Os critérios para a classificação de determinada notícia como "breaking news" são, necessariamente, subjetivos, além de fortemente condicionados pela apetência do auditório pela respetiva natureza e, consequentemente, pelos inerentes interesses comerciais que cada vez mais nos surgem como o verdadeiro motor das decisões táticas a cada momento tomadas pelos responsáveis pela gestão corrente das diversas estações.
Caso bem conhecido e que ainda hoje permanece na memória de muitos é, corria o ano de 2007, o da saída abrupta de estúdio por parte de um comentador da SIC Notícias*) que viu o seu comentário político interrompido pela inadiável e importantíssima cobertura da chegada ao aeroporto de um então bem sucedido treinador de futebol.
Para alguns aparentemente no mesmo patamar, temos, agora, a invasão da Ucrânia pela Rússia a ameaçar a segurança da Europa e, desta vez, a objetivamente mais do que justificar que qualquer notícia relevante e de última hora sobre o tema ere uma imediata interrupção da regular programação.
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No entanto, quem, por gosto discutível ou pontual falta de alternativa, passar parte do dia com o aparelho sintonizado na frequência do canal recentemente rebatizado como CNN Portugal, ouvirá, inúmeras vezes ao longo do dia, papaguear algo como "Boa tarde, eu sou a Maximiana e estamos em 'breaking news' na CNN Portugal" (o nome fictício da locutora foi propositadamente escolhido dada a facilidade com que as evidentes artificialidade e impropriedade da designação e da mensagem poderiam levar-nos a confundi-la com uma rábula de um programa humorístico como o Crime na Pensão Estrelinha *) ou o Humor de Perdição *)).
O que nos traz, de imprevisto, de inesperado, de importante, de novo, aquilo que se segue a tão espampanante introdução?
As mais das vezes, a partida, o trânsito ou a chegada de mais um entre tantos camiões com ajuda humanitária generosamente recolhida em Portugal; a chegada de mais um desolado grupo de deslocados da guerra; a comovente história do pequeno Alexis que, na fuga, apenas conseguiu trazer consigo o mais pequeno dos seus já poucos brinquedos; o aproveitamento fácil e indecoroso da fragilidade das vítimas para as pôr a chorar diante das câmaras, ou a pungente história de um Oleg que, perdido nas agruras da guerra, não tem como encontrar a irmã ou outro ente querido do seu coração.
Tudo isto é triste, é dramático, é chocante, claro. A menos que sejamos bestas apenas comparáveis aos abomináveis agressores, tudo isto nos toca profundamente, e não deixa de ser instrumentalmente relevante na congregação e na mobilização de esforços para valer a quem tanto de nós necessita.
Mas, o que tem a ver com "breaking news" toda esta informação já mais do que requentada, passada até à nausea, sempre com as mesmas imagens de fundo - ainda conseguem ver "em direto" aquela explosão de um míssil russo a destruir um edifício administrativo em Kharkiv? *)
De manhã à noite, e seja lá o que for que transmita que tenha, ainda que remotamente, a ver com a invasão da Ucrânia, é, para a mais sensacionalista do que informativa CNN Portugal, notícia de última hora, ou assim é anunciada a fatias menos cultas, menos atentas e menos inteligentes da população espetadora, as únicas que, numa postura predominantemente acrítica, ainda conseguirão absorver, sem reagir, tão enganadoras e intensas mensagens que, supostamente, ajudarão o recauchutado Canal a vender alguma publicidade.
Em vez de breaking news, servem-nos baking news, destinadas a entorpecer, a cozinhar em lume brando as meninges de quem as vê e ouve, intercaladas pelos anúncios que, esses sim, aqui e ali as vêm interromper.
Ávidos de verdadeiras notícias, lá continuamos assim pregados à têvê...
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