sábado, 18 de setembro de 2021


Esposas: Sede Submissas! Pois...

 

A discussão é boa e saudável apenas até ao ponto em que se torna repetitiva e fastidiosa,
em que se transforma em gritaria que já se não ouve, em que nenhuma luz consigo traz
que esclareça e nos ajude a viver em paz

Em questões socialmente melindrosas, tão imprudentes se revelam as reações a quente
baseadas em afloramentos interpretativos à revelia da razão,
como a razão pobre de uma repetitiva, dogmática, confusa, rebuscada
e nada convincente interpretação

1. O Pomo da Discórdia

2. Como Interpretar?

    2.1. Perspetiva Imediatista
    2.2. Perspetiva Eclesial
    2.3. Perspetiva Histórica
    2.4. Perspetiva Teleológica
        2.4.1. As Relações Sociais Como Objetivo Primeiro das Cartas
        2.4.2. A Motivação Escondida na Polémica Passagem
        2.4.3. Alquimia
        2.4.4. Valorização

3. Prática Eclesiástica
    3.1. Duas Questões de Legitimidade
    3.2. A Questão da Utilidade

4. Conclusão

 

O Pomo da Discórdia
1. O Pomo da Discórdia

Era inevitável, como sempre o é quando, a cada três anos por esta mesma altura, é lida nas celebrações eucarísticas o excerto da Epístola aos Efésios que, literalmente, reza “As mulheres submentam-se aos maridos como ao Senhor, porque o marido é a cabeça da mulher (…)*) (Ef 5:22), tal como em Colocenses 3:18 por outras palavras se diz o mesmo.

Quando, por obra de Deus para uns, para cúmulo do azar para outros, manda o calendário que este excerto seja lido numa conjuntura em que a questão da submissão das mulheres domina a cena política e social em virtude da tomada do poder pelos Talibãs no Afeganistão, inevitável se torna que múltiplas línguas e penas venham manifestar-se sobre o assunto, embora os estafados argumentos sejam os de sempre e as palavras pareçam, muitas vezes, provir de cérebros cristalizados, seja em anquilosadas ideias de tempos há muito passados, seja em reações emocionadas por parte de quem se sente ultrajado, seja, ainda, em aproveitamentos políticos ou de mero exibicionismo de quem acha que sempre fica bem dizer alguma coisa.

 

2. Como Interpretar?

Variadas são, necessariamente, as perspetivas com que deparamos, diversas as motivações, embora praticamente inexistentes as fundamentações verdadeiras, sérias, profundas, que permitam erradicar a emotividade recorrente e descabida, e aliviar o patente embaraço de quem não consegue explicar.

Sintetizemos, antes de mais, as duas visões tradicionais, debruçando-nos, então, sobre duas abordagens alternativas que procurarei fundamentar.


2.1. Perspetiva Imediatista

Escusado será dizer que a primeira e, porventura, única reação natural, nos dias que correm, à mera ideia de submissão será, inevitavelmente de rejeição, quer se trate de mulheres, de homens ou de animais de estimação; e é natural que assim aconteça, dada a profusão de escritos em linguagem críptica elaborados muitos séculos atrás, de ideias que a forma rebuscada impede muitos cérebros de encontrar, de manifestações radicais por parte de gente simples mas de ânimos deliberadamente exaltados por terceiros empenhados em divulgar mensagens de legitimidade duvidosa, associadas a causas mais ou menos subversivas que escolheram fomentar e divulgar.

Rejeição de Origem Racional
Não se trata, porém, de uma rejeição de origem racional, resultante de cuidada análise da ideia, como seria de esperar de seres que se consideram superiores aos restantes ou, pelo menos, deles diferenciados: tal como há certos hábitos que parecem colar-se-nos à pele, encontramo-nos, neste caso, no polo oposto, perante uma espécie de reação alérgica de substrato cultural; como que uma espécie de erupção cutânea, de incontrolável brotoeja, perante a imagem clássica do tipo bronco que, enquanto vê a bola na têvê, atira para a mulher um “Vai-me aí buscar uma cerveja! Bem fresquinha, hã? Héhéhé!” e fica todo acabrunhado quando ela, lhe responde “Vai lá tu!”, como, em qualquer terra civilizada, sempre deveria acontecer.

Igualmente irrefletida é a postura daqueles que entendem que submissão implica, em qualquer caso dominação por outrem, o que, como veremos, não é inevitavelmente verdade.

No quadro das reações primárias, encontramos, por fim, aqueles que, ignorantes do facto de as leituras das celebrações eucarísticas estarem, pela Igreja Católica, há muito, definidas para datas precisas em ciclos que, de forma automática, se renovam a cada três anos, reagem tolamente, pretendendo que a Igreja não deixou de aproveitar os acontecimentos que, no Afeganistão, ocorreram dias antes para veicular uma mensagem retrógrada e machista,ou que, pelo menos, a coincidência não evitou*).

Parece, assim, generalizada a tendência para uns e outros reagirem a quente relativamente a um tema delicado, que se quer tratado com o distanciamento e a lucidez essenciais à evolução de uma ideia até patamares de sustentação que a permitam credibilizar e sedimentar.

A discussão é boa e saudável apenas até ao ponto em que se torna repetitiva e fastidiosa, em que se transforma em gritaria que já se não ouve, em que nenhuma luz consigo traz que esclareça e nos ajude a viver em paz.

 

2.2. Perspetiva Eclesial

Na Igreja Católica há quem diga que a polémica passagem bíblica pretende significar que a mulher e o homem são um só, pelo que ninguém é superior a quem quer que seja. Mas, como é hábito na Igreja, não fundamenta, não esclarece a razão pela qual, no seu entendimento, haveremos de interpretar as Escrituras precisamente ao contrário do inequívoco sentido das palavras que nelas lemos ou nos chegam aos ouvidos quando lidas no ambão*).

Igreja

Os bispos portugueses remetem, por sua vez, para o contexto do direito familiar romano que punha em relevo o papel do marido como pater familias, não se apercebendo, porventura, Suas Excelências Reverendíssimas do gritante contrassenso em que tropeça quem sustentar que uma carta dirigida a indivíduos perseguidos pelos Romanos se baseava, precisamente, no direito e na prática impostos pelos mesmos perseguidores: “Tal como os opressores privilegiam o papel do marido fazei-o vós também”?

Como poderia, com tal argumento, um autor pretender pregar eficazmente a libertação pela Fé a partir de uma visão que acabava por, implicitamente, legitimar e, até, advogar a medonha realidade então vivida? (v. 2.3.)

Notoriamente enervado e pouco à vontade num debate televisivo vazio de novos argumentos ou ideias, diz um simpático e jovial ancião jesuíta que a Igreja está a mudar na sua forma de encarar as mulheres, mas que muito caminho há, ainda, a percorrer, limitando-se a sorrir quando confrontado, por exemplo, com a impossibilidade de ordenação de sacerdotizas. Sustenta, também que no texto em grego, se lê subordinação, e que o conceito de submissão agora referido se degradou na nossa cultura.

Mas, em que enriquece isto a discussão? Não é verdade que subordinação, submissão, o que queiram chamar-lhe, é, e será sempre, razão mais do que suficiente para pôr os cabelos das mulheres de hoje em pé - e não apenas os das radicais que se dizem feministas?*)

O jogo de palavras é aqui inane, baseia-se em suposta erudição, na opinião, no dogma, atitude tão querida da Igreja e que, uma vez mais apenas evidencia a falência da patrística e a sua fragilidade perante a manifesta dificuldade de chegar à verdade das coisas pela via da razão, a única capaz de frutificar no seio de uma assembleia cada vez mais exigente no que se refere à clareza e à racionalidade da pregação.

Fala, também, a Igreja do papel preponderante de Saulo de Tarso, chamado São Paulo na promoção da igualdade entre todos os seres humanos, designadamente entre mulheres e homens. Mas, como pode defender-se tal tese se, no mesmo texto e apesar daquilo que reza a saudação, se afirma que não foi o dito Saulo que redigiu a Carta aos Efésios?*) A ser assim, a que propósito vem a associação dessa defesa da igualdade a alguém que, por não ser o autor da Epístola aos Efésios, com tal defesa nada tem a ver?

São Paulo e as Esposas
A capacidade inventiva da Igreja Católica reconhece-se nas muitas e variadas tentativas de suposta clarificação de algo que parece bem claro, por muito que a ela possa doer; mas, em lugar de esclarecer o que quer que seja, todas elas parecem já desesperadas na evidente ineficácia comprovada pelo facto de não terem, ao longo dos tempos, sido capazes de encerrar a discussão; de, em lugar de ser convincentes, cada vez mais descolarem da realidade, de nada, afinal, nos fazerem entender.

Continua a fundamentação a limitar-se ao magíster dixit dirigido a uma audiência que a Igreja parece ainda não ter entendido que, para o bem ou para o mal, a explosão mediática já tirou daquele nível primário em que a palavra dos mestres era aceite sem discussão, e para a qual alguém dizer por dizer que é assim porque é assim, leva a nada, explica nada, convence nada.

Absolutamente nada.

 

2.3. Perspetiva Histórica

Non probandum factum notorium, pelo que, globalmente falando, desnecessário se torna demonstrar a superioridade da capacidade física do homem relativamente à da mulher. É, também, sabido que Gutenberg*) viveu no século XV, só bastante tempo depois tendo o Ocidente começado a saber o que era a impressão em série e o livro de aspeto e divulgação de alguma forma semelhantes aos atuais.

Não será, pois, de admirar que, à data e nas paragens em que, no século I d.C., terá sido escrita a Carta aos Efésios, o ganha-pão da grande maior parte das famílias fosse o trabalho braçal, para o qual o homem estava incomparavelmente mais bem equipado, e que o trabalho intelectual não passasse de algo tão remoto para a quase totalidade dos mortais, que dele mal se ouvia, sequer, falar.

O homem andava a trabalhar por fora, confraternizando e trocando impressões - não apenas no decurso da atividade laboral propriamente dita mas, para muitos pequenos agricultores e operários por conta própria, ao negociar a compra das matérias primas e dos utensílios e, mais tarde, a venda do fruto do seu esforço. À fisicamente menos possante mulher cabia ficar a cuidar da casa e da prole, limitando, provavelmente, os seus contactos com outras gentes à tagarelice nas raras vezes em que ia até ao mercado buscar aquilo com que a terra, o curral ou o galinheiro não abasteciam diretamente a despensa.

O imediato e inevitável efeito desta diferença de papéis ditada pela estrutura física de cada um, terá, assim, sido a aquisição de mais amplos conhecimentos pelo homem do que pela mulher, por isso entendendo o autor da Carta aos Efésios que “o homem é a cabeça da mulher”; e isso, por uma questão das mais elementares lógica e sensatez, acabaria por legitimar que a palavra dele fosse mais considerada e prevalente do que a dela, que detinha um ainda muito mais reduzido acervo de informação que servisse de base às decisões a tomar.

In Illo Tempore - Naquele Tempo
Por muito que hoje nos possa chocar, não há como negar que, in illo tempore, a realidade era esta, e seria tolo e descabido alguém pregar, na altura, que a mulher deveria ser ouvida em pé de igualdade com o – pouco – mais instruído marido, sem prejuízo, naturalmente, de o “maridos, amai as vossas mulheres” inevitavelmente conter a mensagem de que a opinião dela deveria ser considerada – até porque, em circunstâncias normais, ela uma parte da informação assimilada pelo homem através dele viria a conhecer e, por seu turno, a processar também.

Esta última parte, meramente em tese, já que tampouco será difícil imaginar os abusos e desmandos a que um tal quadro não deixaria de convidar pessoas mal formadas e de instintos descontrolados e perversos. Não obstante, e para o que aqui nos interessa, esta perspetiva histórica não deverá ser esquecida quando polémicos trechos textos bíblicos se trata de procurar interpretar.

 


2.4. Perspetiva Teleológica

Os textos sagrados tendem a ser encarados unicamente como mais ou menos dogmáticas exortações à Fé absoluta e inabalável em Alguém que é porque é, e cuja existência não carece de demonstração – contrariamente ao que aqui já defendi quando procurei, à margem da Fé, tal existência demonstrar.

Assim encarados os textos, não causará espanto a cada vez menor adesão efetiva de fiéis: uma coisa é declarar-se “católico” aos Censos do Instituto Nacional de Estatística(INE)*), enquanto outra, bem diferente, é acreditar; e, sobretudo, praticar, já que, enquanto acreditar tem a ver com Fé, a religião é a prática, assim não passando a declaração de “católico” ao INE, na maior parte dos casos, de uma rematada mentira por parte de quem não pratica o que quer que seja; ou, vá lá, de uma imprecisão motivada por uma generalizada incapacidade de destrinçar conceitos entre católico por vontade própria e o bem mais prosaico batizado por vontade dos progenitores.

Tenha-se a coragem de acrescentar aos inquéritos a pergunta “Participa ou, pelo menos, assiste regularmente a atividades da confissão religiosa a que pertence” e rapidamente os números cairão para escassos dez ou vinte por cento… se tanto. Tal como “são muitos os chamados, mas poucos os escolhidos”, haverá muitos que se dizem crentes, mas muito poucos os que uma religião acabem, efetivamente, por professar e praticar.

Ora, como facilmente se extrai da leitura dos primeiros capítulos, não foge a Carta aos Efésios ao tal objetivo primordial de exortar à Fé. Não é, no entanto, esta a motivação única, sendo possível encontrar numa outra uma possível explicação para a infeliz expressão cuja discussão aqui nos ocupa: “As mulheres submentam-se aos maridos como ao Senhor, porque o marido é a cabeça da mulher (…)”.

As Relações Sociais Como Objetivo Primeiro das Cartas

2.4.1. As Relações Sociais como Objetivo Primeiro das Cartas

As Epístolas destinavam-se a ser lidas perante a assembleia durante atos de culto evidentemente destinados a adultos e jovens a caminho da independência. Não é, na verdade, concebível esperar que mensagens como “Filhos, obedecei a vossos pais” (Ef 6-1) se destinassem a crianças ou a adolescentes de tenra idade inevitavelmente ausentes do ato de verdadeira temeridade que, em ambiente fortemente adverso, era a participação nessas proibidas reuniões; e que, além do mais, não teriam, ainda, maturidade para entender e apreender a essência daquilo que as Cartas pretenderiam transmitir.

Cumpre, assim, concluir que a dita exortação à obediência filial não visava, propriamente, a obediência de crianças no ambiente do lar onde, encorajadas por oportuno corretivo, seriam facilmente impedidas de se portar mal: a exortação à obediência – essencial à manutenção de um bom ordenamento social ao qual sempre será essencial o conselho dos mais velhos - tinha como destinatários os filhos menos jovens e os já adultos, cujo respeito e obediência não poderiam ser impostos, apenas  promovidos pelo convite e pela persuasão.

Na mesma linha, se tornaria desnecessária e inane a exortação à submissão das mulheres se fosse entendido – como agora parece haver quem queira supor – que ela poderia ser imposta pela força física no seio da família: àquilo que é imposto pela força, será estúpido e inútil continuar a convidar.

Aparece, assim, a referência à submissão mais como um convite a um ato maduro, voluntário e unilateral, por parte da mulher, de aceitação da orientação do marido, baseada no reconhecimento de um mais lato conhecimento da vida por parte dele, do que como um supérfluo e inútil convite ao conformismo submisso com uma situação consumada à qual as consortes não pudessem escapar

Tal como no caso dos conselhos aos filhos mais velhos, essa atitude recomendada às esposas extravasaria, naturalmente, o comportamento nas quatro paredes do lar, assim assumindo relevante papel na génese da nova sociedade que se pretenderia edificar.

Estaríamos, desta forma, na Carta aos Efésios muito mais perante um código de conduta social do que a tratar de normas de relacionamento estritamente familiar.


2.4.2. A Motivação Escondida na Polémica Passagem

Nenhum país, por mais tirânico, por mais numerosas equipadas e treinadas que sejam as suas forças militares e de segurança, alguma vez conseguirá fazer cumprir a lei e manter a ordem a não ser, antes de mais, graças ao temor do castigo que, numa vida depois da morte - que poucos se atrevem a, absolutamente, negar - sobre cada um poderá cair no caso de passar a vida terrena a prevaricar.

As igrejas – por isso mesmo habitualmente ajudadas financeiramente pelos estados - são, pois, indispensáveis como garante primeiro da estabilidade e da paz, atuando as referidas forças da ordem como instrumentos de natureza complementar, já que, sem o temor do que poderá vir depois da morte, não haveria quem controlasse as forças da ordem nem orçamento do Estado para, em quantidade suficiente de efetivos, as contratar.

Combate à Dissolução de Costumes
Exceção a esta regra não é, decididamente, a Igreja Católica, mesmo nos seus primeiros tempos, não sendo imaginável que fosse possível implementar os seus ditames e princípios no quadro caótico de dissolução de costumes de que Roma era, à época, apanágio.

Ora, é, precisamente, do combate a essa dissolução de costumes que a Carta aos Efésios vem ocupar-se, não sendo aceitável a lacuna hermenêutica de qualquer abordagem que a não contemple, sobretudo quando é o próprio Autor que expressamente o declara (Ef 1, 14-19), seja ele quem for.

Juntando a isto o que em 2.4.1 foi dito quanto a serem as relações sociais aquilo que, com as epistolares exortações, se pretendia normalizar, a ideia de as mulheres se submeterem às orientações dos maridos e de, como corolário, estes amarem as suas mulheres parece muito mais provavelmente associada a uma intenção inequívoca, porquanto tácita, de apelar à fidelidade de umas e de outros, fidelidade essa já então, como hoje, obviamente basilar na construção e preservação do modelo estável de sociedade sem o qual a mensagem cristã será, em qualquer tempo, impossível de vivenciar.

Também a ideia de fidelidade estará na base do pedido de que os maridos amem as suas mulheres, pedido que faz, aliás, tão pouco sentido como a promessa de uns e outros se amarem, mutuamente, que é pedida a quem nos nossos dias se casa. É que, sendo o amor um sentimento, e não um ato de vontade, não é algo que se possa impor ou pedir, antes uma emanação do espírito com a qual nenhum humano alguma vez se poderá comprometer: ama-se e deixa de se amar, sem que tal possa ser entendido como quebra de uma promessa de cumprimento à partida humanamente impossível de assegurar.

Submetei-vos, amai-vos, ou melhor, sede fiéis no interesse da sociedade que procuramos construir, parece, assim, ser tudo quanto, na rebuscada linguagem litúrgica, Saulo de Tarso ou alguém por ele pretendia transmitir; e vós, todos, “sede submissos uns aos outros no temor de Cristo” (Ef 5, 21), ou depressa não vai haver quem tenha mão nisto - como, nos nossos dias, cada vez mais parece que já não há.


2.4.3. Alquimia

O problema que subjaz a toda esta discussão é o de que, como escreveu um filósofo, psicanalista e sociólogo contemporâneo, “a maior parte das pessoas vê no problema do amor, em primeiro lugar, o problema de ser amado, e não o problema da própria capacidade de amar”.

Por outras palavras, as pessoas juntam-se, casam-se como um meio para alcançar a própria felicidade, e não para, por amor, tudo fazerem para proporcionar a do outro. Não é que não queiram ver o outro feliz – sobretudo porque é um grande frete viver com alguém que o não é… -, mas querem ver o outro feliz apenas se não tiverem de mexer uma palha para o conseguir.

Esposas: Sede Submissas!
Será isto o chamado amor? Sem submissão – sim, lido hoje, o termo não é feliz -, sem entrega mútua e voluntária, como lá chegar, à tal felicidade, ou amor, ou o que queiram chamar-lhe? Como construir algo em conjunto se o que importa, antes de mais, é cada um usufruir, curtir? O impacto social desta distorcida visão mede-se, facilmente pela absurda quantidade de divórcios - quantos por infidelidade.. - que, excluindo os anos da pandemia, não para de aumentar…

A alquimia do amor é, bem pelo contrário, a entrega mútua; e é, muito provavelmente, à submissão, à entrega voluntária de cada um no que diz especificamente respeito aos sacrifícios, por vezes enormes, a fazer para, em todas as ocasiões nos mantermos fiéis - como tanto importa ao conjunto de todos nós - que o autor da Carta aos Efésios se refere ao falar do amor dos maridos e da submissão das mulheres.

Tudo o mais que se diga poderá fazer tão pouco sentido como pretender que a Carta diz que uma mulher se deve submeter a um marido que, pela força bruta, a domina – ou vice-versa… -, ou que alguma igreja ou estado tem o direito de exigir, a quem quer que seja, que prometa, para sempre, amar alguém.

 

2.4.4. Valorização

Independentemente do sexo, a valorização do ser humano enquanto tal nasce e desenvolve-se, não a partir dos atributos físicos, como acontecia com os maridos ao tempo em que foram escritas as Epístolas, mas do estudo, da reflexão, do massajar das meninges, seja qual for a área de interesse da predileção de cada um.

Isto é válido no século XXI, tal como era válido então.

Por tal razão, há que entender que a força bruta dos maridos de então valorizava-os tanto quanto atualmente mulheres e homens são valorizados pela exibição patega da riqueza material, da supremacia corporal, dos bíceps trabalhados, dos glúteos tonificados, dos seios enchumaçados, da última moda de panos e berloques e da superior capacidade de enfiar uma bola minúscula numa baliza enorme, à custa de muita pisadela, de muita canelada, de muito palavrão.

Todos estes atributos e outros como eles não despertam o amor verdadeiro, apenas paixões levianas e efémeras em pessoas a eles sensíveis, depois à infidelidade, à separação, ao divórcio e, no fim da lista, à ainda mais indesejável desestabilização social.

Quem Não Tem Espírito
Quem tem falta de espírito enfeita o corpo, e tem todo o direito, pois claro. Não venham é, depois, dizer que umas e outros se sentem aviltados ou desconsiderados por trechos saídos da pena de quem viveu num tempo em que, tal como agora, quase só o corpo contava, mas porque, então, o conhecimento e as ideias não tinham veículo capaz de amplamente os disseminar.

Esses veículos existem nos nossos dias - livros, televisões, redes sociais -, mas o que por lá se vê tem interesse muitíssimo reduzido ou nenhum para o que, verdadeiramente, poderá contribuir para as clivagens culturais e os distúrbios sociais atenuar, num ambiente de dissolução de costumes comparável ao da antiga Roma.

Coisas estranhas afixadas por cabeças ocas, para as quais apenas conta o que se vê e o que se compra; gente que inunda as redes sociais com historietas das suas também ocas vidas, as quais intelecto e espiritualidade lhes faltam para preencher.

Era o corpo pela força bruta, antigamente; é, agora, o corpo por aquilo que tem para exibir e que, em lugar de granjear respeito e admiração, apenas serve para rebaixar quem na montra social diariamente se vai pavonear.

 

3. Prática Eclesiástica


3.1. Duas Questões de Legitimidade

Toda esta trapalhada foi motivada, recorde-se, por uma leitura feita no decorrer de uma celebração eucarística transmitida pela Radiotelevisão Portuguesa (RTP) – ou a televisão do Estado, como alguns gostam de lhe chamar.

Não faltou, assim, quem aproveitasse a embalagem para voltar a suscitar a questão da legitimidade dessas transmissões alegando que são pagas pelos impostos de todos nós, ao que as vozes da Igreja retorquiram, como habitualmente, que, sendo a maioria da população católica, existe todo o direito e, até, o dever de a comprazer.

Sabendo-se, porém, que esta maioria é tão verdadeira como é verdadeira a declaração de “católico” aos Censos, a argumentação cai pela base, até porque as igrejas vão estando cada vez mais vazias, e não parece que seja porque os católicos resolveram ficar em casa a ver a missa pela televisão, em vez de nela participa - não obstante as audiências que dizem ser relativamente expressivas, tendo em conta que se trata de Domingo pela manhã.

Instituto Nacional de Estatística
Seja pelo mais elementar receio do que estará para vir - por parte daqueles poucos que ainda se vão lembrando de que um dia irão morrer… -, seja porque foram batizados quase à nascença e, por isso, acham que são “católicos”, a verdade é que a governação do Estado e das suas empresas, como a RTP, deve basear-se em números, na estatística, ou tudo acabaria por fazer ainda menos sentido do que faz; e, sendo os números relativos a ditos católicos o que são, está a posição da Igreja quanto a estas transmissões plenamente segura e legitimada.

Pelo menos, até que a exatidão das declarações aos Censos sejam averiguadas e estes cristãos comecem a ser novamente lançados aos leões, desta vez por prestarem falsas declarações.

- x –

Uma outra questão de legitimidade não pode deixar de ser aqui abordada, mais propriamente a da legitimidade de, nos dias de hoje, passar a mensagem que incita à submissão voluntária e espontânea da mulher perante o marido – o que é substancialmente diferente de incitar ao domínio arbitrário e imposto do marido sobre a mulher.

Quanto a este ponto, o que primeiro há a salientar é que, tratando-se de uma atitude voluntária, apenas interessaria à lei na medida em que pudesse, eventualmente, ser contrária aos bons costumes por aquela protegidos. Não sendo, como não é, o caso, nada obsta a que a Igreja se exprima, quanto a esta matéria como mais lhe agradar.

Do que aqui se trata é da polémica decisão de passar uma mensagem incómoda, maioritariamente condenável na aparência se aplicada à atualidade e não aos tempos da Carta aos Efésios, mas que se encontra no âmbito do mais legítimo direito de qualquer organização definir os pressupostos da sua existência e as normas de conduta que preconiza ou exige para os seus aderentes.

Estamos, também, muito longe da situação resultante de um forte incómodo causado ao cidadão pelo Estado, face ao qual o único recurso fosse a decisão de emigrar, com todo o transtorno que isso implicaria, quantas vezes não apenas para o próprio, mas também para os seus mais diretos familiares.

No caso de uma igreja, quem não estiver satisfeito com o conteúdo da pregação ou com a prática pode, num instante, abandoná-la sem qualquer incómodo semelhante, ainda que remotamente, ao de emigrar.

Resta, pois, concluir que nada obsta, na lei ou na prática social, a que a Igreja continue a mandar ler o tal trecho socialmente proscrito da Epístola, tal como nada obsta a que, quem no seio daquela se não sentir bem, sem qualquer inconveniente vá ouvir outros pregar.

 

Utilidade
3.2. A Questão da Utilidade

Falta, para terminar, refletir um pouco sobre a utilidade – e sobre a verdadeira intenção - de ler, perante as assembleias de fieis, algo tão polémico e retrógrado como estas passagens das Cartas aos Efésios, aos Colocenses e mais uma ou outra que conste do tal calendário dos três em três anos que, independente da conjuntura de cada momento, ninguém parece ter poder para adaptar.

Diga-se, desde já, que a posição episcopal de que “os textos não se mudam, mas educam-se os leitores a entendê-los e a atualizá-los*) mais não plasma do que o incompreensível desconhecimento – apenas aparente, claro – por parte da hierarquia da Igreja Católica do baixíssimo nível intelectual, cultural e, sobretudo, do inexistente dom da palavra por parte de grande parte dos sacerdotes por isso mesmo colocados em pontos remotos, em paróquias de aldeia – e não só… -, alongando-se em homilias desmesuradas e desconexas, que já ninguém ouve, chegando a pontos de, quando o sacerdote começa a perorar, alguns fiéis saírem para fumar um cigarrito ou apanhar um pouco de ar, voltando depois.

Serão oradores deste calibre que irão educar os ouvintes ou os leitores?

Tal pretensão apenas colheria se existisse, na pregação, um nível uniformemente elevado dos educadores, o que não acontece, como bem se sabe, assim não fazendo qualquer sentido – para não ir mais longe… - a referida réplica episcopal.

Por outro lado, a ser o “educam-se” corretamente aplicado na forma reflexa, que capacidade terão para se educar-se, aos próprios, universitários cuja única e remota semelhança com os frutos da universidade pré-Bolonha e pré- outras coisas também parece ser o facto de usarem aquelas vestes negras sem significado que tanto gostam de exibir enquanto aprendem unicamente a empinar e a copiar, relegando os governantes do pelouro da educação para um plano mais do que secundário a vertente educacional e formativa de quem, na maior parte dos casos, em casa a não encontra? De quem nem interpretar sabe nem quer saber o “Filhos, obedecei a vossos pais”?

Esposas na Igreja Católica
Perante a notória e quase absoluta incapacidade de uns interpretarem corretamente e de outros terem quem os eduque na interpretação das escrituras – fenómenos que não podemos, honestamente, pretender que a Igreja Católica continue a ignorar -, haverá que concluir que a insistência em manter na liturgia estes textos aparente crípticos é deliberada, e corresponde à verdadeira convicção social dos sacerdotes e de quem os superintende na Igreja Católica.

Ou, mais simplesmente, como alguém num destes debates que por aí houve sintetizou, que “a Igreja olhapara as mulheres como mãe ou virgem*), revelando-se fundamentais os polémicos trechos de interpretação dúbia Efésios 5:22 e Colocenses 3:18 para, sub-repticiamente, esse entendimento nos levarem a, submissamente, aceitar e defender.

 

4. Conclusão

Em questões socialmente melindrosas, tão imprudentes se revelam as reações a quente baseadas em afloramentos interpretativos à revelia da razão, como a razão pobre de uma repetitiva, oficial, dogmática, confusa, rebuscada e nada convincente interpretação.

Não basta, também, deixar as supostas explicações pela rama, invocando, simplesmente, o desfasamento no tempo e nos hábitos sociais, sem procurar exaustivamente explanar, sem apresentar hipóteses credíveis para a identificação desses hábitos e das razões na
Conclusão
sua génese: deve, pelo contrário, procurar-se assegurar a consistência hermenêutica e a fundamentação racional e objetiva, não repousando enquanto se não encontrar, além do imediato, do óbvio, contributos interpretativos fornecidos pelo autor na introdução e no enquadramento do texto.

A preponderância do conhecimento por parte do marido decorrente da maior atividade social de quem, pela força bruta, mais apto se encontrava, naquele tempo, a assegurar o sustento do lar e a necessidade urgente de normalizar, designadamente no campo da fidelidade conjugal, os hábitos sociais degradados da Roma de então poderão servir os referidos requisitos da fundamentação a ponto de satisfazer intelectualmente boa parte daqueles que sobre o assunto se questionam. Sobretudo numa sociedade hoje supostamente evoluída mas para a qual amar cada mais parece ser amar-se, e não ao outro, a quem, desgraçadamente, até ao divórcio muita coisa ainda se irá ter de aturar.

Da mesma forma que, sem grande incómodo, cada um é livre de decidir se e a que igreja pretende associar-se, cada confissão religiosa é, necessariamente, livre de pregar o que muito bem entender e como muito bem entender, desde que tais ações, ou o seu resultado, ao foro criminal não acabem por interessar.

Fica, não obstante, por explicar a razão verdadeira para a insistência da Igreja Católica em manter no calendário litúrgico leituras que repugnam logo ao primeiro contacto, a maior parte dos ouvintes, fiéis ou não, sabendo-se que a maior parte dessa maior parte ninguém alguma vez conseguirá, de forma convincente, educar, procurando fazer crer que é tudo a fingir, e que a Igreja acredita em algo bem diferente daquilo em que, manifestamente, mais até do que naquele tempo continua a acreditar.

- x -

Passamos por seres inteligentes, sábios, sensatos, superiores?

Mandam, então, hoje como em qualquer tempo, essa inteligência, essa sabedoria, essa sensatez, essa superioridade, que cada um acate e siga a opinião do outro, mulher ou homem, nas áreas que melhor conhece, que melhor domina, nas áreas em que está mais apto a contribuir para um bom resultado, em lugar de procurar fazer prevalecer a decisão absurda de quem do assunto menos sabe ou nem desconfia, apenas porque é assim, porque um livro para alguns sagrado manda, porque uma religião que poucos praticam insiste em impor.

No casal, na família, na escola, no emprego, em qualquer manifestação social, seja onde for.




Afinal, Deus existe mesmo, ou não passa de pura invenção de um ser humano que desespera com a efemeridade da sua existência?

NÃO PERCA uma reflexão lógica, fundamentada, sobre o tema porventura mais elementar e decisivo da vida humana.





A existir um deus, será ele o representado
no teto da Capela Sistina? Jeová? Alá? Manitou?
Ou nenhum destes?

6 comentários:
  1. Sobre este tema, há claramente uma desatualização da Igreja católica na escolha dos temas que escolhe para as suas eucaristias. Mais um sinal de uma igreja parada no tempo e da falta de espírito crítico existente. Mesmo no seio da Igreja, um órgão com muito poder nas sociedades ocidentais principalmente junto das classes mais velhas da população, a mentalidade ao nível de igualdade de sexo pouco ou nada evoluiu. Os homens ficam para madres e na tomada de decisão das paróquias. As mulheres vão para catequistas e para colocar flores nas Igrejas.

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    1. Sim, anda tudo muito à volta do que diz. Impressiona, sobretudo, a debilidade da fundamentação da Igreja Católica, cujos argumentos pouco têm a ver com a razão das coisas, pelo que, para convencerem alguém... só mesmo com muita Fé.
      Obrigado pela visita!

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    2. É lamentável que ainda se discuta isto no século XXI. A visão dogmática da igreja afasta a possibilidade de aceitação dos seus argumentos. É anacrónica e contrária aos princípios humanistas que defende, ao discriminar seres humanos. A igreja e as suas metáforas, as suas parábolas, em boa verdade só capta quem tem muita fé. Um edifício erigido por homens, estruturado por homens, em que a ação das mulheres é inexistente, não pode agradar, servir, ou o que quer que seja, a uma sociedade feita de partilhas. Que se respeite a idiossincrasia individual, mas sem as humilhantes hierarquias entre homens e mulheres.
      Parabéns pela sua fantástica reflexão!

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    3. Muito obrigado pela generosa apreciação.

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  2. «O homem andava a trabalhar por fora... À fisicamente menos possante mulher cabia ficar a cuidar da casa e da prole» - pois, meu caro, isto é o que se julga frequentemente, mas a realidade era bem diferente. A mulher, normalmente, trabalhava no campo, ao lado do homem! Chegados a casa, o homem descansava e a mulher ia "cuidar da casa e da prole"».

    «a da legitimidade de, nos dias de hoje, passar a mensagem que incita à submissão voluntária e espontânea da mulher perante o marido – o que é substancialmente diferente de incitar ao domínio arbitrário e imposto do marido sobre a mulher» - pois é, mas uma coisa implica a outra, infelizmente, como aconteceu durante séculos e séculos e continua a acontecer.

    «quem no seio daquela se não sentir bem, sem qualquer inconveniente vá ouvir outros pregar» - e quem ama a mensagem de Cristo (como eu) é obrigado a ir ouvir outros pregar? Isto não é assim tão simples! Se eu concordo em 90% com a mensagem cristã, não acho justo recomendarem-me ir ouvir outros pregar, apenas por não estar de acordo com uma ou outra passagem.

    Quanto à sociedade atual, «para a qual amar cada mais parece ser amar-se, e não ao outro», pois, olhe, é isso que os machistas em geral têm feito, tanto no passado, como no presente. Ou seja, está longe de ser um problema de hoje.

    E quanto ao contexto histórico, ele não é respeitado, se a passagem continua a ser lida, pois transmite uma mensagem que se quer cumprida no presente. É conhecido que o plano de leitura, que muda de três em três anos, não abarca toda a Bíblia. Se há passagens que nunca são lidas, porque não modificar mais algumas?


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    1. Muito grato pelas suas observações.
      Deixe, peço-lhe, que comece por precisar o sentido de 'o homem andava a trabalhar por fora': não pretendi, com isso, dizer que 'o homem andava a trabalhar no terreno de sua propriedade contíguo à habitação', mas que andava a trabalhar fora da sua área de residência e por conta de terceiros, atividade em que a mulher, habitualmente, o não acompanhava. Claro que é sabido que a mulher trabalhava no campo ao lado do homem, mas quase unicamente na parte rural da residência própria, o que lhe não proporcionava o enriquecimento da 'mundividência' - como agora gosta de se dizer - disponível para o marido. Note-se que não refiro isto como um 'handicap' da mulher, que do facto nenhuma 'culpa' tinha, antes como uma profunda injustiça social que, pela cultura dominante, lhe era imposta.
      Contesto, por outro lado, que a submissão voluntária e espontânea da mulher implique o domínio arbitrário pelo homem - a menos que seja completamente incivilizado, claro está. Nisto, aliás, estamos de acordo, já que, como bem refere, baseia a sua conclusão apenas no facto de tal ter acontecido durante séculos e continuar a acontecer, ou seja, como a constatação de uma impropriedade, e não como aquilo que, num quadro socialmente saudável, seria normal acontecer.
      Já quanto à sua relação com a Igreja que integra, não me cumpre, naturalmente, pronunciar-me. Limitar-me-ei, assim, a salientar que, com as palavras que cita, enunciei o mero princípio geral da necessidade de conformidade aos cânones e ditames das organizações em que escolhemos filiar-nos ou militar, devendo as discordâncias ser dirimidas internamente, também internamente devendo desenvolver-se qualquer processo que vise a eventual e pontual alteração daquilo com que possamos não concordar.
      Por fim, concordo inteiramente que 'amar-se, e não ao outro' será o que 'os machistas em geral têm feito'. Creio, todavia, que, para mantermos uma total e saudável imparcialidade, devemos lembrar-nos de certas ditas feministas, também.

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