"Quando se pretende ser tudo e o contrário de tudo,
não se acredita em nada.
É essa falta de fé no mais pequeno valor
que faz a miséria moral de muitas democracias modernas"
Paulo Portas*)
(O Independente)
A crescente tendência para navegar sem carta, sem bússola, sem planear,
ao sabor do vento, das conveniências, da popularidade, da notoriedade e do
desenfreado culto do eu conduziu a Humanidade ao beco sem saída à
vista em que todos nos encontramos, situação em que a maior parte continua a
preferir não pensar ou, em estado de negação, rejeita encarar com a coragem
necessária a procurar reverter.
Os governos e os políticos que os integram limitam-se a fugir para a frente, para um destino desconhecido*), ou adivinhado e temido, que pouco ou nada fazem para evitar ou para dele nos defender. Cada vez mais, vamos ficando nas mãos de meros e anódinos administradores do inevitável, do que tem de ser, que pelos corredores do poder deambulam ao ritmo das aparições na televisão e dos posts nas redes sociais, promovendo-se o melhor que podem para que, pelo menos, quando saem desta mirabolante confusão algo de seu ou para contar ainda possam vir a ter.
Por seu turno, o iludido, manipulado, pouco instruído e mal educado eleitor lá vai votando*), a esmo, em quem lhe parece mais espetacular, quem faz mais barulho, mais promessas, na esperança de que quem hoje vota delas amanhã se irá esquecer.
O cenário está montado para que emerja desta amálgama, deste caos, mais um
ditador de pantomina, ávido de riqueza pessoal e de poder, envolto numa aura
de respeitabilidade e de resplandecente fulgor que, de início, os pacóvios que
somos irá deslumbrar, para, mais tarde e como sempre, amargar num regime
autocrático de sofrimento, de pobreza, de tirania, de insuperável torpor, de
excruciante dor.
* *
As portas para a entrada da ditadura estão escancaradas, dados o desnorte e a inabilidade política por parte da maior parte dos partidos que nos deveriam representar.