segunda-feira, 21 de março de 2022


Rússia: Qual é a Novidade, afinal?

Imaginemos um agente da PIDE.

Não um daqueles básicos, broncos, bestializados, subservientes indivíduos que, tudo quanto sabiam dizer, era um mal pronunciado 'Sim, Chefe!', ou coisa que o valha.

Pensemos, antes, num daqueles indivíduos de maldade mais refinada, intrínseca e estruturalmente sádicos, mestres na tortura, no pôr e dispôr da liberdade e da vida de quem lhes caísse nas malhas da rede.

Pensemos, também, nos seus superiores hierárquicos, nos decisores, que, igualmente indiferentes ao sofrimento alheio e absolutos desconhecedores ou detratores de ideais como o da liberdade que não fosse a deles, ordenavam atos da maior barbárie dirigidos àqueles por quem o Regime se dizia ameaçado, ou que, mais simplesmente, não concordavam com ele.

Imaginemos, pois, o que seria um desses decisores ou graduados da Polícia Internacional e de Defesa do Estado hoje guindado ao mais alto cargo executivo do dito, antes tendo tido o cuidado de se rodear de gente da sua confiança, de antigos sequazes, igualmente frios, igualmente duros, gananciosos, indiferentes. Sobretudo, ignorantes, parolos, exibicionistas, complexados, sociopatas, narcísicos, gente sem estrutura, sem planta, sem conteúdo, sem coisa alguma que valha a pena referir, porque nada teriam que os abonasse.

Pensando e imaginando tudo isto, como poderemos admirar-nos com uma agressão que não passa, afinal, da consequência natural da ascensão ao topo do poder por parte de um réptil destes?

O que mais se poderia, verdadeiramente, esperar de alguém que, pouco passava das vinte primaveras, ingressou na PIDE russa, rapidamente alcançando considerável estatuto na Organização e, mais tarde, passando, já na cena política, a manobrar com habilidade e maestria, lugares de grande destaque no famigerado Kremlin?

Destruir cidades inteiras, indiferente à inevitável perda de vidas, ou visar, simplesmente, a destruição dessas vidas alegando a inevitabilidade inerente à destruição das cidades ou de alvos militares não passará de um jogo de palavras.

Uma e outra formulação representarão a mesmíssima coisa aos olhos de quem, ao que tudo indica, se encontra reduzido à absoluta necessidade de ir até ao horrendo e inenarrável fim, apenas para disfarçar um erro de cálculo monstruoso por si cometido. Um erro devido, não apenas à inesperada resistência das forças armadas e dos cidadãos ucranianos, ou à também algo inesperada ajuda militar maciça oriunda até dos mais inesperados países, mas, provavelmente, também a recorrentes desvios, diretamente para as contas bancárias do punhado de oligarcas que pôs e mantém no poder o antigo major da KGB, de verdadeiras fortunas destinadas à compra de armamento para um supostamente invencível exército, que, como cada vez mais se torna evidente, logo nos primeiros dias do ataque em toda a sua relativa fragilidade se mostrou.

Por tudo isto, o Presidente da Federação Russa só irá parar quando puder, de forma inequívoca, salvar a face; ou quando perder, definitivamente, a paciência a plêiade de oligarcas corruptos que, em tempos, a sua outrora inegável e malévola competência recompensou.

(pode ler aqui a sequência do tema)



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