sábado, 19 de março de 2022


O Ímpeto Reformador do Pentavirato Socialista


"Para crescer em votos, um partido necessita de bons políticos; para ser eficaz, um governo necessita de bons gestores"

"A confiança na ação governativa assenta na suposta competência técnica, e a falta desta não é suprível, nem com um milhão de filhos, sobrinhos, compadres e outros potencialmente incompetentes assessores que, a expensas nossas, os governantes aproveitem para contratar"

"Ao nível da governação, Portugal não pode continuar nas mãos de amadores mais ou menos bem-intencionados,
mas escandalosamente impreparados para ocupar tais lugares
"

"Parecem apenas cinco indiferenciados portugueses que andam, há décadas, a brincar aos políticos e que, ainda por cima, cedo acabarão a esgadanhar-se mutuamente numa acesa luta pela ascensão à liderança do Partido"


Maioria absoluta assegurada nas urnas, seria de esperar um governo realmente novo para Portugal, livre da carga política associada à necessidade de agradar a gregos e a troianos que caracterizou o lastimável período da chamada geringonça - a qual, em boa verdade, nem aos dois agora insignificantes penduricalhos de extrema-esquerda serviram, no médio prazo, para o que quer que fosse, como bem o demonstrou o recente descalabro eleitoral.

Outrora tido por descobridor, por empreendedor, Portugal é, há muito tempo, um mero seguidor dos mais crescidos que bajula e admira, refastelado no Sol e na gastronomia, salvo um ou outro rebento que lá vai frutificando na área empresarial, logo pressurosamente louvado e alardeado por governantes sem substância que se veja, e por meios de comunicação muito felizes por, além das já muito gastas imagens da guerra e das balbuciadas opiniões de também mais ou menos gastos comentadores, lá irem tendo alguma notícia positiva, ainda que minúscula, para dar.

Certo parece, porém, que gestão económica, pouco ou nada tem a ver com socialismo, como bem demonstram inúmeras experiências falhadas, aqui e noutras paragens, mau grado o persistente estado de negação de certas forças partidárias que continuam a admirá-las. Apesar, claro, de o Partido dito Socialista, de socialista já pouco ou nada ter, limitando-se, no que à dita doutrina diz respeito, a acolher alguns elementos que melhor fariam em aconchegar-se em partidos mais à esquerda; e são estes, bem conhecidos mas não assumidos elementos extremistas, que mais preocupam quando os vemos guindados a postos ministeriais, a par de outros que apenas se parecem com a esquerda quando mais lhes convém.

A verdade é que, em seis anos perdidos num oceano de demagogia, sem uma carta náutica claramente traçada, sem rumo definido para um navio amolecido, apodrecido e minado de gente que apenas quer ser alguém na vida, praticamente se limitou o Governo a navegar à vista, numa cabotagem incapaz de desenvolver um trajeto de longo curso que, de alguma forma, contribuísse para nos tirar da cauda da Europa. Uma Europa cujas palmadinhas nas costas, beijos e abraços não passam, ao fim e ao cabo, de estafadas demonstrações de enfadada condescendência para com um paupérrimo país cuja improdutiva economia não passa de uma desengraçada anedota, e que, décadas a fio, sempre tem demonstrado que pouco ou nada mais do que isso quer continuar a ser.

Perdida que parece, para sempre, a desculpa do espartilho dos sócios extremistas da geringonça, poderão alguns crentes ter esperado vir, num cenário de maioria absoluta, a contar com um governo, não só mais compacto e eficiente, mas realmente eficaz, dinâmico, renovado, competente. Esqueceram-se esses ingénuos da fragilidade, da insegurança e, até, de uma certa incompetência que a simples habilidade não disfarça, as quais fazem, sempre fizeram, com que o Primeiro-Ministro não abra mão de ter, a seu lado, o conforto dos seus mais fiéis de entre os que se não cobriram de ridículo a ponto de terem mesmo de ser afastados à pressa, ainda que a seu pedido, antes das eleições.

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O Estado não é, afinal, mais do que uma enorme organização sem fins lucrativos - pelo menos, para ela própria... - que, como convém a qualquer organização, deve fazer pela vida, sob pena de a passar a depender de mecenas e daqueles que, como mais ou menos arte e engenho, lá por fora conseguir  continuar a cravar.

Todavia, no espíritos dos políticos eleitos, uma grande confusão sempre existe entre quem apenas seve para fazer política e quem é, de facto, necessário e competente para governar. Para crescer em votos, um partido necessita de bons políticos; para ser eficaz, um governo necessita de bons gestores. Quanto a isto, não há que duvidar.

Ora, a qualquer eleitor é legítimo esperar que o partido vencedor defina as opções políticas em consonância com as promessas eleitorais, e entregue a execução daquelas a ministros que, antes de mais, sejam verdadeiros, encartados e experientes gestores profissionais. É que a confiança na ação governativa assenta na suposta competência técnica, e a falta desta não é suprível, nem com um milhão de filhos, sobrinhos, compadres e outros potencialmente incompetentes assessores que, a expensas nossas, os governantes aproveitem para contratar.

A oportunidade única agora proporcionada pelos fundos que, da Europa, começam a jorrar - embora não seja claro onde estão a ir parar... >- não pode ficar comprometida às mãos de uma gestão casuística dos impactos daqui e dali, como eram as frequentes exigências dos parceiros da geringonça; nem pode ser essa gestão assegurada, antes de mais, por fiéis satélites de um manifestamente exaurido e saturado Primeiro-Ministro, porventura acolitados localmente por aqueles elementos de distritais ou de concelhias do Partido que, por terem acesso privilegiado ao dito governante, embandeiravam em arco na campanha eleitoral autárquica.

Não se entende, assim, como, a fazer fé no que por aí se diz, poderá o núcleo duro do novo Governo ser constituído pelos zelotas do costume, políticos de profissão e com poucas ou nenhumas competências na área da gestão, seja do Estado, seja empresarial, exceção feita ao recentemente derrotado candidato à presidência da Câmara Municipal de Lisboa, agora talvez arvorado a ministro das finanças, após uma brevíssima e mal notada passagem por uma prateleira do anterior emprego, à espera de nova oportunidade na política - que, felizmente (para ele), não tardou a chegar.

Será verdade que os frequentes e ridículos casos ocorridos durante o mandato autárquico não terão tido a gravidade de alguns do entretanto arredado ministro do interior; mas o desnorte na governação camarária, a pusilanimidade e a muito falada submissão ao então vereador dominante - que agora se encontra a contas com a justiça, tal como outros da sua bem temperada família... - dificultam bastante a já de si árdua tarefa de encontrar mérito que justifique uma possível nomeação para o tão falado novo lugar.

O mesmo se diga do outrora número dois na Câmara, altivo e sisudo, cujos préstimos como arquitecto da maioria absoluta conseguida agora serão, provavelmente, recompensados. Mas que competência demonstrou, até agora, a dita pessoa para gerir o que quer que fosse, além da Juventude Socialista, de uma secretaria de estado eminentemente política e da máquina do Partido em campanha eleitoral? Será, mesmo, verdade que lhe irá ser dada uma pasta ministerial?

Idêntica objeção se aplica a outro provavelmente indigitado e já ministro, oriundo da Juventude do Partido, a quem outros méritos não são conhecidos além de uma voz algo tonitroante e uma razoável eficácia em negociações, sem que, no entanto, lhe subjaza qualquer brilhantismo e subsequente capacidade de planeamento, atributos indispensáveis para um ministro em tempos de crescimento do País - ou, pelo menos, de recuperação.

Não será, por certo, a tímida e desnorteada apresentadora das conferências de imprensa da Diretora-Geral da Saúde que, possivelmente em nova pasta ministerial, irá trazer grandes rasgos de genialidade à gestão da coisa pública. Ela que, apesar da genealogia partidária, profissionalmente não terá, como experiência profissional ou política, passado de adjunta de um secretário de estado também adjunto, até lhe ter sido dado um ministério também eminentemente político. Além da confiança pessoal e de ser filha de quem é, que mais-valia efetiva pensará o Primeiro-Ministro que uma tal pessoa poderá trazer à gestão do Estado?

Fala-se, também, da eterna deputada desde tenra idade, outrora chefe da Concelhia de Almada do Partido, outrora chefe da Federação Distrital de Setúbal do Partido, outrora secretária-geral adjunta do Partido, outrora líder parlamentar, a quem nenhuma aptidão é conhecida para gerir ou coordenar o que quer que seja além, talvez, do aparelho partidário, e cujas débeis e muito forçadas e parciais intervenções num programa de debate televisivo - que, a ir para o Governo, agora terá de deixar - nada de bom quando a um possível desempenho governativo nos permitem augurar.

Vá lá, livramo-nos, ao que parece, do desajeitado e malquisto Secretário de Estado do Lítio, que apenas impopularidade ao Governo haveria de acrescentar.

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Todos apreciamos e queremos a liberdade, e muitos lutaram e sofreram para que a ela pudéssemos almejar. Mas, jamais teremos essa liberdade, enquanto não estiverem razoavelmente seguros do que fazem aqueles que nos governam, enquanto a coisa pública não puder contar com uma gestão transparente, minimamente sensata e eficaz.

O mal de Portugal não é a política. Essa, não nos falta, e até temos para dar. O nosso mal é, sempre foi, uma economia, que não vai lá com habilidades e golpes de rins: ao nível da governação, Portugal não pode continuar nas mãos de amadores mais ou menos bem-intencionados, mas escandalosamente impreparados para ocupar tais lugares.

A serem mantidos ou chamados como por aí se diz, o que farão, no Governo, estas cinco mais ou menos jovens pessoas? Que capacidade efetiva tem qualquer um deles para planear, para organizar e, sobretudo, para liderar?

Parecem, apenas, cinco indiferenciados portugueses que andam, há décadas, a brincar aos políticos e que, ainda por cima, cedo acabarão a esgadanhar-se mutuamente numa acesa luta pela ascensão à liderança do Partido.

Será que, ao menos, a economia da própria casa sabem gerir? A confirmar-se a inclusão no novo governo, uma tal task force governamental será, uma vez mais, eminentemente tática, eivada dos vícios próprios de uma luta intestina partidária permanente e aguerrida, sem aptidão relevante para gerir, e que facilmente confundirá fazer coisas com... governar, estrategicamente, um país.

Numa conjuntura internacional tão crítica, perante uma oportunidade única na vida de uma nação, o que poderemos deles esperar? No momento em que resolver escolhê-los, em que estará o Primeiro-Ministro indigitado a pensar?

O resto do governo não passará, provavelmente, de subserviente paisagem, como costuma acontecer: além do Primeiro-Ministro, será, unicamente, neste preocupante e pouco qualificado pentavirato *) - este, de mulheres e homens - que residirá toda a nossa talvez última e vã esperança de sacudir a tão pesada e pegajosa poeira nacional...

Que ímpeto reformador dele poderemos esperar? Como irá a sua ação beneficiar uma administração pública há tanto e tão necessitada de uma verdadeira e exaustiva reestruturação?

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Uma vez o primeiro-ministro derrotado nas urnas, ninguém na Europa o quereria, a não ser para contar as caixas de sardinhas pescadas na zona exclusiva.

Agora, ser-lhe-á fácil guindar-se, em breve, a um lugar de grande prestígio internacional.

Nessa altura, qual dos cinco satélites ficará a fingir que governa Portugal?

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Perante o calamitoso desempenho recente - ou falta dele... -, a dúvida quanto a um deles parece estar prestes a deixar de existir.
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