"Seu nome provem-lhe de muitos ouriços do mar que ha na sua costa, aos quaes antigamente se chamava eyriço. Até as suas armas são um ouriço do mar, em campo de prata. Mas no chafariz que fica ao S. da villa, e que foi construído no melado do XV século, reconstruído em 1828, estão como armas da villa — um caranguejo em campo branco. (Talvez fosse ignorância do canteiro fa- zendo um caranguejo cm logar de um ouriço.) Outros dizem que antigamente se dava o nome de eyriço ao earangueijo)(...).
Foi senhor d'eta villa, D. Antonio I, prior do Crato (...). Foi praça d'armas marítima e tem um forte, hoje desguarnecido.
Este forte foi mandado construir por D. Pedro 11, pelos annos de 1700. Está bem conservado. A qui desembarcou, em 1589. D. Antonio I, com parte das tropas inglezas que lhe deu a rainha Isabel (desembarcando o resto em Peniche) para arrancar das garras do matreiro Philippe II o reino de Portugal, que este havia usurpado. Tendo porem D. Antonio feito um vergonhoso tratado com aquella rainha, pelo qual Portugal ficava sendo uma colónia ingleza, o povo (que sabia isto) não se moveu a favor d'este pnncipe infeliz, que teve de abandonar a empreza, reembarcando em Cascaes, e não tornando a tentar fortuna, para recuperar a coroa.
Ainda que a Ericeira seja, como é, uma povoação muito antiga, não ha noticia da sua origem, nem tem vestígio algum d'anti- guidades. Posto que esta villa seja pequena, é muito aceiada, as ruas são muito bem calçadas, as casas muito bem caiadas e interiormente muito limpas. É muito farta de géneros alimentícios, óptima fructa, excelleate e muito peixe, e tudo barato. A agua é que não é lá muito boa, e a gente riea d'aqui, a manda buscar á Tapada de Mafra (a 100 réis cada cântaro)".