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Para admirar outras maravilhas do audiovisual, selecione *Obras de Arte à direita da tela, sob a epígrafe 'Acesso por Categoria (*) ou Tema' |
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Hoje, o circo mediático volta à bilheteira, já que o 'dia de ansiedade' se segue ao 'dia de reflexão'.
Ansiedade dos candidatos na corda bamba e dos que se julgam a um passo da eleição. Ansiedade das as agências de marketing e das de sondagens, que nas urnas vão ver decididos os negócios da próxima campanha. Ansiedade para os compadres dos eleitos e dos perdedores também. Ansiedade para os adeptos do clube político, que, como se a final de ontem da Taça da Liga não bastasse, não sabem se vão sair em ombros ou humilhados, se vão ter ou não coragem para aparecer no café no dia seguinte ao do jogo... que dizer, da eleição.
O circo mediático suspendeu-se ontem. Hoje regressa com o ar beatífico, confiante e bem disposto do candidato com o boletim meio introduzido na urna à espera do fotógrafo; com declarações firmes que fazem lembrar as do recentemente derrotado candidato à Câmara Municipal de Lisboa, a meio da tarde do dia da eleição; com os discursos de vitória e de fingida vitória.
A partir de amanhã, mais forte e barulhento fica o circo, com dias e dias dedicados à especulação e à cacha quanto às negociações em curso que dificilmente do pântano nos tirarão. Tudo isto, com muita, muita publicidade à mistura, que se não pode parar o circo da desinformação.
Os acrobatas, são os candidatos. Politólogos e quejandos, os palhaços e restantes atores.
Os animais... nós, desgraçados e enganados eleitores.
“Com toda esta reflexão sobre o que fazer amanhã, a adrenalina vai-se, a
preguiça vem, e o melhor acaba por ser mesmo ficar por casa”
“A ninguém parece ter ocorrido que, com o voto em mobilidade, se gerou uma
intolerável situação de desigualdade entre os eleitores que a ele recorrem e
não têm direito a dia de reflexão e os que votam uma semana depois, no dia
marcado para a votação principal estes com direito a dia de reflexão”
LEIA AQUI O PRIMEIRO ARTIGO DESTA SÉRIE DEDICADA AO ATO ELEITORAL!
Hoje é mais uma daquelas vésperas de eleições.
Mas, não. Hoje, ainda não há votação.
Hoje é dia de reflexão; ou seja, de pegar na carripana e na
famelga e ir dar a voltinha dos tristes, se o combustível no fundo do
depósito ainda chegar; ou de ir até ao café ver quem por lá estará para uma
bisca ou dois dedos de conversa; ou de ficar em casa espapaçado a ver a
bola, com um pratinho de tremoços ou de pistachos e uma
jola na mão. Ou para acabar aquela camisola para o filho da prima que
nasceu na semana passada; ou para dar mais um avanço naquele trabalho que já
devia estar pronto e nunca mais está porque, com tanta politiquice, até me
falta inspiração.
Para ir à terra, não dá, porque amanhã é dia de ir votar, que me
esqueci daquilo do voto antecipado, e ir e vir no mesmo dia era mesmo uma
estafa e uma grande confusão.
A menos que…
A menos que a gente se marimbe nisto tudo, e vá mesmo até à terra, ou,
se houver fundos para tanto, dar uma escapadela a um turismo rural ou de
habitação. Depois vota-se, numa outra altura em que haja eleição. Tanto faz,
votar numa ou noutra eleição. Ou nem votar, sei lá... Corre tudo sempre mal...
e por aí fora, em igualmente elevada cogitação.
Com estas obrigatórias trinta e duas horas de reflexão sobre o que
fazer quando as urnas abrirem – porque é nisto que pensa toda a gente que, de
um modo geral, se está bem nas tintas se irá votar neste ou naquele
partido ou coligação -, a adrenalina vai-se, a preguiça vem, e o melhor acaba
por ser mesmo ficar por casa, que se calhar até nem está sol e ainda acabamos
mas é por passar uma eternidade naquela fila imensa porque, logo por azar, a
mesa onde voto tem imensa gente inscrita e vou sair lá desfeita e aflita dos
joanetes ou de coisa ainda pior.
- x -
Em tempos há muito idos, quando esta ideia de democracia era, até há bem pouco antes desses tempos, uma coisa perigosa, proibida, e da qual só em sussurro se ouvia falar, poderia admitir-se, embora não sem estranheza, que as três semanas que então se passava em campanha eleitoral pudessem gerar tamanha confusão nos pobres espíritos dos atarantados e ainda entusiasmados eleitores; que necessitassem eles de uma pequena pausa para assentar ideias e, nesses tempos ainda conturbados, decidir, com a lucidez possível a quem iriam confiar o seu voto, acreditando, como acreditavam, no programa que cada um tinha na mão..
Mas hoje, Senhores?
Quem, apesar da descrença, ainda se dá ao trabalho de ir votar num partido, fá-lo por clubismo, por compadrio, por um sem fim de possibilidades igualmente lastimáveis, ou por uma cega, intuitiva, irracional crença em que "aquele é que é"!
Qualquer que seja o caso, neste dia de reflexão o eleitor sabe,
há muito tempo, em quem irá votar, em pouco nada influindo - a despeito
dos sobressaltos das caricatas sondagens com 152 inquiridos... - aquilo que,
das bocas dos candidatos, o mesmo eleitor ouviu nas semanas que acabam de
passar, uma vez que já em nada acredita daquilo que lhe vêm prometer quantos
políticos - tarimbeiros, caloiros ou apenas prospetivos - por aí viu
desfilar.
Assim sendo, numa altura em que a abstenção vai devorando, com crescente
voracidade, as raízes da democracia, por que razão ainda se não tratou de
alterar estas disposições que, sem qualquer utilidade, impõem uma pausa de
arrefecimento entre o já de si cada vez menor calor da campanha eleitoral e o
momento em que – suprema maçada! - lá teremos de dar uma saltada ao local da
votação?
- x –
O arrastar de decisões, o receio de mexer naquilo que está, porque as coisas
já estão complicadas e não temos tempo a perder com essas minudências, não
será, talvez, a melhor demonstração de que, em Portugal, a democracia funciona
- ou, pelo menos, de que tudo se faz para a tornar racional, efetiva,
competente ou, pelo menos, para a manter em funções.
A falta de interesse na análise da situação é tamanha que ainda a ninguém parece ter ocorrido que, com o voto em mobilidade*) – coisa com que, por todas as razões e mais algumas, ainda ninguém, sequer, sonhava quando foi elaborada a Lei Eleitoral -, se gerou uma intolerável situação de desigualdade entre, por um lado, os eleitores que a ele recorrem e não têm direito a dia de reflexão, e, por outro, aqueles que votam uma semana depois, no dia marcado para a votação principal, estes com direito a dia de reflexão.
Quem votou antecipadamente no passado Domingo, fê-lo no meio de comícios, de
comentário político, de declarações de candidatos, de tudo e mais alguma coisa
destinada, precisamente, a influenciar o voto, sem qualquer
legal proteção.
Foi, há dias, noticiado o anúncio, por parte de mais de uma centena de católicos alemães, não, propriamente, da orientação sexual de cada um, mas do facto de todos eles se incluírem no grupo social designado por LGBTI, ou seja, lésbicas, gays, bissexuais, transgênero e intersexuais - sigla que, numa palavra, poderia resumir-se à palavra homossexuais mas que a humana propensão para considerar que complicar equivale a dignificar acabará, provavelmente, por a alongar a ponto de, um dia, conter a totalidade desordenada das letras do alfabeto. Adiante...
Claro está que, excetuando culturas em que a homossexualidade seja criminalizada, cada pessoa é livre de, relativamente ao próprio, a anunciar ou alardear como bem entender, sem prejuízo de o despropósito e o exagero a que, amiúde, se assiste em manifestações dessa natureza acabar por se tornar contraproducente, levando ao crescente cansaço, à saturação de uma população (ainda) maioritariamente heterossexual e que da existência dessas coisas prefere fingir nem saber.
O problema neste anúncio reside, assim, não na orientação sexual declarada, mas no facto de algumas destas pessoas serem sacerdotes católicos, e isto por duas razões principais:
Ou terá? Ou alguém acreditará, ainda, que não tem? Ou, tal como muitas vezes acontece na política, tudo isto não passará de uma fabulosa construção para inglês ver?
Juntando este anúncio aos dos abusos sexuais que há muito vêm sendo denunciados, não estará na altura de uma reflexão séria sobre o tema, mesmo que, com ela, os sacerdotes acabem por perder aquela espécie de aura de superiores querubins e serafins, semelhança que as notícias vindas a lume cada vez mais afastam do ideário até dos mais ingénuos crentes?
* *
O papel da mulher na sociedade e no casamento é outro tema candente da Igreja Católica, que continua a parecer alheada à evolução, à mudança das mentalidades ao longo dos séculos.
A linguagem inclusiva, neutra ou o que lhe queiram chamar, está indelevelmente associada ao ideal da igualdade de género, e nele teve origem. Além de gramaticalmente inadmissível, até que ponto não estará este linguajar a prejudicar a causa que se propõe promover? |
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Vá lá alguém saber por que razão me lembro sempre de coisas destas em períodos de campanha eleitoral...
Será apenas por ler e ouvir eternos candidatos, ávidos do poder e daquilo que traz consigo, recorrer, insistentemente, à despudorada mentira para prometer o impossível ou para denegrir, difamando ou caluniando, a imagem de quem tais epítetos não merece?
Será, também, por assistir a numerosas e oportunas quebras do segredo de justiça - necessariamente por parte de pessoas afetas aos processos criminais que, a troco de por vezes magros proventos, se deixam corromper - unicamente para criar notícias "de última hora" a troco dos bem mais gordos proventos que outros irão receber das receitas publicitárias?
Ou será por ver que as empresas que pagam tais anúncios ficam indiferentes ao facto de os órgãos de comunicação que os impingem serem prováveis corruptores ativos daqueles funcionários?
Por conveniência de ofício, passam os mais altos responsáveis da Nação o tempo a encher-nos os ouvidos com loas à atitude madura e responsável dos portugueses - o que não passa, também, de uma rematada hipocrisia, já que, tal como nós, bem vêem os magotes de tugas sem distanciamento ou máscara filmados pelas televisões.
Será que, nessa tão madura e responsável atitude fictícia não existe um menos fictício lugar para a verdade e para a honra?
Que estranha espécie de po(l)vo, afinal, queremos ser!...
Esclareça-se, antes de mais, que, nos termos da Constituição da República Portuguesa, apenas é obrigatoriamente presencial o voto na eleição para a Presidência da República, uma vez que o artigo 121º cujo número 3. corresponde à disposição "o direito de voto no território nacional é exercido presencialmente" se encontra integrado, não numa parte geral, mas no Capítulo I do Título II, ou seja: "Presidente da República - Estatuto e Eleição".
Quanto a qualquer outra eleição, a Constituição é omissa quanto à componente presencial do voto, assim sendo, na minha opinião, de considerar que, se o Legislador incluiu a obrigação numa única parte especial, deve, a contrario, considerar-se que o fez por entender que não seria de aplicar a qualquer outro tipo de ato eleitoral.
Posto isto, ficam no ar as perguntas:
1. Na terra da Via Verde, num país tecnologicamente tão avançado - ou, pelo menos, em tal insistem em fazer-nos crer... -, como explicar que o voto eletrónico não passe, ainda, de uma quimera?
2. Perante o comodismo que grassa no seio do desiludido eleitorado, gravado a fogo na crescente taxa de abstenção, como explicar o aparente desinteresse em avançar, a velocidade supersónica, com a possibilidade de votar através da Internet?
3. Não sendo de admitir que se trate de limitação de caráter técnico numa terra em que até muitos impostos já são obrigatoriamente declarados à distância, que força política tão poderosa estará a impedir a prossecução do interesse do Estado democrático em avançar com uma medida tão importante para que a vontade popular se manifeste, tanto quanto possível, na sua plenitude?
A resposta imediata parece evidente: a mesma força política*) na qual, até ao recente chumbo do Orçamento Geral do Estado, o Primeiro-Ministro inteiramente confiava, e cujos disciplinados, indefectíveis e obedientes militantes lá irão depor o o voto quer chova ou faça sol... e cujo peso no resultado final ficaria, ainda mais diminuído se os comodistas que, apenas de vez em quando, lá consentem em ir aos locais de voto escolher partidos democráticos para os governar pudessem exercer o seu direito em casa, confortavelmente refastelados num cadeirão.
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A coisa terá começado quando aquele que disputa, com um outro também a braços com a justiça, o título de ex-banqueiro mais conhecido da praça*) - um e outro talvez não pelas melhores razões... - se lembrou de andar por aí a indagar das condições do estabelecimento prisional onde teria mais ou menos como certo ir parar depois de condenado pelas trampolinices que andou a fazer em atividades dignas do mais despudorado amigo do alheio (e, como a sentença condenatória já transitou em julgado, já posso omitir o eterno "alegadamente").
A esse, de pouco o cuidado terá servido, diga-se de passagem, se atentarmos na alhada em que acabou por se meter*) ao querer fugir com o rabo à seringa, acabando por ir parar a uma cadeia bem pior do que aquela onde não quis cumprir pena.
Ora, entre ex-banqueiro e ex-ministro a diferença não será assim tão grande - alguém terá pensado. Vai daí, um pobre governante que nem o suficiente conseguiu reunir para satisfazer a pesada caução milionária que lhe fora imposta por suspeitas de ter feito umas coisas menos bonitas - provavelmente em conluio com um dos anteriores -, não terá resistido à intolerável pressão psicológica de, apesar do tempo frio, estar instalado numa palhota ali mesmo ao pé do quase Mediterrâneo e, por causa dessa estupidez da prisão domiciliária, nem um simples mergulho o deixarem dar.
Na palhota do Minho, terá pensado, é que lhe apetecia agora estar!...
Meu dito, meu feito, e vá de convencer não sei quem de bom coração a deixá-lo mudar-se para lá, a fazer fé no que li por aí*), num viatura da Guarda Nacional Republicana, acompanhado da respetiva tripulação - e, talvez, de uma escoltazita ou guarda de honra, pois então!
Terá, ao menos, uns trocos para pagar as despesas de deslocação?
“Quem, podendo fazê-lo, não comparece na assembleia de voto a fim de exercer
o seu direito sagrado,
não passa, ou de alguém no fim da linha da
desilusão com o sistema e sem esperança de que as coisas algum dia mudem,
ou
de um preguiçoso inveterado, de chinelos e roupão”
"Vota o povo, esquecendo-se de que as extremas são o refúgio perigoso dos
desencantados,
e daqueles que não sabem bem para que serve isso de ir
votar"
“ O voto em branco é o cartão vermelho, não ao regime democrático,
mas aos seus
atuais atores que nos deixaram nesta lastimável situação ”
Falamos e escrevemos, as mais das vezes, de pessoas que conhecemos como quem conhece um monumento: vemo-las, ouvimos das suas bocas o que querem que ouçamos, e pouco mais, além daquilo que escrevem ou dizem outros que, afinal, pouco melhor as conhecem do que qualquer de nós.
Por sua vez, outros, que não nos conhecem, leem-nos, e nós lemos outros; e alguns de nós votam, depois.
Ora, imaginemos, em determinado país e como mero cenário virtual, um eleitor informado por estas pessoas que mal conhece, postado em frente a um conjunto físico de materializações individualizadas dos partidos políticos que cada uma destas representa.
Pode, pois, dizer-se que, até por imposição legal, o sentido de voto de um eleitor em cada partido é, inevitavelmente negativo em relação à totalidade menos um daqueles que se apresentam a eleições, uma vez que, limitado por lei a votar, quando muito, numa força partidária, automaticamente excluirá, no ato, todas as outras.
- x -
Esta impossibilidade legal de preencher mais do que uma quadrícula no boletim, sob pena de nulidade do voto, deve fazer-nos pensar na extraordinária importância da decisão de escolher um partido primus inter pares *). Deve fazer ver, a cada um de nós, que o simples facto de determinado programa eleitoral corresponder àquilo que um eleitor pensa que será o melhor para o seu país é insuficiente para que, apenas por isso, o mesmo eleitor lhe confie o seu voto, uma vez que não se deve, com indesejável ligeireza, vulgarizar o que é, afinal, uma enorme e exclusiva distinção.
Para justificar a escolha, torna-se imprescindível que o anúncio da
política defendida e da estratégia para a desenvolver seja credibilizado,
quer pela prática política anterior do partido, quer pela bondade e
idoneidade dos exemplos que invoca para ilustrar o que propõe. Isto, seja em funções governativas ou na oposição, seja no parlamento ou,
fora dele, no recato das reuniões de militantes ou perante todos, em órgãos de
comunicação.
Não parece, de facto, sinal de maturidade política um cidadão deixar-se,
levianamente, manipular por programas ou manifestos. Sobretudo, sabendo-se que
são amiúde elaborados com base nas momentâneas e instáveis tendências do
mercado de eleitores,
moldando-se, depois, os discursos da campanha ao sabor e à medida daquilo
que, antes do ato eleitoral, as pessoas mais pediam, em lugar de, sem prejuízo de uma saudável flexibilidade e capacidade de
adaptação, cada partido se manter firme nos seus princípios estruturantes -
desde que, naturalmente, ainda se lembre de quais eles são...
- x -
Não sendo legítimo, a qualquer força política, pretender o mal do país em que
opera, espera-se que todas elas prossigam o bem, apenas diferindo nos
processos e meios preconizados para o atingir.
Este facilmente constatável facto de as pessoas dos políticos contarem cada vez mais, e o ideário dos partidos cada vez menos, poderá explicar inesperadas transferências de votos entre a extrema-esquerda e a extrema-direita ou vice-versa, sinal evidente de nos encontrarmos perante a tendência, também indesejável, de escolher as pessoas sem olhar às políticas, como cada vez mais se vê acontecer. Não pretendem estes eleitores das extremas implementar uma política cuja prática desconhecem porque, onde moram, jamais terá sido, plenamente, implementada: apenas querem mudar as pessoas, seja lá a política qual for.
No caso português, cada vez mais o eleitor parece intuir que o problema dos principais partidos do centro não reside nos princípios ou nas políticas que defendem, mas sim na prática do compadrio a qualquer preço, do nepotismo, do mais ou menos encapotado caciquismo, cujo efeito imediato é afastar quem, competente, bem formado e de boa-fé estaria disponível para, com verdadeiro espírito de missão, levar o País onde todos nós, de esquerda, de centro ou de direita, gostaríamos de o ver.
A não muito difusa ideia deste deplorável estado da Nação latente no espírito de um eleitorado carregado de canudos, mas genericamente desinteressado destas coisas e maioritariamente pouco evoluído, leva ao inevitável protesto emotivo, excitado, irracional. Protesto que leva alguns a arriscar, a troco de nada, o tudo que é de todos, ao votar, ora numa extrema-esquerda de ideais dissimulados, ora numa extrema-direita que de si só não diz o que não pode dizer, sob pena de a mandarem, definitivamente, calar.
Assim vota o atarantado e pouco esclarecido eleitor que não sabe, já, para que lado se virar. Não sabe, em suma - ninguém sabe - onde encontrar um partido capaz de convencer alguém de que será capaz de, efetivamente, fazer as coisas evoluir, melhorar, serenar.
- x -
Entre escolher as políticas sem olhar às pessoas e escolher as pessoas sem
olhar às políticas, encontram-se casos, aparentemente raros, de equilíbrio.
Raros, porque, para o desequilíbrio, concorrem o nível cultural, o interesse
pessoal, o ambiente político familiar, laboral ou escolar, a semelhança
pessoal com o candidato, a empatia, entre tantos outros factores.
Intrínseca ou superveniente, esta falta de credibilidade leva a que a democracia não opere no sentido tradicional da participação na escolha de quem nos irá representar ou governar, já que votar num partido cujos lugares cimeiros se encontrem povoados de gente que não é de fiar, será não apenas um ato de insana irresponsabilidade, como uma negação da liberdade que cada um supostamente tem de dizer que, assim, não podemos continuar; e a alternativa de votar em grupos de cidadãos independentes é coisa de que os bem instalados partidos nem querem ouvir falar.
- x -
Sucede, porém, que isto de um eleitor dizer não, entendem alguns que corresponde a ficar comodamente refastelado no sofá, com tamanha passividade a contribuir ativamente para que a taxa de abstenção continue a medrar.
Engano puro:
a abstenção não é uma forma respeitável de manifesto antissistema, antes ficando a democracia cada vez mais enfraquecida à medida que ela
avança. A taxa de abstenção é, antes de mais, um importante indicador da
consciência e motivação políticas do universo dos eleitores, variando no
sentido inverso de cada uma destas.
Também o voto deliberadamente nulo - típico de quem prefere, para exprimir
desagrado ou revolta, desenhar bonecos mais ou menos obscenos no boletim de
voto, nele escrever palavras vomitando ódio a este ou àquele, ou semelhantes
manifestações de falta de respeito e de educação - apenas serve para magoar os
olhos e os espíritos daqueles a quem cabe desdobrar o boletim quando da
contagem, etapa indispensável da votação. O voto nulo é, no mais saudável
entendimento, aquele que corresponde a um erro legítimo no preenchimento do
boletim, e não a um inútil, inapropriado e mais ou menos ordinário
protesto.
Uma elevada contagem de votos nulos apenas sugere que haverá muitos eleitores tão incapazes que nem uma simples cruz sabem fazer; e, isto, todos sabemos que, apesar de tudo, não é verdade, por muito que, quem assim protesta, involuntariamente acabe por fazer crer.
Como nos manifestarmos, então, eficazmente contra o lastimável estado da
Nação?
Em Janeiro de 2022, em Portugal, as coisas apresentam-se-me como segue:
A suposta defesa simultânea de demasiadas causas demasiado fraturantes de demasiadas minorias nem sempre representativas ou suficientemente perseguidas levou o Bloco de Esquerda a perder, completamente, o Norte, restando-lhe viver no desespero de quem tem à frente o muro da indiferença quase generalizada dos já enfadados eleitores entusiásticos de outrora. Ataca, impiedosamente, a extrema-direita - e muito bem... -, esquecendo-se, no entanto, que tem nas suas fileiras destacados membros das FP-25. Entretém-se a mostrar a Coordenadora em pequenos núcleos urbanos onde o Movimento vai passeando a evidente inutilidade ao repetir ad nauseam, para disfarçar os seus verdadeiros propósitos e a responsabilidade no chumbo do Orçamento, chavões copiados da eterna lenga-lenga do Partido Comunista Português sobre a falta de meios dos organismos do Estado e a perseguição a trabalhadores que já nem o podem ver.
Do Livre, talvez nem valha a pena falar: se nem numa única - e, para ele, preciosa - deputada foi capaz de ter mão, nenhum crédito alguma vez virá a ter o seu contributo para a definição dos destinos da Nação.
Mesmo pondo de parte as recentes polémicas envolvendo a porta-voz, evidente se torna que o >Pessoas, Animais e Natureza se esqueceu, definitivamente, das pessoas, que da natureza pouco fala, e parece só se interessar pelas saladinhas, pelos tornedós de tofu e pela legítima defesa de alguns adoráveis bichinhos - não sei se das cobras venenosas também. Tremo só de pensar no que seria um governo formado por aquela gente que anda ao sabor do vento soprado pelos desígnios do PS, na esteira da moda iniciada pelo inexistente Partido Ecologista Os Verdes, que se constituiu abcesso do PCP.
O Partido Social Democrata lá vai fazendo a sua romaria, dirigida por um líder que, sem dúvida, transpira honestidade, mas está só: não tem a quem confiar responsabilidades governamentais numa amálgama de gente em tudo semelhante à do PS. É um líder que, ora toca bombo ora é o bombo da festa. Bem-intencionado e com muita vontade de fazer alguma coisa, mas completamente só num deserto de quadros partidários, alguns dos quais seguramente seriam tão incompetentes ou mais ainda do que certas pessoas que pelo atual Governo passaram e outras que ainda lá continuam a ocupar lugar.
Do Chega!, francamente, chega! O Chefe já se pavoneou que bastasse, já se divertiu à grande e à francesa*), já passeou o seu incomensurável ego por tudo quanto era sítio, já se pseudo-demitiu não sei quantas vezes, e faria bem em deixar-se daquelas coisas e ir tratar da vida fazendo algo que servisse para alguma coisa ou, pelo menos, não atrapalhasse. O Partido parece não passar de uma histriónica amálgama de ressabiados façanhudos, que só sabem que são do contra, sem saber, porquê ou, sequer, de que contra são. O Chega! não tem identidade, não existe, como bem o prova o facto de, para evitar as loucas arbitrariedades locais que redundaram no triste e alucinado espetáculo das autárquicas, tenha tido o tal cada vez mais eterno Presidente que, desta vez, avocar, com poder absoluto, a decisão e a responsabilidade pela formação das listas de candidatos.
(Acabo de me lembrar daquilo que resta de um tal Partido do Centro Democrático Social / Partido Popular, praticamente relegado à categoria de inexistente, não sei ao certo se por culpa do Presidente que lhe deu corpo e depois se foi, se por culpa da Presidente que depois por lá passou, ou por culpa do Presidente que quis muito sê-lo, continua a querer, mas parece ser o único a pensar assim)
- x -
Começa agora mais uma campanha eleitoral. Melhor: continua, porque em campanha
todos os partidos sempre estão.
Uma campanha inútil, uma vez que jamais a validade de uma promessa para o
futuro se sobreporá, num espírito minimamente lúcido, à da prática continuada
nos meses ou anos que a terão antecedido. Não no espírito do meu caro Leitor,
e no meu também não.
- x -
Ninguém pode ser interrogado quanto à forma como votou ou irá votar no dia das
eleições. Mas não é menos certo que ninguém está proibido de o declarar
espontaneamente, exceto após o encerramento da campanha eleitoral.
Irei votar, claro! Mas o sentido positivo do meu voto será... nenhum.
Será um voto tão branco, como branco, vazio é o panorama político em Portugal,
cenário apático ideal para que um dia caiamos sob o jugo de um ditador ou de
equiparável animal.
Certo é que, tal como a abstenção, um voto em branco pode ter como efeito privilegiar partidos não democráticos, cujos apaniguados não deixarão de, pressurosamente, ir depositar o seu voto expresso. Todavia, esse efeito não ocorrerá, esse risco não se correrá, se apenas votarem em branco os absolutamente desiludidos, como o que aqui escreve, e os ainda esperançosos que, a não votar em branco, iriam protestar votando nos inenarráveis partidos extremistas, que todos sabemos o que têm por trás.
Em vez de, inconscientes do real e bem próximo risco que correm ao protestar votando em extremas, melhor fariam os últimos optando, também, pelo voto em branco. Sabiamente. Sensatamente. Esclarecidamente, como se quer numa verdadeira democracia.
O voto em branco não é desejável: é, simplesmente, a alternativa acertada e democrática ao voto nulo deliberado e, sobretudo, à abstenção. É o cartão vermelho, não ao regime democrático, mas aos seus atuais atores, que nos deixaram nesta lastimável situação.
Os votos em branco não parecem votos. Mas são...
LEIA AQUI O ARTIGO SEGUINTE DESTA SÉRIE DEDICADA AO ATO ELEITORAL!
Arrisco-me, com este título, a promover uma disputa entre os portugueses de Olhão e os da Praia da Granja, já que uns e outros - se não outros ainda... - reivindicam para a sua terra a primeira rua pedonal de Portugal.
Acontece que, procurando, em vão, validar a menção encontrada no sítio da Associação de Valorização do Património Cultural e Ambiental de Olhão*), deparei, no "Praia da Granja"*), com uma referência à Avenida Sacadura Cabral - ou parte dela - também como sendo a primeira rua pedonal de Portugal, informação que o jornal "O Gaiense" precisa como tratando-se da primeira rua pedonal registada em Portugal*)
Resta-me, assim, deixar ao cuidado dos interessados e, também, dos Leitores mais bem informados a apresentação de documentos ou testemunhos que permitam validar uma ou outra reivindicação.
Se houver debate... que seja mais interessante do que aqueles a que temos assistido na televisão...*)
Hoje de manhã, ao entrar calmamente num supermercado, atraiu-me o olhar uma fileira de capas de revistas habilmente dispostas por forma a chamar a atenção. Revistas daquelas de grande tiragem versando, maioritariamente, sobre os importantes temas relativos a diversas telenovelas, bem como às sem dúvida muito interessantes aventuras e desventuras daquelas criaturas que se consideram personalidades, colunáveis, membros do jet set, ou que ascenderam a qualquer outro patamar porque o elevador social nele os deixou, ou por terem trepado a pulso para o atingir - o que, aqui no Retângulo, cada vez mais parece corresponder a uma especial habilidade para abrir, fechar e movimentar sacos azuis e outras habilidades que tais, a maior parte das quais com significativas repercussões fiscais e outras que tais.
Das ditas capas, sobressaiam os títulos "Inferno e Traição", "Tragédia e Traição", "Amor Proibido", "Todos os Segredos", "Acusado de Pedofilia" e, last but not the least, "Expulsos do BB Famosos".
Como os proprietários da tabacaria não estão ali para perder dinheiro, evidente se torna que sabem muito bem que é aquilo o que mais se vende, o que mais chama clientes, e não os títulos sensaborões (leia-se "mais sérios") dos representantes da imprensa escrita que, efetivamente, informam e que cada vez menos existe o hábito de ler.
Num dois próximos Domingos, serão estes educados leitores, às centenas de milhar, que, juntamente com os que se deleitam com o conteúdo de pasquins de índole e filiação diversa, juntamente com as notícias fresquinhas da indústria futebolística - que também estavam no escaparate, logo a seguir -, irão, conscienciosa e criteriosamente votar em mais uma eleição.
São estes indivíduos sumamente ocupados e preocupados com a visibilidade do próprio umbigo*) que irão escolher quem, a si, caro Leitor, e a mim irá governar nos próximos quatro anos - se tanto aguentar.
São estas pessoas sem Norte, vazias de si, refugiadas na mirífica ilusão daquilo que nem merece ser - porque não tem razão válida para existir além da subserviente devoção ao marketing predador que sopra nos lubrificados cataventos destas pequeninas cabeças e destes minúsculos corações -, são estes infelizes que, talvez maioritariamente, irão tomar uma decisão fundamental para o futuro próximo de cada um de nós, e do todo que todos integramos.
Isto, preocupa-me. Seriamente.
André Ventura*)
(Entrevista à RTP - 01.12.2001)
Não entenderá o Presidente eleito e, regularmente, auto-demitido e reeleito do Chega! que, numa democracia representativa - cuja verdadeira natureza, apesar de se apresentar a eleições, parece ter significativa dificuldade em entender -, a vontade do povo se encontra plasmada, acima de tudo e antes de mais, na Constituição da República?
Doutorado que é em direito, não se aperceberá de que a alarvidade que disse equivale a perguntar se vale mais a vontade de roubar do que as disposições penais que tal ato proíbem?
Que tipo de gente insistirá, tendo alternativa, em confiar o voto a alguém com pensamentos como este, subversivos da ordem pública, da paz e da estabilidade que a todos são essenciais e estruturantes da vida em sociedade?
Poderá, por mero capricho, um cidadão ou grupo de cidadãos fazer, impunemente, prevalecer os ditames da sua vontade à letra da lei ou do próprio Texto Constitucional?
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A prática política e as sucessivas declarações do mesmo género permitem excluir que se tenha tratado de um lapso - aliás sempre deslocado em pessoa de tão viva e aguda inteligência. A enormidade da ideia contida na pergunta não pode, assim, deixar de suscitar as mais sérias dúvidas quanto à verdadeira motivação do Autor ao deixar o Partido Social Democrata para fundar o Chega!.
Este partido é, inegável e assumidamente, nacionalista e de extrema-direita. Mas, sê-lo-á, também, o seu Fundador? Até que ponto poderá um outrora quadro destacado de um partido democrático inverter, no seu íntimo, de forma tão fraturante e do dia para a noite, o seu posicionamento político?
Qualquer pessoa, para ser eficaz, tem de acreditar naquilo que faz. Qualquer político, para ser eficaz, tem de acreditar naquilo que diz.
Perante os resultados até agora conseguidos e com tamanha rapidez, dificilmente poderá considerar-se ineficaz o Presidente do Chega! Ficam, no entanto, as perguntas: quais serão os seus verdadeiros propósitos? Estará, afinal, a ser eficaz em quê?
Será, como se apresenta, um genuíno radical, empenhado em defender uns estranhos, aberrantes, anquilosados e patéticos ideais?
Será, quem sabe, um genuíno democrata que terá, em dado momento, decidido manipular uma crescente mole humana que ia surgindo na extrema-direita, inicialmente com um discurso firme e agressivo para depois, insinuando-se junto do PSD, a neutralizar?
Será, como alguns pretendem, um mero oportunista sem escrúpulos, um perigoso ditador unicamente interessado na exaltação da própria imagem e na rápida ascensão ao exercício do poder - eventualmente como ministro da justiça... -, manipulando e usando tudo e todos ao serviço desse desiderato?
Pouco importa, de facto.
Do que não pode haver dúvida é de que se trata de uma personagem de ambiguidade perigosa, politicamente escorregadia, despudorada e subversiva a ponto de insinuar que deve a vontade do legitimamente descontente povo português sobrepor-se, por ilegítima, antidemocrática e injustificada ação direta, aos preceitos que essa mesma vontade popular, expressa no voto, na Constituição fez plasmar.
Preside, assim, a um partido que dói ver merecer um lugar no boletim de voto da supostamente democrática eleição de quem nos irá governar.
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Não são. São, apenas, seres humanos habitualmente bastante elementares, com uma especial aptidão - quase sempre na área do desporto e, dentro desta, dos desportos com bola. Talvez a velocidade do esférico atraia, ou a imensidão das fortunas acumuladas; ou talvez as pessoas se embasbaquem simplesmente porque têm necessidade de se embasbacar.
A verdade é que muitos destes astros e estrelas - que também por cá alguns temos... - não passam de indivíduos sem educação, sem estatura moral, narcísicos, ambiciosos, que aprendem a sorrir e a fingir emocionar-se com algo exterior ao seu ego, quando a verdade é que apenas nele pensam, indiferentes ao interesse da comunidade e, sobretudo, à fraca qualidade do exemplo com que, inevitavelmente, contaminam quem os idolatra.
Tudo isto é mau. Mas, muito pior é quando o exemplo põe em causa o bem-estar e a saúde de toda uma nação*) ; que, aliás, nem é a deles.
Pode ouvir aqui.
Para admirar outras maravilhas do audiovisual, selecione *Obras de Arte à direita da tela, sob a epígrafe 'Acesso por Categoria (*) ou Tema' |
A falta de cortesia do principal ocupante do number ten ao promover ou permitir festas de despedida de funcionários*) na véspera do dia em que Família Real inglesa se iria despedir de um dos seus mais proeminentes e outrora ativos elementos apenas poderá ser comparável à irresponsabilidade da falta de adequadas medidas de segurança durante os mesmos eventos, enquanto, por causa da pandemia, a Monarca, durante as cerimónias fúnebres, nem junto dos seus mais queridos pode estar.
Por outro lado: só agora, tantos meses depois, é que chega o há muito esperado e inquestionavelmente devido pedido de desculpa? Onde está, então, aquilo que tanta gente diz diferenciar o nível civilizacional do Reino Unido, designadamente quando comparado com o comportamento dos políticos de um certo torrão retangular à beira-mar plantado?
Parece caso para perguntar como reagiria atual o Primeiro-Ministro de Sua Majestade se, um belo dia numa autoestrada inglesa, lá calhasse a viatura em que seguia atropelar mortalmente um funcionário que tivesse, porventura indevidamente, atravessado a faixa de rodagem à frente de um motorista com o freio nos dentes - fosse à ordem de Sua Excelência ou não.
Será que até teria ele o (quase) nunca visto desplante de ficar, placidamente, dentro do carro à espera de que a coisa se resolvesse e pudessem todos ir para casa? Será que passaria os dias e semanas seguintes a sacudir a água do capote, como que para se livrar do incómodo da contrariedade?
Fala-se da forma como fazem escola noutras terras cientistas, empresários e outros portugueses dignos de especial menção. Parece que os políticos começam, também, a impor o seu estilo, nem sempre na melhor versão.
Por lá, ao menos, ainda têm um funcionário público sénior a quem caberá pronunciar-se sobre a conduta do Governante. Por cá... temos os eternos, monótonos, repetitivos e sediços... comentadores.
"Aquela trintena de mini-programas foi a fantochada e a vergonha que
sempre fora programada para ser.
Ninguém alguma vez esperou que tudo
aquilo servisse para alguma coisa,
nem acreditou que alguma coisa
junto dos eleitores os debates viessem esclarecer.
Tudo não passou do habitual picadeiro das vaidades por parte
dos concorrentes,
e da sensaborona inutilidade dos juris de
comentadores.
De serões de indisfarçável tédio para todos nós,
hesitantes eleitores e obedientes espetadores"
A ridícula duração fixada para a quase totalidade deles - igual a pouco mais do que a escassa metade de uma parte de um jogo de futebol - não permitiu a subsistência de qualquer dúvida relativamente ao verdadeiro propósito mediático desta maratona que antecedeu mais uma campanha eleitoral: prender à televisão, para consumir publicidade e mais publicidade, o tuga guloso da refrega entre políticos para os quais continua a olhar com o mesmo arregalado clubismo com que se deslumbra com os profissionais da indústria do futebol... que, em tempos, há muito idos, era tida como um desporto, antes de a também indústria da publicidade e da comunicação lhe ter lançado o anzol.
Se dúvidas houvesse quanto à natureza pretendida desta série de clips ao vivo que nos estragou os serões, o teor da pergunta feita por alguns pivots dos comentários que se seguiam a cada disputa dizia tudo: "Que nota dá a cada um? Quem considera que ganhou?"; e era ver àqueles senhores muito sabedores e eruditos oscilar entre o um e o cinco, como se aquilo alguma importância tivesse num assunto tão sério como a preparação de uma eleição legislativa num país democrático, ou que assim se diz.
Não deixa de ser verdade que, em boa parte dos casos, quem lá ia exibir-se - perdão, comentar - parece confundir fala afetada com um dom da palavra que, patentemente, não tem, e bem melhor faria se se contentasse em complementar o salário com uma crónica ocasional neste ou naquele jornal.
Mesmo assim, dava dó ver a atrapalhação em que alguns ficavam se alguma pergunta mais profunda e específica era formulada pelo pivot: iam responder o quê? Dizer o quê, se, para a vitória, apenas importavam o tom e a galhardia, a brejeirice, a mais ou menos torpe insinuação? Acima de tudo, não cair na tontice de dar trela ao tal André, ou escorregar na areia que, como sempre, por todo o lado andou a espalhar pelo já de si inclinado chão...
Graças, em boa parte, ao formato adotado, o que deveria ter sido uma oportunidade única de esclarecimento político, não passou de um montra privilegiada para moderadores dos debates e comentadores.
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O pânico do irrecuperável dano à imagem que o arruaceiro-mór pudesse causar-lhes junto do eleitorado deixou carrancuda, tensa, inexpressiva a maior parte dos adversários que lá se atreveram a defrontá-lo - já que um deles, habilmente, se esquivou com um argumento manhoso e pateta, próprio de quem, apesar da idade e da experiência, continua a não aprender como estar, com um mínimo de eficácia, na política em Portugal.
A verdade é que lá vai, de alguma forma, sendo eficaz, como eficaz é qualquer verdade ligeira ou descarada mentira emotivamente dita a uma genericamente pouco instruída e pouco educada população.
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Por seu turno, quando os representantes dos partidos democráticos supostamente debatiam entre si, o vácuo de ideias apenas era equiparável ao vazio das soluções, continuamente atiradas para o ar como meros desideratos ou contrapartidas às do adversário, sem especificar o como e o quanto subjacentes à maior parte delas, tendo a representante - de olhar fixo, duro e com um esgar cuidadosamente estudado para parecer um sorriso - de um partido da extrema-esquerda chegado a dizer, com todas as letras e inacreditável despudor, que isso do custo é o que tiver de ser!
Fugiram das explicações, da fundamentação, da teoria como o diabo da cruz, e fizeram bem, já que, quando se explica e quantifica, quase todos se desinteressam pelo muito que muito poucos são capazes de entender. O furúnculo da questiúncula partidária prevaleceu, assim, sobre a apresentação das políticas propostas; e bem, já que a luta de galináceos era, precisamente, aquilo a que, esquecendo-se da sua qualidade de eleitores, boa parte dos telespectadores queria, verdadeiramente, assistir, para gáudio das estações.
Nos representantes dos dois filhos pródigos da Geringonça, era notório o olhar mortiço, cristalizado, arrependido, quase culpado por se terem metido em tão tremenda alhada ao não viabilizar o Orçamento Geral do Estado, opção que, sem grande margem para dúvidas, os irá deixar em ainda bem pior situação: um cantinho no Parlamento e - desgraça das desgraças - o magro pecúlio correspondente a um resto de votos deixado nas urnas, para evitar que o partido tenha de andar por aí a estender a mão.
Para estas agora tão débeis forças políticas, apenas importa ter ideias, fingir ter soluções e acenar com elas aos ignorantes que, iludidos, ainda os apoiam, sem se ralar minimamente com a evidente inexequibilidade de meros desejos, de idílicos sonhos, de pretensos projetos que, impossíveis que são de desenvolver, nem ao menos chegarão a sê-lo.
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Diversos comentadores referiram a suposta falta de preparação para os debates por parte do representante do maior partido da oposição, considerando-o mal preparado, arrogante no seu estilo popularucho, demasiado informal. Como se o eleitor português típico tivesse a capacidade de entender outro tipo de discurso, mais elaborado, mais elevado, mais humano, até. Sobretudo, apelando ao processamento intelectual!
Esquecem-se, manifestamente, de que ensino não implica educação; de que a atividade letiva que dá canudos não dá o resto, de que, como elevador social, o simples ensino, sem educação, não passa do rés-do-chão; e de que é, precisamente, este tipo de discurso simplista e próximo daquilo que é, efetivamente, a mole humana que vota, que a cativa no momento da decisão.
Esquecem-se os eruditos comentadores daquilo que os publicitários há muito sabem: que não são anúncios com mensagens sofisticadas que vendem a esta boa gente que vota, mas sim pérolas do tipo "Paôpa, Fêlha, perque nã sabes o dêa de amanhã!"...
Prova acabada parecem ser, valham o que valerem, os resultados de sondagens em que a diferença das intenções de voto entre os dois maiores partidos se ia, até há pouco, estreitando, estreitando, arriscando-se a quase se anular, se não acabar por acontecer mesmo uma inversão.
Também no clube dos mais jovens salvadores da Pátria, como todos parecem considerar-se, a conversa de surdos não era melhor, mais a mais com alguns moderadores de debates - que, amiúde, mais pareciam candidatos - obstinados em quase exigir respostas ao rol de perguntas que traziam na cábula, em lugar de deixar que o pugilato se desenvolvesse com a aparência mínima de naturalidade permitida pela ridícula escassez do tempo disponível, no intervalo entre as notícias e o concurso dos croquetes ou outra importantíssima emissão.
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Assim sendo, para, de facto, quê dar mais tempo àquilo? Para quê dignificar conversas de surdos que, para os próprios partidos, não passaram do cumprimento de uma obrigação para com uma comunicação social da qual inteiramente dependem para aparecer em casa dos eleitores, em cujas boas graças necessitam de estar, e que lhes não dispensa o beija-mão?
Acaso representa mais do que isso? Como explicar, então, o facto de alguns para lá terem ido antes mesmo de o programa eleitoral que iriam debater ter sido publicado? Se, para esses partidos, a série de programas tinha algum genuíno interesse, como explicar esta clara demonstração de desinteresse, de falta de dedicação?
Se alguma qualidade verdadeira as estações antevissem na iniciativa, teriam dado o dobro da duração à coisa, assim sempre arranjando mais ou outro anúncio no intervalo. Mas, não: as refregas duraram apenas o tempo suficiente para fazer arrebitar, durante uns minutos e com as picardias da praxe, os espetadores das eternas telenovelas e dos populares concursos da televisão; e, a fazer fé nos números das audiências, a tática funcionou. Já se dessem, aos desinteressantes atores políticos, tempo para entrar no debate de ideias e de projetos, estragariam tudo, convidando a esmagadora maioria de uma população politicamente analfabeta a rapidamente mudar de canal ou, pelo menos, a deixar de prestar atenção.
O que dizer, por fim, da escandalosa falta de pontualidade de certos canais que atrasaram, por vezes vários quartos de hora, o início dos ditos debates face à hora anunciada, assim obrigando os espetadores ainda interessados naquilo a gramar notícias e mais notícias, algumas sem qualquer interesse - como no recentemente rebatizado canal que insiste em incluir nos telejornais pequenas histórias transmitidas pela casa-mãe americana, de interesse diminuto ou, pelo menos, sem o ter em dose suficiente para legitimar o atraso na transmissão de um debate eleitoral?
Ou, pior ainda, dos embates que começaram antes da hora anunciada, fazendo-nos perder boa parte do tão precioso alimento intelectual?
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Tudo não passou do habitual picadeiro das vaidades por parte dos concorrentes, e da sensaborona inutilidade dos juris de comentadores. De serões de indisfarçável tédio para todos nós, hesitantes eleitores e obedientes espetadores.
Sic transit gloria mundi
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