas, a olhar em volta, a limpar as suas impenetráveis paredes de vidro, a romper a crosta do secretismo e da indiferença, a abrir as janelas e deixar entrar o ar.

Tal como os agora caducos patriarcas ciganos do antigamente se recusam a sancionar, a condenar quem agride militares da GNR ou burla centenas de utilizadores do Multibanco, ou, das mais variadas formas, viola a lei, também os patriarcas comunistas que o poleiro se recusam a deixar proíbem que se sancione, se condene regimes ditatoriais que, arbitrária e implacavelmente, subjugam populações indefesas e incapazes de se revoltar, em total desrespeito pelos mais elementares direitos humanos; ou quem agride inocentes cidadãos que vivem em paz nas suas casas, que nada têm ou querem ter a ver com a política dos grandes, mas que, sem querer, morrem por eles, pelas suas riquezas, poder, vaidade, exaltação.

Não pode considerar-se socialmente saudável aquele que defende estados e formas de governo alérgicos aos valores da liberdade, da democracia e do respeito pelo semelhante, que impõem leis repressivas, que invadem, que torturam, que matam, que exterminam. Não é socialmente saudável quem nega, por exemplo, Holodomor*) e hesita em condenar os sobejamente documentados massacres na Ucrânia - por muito adulteradas que certas imagens possam ser -, ou se recusa a condenar a invasão de um estado por um outro que não hesita em aniquilar, em, indiscriminadamente, matar civis, em arrasar. Tal como no caso dos ciganos, foi essa indiferença ou estado de negação que, muito injustamente, granjeou aos comunistas a proverbial aversão que certos setores da sociedade inequívoca e ativamente manifestam, e que outros parecem incapazes de, pelo menos, disfarçar.

Esgorjando por poder, recusam-se os dirigentes comunistas, não apenas a sancionar e a condenar o reprovável, como a permitir que os mais jovens militantes sancionem e condenem, impondo-lhes uma férrea e implacável disciplina partidária. Tal como os patriarcas ciganos, ao defender o indefensável, os patriarcas comunistas portugueses envergonham aqueles que, nos tempos da nossa ditadura, abnegadamente a ela se opuseram, com sacrifício pessoal muitas vezes além do imaginável e entregando-se sem reservas à causa da liberdade.

Típica dos déspotas, dos tiranos, dos machistas, dos racistas, a causa profunda e ainda não muito remota da cada vez mais próxima morte política terá sido a insistência, por parte dos velhos patriarcas do PCP, em formatar os jovens, incutindo-lhes convicções que, uma vez por estes alardeadas como suas, os tornam indesejáveis num mercado de trabalho capitalista e democrático, apenas lhes deixando como modo de vida trabalhar para o Partido, ou representá-lo em instituições democráticas, mesmo naquelas que, expressamente, não admiram. Transformam jovens potencialmente válidos em parlamentares e autarcas olhados de esguelha, incapazes de se integrar plenamente na sociedade, profissionalmente inúteis ao mercado de trabalho, em gente que, além de política ou politiquice, para garantir o agasalho nada mais sabe fazer.

Importa-lhes, outrossim, impedir quem pensa e estuda de expor a inutilidade prática, a inanidade, a vacuidade do domínio dos patriarcas: a ineficácia, a irracionalidade de posições e de políticas anquilosadas por eles preconizadas e defendidas, há muito desfasadas da realidade do tempo e do lugar. Encaram estes velhos caducos a contestação e a simples evolução como perigosamente conducentes ao inevitável e crescente desrespeito pela monolítica hierarquia por parte de quem já se questiona e, pela própria cabeça, procura pensar. Por parte de quem olham como apóstata porque, simplesmente, não entende como pode quem se diz superior e sábio continuar a defender o indefensável, o insano, o ilógico, apenas para que se mantenha no poder, na ribalta, num palanque de chão podre uma meia dúzia de ignorantes, arbitrários e incompetentes heróis de lutas de outrora que no poder, não tem hoje, evidentemente, qualquer lugar.


5. Crepúsculo

As duas partes que, neste texto, imediatamente antecedem contêm dois parágrafos iguais, tal como iguais são os velhos ciganos e os velhos comunistas no preciso ponto em que ambos ignoram o pleno significado da palavra das palavras: Liberdade! A liberdade temperada pelo respeito essencial ao bem-estar de qualquer país, de qualquer partido, de qualquer comunidade.

Tal como os ciganos nómadas de antanho têm, no mundo dito civilizado, os dias contados, o PCP não passa, hoje de um doente terminal que ainda não interiorizou que, em breve, vai morrer, apesar de, cada vez mais alto, os eleitores lho gritarem aos ouvidos moucos.

Perante o escancarado féretro que o aguarda, procura o Partido, para prolongar o último e patético alento, alimentar as urnas com cacofónicas reivindicações de um impossível, que apenas os economicamente analfabetos ainda conseguem considerar possível.

Mas, os analfabetos estão em vias de extinção; e, com eles, a ignorância, tradicional mas hoje quase inerte substrato do voto comunista em cada eleição.

* *

Embora em vias de extinção, enquanto ela não acontece vão estes seres oferecendo, pelo exemplo que constituem, uma machadada na causa antirracista, assim potenciando os efeitos bem nefastos que esta já vem sofrendo dos excessos e dos desmandos praticados por alguns daqueles que se arrogam seus principais defensores, embora não passem, muito provavelmente, de pouco escrupulosos oportunistas que olham para a causa, ora como escada de acesso a outros voos.

[não perca aqui a sequência!]

sábado, 19 de março de 2022


O Ímpeto Reformador do Pentavirato Socialista


"Para crescer em votos, um partido necessita de bons políticos; para ser eficaz, um governo necessita de bons gestores"

"A confiança na ação governativa assenta na suposta competência técnica, e a falta desta não é suprível, nem com um milhão de filhos, sobrinhos, compadres e outros potencialmente incompetentes assessores que, a expensas nossas, os governantes aproveitem para contratar"

"Ao nível da governação, Portugal não pode continuar nas mãos de amadores mais ou menos bem-intencionados,
mas escandalosamente impreparados para ocupar tais lugares
"

"Parecem apenas cinco indiferenciados portugueses que andam, há décadas, a brincar aos políticos e que, ainda por cima, cedo acabarão a esgadanhar-se mutuamente numa acesa luta pela ascensão à liderança do Partido"


Maioria absoluta assegurada nas urnas, seria de esperar um governo realmente novo para Portugal, livre da carga política associada à necessidade de agradar a gregos e a troianos que caracterizou o lastimável período da chamada geringonça - a qual, em boa verdade, nem aos dois agora insignificantes penduricalhos de extrema-esquerda serviram, no médio prazo, para o que quer que fosse, como bem o demonstrou o recente descalabro eleitoral.

Outrora tido por descobridor, por empreendedor, Portugal é, há muito tempo, um mero seguidor dos mais crescidos que bajula e admira, refastelado no Sol e na gastronomia, salvo um ou outro rebento que lá vai frutificando na área empresarial, logo pressurosamente louvado e alardeado por governantes sem substância que se veja, e por meios de comunicação muito felizes por, além das já muito gastas imagens da guerra e das balbuciadas opiniões de também mais ou menos gastos comentadores, lá irem tendo alguma notícia positiva, ainda que minúscula, para dar.

Certo parece, porém, que gestão económica, pouco ou nada tem a ver com socialismo, como bem demonstram inúmeras experiências falhadas, aqui e noutras paragens, mau grado o persistente estado de negação de certas forças partidárias que continuam a admirá-las. Apesar, claro, de o Partido dito Socialista, de socialista já pouco ou nada ter, limitando-se, no que à dita doutrina diz respeito, a acolher alguns elementos que melhor fariam em aconchegar-se em partidos mais à esquerda; e são estes, bem conhecidos mas não assumidos elementos extremistas, que mais preocupam quando os vemos guindados a postos ministeriais, a par de outros que apenas se parecem com a esquerda quando mais lhes convém.

A verdade é que, em seis anos perdidos num oceano de demagogia, sem uma carta náutica claramente traçada, sem rumo definido para um navio amolecido, apodrecido e minado de gente que apenas quer ser alguém na vida, praticamente se limitou o Governo a navegar à vista, numa cabotagem incapaz de desenvolver um trajeto de longo curso que, de alguma forma, contribuísse para nos tirar da cauda da Europa. Uma Europa cujas palmadinhas nas costas, beijos e abraços não passam, ao fim e ao cabo, de estafadas demonstrações de enfadada condescendência para com um paupérrimo país cuja improdutiva economia não passa de uma desengraçada anedota, e que, décadas a fio, sempre tem demonstrado que pouco ou nada mais do que isso quer continuar a ser.

Perdida que parece, para sempre, a desculpa do espartilho dos sócios extremistas da geringonça, poderão alguns crentes ter esperado vir, num cenário de maioria absoluta, a contar com um governo, não só mais compacto e eficiente, mas realmente eficaz, dinâmico, renovado, competente. Esqueceram-se esses ingénuos da fragilidade, da insegurança e, até, de uma certa incompetência que a simples habilidade não disfarça, as quais fazem, sempre fizeram, com que o Primeiro-Ministro não abra mão de ter, a seu lado, o conforto dos seus mais fiéis de entre os que se não cobriram de ridículo a ponto de terem mesmo de ser afastados à pressa, ainda que a seu pedido, antes das eleições.

- x -

O Estado não é, afinal, mais do que uma enorme organização sem fins lucrativos - pelo menos, para ela própria... - que, como convém a qualquer organização, deve fazer pela vida, sob pena de a passar a depender de mecenas e daqueles que, como mais ou menos arte e engenho, lá por fora conseguir  continuar a cravar.

Todavia, no espíritos dos políticos eleitos, uma grande confusão sempre existe entre quem apenas seve para fazer política e quem é, de facto, necessário e competente para governar. Para crescer em votos, um partido necessita de bons políticos; para ser eficaz, um governo necessita de bons gestores. Quanto a isto, não há que duvidar.

Ora, a qualquer eleitor é legítimo esperar que o partido vencedor defina as opções políticas em consonância com as promessas eleitorais, e entregue a execução daquelas a ministros que, antes de mais, sejam verdadeiros, encartados e experientes gestores profissionais. É que a confiança na ação governativa assenta na suposta competência técnica, e a falta desta não é suprível, nem com um milhão de filhos, sobrinhos, compadres e outros potencialmente incompetentes assessores que, a expensas nossas, os governantes aproveitem para contratar.

A oportunidade única agora proporcionada pelos fundos que, da Europa, começam a jorrar - embora não seja claro onde estão a ir parar... >- não pode ficar comprometida às mãos de uma gestão casuística dos impactos daqui e dali, como eram as frequentes exigências dos parceiros da geringonça; nem pode ser essa gestão assegurada, antes de mais, por fiéis satélites de um manifestamente exaurido e saturado Primeiro-Ministro, porventura acolitados localmente por aqueles elementos de distritais ou de concelhias do Partido que, por terem acesso privilegiado ao dito governante, embandeiravam em arco na campanha eleitoral autárquica.

Não se entende, assim, como, a fazer fé no que por aí se diz, poderá o núcleo duro do novo Governo ser constituído pelos zelotas do costume, políticos de profissão e com poucas ou nenhumas competências na área da gestão, seja do Estado, seja empresarial, exceção feita ao recentemente derrotado candidato à presidência da Câmara Municipal de Lisboa, agora talvez arvorado a ministro das finanças, após uma brevíssima e mal notada passagem por uma prateleira do anterior emprego, à espera de nova oportunidade na política - que, felizmente (para ele), não tardou a chegar.

Será verdade que os frequentes e ridículos casos ocorridos durante o mandato autárquico não terão tido a gravidade de alguns do entretanto arredado ministro do interior; mas o desnorte na governação camarária, a pusilanimidade e a muito falada submissão ao então vereador dominante - que agora se encontra a contas com a justiça, tal como outros da sua bem temperada família... - dificultam bastante a já de si árdua tarefa de encontrar mérito que justifique uma possível nomeação para o tão falado novo lugar.

O mesmo se diga do outrora número dois na Câmara, altivo e sisudo, cujos préstimos como arquitecto da maioria absoluta conseguida agora serão, provavelmente, recompensados. Mas que competência demonstrou, até agora, a dita pessoa para gerir o que quer que fosse, além da Juventude Socialista, de uma secretaria de estado eminentemente política e da máquina do Partido em campanha eleitoral? Será, mesmo, verdade que lhe irá ser dada uma pasta ministerial?

Idêntica objeção se aplica a outro provavelmente indigitado e já ministro, oriundo da Juventude do Partido, a quem outros méritos não são conhecidos além de uma voz algo tonitroante e uma razoável eficácia em negociações, sem que, no entanto, lhe subjaza qualquer brilhantismo e subsequente capacidade de planeamento, atributos indispensáveis para um ministro em tempos de crescimento do País - ou, pelo menos, de recuperação.

Não será, por certo, a tímida e desnorteada apresentadora das conferências de imprensa da Diretora-Geral da Saúde que, possivelmente em nova pasta ministerial, irá trazer grandes rasgos de genialidade à gestão da coisa pública. Ela que, apesar da genealogia partidária, profissionalmente não terá, como experiência profissional ou política, passado de adjunta de um secretário de estado também adjunto, até lhe ter sido dado um ministério também eminentemente político. Além da confiança pessoal e de ser filha de quem é, que mais-valia efetiva pensará o Primeiro-Ministro que uma tal pessoa poderá trazer à gestão do Estado?

Fala-se, também, da eterna deputada desde tenra idade, outrora chefe da Concelhia de Almada do Partido, outrora chefe da Federação Distrital de Setúbal do Partido, outrora secretária-geral adjunta do Partido, outrora líder parlamentar, a quem nenhuma aptidão é conhecida para gerir ou coordenar o que quer que seja além, talvez, do aparelho partidário, e cujas débeis e muito forçadas e parciais intervenções num programa de debate televisivo - que, a ir para o Governo, agora terá de deixar - nada de bom quando a um possível desempenho governativo nos permitem augurar.

Vá lá, livramo-nos, ao que parece, do desajeitado e malquisto Secretário de Estado do Lítio, que apenas impopularidade ao Governo haveria de acrescentar.

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Todos apreciamos e queremos a liberdade, e muitos lutaram e sofreram para que a ela pudéssemos almejar. Mas, jamais teremos essa liberdade, enquanto não estiverem razoavelmente seguros do que fazem aqueles que nos governam, enquanto a coisa pública não puder contar com uma gestão transparente, minimamente sensata e eficaz.

O mal de Portugal não é a política. Essa, não nos falta, e até temos para dar. O nosso mal é, sempre foi, uma economia, que não vai lá com habilidades e golpes de rins: ao nível da governação, Portugal não pode continuar nas mãos de amadores mais ou menos bem-intencionados, mas escandalosamente impreparados para ocupar tais lugares.

A serem mantidos ou chamados como por aí se diz, o que farão, no Governo, estas cinco mais ou menos jovens pessoas? Que capacidade efetiva tem qualquer um deles para planear, para organizar e, sobretudo, para liderar?

Parecem, apenas, cinco indiferenciados portugueses que andam, há décadas, a brincar aos políticos e que, ainda por cima, cedo acabarão a esgadanhar-se mutuamente numa acesa luta pela ascensão à liderança do Partido.

Será que, ao menos, a economia da própria casa sabem gerir? A confirmar-se a inclusão no novo governo, uma tal task force governamental será, uma vez mais, eminentemente tática, eivada dos vícios próprios de uma luta intestina partidária permanente e aguerrida, sem aptidão relevante para gerir, e que facilmente confundirá fazer coisas com... governar, estrategicamente, um país.

Numa conjuntura internacional tão crítica, perante uma oportunidade única na vida de uma nação, o que poderemos deles esperar? No momento em que resolver escolhê-los, em que estará o Primeiro-Ministro indigitado a pensar?

O resto do governo não passará, provavelmente, de subserviente paisagem, como costuma acontecer: além do Primeiro-Ministro, será, unicamente, neste preocupante e pouco qualificado pentavirato *) - este, de mulheres e homens - que residirá toda a nossa talvez última e vã esperança de sacudir a tão pesada e pegajosa poeira nacional...

Que ímpeto reformador dele poderemos esperar? Como irá a sua ação beneficiar uma administração pública há tanto e tão necessitada de uma verdadeira e exaustiva reestruturação?

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Uma vez o primeiro-ministro derrotado nas urnas, ninguém na Europa o quereria, a não ser para contar as caixas de sardinhas pescadas na zona exclusiva.

Agora, ser-lhe-á fácil guindar-se, em breve, a um lugar de grande prestígio internacional.

Nessa altura, qual dos cinco satélites ficará a fingir que governa Portugal?

* *
Perante o calamitoso desempenho recente - ou falta dele... -, a dúvida quanto a um deles parece estar prestes a deixar de existir.

quinta-feira, 3 de março de 2022


A Ucrânia e o Inefável PCP

Dos treze votos -  dois por cento - contra a proposta de condenação da invasão da Ucrânia pela Federação Russa contados no Parlamento Europeu, dois foram, para grande vergonha nossa, dos deputados da despudorada relíquia comunista portuguesa, que, com os habituais absurdos e desproporcionados pretextos,*) uma vez mais deu, de Portugal, uma bem triste imagem junto dos nossos parceiros da União*).

De entre os eleitores habituais que, do facto, se inteirarem, quantos continuarão a votar naquela obstinada coisa? Quantos, sobretudo, de entre os certamente muitos que, generosamente, de alguma forma têm contribuído para as ações de solidariedade de que, por esse País fora, nos tem dado conta a comunicação social?

Quem, de facto, continuará a votar nas gentes de um partido que continua, cega e obstinadamente, a apoiar um regime russo - que não há como confundir com comunista - que, indiferente ao sofrimento do próprio povo, mais não defende, afinal, do que as colossais fortunas dos oligarcas? Que sanciona com coimas quem escreve ou pronuncia invasão ou guerra, e com penas de prisão de entre quatro e seis anos quem ousa participar numa manifestação?

Naquilo que à liberdade e à democracia diz respeito, o regime russo e outros como ele são, para o Partido Comunista Português*), o paradigma da sua predileção. É isto que querem para Portugal.

A este respeito, não tenhamos ilusões...

Talvez os comunistas não comam criancinhas ao pequeno almoço. Mas, o regime russo que apoiam, prende crianças *), crianças *). Crianças*)

Cuspindo palavras ocas e monocórdicas a um ritmo tal que, assim, não há mensagem que alguém consiga entender, o deputado-metralhadora de serviço do PCP foi, anteontem, à RTP3*) "explicar" que, não só condenam a invasão da Ucrânia, como até condenam todo o processo que a tal levou.

Ora, o que ninguém se lembrou, ainda, de lhe perguntar é a razão pela qual, se o PCP condena, até, mais do que a invasão, por que razão não apoiou a resolução que condenava, pelo menos, a invasão.

A razão é óbvia e bem simplória: o voto contra apenas se destinou a ganhar algum tempo de antena para utilizar na divulgação de um antiamericanismo primário do qual o bolorento e anquilosado Partido não tem como libertar-se, sob pena de ainda acabar por apressar a já inevitável implosão.

A mesma Constituição da República Portuguesa com que o PCP não cessa de acenar, em campanha, como se do seu programa eleitoral se tratasse é bem clara: "Portugal reconhece o direito dos povos à autodeterminação e independência e ao desenvolvimento, bem como o direito à insurreição contra todas as formas de opressão" (art.7º n.º 3)

Como pode, então, o PCP demitir-se de fazer corresponder o seu voto aos bons propósitos que votou na Constituição?

* *

Claro que a pergunta é de mera retórica. Ninguém duvida que a anfibológica recusa em não apoiar a posição da Ucrânia ao mesmo tempo que condena a invasão desta pela Rússia acaba por ser a última cana que um partido político imerso no pântano da entropia inexorável e irreversível ainda tem para se agarrar.

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