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quinta-feira, 23 de junho de 2022


A Bica e o Preço da Cevada

Acabo de beber um descafeinado por 0,75€ num sítio onde, há bem pouco tempo, pagava menos dez cêntimos.

Significa isto que os anteriores 0,65€ sofreram, em três meses, um aumento de 15%, correspondentes a uma taxa de inflação anual de 60% - calculada de forma singela, para não complicar.

Ora, entretanto, os salários não aumentaram, as rendas das lojas, também não, a água tampouco e o preço da matéria-prima café sofreu um aumento em nada equiparável a este descalabro..

Assim, e tendo em conta o brutal aumento, por razões tristemente conhecidas, do preço dos cereais, a explicação apenas pode encontrar-se numa outra matéria-prima, que, supostamente, não entra na chávena.

Ou seja: a bica aumentou dez cêntimos por causa do aumento do preço da... cevada!

* *

A caricatura poderá ser forçada, mas situações de práticas comerciais de ética duvidosa é o que por aí não falta. Uma delas está ligada à venda, em supermercados, de embalagens de camarão.

(continua aqui)

quinta-feira, 2 de junho de 2022


O Verdadeiro Pecado de João Rendeiro


"Na ordem económica das coisas, Rendeiro não passou de um pobre diabo, de um pequeno espertalhão que almejou chegar a grande trapaceiro. De alguém que cometeu o imperdoável pecado de tentar seguir as pisadas dos grandes e, porventura, de sonhar um dia ocupar o respetivo lugar. Algo que nenhum oligarca, em nenhumas paragens, alguma vez poderá perdoar"


     1. Dinheiro, o Suporte Vital das Ditaduras
     2. Implacabilidade e Frieza, o Suporte Instrumental
     3. O Escudo face às Investidas da Lei: Dimensão!
     4. O Verdadeiro Pecado de João Rendeiro



1. 
Dinheiro, o Suporte Vital das Ditaduras

Figura mais marcante

António de Oliveira Salazar foi e, porventura, ainda é a figura mais marcante da política portuguesa dos últimos cem anos.

As razões da longevidade de tal lembrança não serão, seguramente, as melhores. Tampouco tudo quanto nos longos anos do seu consulado aconteceu estará, já, desvendado ou, pelo menos, divulgado. A verdade conhecida evidencia, porém, que a força do Estado que serviu dependia, antes de mais, da submissão das forças armadas e das forças policiais aos desígnios de quem verdadeiramente mandava no regime que tinha por mero, embora principal, administrador Oliveira Salazar.

De facto, nenhuma ditadura alguma vez poderá impor-se sem contar com o apoio efetivo de quem constitui o braço armado indispensável a quem pretenda subjugar a vontade de toda uma nação; nem, uma vez atingido o poder, nele poderá manter-se sem a empenhada obediência de quem, no quotidiano, controla, vigia, investiga, espia, desenvolve, enfim, as atividades das quais depende a manutenção da ordem pública, independentemente dos ideais e dos interesses seguidos ou servidos pela governação.

Sustentando estes imensos dispositivos armados e policiais, que tanto podem servir os mais nobres ideais da liberdade como os mais pérfidos desígnios da repressão, surge a riqueza, o vil metal sem o qual, armados ou não, os humanos não têm assegurados os alimentos, o vestuário, a habitação e tudo aquilo que, supérfluo ou não, consideram indispensável à sobrevivência, bem como à legítima e moderada ou mais ou menos ilegítima e descontrolada fruição.

Não parece, assim, razoável atribuir-se, unicamente, às virtudes espirituais, intelectuais, oratórias, profissionais ou políticas de um ditador - Salazar ou não - a sua manutenção, por décadas a fio, num poder efetivo e repressivo que seria, evidentemente, impossível conservar apenas por via dos méritos pessoais do próprio: a montante, importa, sobremaneira, garantir, por um lado, o suporte financeiro obtido da cobrança dos impostos que irão financiar a máquina repressiva; por outro, a concordância daqueles que, em mais chorudas fatias, os haverão de pagar, sob pena de os ver para outras paragens debandar.

Em tempos há mais tempo idos, os monarcas guerreiros impunham-se interna e externamente pela força das armas que adquiriam e das vidas daqueles que as manejavam. O monarca governava de forma mais ou menos absoluta, ou porque era o mais rico, ou porque contava com a boa vontade - e com os fundos - dos ricos oligarcas que, na sombra, o influenciavam ou dirigiam.

A lei do mais rico mais forte prevalecia, pois, quase sempre à revelia de valores e de princípios que, provavelmente, a muitos deles jamais iriam, sequer, ocorrer, quanto mais orientar.

A lembrança da governação de Oliveira Salazar é, assim, a mais próxima e recente de que dispomos de algo que, desde os primórdios da Humanidade, se sabe, e que, hoje como então, continua a valer para quem, pela força, o seu semelhante se propõe dominar: as forças armadas e as forças policiais são a base de sustentação de qualquer regime, e, para um ditador se manter no poder, alguém de fartas posses as há de, direta ou indiretamente, sustentar.

 

2. Implacabilidade e Frieza, o Suporte Instrumental

Se as ditaduras vivem do dinheiro com que garantem os alimentos daqueles cuja força ou vigilância as mantêm no poder, é, também, verdade que dependem da frieza, da crueza, da maldade e da implacabilidade dos seus servos e sequazes para se conservarem no poder.

Formados e treinados para aterrorizar com o fantasma do medo induzido pelos relatos das sevícias praticadas sobre os opositores políticos, inspetores e agentes das polícias políticas das ditaduras tudo veem, analisam, escalpelizam da vida pública e privada de cada um, sem qualquer pudor ou consideração pelos mais elementares direitos próprios dos estados em que se respira liberdade, aquela liberdade que, para estes torcionários e seus mentores, não passa de um palavrão a banir do léxico ou, pelo menos, a evitar.

Entre estas máquinas infernais ao serviço dos tiranos que governam nações e os exércitos ao serviço de cartéis de droga ou de mafias organizadas pouca ou nenhuma diferença se há de encontrar.

Há muito alcandorado na presidência da Federação Russa, Vladimir Vladimirovitch Putin não passa, afinal, de um entre centenas de milhar de funcionários de polícias políticas ao serviço das ditaduras que existem e sempre existirão por esse Mundo fora. São esbirros de confiança, designados e pagos pelas oligarquias para garantir a implacável manipulação e repressão dos cidadãos, visando a maximização dos interesses ilegítimos e os desvios de verbas supostamente destinadas à administração da coisa pública para servirem, antes, as vidas faustosas de multimilionários sem escrúpulos que, da política, nada mais querem do que garantir uma cada vez maior acumulação.

O frio Vladimir ter-se-á, entretanto, convencido de que, por lhe terem os detentores do verdadeiro poder – o poder económico - permitido viver, também ele, no luxo e na abundância, se tornou um oligarca como eles, um par, um igual: alguém com poder suficiente para, por sua iniciativa, tomar decisões tão importantes e irresponsáveis como a de invadir um país vizinho em nome da própria e tresloucada obsessão pela reintegração das repúblicas que ganharam a independência quando do desmembramento da União Soviética.

Tamanho erro jamais os verdadeiros oligarcas lhe perdoarão. Daí, os cada vez mais audíveis rumores de tensões internas no Kremlin, da suposta debilidade do estado de saúde do Presidente – sabendo-se, como se sabe, a predileção de Moscovo pela doença como forma de fazer desaparecer ou, pelo menos, afastar os indesejáveis -, das alternativas que se perfilam para o substituir no poder fantoche de que, em má hora, o investiram.

Tal como as grandes fortunas portuguesas jamais perdoariam a Salazar que lhes não defendesse as colónias que os enriqueciam, também as grandes fortunas russas jamais perdoarão a Putin os gigantescos prejuízos decorrentes das pesadas sanções impostas por diversas organizações e países que censuram a sua atuação.

 

3. O Escudo face às Investidas da Lei: Dimensão!

Ora, coisas destas, não acontecem só em ditaduras.

Um pouco por toda a parte no tresmalhado universo das fortunas conseguidas à custa, quer da implacável repressão política, quer da não menos implacável exploração económica, domina uma variável que explica, em boa parte, que pessoas há muito providas de património mais do que suficiente para assegurar uma vida regalada e faustosa para si e para os seus familiares, satélites e penduras continuem, mesmo assim, a procurar engordar mais e mais os seus já fartos pecúlios, movidos, ao que muitos pensam, pela simples ganância. Essa variável é a dimensão.

Tal como um combatente com mais força subjugará, em princípio, o seu oponente mais frágil, também o oligarca mais rico mais facilmente imporá a sua vontade aos restantes; e isto apenas se consegue com fundos virtualmente inesgotáveis ou, pelo menos, existentes em quantidade tal que permitam garantir a boa vontade de todos aqueles a quem se tiver de pagar ou que se tiver de comprar para tais intentos se lograr atingir.

A acumulação de riqueza é, para muitos, menos uma questão de ganância ou de ostentação do que de sobrevivência política e social: o oligarca mais rico, o que tiver o maior iate, o maior avião ou mais hotéis será sempre olhado, pelos outros, com temor e respeito, e, das suas pelejas económicas e políticas, tenderá a sair vencedor. O que vê o seu nome cair nas listas dos mais abastados arrisca-se, pelo contrário, a perder cada vez mais negócios e, consequentemente, a entrar no irreversível processo entrópico que o levará à desgraça.

Além do mais, e quer se queira, quer não, a dimensão da fortuna de um cidadão pesa, também – e de que maneira! -, sobre alguns políticos, governadores de bancos centrais e, até, incómodos inspetores do fisco ou da investigação criminal que, por um lado, tendam a deslumbrar-se com a grandeza alheia e, por outro, tenham consciência do impacto negativo que podem significar, para as respetivas carreiras, demonstrações de inoportuno e indesejável zelo no cumprimento do dever.

Demonstrações de temor ilegítimo como estas não faltaram, associadas aos recentes escândalos que culminaram na extinção de instituições bancárias portuguesas de dimensão diversa, com por vezes bem brutal impacto sobre as vidas de quantos neles confiaram e investiram os seus parcos milhares ou largos milhões.

Os responsáveis pelos atos condenáveis parecem, no entanto, ter tido diferentes destinos consoante a dimensão das respetivas fortunas ou dos bancos que fizeram afundar: enquanto a arraia miúda caiu em desgraça, quem mandava nisto tudo continua a pavonear-se numa inexplicável aura de efetiva impunidade, a despeito de condenações ainda não transitadas por culpas que muito dificilmente alguma vez virão a expiar.


4. O Verdadeiro Pecado de João Rendeiro

Se aos verdadeiramente grandes quase tudo é permitido com a garantia de que alguém olhará para o lado ou, com a devida vénia e reverência, fechará os olhos, aos menos grandes e aos pequenos jamais será perdoada a ousadia de os querer imitar.

Isto, por três principais razões: a primeira, porque aqueles cuja subserviência e mediocridade leva a idolatrar os de mais generosa dimensão tendem a evidenciar certa tendência para descarregar as frustrações nos que lhes não chegam aos calcanhares; a segunda, porque, dispondo de menos meios económicos que lhes permitam escudar-se, estes são, também, mais fáceis de apanhar; por fim, porque os mais crescidos não deixarão de colaborar com as autoridades na caça aos pequenos que, com a sua inaptidão, acabam por ir revelando técnicas e segredos cuja exclusividade aos maiores tanto jeito deram e continuariam a dar.

Com algum dinheiro, competente como Salazar, frio e implacável como Putin perante a credulidade e ingenuidade alheias, o pequeno João Rendeiro ter-se-á convencido de que, lá porque conseguiu presidir a um também pequeno banco e até tinha algum jeito para a coisa, era, também ele, um grande, alguém que tinha subido a pulso a escorregadia corda da vida, enquanto ia dando uns murros na cabeça de uns e pisando a de outros para conseguir escalar.

Faltou-lhe, no entanto, a dimensão.

De mortuis nihil nisi bonum, mas há que dizer que, na ordem económica das coisas, Rendeiro não passou de um pobre diabo, de um pequeno espertalhão que almejou chegar a grande trapaceiro. De alguém que cometeu o imperdoável pecado de tentar seguir as pisadas dos grandes e, porventura, de sonhar um dia ocupar o respetivo lugar.

Algo que nenhum oligarca, em nenhumas paragens, alguma vez poderia perdoar.


Outros temas que poderão interessar-lhe no Mosaicos em Português:
- O impacto negativo da (falta de) educação sobre as decisões judiciais no processo Rendeiro Leia AQUI
- O corrupto perdoado que diz ter sido ilibado Leia AQUI

segunda-feira, 2 de maio de 2022


O Estranho Caso dos Copinhos de Feijão

Não, não é o título de um romance policial. Não passa de um pequeno e indignado texto acerca de uma descarada aldrabice na área da doçaria, impunemente repetida por, pelo menos, um pequeno fabricante, com a complacência de grandes superfícies de retalho.

Poderá ser ingenuidade, excesso de confiança ou, até, mania. Mas, quando passo pela loja de uma marca de supermercados na qual confio, parto do princípio de que os produtos vendidos correspondem, dentro do razoavelmente expetável, ao que é anunciado na embalagem, supostamente para permitir ao potencial consumidor uma informação esclarecida.

Claro que tudo isto é bastante relativo, sobretudo numa sociedade que, ao mesmo tempo que impõe normas e controlos cada vez mais apertados e rígidos à produção e comercialização de tudo e mais alguma coisa, continua - e muito bem, diga-se - a permitir, em feiras e mercados, a venda a granel de produtos das mais diversas naturezas e origens, obtidos segundo processos de cultivo, colheita e processamento maioritariamente artesanais e sem controlo sanitário visível.

Não obstante, em ambientes estritamente controlados pela fiscalização económica - seja a da famigerada ASAE, seja outra entidade qualquer -, torna-se caricato encontrar, num hipermercado do século XXI, uma embalagem que revela, no rótulo, conter um produto composto por açúcar, ovos pasteurizados, água, coco, farinha de trigo, amido de milho, óleo de girassol, sal, lecitina de soja, levedante E500, açúcar em pó com amido de milho, conservantes E200 e E202...  e 0,5% de feijão, chamando à mistela "Copinhos de Feijão".

Ora, segundo a Wikipedia*), "o pastel de feijão é um doce típico de Portugal, confeccionado em Torres Vedras desde os finais do século XIX. Embora a receita varie um pouco consoante o fabricante, tem como ingredientes base a amêndoa e o feijão branco cozido".

Não se tratando, como é evidente, de pasteis propriamente ditos, poderá, mesmo assim, alguém considerar legítimo que se entenda que uma percentagem de 0,5% de feijão basta para que se anuncie que determinado produto como de feijão, quando, em boa verdade, não passa de uma mistela com resquícios de feijão? É que é óbvio e indesmentível que uma percentagem tão ínfima como 0,5%, de feijão ou do que quer que não seja um aromatizante, nada acrescenta ao sabor ou a qualquer outra caraterística do produto final.

De outra forma dito, a admitir-se que algo tão ridículo como 0,5% é suficiente para determinar ou influenciar a designação, os anunciados "Copinhos de Feijão" facilmente se transformariam, com minúsculas alterações ao processo de fabrico, em "Copinhos de Maçã", ou "Copinhos de Kiwi", ou "Copinhos de Cenoura" ou do que quer que fosse, na certeza de que, no que à percepção pelo consumidor diz respeito, o sabor e a consistência se manteriam completamente inalterados.

- x -

Conduzindo a discussão a outro patamar, ocorre, inevitavelmente, a necessidade premente de o legislador se interessar sobre esta temática, designadamente definindo qual a percentagem mínima necessária para que determinado produto possa designar-se como sendo feito de alguma coisa - e não com alguma coisa... -, no sentido de que isso corresponderá à inclusão de determinada componente em quantidade suficiente para alterar as características relevantes para quem o irá adquirir.

Diversos problemas emergem desta questão, como a natureza do produto em causa e a subjetividade inerente à variação da sensibilidade entre uma infinidade de consumidores.

Quanto à natureza, será oportuno referir, num extremo, a obrigatoriedade de quase exclusividade de determinada casta*) na composição de um vinho para que aquela possa constar da designação da variante (como "Touriga Nacional", "Aragonês", "Alvarinho", "Cabernet Sauvignon") dentro da marca.

Claro está que, transposta para o produto aqui tratado, tal imposição tornaria materialmente impossível a fabricação de um pastel com cem 100% de feijão. Mas, haverá, seguramente, medidas intermédias que poderão ser fixadas como mínimos aceitáveis para viabilizar o processo de fabrico garantido, simultaneamente, a diferenciação.

Quanto às diferentes sensibilidades entre consumidores, não será, seguramente, impossível, através de estudos adequados, determinar os mesmos pesos mínimos de forma a assegurar que não daremos connosco a ingerir a mesma mistela, levados ao engano por uma mais ou menos criativa e fantasiosa designação.

Eis, pois, um caso claro de publicidade enganosa decorrente, simplesmente, da incorreta utilização de uma preposição.

quarta-feira, 30 de março de 2022


Robert Sarnoff


"A finança é a arte de fazer o
dinheiro passar de mão em mão até desaparecer"


"Finance is the art of passing currency from hand to hand until it finally disappears"

Atribuída a Robert Sarnoff *)

Uma realidade a ter em conta pelo nosso recém-nomeado-sem-alguma-vez-ter-esperado-que-tal-lhe-acontecesse-e-sexto-na-hierarquia-do-governo ministro das finanças*)

Pois, nós, também não esperávamos. Ou melhor: esperávamos que não. Que não fosse, para lugar de tamanha responsabilidade e num momento tão difícil como o que atravessamos, nomeado alguém aparentemente sem preencher requisitos mínimos para ocupar o lugar, e com um histórico de avanços e retrocessos, de atitudes polémicas, de pusilanimidade manifesta enquanto presidente da câmara em Lisboa.

A escolha pode significar muita coisa, como, entre tantas, mais ninguém ter aceitado o lugar ou haver dívidas políticas a pagar. Do que não podem restar dúvidas, é de que quem o nomeou considera as comemorações da vitória do Sporting, a fuga de informação para a Rússia e tantas outras contas do rosário de disparates como governação legítima, eficaz, absolutamente... normal.

Como já cansa ouvir arautos da desgraça dizer que só esperam estar enganados, direi que não o espero, que não o creio e que quase o não desejo, quanto mais não seja para permitir, finalmente, pôr a nu o que para aí vai de falta de competência, de gestão das aparências, indo-se ao ponto de anunciar ministérios criados à pressa para, talvez em nome da alardeada e artificialmente criada paridade, acomodar uma ou outra militante agora inevitavelmente candidata a qualquer coisa, mas que, ouvindo-a vezes e mais vezes em programas de debate, pouca coisa, além daquilo que toda a gente diz, parece ter para nos contar.

Já nem falo, porque não vale a pena, das outras não-surpresas do novo Governo como o tonitroante e abrutalhado barbudo, ou a educadora de jardim de infância hoje investida em tão altas funções; das tremuras e suores frios que me assolam quando me lembro da COVID, da invasão da Ucrânia e da fenomenal equipa designada para dos respetivos impactos nos proteger de outras vicissitudes, perversões, corrupções.

Fica-me, seja como for, a sensação de que o Senhor Primeiro-Ministro pouco tempo terá dedicado a pensar, seriamente, na composição do novo Governo; que terá pagado uns favores a uns, e que, ficando ou entrando, outros lhe terão feito favores; e que, como sempre, as cobaias de todas estas trocas e baldrocas serão... as de sempre.

Uma vez mais, teremos de pagar para ver. Como no poker em que a política, cada vez mais, se transformou.

sábado, 5 de março de 2022


O Antivirus KASPERSKY é Russo! O Minipreço também é Russo!

Se está na altura de renovar a assinatura do seu KASPERSKY, caro Leitor, lembre-se, antes, de qual o país em que foi desenvolvido e é mantido.

DIVULGUE, amplamente, esta mensagem: haverá, por certo, no seu círculo de amigos e correspondentes, muitos a quem não terá ocorrido a tenebrosa associação.

Tal como o KASPERSKY, muitos outros produtos consumidos em Portugal são produzidos na Federação Russa, sendo facilmente identificados pelos três algarismos iniciais 460 a 469 na base do código de barras correspondente a cada um deles.

A fim de evitar beneficiar as contas bancárias dos oligarcas invasores, não se esqueça de verificar, atentamente, cada embalagem antes de comprar.

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O controlo do capital do Minipreço também é russo.

Será que todos os russos são maus, e que devemos penalizar todos pela loucura de alguns? Certamente que não.

Mas, a verdade é que boa parte dos impostos que os russos bons pagam, irão, fatalmente, cair nas mãos dos oligarcas e do seu alucinado chefe máximo; e é, também, verdade que, por muito que alguns russos possam sofrer injustamente com o boicote económico, muito mais sofrem, também injustamente, os ucranianos cujas vidas estão a ser continuamente destruídas, pulverizadas.

Será dever de cada um de nós tudo fazer para que os perpetradores de tão desumana, perigosa e desgraçada ação dela não venham a beneficiar!


quarta-feira, 5 de janeiro de 2022


Jerónimo de Sousa

Jerónimo de Sousa


"O capital não só não tem pátria, como não tem sentimentos, é amoral, e a sua lei suprema é o lucro"

Jerónimo de Sousa*)  
(em Comício)                 
             

Diz isto, ao mesmo tempo que, supostamente, defende o apoio do Estado às pequenas e médias empresas, as mais numerosas representantes do famigerado capital - e que, a propósito, dão emprego à esmagadora maioria dos trabalhadores portugueses. Será que já ninguém tem sentido crítico, no Partido Comunista Português (PCP), para lhe dizer "Olhe lá, Camarada, não é bem assim!", ou já só quem tem patine é que por lá ainda pode opinar?

Ninguém há que lhe diga que, por muito espontâneas, comoventes e emotivas que possam ser, as generalizações baratas nem sempre são muito recomendáveis? Que lhe diga que capital é sempre capital, independentemente da dimensão e das intenções e idoneidade dos seus detentores?

Com cantilenas profundamente eleitoralistas e demagógicas como esta, num país que, embora tímida e ineficazmente, lá vai, pelo menos, procurando enriquecer o nível de instrução dos eleitores, como espera esta gente cristalizada na memória do antigamente*) conseguir evitar uma votação cada vez mais humilhante nas sucessivas eleições? Atacando um imenso tecido empresarial que gera emprego, como irá convencer alguém de que defende os interesses dos trabalhadores?

A coisa está tão negra, que os comunistas de hoje já nem têm, como os de antigamente, a lata de, por muito que desçam, continuar a dizer, cada vez que perdem, que acabaram de ganhar...

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Independentemente das razões por que possa tê-lo feito, é impossível negar o contributo essencial que o PCP teve na motivação das ações que culminariam com a queda da ditadura em Portugal. No entanto, isso apenas adensa o mistério, torna mais patética a teimosia, quanto à insistência em continuar, num estado de negação dificilmente compreensível, a defender o indefensável, ainda que à custa de ter de rejeitar a mais clara evidência e a mais lúcida razão.

Aponta-se à Igreja Católica um indesejável alheamento da realidade ao insistir na difusão de aspetos mais anacrónicos da sua doutrina;  aponta-se, e penso que bem, já que todos os princípios, mesmo os mais sagrados, devem ser formulados - e, mais tarde, reformulados - atendendo ao tempo em que irão ser observados. Mas como explicar e legitimar, então, o ainda maior desfasamento, face à sociedade atual, da doutrina do PCP?

Pouco importando a forma mais ou menos hábil como o disfarçam os programas partidários, a doutrina comunista ortodoxa, propriamente dita, não se limita a sustentar a importância de defender os interesses das classes de trabalhadoras: isso, qualquer partido democrático, inevitavelmente, alardeia, sob pena de nele quase ninguém votar. O que distingue o comunismo puro é a proposta de que se defenda tais interesses pela força das armas, mensagem terrível que, admitamos, será, na sua plenitude, apercebida por muito poucos dos seus mais ingénuos e menos cultos eleitores. Muitos poucos deles quererão andar por aí, de arma em punho, a matar, a fuzilar: votam no Partido por não ver alternativa, por clubismo, ou pelo simples e nada esclarecido hábito de assim votar.

O PCP é, hoje, um partido anódino que tem na cada vez menos eficaz greve a principal forma de luta. Uma vez perdida a paciência ou confrontado com o fim inevitável, deixará, seguramente, de ter como único braço armado uma central sindical: não nos admiremos se a por muitos esquecida ARA (Ação Revolucionária Armada)*), ou alguma descendente mais preparada e sofisticada, vier um dia desestabilizar, ainda mais, este já tão desnorteado Portugal.

(continua aqui)

domingo, 12 de dezembro de 2021


E que tal Fazê-los Pagar a Continha?

Da pusilanimidade e falta de objetividade do Governo de Portugal na gestão da crise pandémica, muito especialmente na altura do Natal, já aqui falei após o descalabro vivido no início deste ano de 2021.

A par de algumas medidas que, na época festiva que se avizinha, se afiguram, à partida, mais avisadas e fundamentadas do que no ano anterior, assistimos, no entanto, a nova demonstração de timidez e omissão governativas, eventualmente devidas à proximidade de mais um ato eleitoral.

Tem isto ao ver com a conclusão expressa em estudos recentemente divulgados segundo os quais, juntamente com os imunodeprimidos, os não vacinados constituem a grande maioria dos internados com COVID-19 em Portugal*); e no Brasil também*), e não é de agora.

Ora, como é sobejamente sabido, a todos os portugueses com idade e nas condições clínicas adequadas, foi, gratuitamente, dada a oportunidade de serem atempadamente vacinados, não apenas no interesse da comunidade, mas no interesse próprio, tão querido a quem tende a pouco querer saber dos outros.

Esquecem-se aqueles que recusaram a vacina de que oportunidade implica responsabilidade, designadamente a responsabilidade económica pela recusa da vacina.

Não parece, assim, fazer qualquer sentido que continue o Estado para o qual economicamente todos somos obrigados a contribuir a suportar os custos com o internamento de indivíduos egocêntricos, medrosos ou apenas ansiosos de protagonismo a qualquer preço, que recusarem vacinar-se, assim acabando, quase inevitavelmente, por apanhar o sempre incómodo, dispendioso e, por vezes, letal bicharoco.

Que o Serviço Nacional de Saúde os trate, acho muito bem. Agora, que todos tenhamos de pagar a continha de uns quantos idiotas que, ainda por cima, comprometem a eficiência e eficácia do Serviço que, desnecessariamente, solicitam já me parece muito além daquele razoável que um governo, por muito pouco razoável, deverá tolerar.

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Em democracia, e por uma elementar questão de justiça, não é lícito tratar igualmente o que não é igual.

Todos fomos postos em pé de igualdade no processo de vacinação. Agora, os benefícios devem ser, também, iguais para quantos foram vacinados, mas bem diferentes para quem recusou a inoculação.


PS: Como já espero reações apatetadas ao texto, aqui transcrevo um elevadíssimo comentário afixado no artigo "Juiz Negacionista ou Advogado Oportunista, que diz bem do que vai na cabeça de alguma desta gente:

    "Prepara-te para um contra ataque em breve do https://forasteiro.net
    Vão ser todos abatidos, tu e o Scimed e mais uns quantos, prometemos.
    A bem ou a força irão ser todos expostos, como vieste ao mundo nú asism o serás em breve.
    Aguarda".

quinta-feira, 25 de novembro de 2021


A como É o Camarão?

A cartelização dos preços parece estar a institucionalizar-se como prática corrente nos hipermercados, supermercados e mercados que tais: os mesmos que passam o tempo a aliciar-nos com cartões de desconto, promoções incríveis, fabulosas ofertas e outros daqueles chavões que a fértil imaginação dos publicitários não cessa de inventar.

Claro que a semelhança entre qualquer cadeia deste tipo e a Santa Casa da Misericórdia não passará de uma miragem aos olhos de alguns. Mas, se esta eticamente discutível estratégia de marketing continua a vingar, não será, certamente, por não ter acolhimento entre os menos esclarecidos fregueses - que são muitos... - que para as suas comprinhas por lá continuam a passar.

Um caso que há anos ocorre e em que nenhuma autoridade parece ter reparado, ou faz vista grossa, é a do preço do quilo de camarão numa destas cadeias que visito com alguma frequência. Não é que aprecie particularmente o petisco, nem é coisa que compre muitas vezes. Calhou, simplesmente, olhar um dia e outro, e aquilo começou a fazer-me alguma confusão.

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Quem estiver atento, por certo reparará que, nessa cadeia de supermercados, em, pelo menos 90% dos dias do ano o preço do camarão de calibre 20/30 está em promoção, descendo, supostamente, de uns catorze euros para um pouco mais de dez, com muito ligeiras variações. A cadeia tem, sempre, o cuidado de escrever na etiqueta do preço "promoção de 15/11/2021 a 30/11/2021", por exemplo. Até aí, nada de mal.

Acontece, no entanto, que, logo no dia seguinte ao do termo da promoção, invariavelmente aparece outra etiqueta com "promoção de 01/12/2021 a 15/12/2021" ou coisa parecida, e assim sucessivamente, numa pretensa promoção infindável e em contínuo ao longo de (quase) todo o ano.

Fica a pergunta: o que é, afinal, uma promoção?

Parece legítimo assumir que por promoção se entende uma campanha destinada a promover pontualmente um produto novo; ou, pelo menos, um que registe uma quebra significativa nas vendas, caso em que, pela via da baixa de preço, se pretende voltar a captar o interesse do mercado, dessa forma chamando a sua atenção. Seria razoável, parece-me, que uma verdadeira promoção como estas, estivesse limitada a, digamos, uns 15% ou 20% por cento dos dias do ano, assim se evidenciando, de forma inequívoca, que de uma ação pontual se tratava, e não de uma verdadeira armadilha para atrair clientes distraídos ou menos informados para um produto cujo preço habitual é, afinal, o da  dita promoção, assim não constituindo esta qualquer situação de exceção.

A contínua baixa de preço ao longo do ano tem, como único efeito, o de simular condições pontualmente favoráveis que, afinal, não existem, visando o promotor unicamente induzir em erro o consumidor, indiscutivelmente burlá-lo de forma despudorada, apelando ao muito lusitano querer ser  o tal chico esperto que aproveitou uma grande promoção

Seria, assim, como uma Black Friday todos os dias. O Paraíso!

Claro está que não acontece apenas com o camarão. São, pelo menos, dezenas os produtos que nessa cadeia  - e, provavelmente, em outras... - passam praticamente todo o ano em promoção, como é o caso escandaloso de certos vinhos tintos que parecem já ter nascido com 65% de desconto, e estão, há vários anos, nessa fantástica... promoção.

Os funcionários das autoridades competentes não costumam ir ao "super"? Andam distraídos? Ou acham absolutamente normal este tipo de manipulação?

Ou andará por aí alguma outra motivação?

* *

Não é nova, esta questão das promoções mal pensadas ou pensadas à revelia de certos princípios que todos gostaríamos de ver seguir.

Exemplos não faltam, como alguns relativamente recentes encontrados aqui e ali.