"Como não entende o Presidente da Ucrânia que a definição de uma zona de
exclusão aérea significaria,
ao primeiro sobrevoo por uma aeronave
russa, o imediato desencadear das hostilidades
entre a Aliança
Atlântica e o implacável e tirânico agressor?
Por outras palavras, a inevitável eclosão da III Guerra Mundial, num
banho generalizado de sangue e de terror?"
"Por cá, apenas 100.000€ do PRR terão chegado a contas bancárias de empresas.
Será que os oligarcas tugas já boa parte dos fundos do PRR andam a arrecadar?"
"
Depois disto, nada será como dantes", não nos cansamos de ouvir dizer.
Se nos esforçarmos, porém, por olhar com alguma objetividade e lucidez para
esta questão da operação militar especial russa, seremos levados a
acreditar que não será exatamente assim: a mentira e a hipocrisia,
designadamente políticas, continuam e, quase seguramente, continuarão a ser as
mesmas, e nada nos permite esperar que algo de substantivo mude nessas
desgraçadas práticas que, em última análise, poderão estar a alimentar uma
guerra da qual poderemos estar a experimentar apenas o início.
Poderão, até, estar essas mentiras e hipocrisias a aproximá-la, perigosamente,
do irreversível e irracional extremo que ninguém quer nomear.
Vejamos...
- x -
Independentemente da maior ou menor perversidade e desumanidade das suas
verdadeiras e por todos nós desconhecidas intenções, ninguém livra, já, o
Presidente da Federação Russa*) do labéu de aldrabão.
As reiteradas garantias iniciais de que todo aquele aparato militar na
fronteira não passaria de uma movimentação legítima de tropas em exercícios -
no que, diga-se de passagem, só alguém muito, mas mesmo muito, ingénuo
conseguiria acreditar... -, desvalorizaram qualquer verdade que as suas
subsequentes afirmações e protestos possam conter, nomeadamente naquilo que se
refere à questão vital de estar ele com pretensões expansionistas ou, muito
mais simplesmente, apenas a querer arrasar, na Ucrânia, toda e qualquer
instalação militar.
O que, em qualquer caso, parece certo, é que, seja devido a chã incompetência,
seja por também por lá andarem habilidosos como os que por cá temos ou tivemos
no
Arsenal do Alfeite*) - e, talvez, uns quantos outros dos quais não se fala ou deixou de se
falar... -, as forças militares russas estão bem longe dos níveis de eficácia
que se lhes atribuía, em boa parte devido à obsolescência e à fraca qualidade
do seu equipamento militar, cuja substituição por outro mais moderno jamais
terá sido concretizada devido a possíveis desvios de verbas destinadas à
instituição militar.
Que grossa fatia das fabulosas fortunas dos oligarcas não terá escorrido,
diretamente, dessas supostas aquisições de armamento? Quantos salões dos
luxuosos iates não terá o povo russo pagado através de impostos destinados ao
esforço de guerra ou patacoada similar?
- x -
Por muito que não possam deixar de nos comover a destruição maciça do
edificado e, sobretudo, a quantidade considerável de inocentes vítimas cujas
vidas se perderam ou ficaram, para sempre, despedaçadas, tampouco é
transparente e cristalina a intenção do mediático
Presidente da República Popular da Ucrânia*) - não sei porquê, causa-me sempre arrepios, esta designação
república popular.
Não deixando de ser verdade que o homem é um político amador, um ator de
profissão, de olhos duros e desapaixonados, não pode, de modo algum,
admitir-se que alguém que ocupa tão proeminente posição na hierarquia de um
estado se não haja rodeado de assessores que, oportunamente, lhe chamem a
atenção para
as graves e, até, terríveis consequências daquilo que propõe ou pede,
caso seja posto em prática.
Certo é que, por cá, também temos uma atriz de profissão, também ela de olhos
duros e desapaixonados, que, em lugar de conversar ou discursar normalmente,
declama monocórdicas e circulares diatribes, supostamente em defesa de causas
de que o Movimento que, supostamente, coordena se apropriou como desejáveis -
mas cada vez menos eficazes - tábuas de salvação de uma organização
mortalmente ferida pela mais recente manifestação da mesma vontade popular que
diz proclamar.
Mas, contrariamente ao que sucede com a lusitana e pouco relevante atriz e com
a débil mas bem conhecida força política em que ainda milita, o Presidente da
Ucrânia representa, de facto, que ideologia? Quem, na sua retaguarda,
cavalgará, incógnito, a oportunidade única proporcionada por uma guerra que,
admitamos, talvez ele não tenha provocado, mas a cuja génese poderá não ser
totalmente alheio, apesar das suas enfáticas e ásperas palavras que a
televisão nos traz a casa e que seria politicamente incorreto não apoiar?
Além das
manifestamente abusivas pretensões iniciais de imediata admissão à NATO e à União Europeia, as quais pediu, exigiu, até se cansar,
como não entende o Presidente da Ucrânia que a definição de uma zona de
exclusão aérea significaria, ao primeiro sobrevoo por uma aeronave russa,
o imediato desencadear das hostilidades entre a Aliança Atlântica e o
implacável e tirânico agressor?
Por outras palavras, a inevitável eclosão da III Guerra Mundial, num banho
generalizado de sangue e de terror?
Num tal cenário, potencialmente dantesco dado o risco da confrontação com
armas nucleares, o foco da atenção do aparentemente depauperado exército russo
seria, inevitavelmente, desviado para outras paragens, assim atenuando, ou
desistindo, de uma possível intenção de invadir a Ucrânia. Mas, a que custo
incomensurável para todo o Mundo e, por arrasto, também para a própria
Ucrânia?
O que anda este homem a pedir?
O que anda o Presidente da Ucrânia, efetivamente, a fazer?
A defender a Europa, como apregoa? Certamente não. O quê, então?
Ou será de dar razão a quem pensa que tudo isto não passa de uma disputa entre
dois frios, ambiciosos e intransigentes Vladimiros, que não hesitam em, um
pela força, outro pela sedução, pela persuasão, tudo e todos sacrificar aos
respetivos desígnios de notoriedade e glorificação?
A História tirará a sua conclusão...
- x -
Por cá, vamos assistindo a uma sucessão de iniciativas solidárias promovidas
pelas autarquias ou por elas patrocinadas, consistindo, mormente, no envio de
camiões e mais camiões repletos sabe-se lá de que roupas velhas e consumíveis
em fim de prazo, além, naturalmente, de dádivas genuínas de uns quantos
bem-intencionados e daquele punhado que continua a pensar que será esta uma
boa forma de eliminar umas quantas teias de aranha das mais ou menos pesadas
consciências.
Mas, digam-me lá? Será necessário todo este aparato televisivo?
Se o que se pretende é, efetivamente, dar, ajudar, não seria bem mais
eficiente, económico, mais civilizado, mais discreto, mais genuíno,
centralizar a recolha e encaminhamento das dádivas, em lugar de agir como se
de rasteira propaganda autárquica se tratasse, alimentada, já se sabe, por
aquele patego clubismo de poder dizer que aquele camião cheio de tralha
foi enviado pela gente cá da terra?
A menos, claro, que legitimamente desconfiem da bondade dessa centralização, e
do mais do que provável descaminho de bens em que, em menor ou maior escala,
ela redundasse. O que pensar, porém, da intervenção de autarquias no processo,
órgãos quantas vezes já eivados de
beneméritos processados e, até, condenados por corrupção e desvios
de fundos relacionados com catástrofes para nós tão relevantes como, por
exemplo, os fogos de Pedrógão, em toda a sua força devastadora?
Será por isso que alguns dos próprios promotores genuinamente empenhados
dessas iniciativas se sentam ao volante dos camiões e os donativos lá vão,
diretamente, entregar? Para terem a certeza de que lá irão chegar?
- x -
Ainda por cá, mas lá mais acima, também tudo na mesma, a fazer fé nos
dados supostamente fidedignos que nos trouxe o comentador social-democrata de telejornal de Domingo num canal generalista - e que no próprio
Partido lá vai espetando uma ou outra farpa, quanto mais não seja para
disfarçar.
Ao que parece, de cerca de 16.600.000.000€ que o
Plano de Recuperação e Resiliência*) ao nosso Torrão Natal terá atribuído, apenas 4.600.000.000€ foram, até agora,
aprovados e, destes,
apenas 400.000.000€ (reparem na redução de zeros...) terão sido
destinados a particulares e empresas portuguesas, tendo a fatia do Obélix
cabido, como seria de esperar, ao faminto Estado.
Será que os oligarcas tugas já boa parte dos fundos andam a
arrecadar?
O caso poderá ser particularmente gritante, se acreditarmos ser verdade que,
dos tais 400.000.000€,
apenas 100.000€ do PRR (outra vez esta coisa dos zeros...) terão chegado
a contas bancárias de empresas: as mesmas empresas às quais continuadamente o Governo apela para que
assegurem a recuperação e a dinamização da nossa rastejante economia, para
que, com o sucesso delas - das empresas - possam, ufanos, os nossos políticos
lá por fora acenar.
A guerra, a cruel e desnecessária, guerra, muita coisa, é certo, irá mudar.
Mas, com a mentira, com a dissimulação, com a hipocrisia, não irá,
seguramente, acabar.
* *
O assunto da eventual possibilidade de adesão da Ucrânia à Comunidade Europeia
é cada vez mais polémico. Traz, entretanto, à balha questões estruturais da
União que importa, antes de mais, abertamente discutir e resolver.
Tal é o caso, por exemplo, da obsoleta e contraproducente exigência da
unanimidade nas mais importantes decisões.
[continue a ler aqui].