Apresentação

"Além daquela centelhazinha de orgulho parvo comum aos que pensam estar a fazer alguma coisa bem feita,
ficarei feliz se o que aqui deixar servir para levar, nem que seja um só dos que me lerem, a parar pelo menos durante
os segundos suficientes para, mesmo rejeitando quanto digo, encontrar, em reflexão própria, novas e menos ensimesmadas formas
de ouvir aqueles em quem nem costumamos reparar, e para encarar com mais sábios e benevolentes olhos
uma ou outra vertente desta vida de todos, que a todos cabe melhorar
".


Sorri sempre, ainda que o teu sorriso seja triste, porque mais triste que o teu sorriso triste é a tristeza de não saber sorrir”. Alguém assim fizera escrever numa tabuinha de madeira que há tantos anos encontrei na montra de uma loja de recordações.

Apesar de algo inestética, a verdade é que dei uns escudos por ela, certamente porque algo aquele escrito fez vibrar dentro de mim; e, também, dentro de outros como eu, ou ninguém se teria dado ao trabalho de, em série, fabricar e procurar vender a tabuinha, não havendo melhor prova para o agrado generalizado do que o facto de ter o pensamento sido transcrito, ipsis verbis, em variadíssimas páginas nas redes - ou armadilhas... - sociais que por ai abundam.

O nome do autor não estava indicado e, provavelmente, ninguém o saberá - ou irá atribuí-lo ao inevitável Lao-Tseu ou Lao-Tsé, que alguns confundem com Mao-Tsé. Ninguém sabe, ninguém se preocupa em saber quem escreveu, porque o trecho vale por si mesmo, sem necessitar do apadrinhamento desta ou daquela personagem mais ou menos célebre.

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Fez-me isto pensar que as ideias e o seu desenvolvimento são mais bem apercebidos quando nos chegam independentes da identidade do autor.

Por isso mesmo, e embora para aqui escrever me mova, em parte, o mesmo orgulho que, ainda que sob a capa da humildade, assina quase todas as iniciativas humanas, não vos direi quem sou.  Aparecerei a cada leitor com o perfil que cada um de mim intuir unicamente a partir da forma como, independentemente daquilo que consta do cartão de cidadão, mais ou menos se identificar com aquilo que ler.

Tal como acontece com a identidade nominal, também a espiritual é própria de um único indivíduo, pelo que será impossível alguém concordar com tudo ou discordar de tudo o que vou escrever.

Por outras palavras, as minhas ideias que prestam, prestam só para mim, e importa que voem até ao destino sem que um nome as empole, atrapalhe ou diminua.

Serão o que forem, e ficarão assim.

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Penso que os que muito leem obras de autores consagrados acabarão, inevitavelmente, por produzir análises do presente influenciadas por observações de outros presentes já passados que, com este presente, pouco ou nada têm a ver.

É que, tal como acontecia com os imortais artistas, quando aqueles mestres pensavam e escreviam não havia água encanada, ar condicionado, automóveis, cinema, computadores, painéis solares;  os mais antigos, nem sabiam o que era o telégrafo, o comboio ou o papel higiénico. Fisicamente, talvez o ser humano de então fosse parecido com o dos nossos dias; mas as circunstâncias – hoje quase inimagináveis - em que vivia diferiam substancialmente das dos nossos dias, pelo que me parece legítimo considerar que, pelo menos, parte da teoria e da doutrina então propostas poderão ter, quando aplicadas aos nossos dias, uma validade menos evidente do que então.

Do que outros antes de mim escreveram, pouco ou nada li, pouco ou nada sei, pelo que será mera coincidência a eventual repetição de uma ou outra ideia, de uma ou outra frase, de uma ou outra opinião.  Na investigação mais do que elementar que antecede a escrita destes pequenos mosaicos de mim, limito-me a olhar em volta, lendo e ouvindo notícias e entrevistas, e alguns comentários ou artigos de opinião. Também não posso ser considerado autodidata, já que comigo nada aprendi que aqui valha uma menção.

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Os principais contributos que trago não passam de artigos ou pequenos ensaios mais ou menos formais, desejavelmente isentos, pensados sobre posições que quase sempre divergem do mais consensual entendimento. A decisão de divulgar estas divagações deve-se à possibilidade, embora improvável, de poderem sugerir novas formas de conduta humana, ou perguntas de partida para quem os mesmos temas queira aprofundar.

Os textos carecem da validação de quem os lê, pelo que peço que os comentem, porque, discordantes ou concordantes, os vossos comentários me ajudam a aprender e a crescer. O que escrevo é válido apenas depois de passar pelo crivo da lógica mais rigorosa, e se não for desmentido por ciência previamente sujeita a metódica validação. Por isto mesmo, peço que ataquem as ideias nos seus fundamentos, e não apenas nas conclusões; e que o façam, unicamente, com as armas da ciência ou da razão: não com as farpas mordazes da mera e desconchavada ironia, ou com simplesmente papagueada erudição.

Sempre tive a mera erudição - por mais rica que seja - como o maior insulto à inteligência humana, quando não acompanhada de exaustiva e própria fundamentação. Parece-me aquela equiparável a um enorme disco rígido agarrado a um preguiçoso processador - tão ineficaz, diga-se, quanto o inverso: um processador potente associado a um disco acabado de formatar.

Assim, no que não é técnico, exato, penso que a atitude saudável será procurar esquecer o que pouco interessa do pouco que aprendemos, e refletir cada um por si sobre o remanescente já temperado pela vivência diária, sempre ciente, embora, da confrangedora e muito humana pequenez do resultado.

Uma vez assente a ideia e arrumado o pensamento, a escrita é o verdugo, o algoz daquilo que, na meditação, frutifica e se vê forçado a lutar com a palavra para se manifestar.  A palavra é a forma, o veículo pelo qual, para de nós sair, toda a substância, todo o essencial deve passar. É o filtro implacável que, se mal afinado, ora estraga o que pensamos de belo, ora suaviza a expressão do nosso pior. Se não for cuidada, sempre deturpa, ou atenua, ou anula; inverte, até.

Tal como a erradicação do facilitismo, o cuidado com a forma como nos exprimimos é, por isso mesmo, mais do que muito importante: é fundamental!*)

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Como acontece com qualquer outro mortal, creio que, na sociedade em que vivemos, muita coisa está errada. Mas vejo, também, que apenas pensar e comentar para o lado que tudo está errado é muito , muito pobre, em toda a inconsequência de tal omissão.

Também como a qualquer outro, me ocorrem, para esses erros, variadas e mais ou menos emocionadas soluções.  Procurarei, porém, manter uma visão desassombrada e objetiva sobre os factos e sobre as suas causas e razões; e, para que essa objetividade possa ser escrutinada e, se for caso disso, o raciocínio implacavelmente destruído, cuidarei de procurar fundamentar solidamente cada reflexão, cada proposta, cada conclusão. Repito: por favor, não me respondam com mera erudição.

Não faço, por outro lado, parte do conjunto dos que entendem que só faz sentido fazer algo pela sociedade a não ser que, dela, algo em troca se vá tirar. Assim, as propostas que aqui apresento*) não têm autor: são para todos, por aquilo que delas puderem e quiserem aproveitar.

Tampouco pretendo convencer seja quem for do que quer que seja: apenas opinar e convidar ao debate e à reflexão.

Se alguns pressupostos estiverem errados, pouco importa: serão o preço a pagar por um elementar exercício de criatividade. O direito ao erro é indissociável do direito à opinião.

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Passando a assuntos mais práticos, afixarei artigos desigualmente repartidos por quatro grandes áreas:  Vida, Sociedade, Política e Língua Portuguesa, sem prejuízo de outras poderem juntar-se-lhes.  A perceção que o Leitor terá da natureza específica e do conteúdo de cada uma delas resultará da consulta dos índices e da leitura dos textos, pelo que não as desenvolverei aqui.

Acontecerá, também, afixar, isoladas de qualquer texto, citações que considere interessantes ou adequadas, sempre que possível reproduzindo-as, também, no idioma de origem. Proporei, por fim, algumas peças de som ou de imagem que, de alguma forma, considerar obras de arte e cuja visualização ou audição me pareça de recomendar, alternando, talvez, com umas coisas de antigamente, como digitalizações de postais antigos, por exemplo.

O Mosaicos em Português é um espaço de expressão inteiramente livre e descontraído, sem qualquer compromisso de regularidade na publicação. Quanto a temas relacionados com a navegação no blogue, proponho que o Leitor selecione, acima, o separador "Como Consultar".

As frases não originais incluídas nos textos encontram-se entre aspas; mas, pela mesma razão que me leva a não me identificar - para que as ideias vivam independentemente dos nomes -, além das que forem afixadas isoladamente, só em casos muito raros referirei os nomes dos respetivos autores e, mais raramente ainda, as fontes diretas ou indiretas. Procurarei, aliás, omitir nos textos quaisquer nomes, sempre que a ideia me parecer ficar clara sem que eles apareçam.

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Comunicar é sujeitar-se ao julgamento;  só enquanto nada dizemos nem escrevemos podemos julgar que temos razão.

Por isso mesmo, e dado que não escrevo sobre o consensual, deixo, como disse, ativos os formulários destinados a comentar, individualmente, cada texto, desde já agradecendo as observações que permitam validar ou corrigir quanto escrevo.

Por uma questão de elementar respeito por quem por aqui passa, publicarei apenas comentários que me pareçam devidamente estruturados, fundamentados e sem erros chocantes. Também não serão afixadas perguntas sobre a minha pessoa ou relativas a aspetos técnicos da conceção, desenvolvimento ou manutenção do Mosaicos em Português, mas unicamente as diretamente destinadas ao comentário ou ao debate de ideias sobre os temas abordados nos textos publicados.

Serão liminarmente banidos comentários que contenham expressões consideradas impróprias, bem como os que apenas contenham referências factuais desenquadradas visando promover o elogio da própria pessoa que os escreve.

A idade dissipa a certeza e intensifica a dúvida. Não serão, pois, de estranhar eventuais alterações aos textos em datas posteriores à publicação inicial, já que, para um espírito honesto, não há como escrever sobre as coisas para delas logo se começar a duvidar...

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A minha visão da vida poderá não passar, toda ela, de um monumental erro de análise. Mesmo assim, partilho-a, pelo que possa valer; e, para a validar ou invalidar, conto com o comentário que o caro Leitor quiser escrever.

Além daquela centelhazinha de orgulho parvo comum aos que pensam estar a fazer alguma coisa bem feita, ficarei feliz se o que aqui deixar servir para levar, nem que seja um só dos que me lerem, a parar pelo menos durante os segundos suficientes para, mesmo rejeitando quanto digo, encontrar, em reflexão própria, novas e menos ensimesmadas formas de ouvir aqueles em quem nem costumamos reparar, e para encarar com mais sábios e benevolentes olhos uma ou outra vertente desta vida de todos, que a todos cabe melhorar.

'António Ladrilhador'


Un homme obscur ou inconnu peut valoir mieux que sa réputation,
qui n´est que l´opinion d´autrui

                Pierre Beaumarchais,
La Folle Journée (Le Mariage de Fígaro)
4 comentários:
  1. Li alguns dos seus post que gostei .... puseram-me a pensar ... e aprendi.
    A partir de agora passarei por aqui.
    Obrigada


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    1. Será sempre bem-vinda. Obrigado por ter consentido em comentar.

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  2. Escreve deum modo original.
    Boa continuação e muitos leitores.
    Victor Angelo.

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    1. Muito obrigado.
      Os melhores votos para si, e para o 'Vistas Largas', também.

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