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domingo, 28 de agosto de 2022


Ponta Delgada: Campo de São Francisco

 

Campo de São Francisco - Ponta Delgada


Ponta Delgada - Campo de São Francisco
Imagem: Google                                   


Ponta Delgada "está situada ao longo da costa, em terreno plano e aprazivel, nas margens d’uma enseada formada por dois cabos chamados Ponta da Galé e Ponta Delgada, que deu o nome á cidade. A este segundo cabo lhe chamam também Ponta de Santa Clara, por causa d'uma ermida d’esta invocação, que se edificou ali ha muitos annos (...).

O seu porto, muito desabrigado dos ventos do quadrante do sul, é defendido pela fortaleza de S. Braz, construida em 1552, e pelos fortes de S. Pedro e de Rosto do Cão. A ilha começou a povoar-se, por ordem e diligencias do infante D. Henrique, em 1445. N’essa epoca. Ponta Delgada não passava d'um simples logar, sujeito á jurisdicção de Villa Franca do Campo, que era a capital da ilha, porém, pelas vantagens da sua posição, começou a desenvolver-se e a ampliar-se, principalmente depois do anuno de 1480 e os seus habitantes, em vista d’esta prosperidade, revoltaram se contra a tutela, que lhes impunham, dando origem a successivos conflictos com os habitantes da capital. Para acabar com esses conflictos, el rei D. Manuel resolveu attender as suppiicas que lhe dirigiam os habitantes de Ponta Delgada, que pretendiam a sua independencia, e no anno de 1499 erigiu a povoação em villa.

Houve na ilha de S. Miguel um grande terremoto em 1522, que sepultou a maior parte de Villa Franca do Campo debaixo dos montes do Rabaçal e Louriçal, sendo até transferida a alfandega para Ponta Delgada, que também soffreu grande ruina. N’essa catastrophe morreram perto de 5:000 pessoas. Ponta Delgada restaurou se depressa, graças aos esforços dos seus moradores, e novamente começou a prosperar, no obstante as representações da camara municipal do Villa Franca do Campo, que durante
algum tempo reclamaram contra esta alteração, vendo que aquella villa ia caindo em grande decadência. El rei D. João Ili, por carta regia de 2 de abril de 1546, a elevou á categoria de cidade e de capital da ilha. Os vulcões de João Ramos e do Paio, que rebentaram em 1552, e o do Pico do Sapateiro, que rebentou em 1563, vomitando por muitas vezes torrentes de lavas abrazadoras, produziram abalos de terra, que prejudicaram, mais ou menos, todas as povoações da ilha (...).

Em 1839 padeceu a cidade de Ponta Delgada um fiagello de outro genero, mas não menos horroroso e devastador. O mar, agitando-se e crescendo de improviso, arremessou-se contra a cidade com tal fúria, que derrubou o paredão que abrigava o porto do areal de S. Francisco, e a praça da feira do gado; fez consideráveis estragos no castello de S.Braz e n’outras fortificações, na alfandega e caes contiguo, arruinando também muitas casas e armazéns particulares (...).

A entrada na praça do Município, indo ao lado do mar, é formada por tres arcos contíguos, tendo na frente a egreja matriz, consagrada a S. Sebastião, a qual é um templo vasto, que sem ser majestoso, não é, comtudo, uma egreja vulgar, antes se recommenda pelos bellos ornatos das suas portas manuelinas, e pela sua torre quadrangular, erguida á direita e terminando em eirado, como se nota em quasi todas as egrejas da ilha de S. Miguel. N’essa torre existe um relogio, que é considerado um verdadeiro padrão pela importância dos seus machinismos. Foi legado pelo negociante Nunes da Silva, que entre as disposições umanitarias que o tornaram benemerito de Ponta Delgada, destinou 10 contos de réis para a egreja matriz ser dotada com o referido relogio(...).

O Theatro Micbaelense é um vasto edifício de boa apparencia, situado na parte oceidental da cidade, no local da antiga parochia de S. José. Foi construido por algumas pessoas influentes que constituiram uma sociedade por acções na importância de 40 contos de réis. Tem bella sala com 52 camarotes, galeria, platéas e fauteuils; café e salões de passeio. Inaugurou-se em 2 de junho de 1864 com um concerto, sendo enorme a concorrência, que enchia completamente o theatro. No anno seguinte, a 25 de março, estreou-se uma companhia dramatica, que deu uma serie de recitas. Aquelle theatro tem sido explorado por diversas companhias dramaticas e liricas, portuguezas e italianas, hespanbolas, etc. O Club Michaelense é também um vasto edifício, situado no bairro central da cidade, sendo os seus elegantes salões sempre muito frequentados pelas pessoas da primeira sociedade michaelense(...).

O principal commercio do concelho é álcool, ananazes, assucar, cereaes, chá, laranja e gado. A cultura do chá na ilha de S. Miguel foi um importante serviço prestado à agricultura. Na cidade de Ponta Delgada está estabelecida a Sociedade Promotora da Agricultura Michaelense. Esta sociedade, no seu louvável empenho de desenvolver a industria local, procurando a exploração de qualquer produto que fizesse florescer nos Açores, pensou em janeiro de 1843 na cultura e fabricação do chá, que tem sido uma das riquezas do império chinez. Na ilha de S. Miguel julga-se ter sido introduzida esta planta em 1833, anno em que foi trazida do jardim botânico do Rio de Janeiro. E’ de presumir, porém, que já antes se cultivava na ilha; pelo menos, nos Açores, a sua cultura data de 1801, em que o governador das ilhas mandou ao governo algumas plantas d’aquelle arbusto, que vegetava admiravelmente na ilha Terceira. Iniciada a idéa de explorar o chá na ilha de S. Miguel, e vencidos os embaraços pelo lado de meios pecuniários, foram contratados em Macau, a 13 de novembro de 1877, em nome do presidente da referida sociedade agricola, o fallecido conde da Praia da Victoria, dois chinas para irem á ilha ensaiar e ensinar a fabricação e cultura do chá. O enthusiasmo foi tal, que os michaelenses promoveram entre si uma subscripção para auxiliar as despezas a cargo da prestante e emprehendedora collectividade. Os chinas chegaram a Lisboa no transporte portuguez África, seguindo d'aqui para a ilha de S. Miguel no paquete Luso, chegando a Ponta Delgada a 5 de março de 1878. A sociedade já tinha montado convenientemente uma fabrica para a exploração do chá, começando os ensaios logo a 15 do referido mez de março. A apanhada folha para as primeiras experiencias fez-se em arbustos existentes na villa da Ribeira Grande, e nos logares do Pico da Pedra, Porto Formoso, Capellas e outros. O producto de toda a fabricação considerada como ensaio, foi de 8 k. de chá verde e 10 de chá preto. A sociedade agricola encarregou um seu empregado de estudar o fabrico do chá, e nomeou uma commissão para dirigir estes trabalhos. A sociedade agricola e o seu empregado fizeram executar vários processos descriptos por autores, taes como: Fr. Leandro do Sacramento, que publicou em 1824 uma memória no Rio de Janeiro, impressa na ilha em 1879, e os escriptores inglezes: Samuel Ball e Money. A conselho dos chinas, a sociedade mandou vir em 1878 plantas para aromatizar o chá verde; vieram do Macau a Jasminum grandiflorum ou Vambac, e malva vaccionides. Não chegaram, porém, a ser utilisadas na labricação. Na primavera de 1879, em que continuaram os ensaios, fabricou-se cerca de 70 k. de chá, na sua maioria preto. A variedade era: preto, verde, ponta branca e o chamado do povo. Sobre as primeiras experiencias publicou um relatorio a commissão encarregada de as dirigir, e nomeada pela Sociedade Promotora da AgricuBura Michaelense, em 5 de fevereiro de 1879. As experiencias a que depois se procedeu, deram sempre os melhores resultados, e hoje o fabrico do chá é uma das industrias mais importantes da ilha de S. Miguel".

Esteves Pereira e Guilherme Rodrigues,
in "PORTUGAL - Diccionario Historico, Chorographico, Heraldico, Biographico, Bibliographico, Numismatico e Artistico" -
- vol.V, pág.862-868 - João Romano Torres & C.ª - Lisboa, 1911

quarta-feira, 24 de agosto de 2022


Tróia - Travessias de Ontem e de Hoje

 

Tróia - Ferry de Antigamente

"Quando uma povoação perde a sua remota origem na, noite dos tempos, é não só difficil, mas impossível, marcar-lhe a época da sua fundação, e o nome do seu fundador, pois tudo se acha envolvido em hypotheses e opiniões, mais ou menos fundamentadas, e em fabulas, qual d'ellas mais absurda. Est circumstancia se dá em Setúbal, assim como em Lisboa, Porto, Braga, Coimbra, Santarém, Villa Nova de Portimão, Faro, e outras muitas cidades e villas, como temos visto em muitos logares d'esta obra. 

Estou porem persuadido que a actual cidade de. Setúbal, não é tão antiga como muitos escriptores pretendem; porque — a cidade a que Cláudio Ptolomeu Alexandrino dá o nome de Caetobrix — Antonio Augusto, Catobriga — Marciano Heracleota, Castobrix — e o anonymo Ravenate, Cetobrica — era indisputavelmente na margem esquerda do Sádo, em frente da actual Setúbal, e no sitio hoje chamado Tróia. Esta sim, que era antiquíssima, e, com toda a probabilidade, fundação dos phenicios".

Pinho Leal, in "Portugal Antigo e Moderno" - Vol.9 pág.205
Livraria Editora de Mattos Moreira & Companhia - Lisboa, 1880


Tróia - Ferry Boat
Imagem: Atlantic Ferries


sexta-feira, 19 de agosto de 2022


Figueira de Castelo Rodrigo

Postal Antigo de Figueira de Castelo Rodrigo

"Villa. Beira Baixa, comarca e 18 kilometros de Pinhel, 345 ao NE. de Lisboa, 250 fogos, 800 almas. No concelho 2:450 fogos.

Em 1757 tinha a villa e freguezia 157 fogos. Orago S. Vicente, martyr. Bispado de Pinhel, districto administrativo da Guarda. O papa e o bispo apresentavam alternativamente o vigário, que tinha 70.000 réis e o pé d'altar.

Esta Villa era uma aldeia (e freguezia) do concelho de Castello Rodrigo, porém esta Villa, pela asperesa da sua posição, foi decahindo, ao passo que a Figueira ia prosperando; pelo que esta foi elevada á cathegoria de villa em 23 de junho de 1836, e para aqui mudada a capital do concelho n'esse mesmo anno. Os foraes e mais honras, foros, privilégios e armas de Castello Rodrigo, são hoje as d'aqui.

É terra fértil. O concelho da Figueira é composto de 14 freguezias, todas no bispado de Pinhel. São: Algodres, Almofalla, Castello Rodrigo, Esealhão, Escarigo, Figueira, Freixêdo do Torrão, Matta de Lobos, Penha d'Aguia, Quinta de Pêro Martins, Valle d'Affonsinho ou de Affonsim Vermiosa, Villar Torpim e Villar d'Amargo".

Pinho Leal, in "Portugal Antigo e Moderno" - Vol.3 pág.186-187
Livraria Editora de Mattos Moreira & Companhia - Lisboa, 1874

Postal Recente de Figueira de Castelo Rodrigo
Imagem: https://encrypted-tbn0.gstatic.com                          

segunda-feira, 8 de agosto de 2022


São Miguel de Seide - Casa de Camilo e Acácia do Jorge

 Casa de Camilo e Acácia do Jorge


"Pov. e freg. de S. Miguel, da prov. do Minho, conc. e com. de V. N. de Famalicão, distr. e arceb. de Braga; 77 fog. e 210 hab. Tem esc. do sexo masc. e está situada a 4 k. da margem direita do rio Ave e a 6 da séde do conc. A terra é fértil e cria muito gado bovino, que exporta para Inglaterra. Pertence á 13.ª div. mil. e ao distr. de recrut. e res. n.º 8, com a séde em Braga. Era n'esta pov. a quinta de S. Miguel de Seide, onde durante muitos annos residiu o grande romancista Camillo Castello Branco, visconde de Correia Botelho, e foi alli que elle se suicidou em junho de 1890 ".

Esteves Pereira e Guilherme Rodrigues,
in "PORTUGAL - Diccionario Historico, Chorographico, Heraldico, Biographico, Bibliographico, Numismatico e Artistico" -
- vol.VI, pág.785 - João Romano Torres & C.ª - Lisboa, 1912

Leia aqui a opinião de Camilo sobres as cidades

terça-feira, 26 de julho de 2022


INATEL Oeiras


Para os que ainda são do tempo em que um motel era uma unidade de alojamento,
aqui fica um postal com algumas imagens do atual INATEL Oeiras
quando ainda se chamava
Motel Continental

Inatel Oeiras

"A pov. é muito antiga, mas não se sabe quando foi fundada, nem o nome do fundador, desconhecendo-se também a data em que se formou a parochia (...).

Oeiras era apenas uma aldeia, grande e muito bem situada. Em 6 de junho de 1759 D. José I, elevando o seu primeiro ministro, Sebastião José de Carvalho e Mello, a conde de Oeiras de juro e herdade, e seus irmãos a secretários de Estado, deu a esta povoação a categoria de villa, por um alvará passado logo no dia seguinte, 7 de junho. Desde então começou para a nova villa uma epoca de esplendor e desenvolvimento, mas por morte do seu primeiro conde, mais tarde marquez de Pombal, ficou estacionaria. O referido monarcha deu foral a Oeiras, no paço d'Ajuda, a 25 de setembro de 1760. Esta villa é das poucas terras portuguesas que têm foral novissimo, isto é, dado pelos successores d'el-rei D. Manuel(...).

A praia de Oeiras é bastante concorrida na estação balnear por familias de Lisboa e d'outras localidades. À beira mar formou-se ha poucos annos uma nova estancia balnear muito aprazivel, chamada Santo Amaro. Tem-se edificado ali ultimamente elegantes chalets, e tem estação na linha de caminho de ferro de Cascaes, que fica entre as de Paço d'Arcos e Oeiras (...).

El-rei D. José, no verão dos annos de 1775 e 1776, habitou com toda a côrte n'aquelle majestoso palacio [da quinta "que se prolonga do Norte ao Sul"] para poder fazer uso todos os dias dos banhos do Estoril, que ficavam próximos. O marquez de Pombal, titulo que já havia recebido em setembro de 1769, aproveitou a permanência do monarcha no seu palácio, ne epocha mencionada, para lhe offerecer um espectaculo, fazendo-lhe vêr os resultados praticos das sabias reformas empreendidas no seu reinado, e mostrar aos portugueses e aos estrangeiros os progressos que Portugal fizera e os recursos que a sus industria promettia, respondendo assim com factos demonstrativos da prosperidade publica ás accusações e calumnias dos inimigos. Determinou então que se fizesse em Oeiras uma grande feira, onde concorressem productos de todos os generos da industria fabril portugueza, e para este fim foram enviadas circulares ás autoridades de todas as provincias do reino, ordenando que intimassem os donos da fabricas a virem armar barracas em Oeiras, e n'ellas expuzessem á venda os diversos productos da sua industria. Ninguem faltou á intimação, e a feira teve um exito completo, que foi uma verdadeira exposição de tudo quanto se fabricava então em Portugal, e assim teve a villa d'Oeiras a honra de vêr dentro dos seus muros a primeira exposição industrial que se realisou em Portugal, e provavelmente a primeira que se effetuou na Europa".

Esteves Pereira e Guilherme Rodrigues,
in "PORTUGAL - Diccionario Historico, Chorographico, Heraldico, Biographico, Bibliographico, Numismatico e Artistico" -
- vol.V, pág.182-184 - João Romano Torres & C.ª - Lisboa, 1911



sábado, 9 de julho de 2022


Vila Verde

Vila Verde - Campo da Feira

Imagem: Wikipedia

"Villa Verde, a séde d'esta parochia, d'este concelho e d'esta comarca, é uma povoação muito antiga, alegre, vistosa, bem situada e bem servida por estradas a macadam de toda a ordem; tem um bom largo para as suas grandes feiras,— bons estabelecimentos commerciaes e bons edifícios entre os quaes avultam os seus novos e magestosos paços do concelho;— é finalmente uma povoação de muita vida e muito importante(...), e mais importante será em praso breve: mas toda a sua importância data de 1855, ou da creação d'este grande concelho pelo decreto de 24 d'outubro do dicto anno. 

Até áquella data esta villa pertenceu ao extincto e antiquíssimo concelho de Villa Chã, que soffreu diversas modificações desde a sua creação até que foi extincto pelo decreto de 24 d'outubro de 1855, passando para este de Villa Verde, com outras muitas, as 9 freguezias que o constituíam e eram as seguintes:— esta de Villa Verde e as de S. Miguel e S. Thiago de Carreiras, Doçãos, Nevogilde, Esqueiros, Travassos, Loureira e Barbudo, hoje extincta e annexa á de Parada. 

Em 1706 já Villa Verde tinha uma importante feira no dia 13 de cada mez e suppomos que era a séde do concelho de Villa Chã, villa e povoação antiquíssima, outr'ora muito honrada e privilegiada(...).

Feiras
1.a — Annual em Villa Verde, no dia de Santo Antonio, 13 de junho. 
2.a — Annual na mesma villa, a 13 de dezembro, dia de Santa Luzia. 
3.a — Annual em Pico de Regalados nos dias 6, 7 e 8 de novembro. 
4.a — Annual em Prado, nos dias 20 e 21 de janeiro. 
5.a — Annual em Prado também, nas sextas feiras de quaresma. 

Para gado somente
6.a— Annual na freguezia de Duas Egrejas, nos dias 11 e 12 de dezembro, denominada feira de Santa Luzia de Penella. 

Para gado muar e cavallar somente
7.a — Bi-mensal ou de 15 em 15 dias, em Villa Verde, aos sabbados. 
8.a — Bi-mensal também aos sabbados e alternada com a feira supra, no Pico de Regalados, de 15 em 15 dias. 
9.a — Mercado de diversos géneros na freguezia de Rio Mau, em todos os domingos posteriores ás feiras de Villa Verde.

- x -

Pela sua população e riqueza e pelas intimas relações que o prendem aos de Amares e Terras de Bouro, que formam a grande comarca de Villa Verde ou por assim dizer um todo, são estes tres concelhos os mais desordeiros e revolucionários de todo o nosso paiz.

Tem havido n'estes 3 concelhos grandes desordens, verdadeiras batalhas, muitas mortes e ferimentos, sendo necessário por vezes intervir a força armada, grandes destacamentos e batalhões inteiros! E não hesitam em reagir contra a mesma tropa os homens e as mulheres, como succedeu na revolução de 1846 a 1847, na qual as mulheres d'este districto de Braga, nomeadamente as d'estes tres concelhos e dos de Vieira e da Povoa de Lanhoso, tanto se distinguiram, que a dita revolução tomou o nome de Maria da Fonte, virago minhota, que se tornou lendária! 

Differentes concelhos e freguezias disputam a gloria de lhe terem dado o berço, mas já hoje não se sabe com ceríesa qual foi a sua terra natal (...).

São muito vivas n'estes povos do Minho as crenças religiosas, pelo que uma grande parte das maiores desordens a que se teem abalançado, expondo o sangue e a vida, provieram de bem ou mal entendidas affrontas ás suas crenças, por não lhes permittirem os enterramentos nas egrejas, obrigando-os a fazerem as inhumações em adros abertos, na falta de cemitérios locaes. 

Por vezes não foi necessário mais nada para immediatamente subirem aos campanários dos sinos da paroehia, onde se dava o conflicto, e tocarem a rebate. O mesmo toque se repetia instantaneamente nas parochias circumvisinhas, por serem muito próximas e não haver entre ellas as grandes distancias que se notam em outras provincias, nomeadamente na do Alemtejo. 

O povo — homens e mulheres, — acudia logo em chusma e armado; as mulheres tomavam sempre a iniciativa e, — mesmo na presença das auctoridades— tractavam de sepultar o cadáver na egreja. As auctoridades reclamavam força; — intervinham então os homens — e por vezes a tropa e as auctoridades foram de vencida na lucta; mas por vezes também a tropa, quando se achava em força superior, obrigava o povo a ceder, sendo porém raro terminar o conflicto sem fogo, pancadaria, ferimentos e mortes — em ambos os campos !..."

Pinho Leal, in "Portugal Antigo e Moderno" - Vol.11 pág.1103-1107
Livraria Editora de Tavares, Cardoso & Irmão - Lisboa, 1886

sábado, 25 de junho de 2022

quinta-feira, 16 de junho de 2022

quinta-feira, 9 de junho de 2022


Santo Tirso - Igreja Matriz e Convento Beneditino

Santo Tirso - Igreja Matriz e Convento Beneditino

"O antigo nome d'esta freguezia era Santa Maria Magdalena; só no principio d'este século é que se denominou Santo Thyrso. Este concelho denominava-se Refojos de Riba d'Ave (...)


Fonte da imagem: Fine Art America

No dia 24 de fevereiro de 1875, sentiu-se n'este concelho, no de Villa do Conde, e em outras povoações circumvisinhas, um violento tremor de terra, das 8 para as 9 horas da manhan. Durou um minuto. Foi mais sensível em Santo Thyrso, abalando algumas casas. Não morreu pessoa alguma (...)

O principio d'este mosteiro remonta a uma antiguidade remotíssima, pois, segundo alguns escriptores, foi na sua origem templo romano; e aqui foi sepultado Silvano, capitão de uma legião romana, como adiante veremos. 

Não se sabe quando passou a egreja catholica, e quando se fundou o edifício do mosteiro benedictino, duplex, mas com certeza já existia no tempo dos suevos. Conjectura-se que o seu fundador foi S.Fructuoso; mas, segundo outros foi S. Martinho de Dume, que viveu no 6.° século.

Ignora-se se os monges o abandonaram em 716, ou se, mediante aigum tributo, os mouros consentiram n'eIle o culto catholico: o que se sabe é que em 927, D. Alboazar Ramires, filho de Ramiro lí, de Leão e sua mulher, D. Helena Godins, achando o mosteiro bastante arruinado o reedificaram, dotando-o com boas rendas (...). 

Em 1569, D. Frei Pedro de Chaves, por ordem da prineeza D. Joanna, mãe do rei D. Sebastião o reformou; e foi o primeiro da reforma. 

A frente da egreja do mosteiro, que é a matriz da freguezia, deita para um largo espaçoso, tendo no contro um elegante cruzeiro de mármore côr de rosa. 

É um templo vasto e magnifico, construído com grande solidez. 

O claustro é a parte mais antiga de todo o edíficio. Tem 27 metros de comprido, por 25 de largo. Os seus quatro lanços são abertos em arcos, sustentados por 122 duplas columnas, cujos capiteis mostram em grosseiros relevos, cabeças de mouros, harpias, leões, e differentes ornatos, todos variados, de modo que se não acham dous eguaes. 

No centro ha um elegante chafariz de pedra, com bôas esculpturas, obra do principio do século passado. 

A galeria superior do claustro pertence á reedificação geral do mosteiro, que principiou pelos annos 1650. A inferior é manifestamente obra do século XII ou XIII. 

Foi. o architecto Frei João Turreano, monge benedictitio, quem delineou e dirigiu esta reconstrucção. Foi também este monge o architecto da reconstrucção do mosteiro de freiras de Odivellas; o novo de Santa Clara de Coimbra; o da Estrella (Estrellinha - hospital militar) de Lisboa, e outras obras. 

Os frades eram todos tão estúpidos!... 

Depois de 1834, foi vendida a cêrca e parte do ediflcio do mosteiro,; sendo o resto (só a parte que defronta cora o adro) destinado para o tribunal das audiências do juiz de direito, administração do concelho e suas dependências. 

Quando se andava reedificando a egreja (1650) se achou embutido em uma das suas paredes, um sepulchro de pedra, ainda inteiro, contendo cinzas. Tinha esculpidas as águias imperiaes, e por baixo d'ellas esta inscripção:

L. VALERIVS SILVANVS MILES LEG. VI VIXIT VIRIATO. 

(Lucio Valério Silvano, militar da 6. legião que venceu Viriato.)"


Pinho Leal, in "Portugal Antigo e Moderno"
Livraria Editora de Matos Moreira & Companhia - Lisboa, 1878 - vol.8, págs 609-612




Afinal, Deus existe mesmo, ou não passa de pura invenção de um ser humano que desespera com a efemeridade da sua existência?

NÃO PERCA uma reflexão lógica, fundamentada, sobre o tema porventura mais elementar e decisivo da vida humana.





A existir um deus, será ele o representado
no teto da Capela Sistina? Jeová? Alá? Manitou?
Ou nenhum destes?

segunda-feira, 30 de maio de 2022


Vila Viçosa

Vila Viçosa - Vila Ducal
Vila Viçosa Hoje

As imagens não deixam dúvida: Vila Viçosa está muito mais arborizada hoje do que nos tempos idos em que a fotografia do postal foi obtida.

Quanto ao mais, quem a visitar encontrará uma vila que, sem prejuízo de uma equilibrada evolução, soube conservar a traça e o ritmo que se esperaria encontrar numa terra de tão grandes tradições, impossível de separar de trechos inesquecíveis da História de Portugal.

Existe, todavia, uma espécie de crendice primária de que enfermam os espíritos de certos autarcas que os leva a procurar compensar eventuais défices de competência técnica e política com tiradas tonitroantes para consumo da comunicação social, levando-os a nem se aperceber, não apenas do porventura irreversível erro de julgamento que a elas subjaz, como da figura triste que acabam por fazer perante quem sobre estes assuntos quiser pensar, a par da indiferença daqueles a quem já parece que nada, além do vício das redes sociais, poderá interessar.

Vai daí, que Vila Viçosa anunciou, recentemente, a intenção de propor à Assembleia da República a sua elevação a cidade *), a fim de garantir "mais valias, quer ao nível do acesso a determinados fundos comunitários locais ou regionais, como ao nível de fundos diretamente em Bruxelas". Nas palavras do recém-eleito Presidente da Câmara, "o ser elevado a cidade é um reconhecimento que da Assembleia da República, que reconhece a evolução de Vila Viçosa, reconhece a sua importante e relevante história, o seu enorme património, e acha que é uma terra com grande relevo para o país. É no fundo, reconhecer a nossa identidade como uma terra que cresceu, que evoluiu, que tem história e que tem relevância".

Entende, assim, o ilustre entrevistado ser necessária a elevação de Vila Viçosa a cidade para que a Assembleia da República reconheça o seu importante passado - o que não passa de um rematado disparate -; e para que lhe reconheça a grande relevância presente, quiçá esquecendo-se ou procurando fazer esquecer que tal relevância terá sido conquistada em sucessivas presidências de câmara do Partido Socialista e do Partido Comunista Português (PCP), já que, consultados os dados oficiais, o Partido Social Democrata a que o atual primeiro autarca pertence não elegia um presidente desde os idos de 1993.

Eis-nos, pois, perante um flagrante caso de aproveitamento político daquilo que, durante décadas, os adversários derrotados vieram fazendo muito antes de nós.

Além do mais, não será despiciendo perguntarmo-nos até que ponto será necessária a elevação a cidade para que uma terra progrida, tendo em conta os casos, entre outras, das vilas de Cascais e de Oeiras, caracterizadas pela teimosia em permanecer vilas sem que tal haja, aparentemente, beliscado, mesmo ao de leve, a sua fulgurante expansão e projeção internacional nas áreas que lhes são de interesse.

Não terá, então, a evolução de uma vila muito mais a ver com a competência e dedicação dos seus autarcas do que com os títulos, com os estatutos a que procura ascender? Sobretudo quando a proposta do PCP de realização de um referendo municipal sobre o assunto foi preterida pela da maioria que impõe que a candidatura a cidade avance, quer a população queira, quer não.

Vamos, assim, ter a Cidade de Vila Viçosa, uma gota de água quando comparada com as cidades de Nova Iorque, de São Paulo, de Tóquio, de Paris e, mesmo, do Porto ou de Lisboa, num país que, de tão ridiculamente pequenino que é - mais nas mentalidades do que no território - até tem cidades com menos de 2000 habitantes, graças à demagogia de certos governos e à necessidade de rapar o tacho dos votos até gastar o teflon.

Auri sacra fames, o que importa é a captação de fundos*) para mais umas rotundas, uns parques infantis, enfim, para aquilo a que as mentes pequeninas chamam desenvolver o que resta das vilas históricas portuguesas, esquecendo-se - ou nem notando... - que, muitas vezes, desenvolver é sinónimo de estragar.

terça-feira, 10 de maio de 2022


Cascais: Praia da Ribeira


Irreconhecível, claro.

Nem um edifício daqueles que o postal mostra se encontra, hoje, de pé.

Também lá não existia, dominando a baía, o Palacete Seixas*), da autoria de Norte Júnior, edificado em 1920,
e no qual se encontra atualmente instalada a Capitania do Porto de Cascais*),
o que situa, em data anterior, a fotografia reproduzida neste postal,
no qual é possível apreciar a combinação da atividade piscatória com a prática balnear.

domingo, 24 de abril de 2022


Aljubarrota: Estalagem do Cruzeiro SSAP


Hoje destinada ao alojamento de beneficiários dos Serviços Sociais da Administração Pública *) ( SSAP ), a Estalagem do Cruzeiro foi, em tempos, uma unidade hoteleira de referência na região.

Aqui fica, a título de lembrança, este velho postal...

quinta-feira, 14 de abril de 2022


Braga: A Arcada

 

Situada na Praça da República, a Arcada*) é um dos mais emblemáticos edifícios da Cidade.

Sacrificada aos imperativos da desejada rentabilidade e da implacável moda, a vista desafogada que o postal velhinho nos mostra foi, entretanto, substituída pelos inevitáveis mamarrachos típicos do desenvolvimento de aglomerados que, alguns dos respetivos ex libris, com a dignidade devida não souberam conservar.

sexta-feira, 8 de abril de 2022


Figueira da Foz: Praça 8 de Maio

 


A praça evoca a data do desembarque, em 1834, das tropas constitucionais, em Buarcos*), tendo a guerra civil*) entre miguelistas e liberais terminado dias depois, com a assinatura, a 26 de Maio, da Convenção de Évoramonte.

Também conhecida por Praça Nova*), é uma das principais artérias da Cidade.


domingo, 3 de abril de 2022


Matosinhos: Rua de Brito Capelo

Rua de Brito Capelo, em Matosinhos

"

"Dá-se a este concelho a denominação legal de concelho de Bouças, em rasão da villa d'este nome, que existe na freguezia de Mattosinhos. Pretendem alguns, que antigamente só existia a freguezia de Bouças e que Mattosinhos não era mais do que uma aldeia d'esta parochia; e tanto que ao Senhor de Mattosinhos se dava o nome de Bom Jesus de Bouças. É certo, porém, que o Portugal Sacro e Profano, publicado em 1757, traz a freguezia de Mattosinhos e não traz a de Bouças. 

O concelho de Bouças é composto das 13 freguezias seguintes : Aldoar, Custoias, Guifões, Infesta, Labrúge, Lavra, Léça-dò-Bailio, Leçada-Palmeira, Mattosinhos, Nevogilde, Perafita, Ramalde, e Santa Cruz do Bispo. Todas estas freguezias, no bispado do Porto". 

Pinho Leal, in "Portugal Antigo e Moderno"
Livraria Editora de Matos Moreira & Companhia - Lisboa, 1875 - vol.5, pág 134

segunda-feira, 28 de março de 2022


Ericeira: A Praia dos Ouriços

Ericeira, praia dos ouriços

"Seu nome provem-lhe de muitos ouriços do mar que ha na sua costa, aos quaes antigamente se chamava eyriço. Até as suas armas são um ouriço do mar, em campo de prata. Mas no chafariz que fica ao S. da villa, e que foi construído no melado do XV século, reconstruído em 1828, estão como armas da villa — um caranguejo em campo branco. (Talvez fosse ignorância do canteiro fa- zendo um caranguejo cm logar de um ouriço.) Outros dizem que antigamente se dava o nome de eyriço ao earangueijo)(...).

Foi senhor d'eta villa, D. Antonio I, prior do Crato (...). Foi praça d'armas marítima e tem um forte, hoje desguarnecido.

Este forte foi mandado construir por D. Pedro 11, pelos annos de 1700. Está bem conservado. A qui desembarcou, em 1589. D. Antonio I, com parte das tropas inglezas que lhe deu a rainha Isabel (desembarcando o resto em Peniche) para arrancar das garras do matreiro Philippe II o reino de Portugal, que este havia usurpado. Tendo porem D. Antonio feito um vergonhoso tratado com aquella rainha, pelo qual Portugal ficava sendo uma colónia ingleza, o povo (que sabia isto) não se moveu a favor d'este pnncipe infeliz, que teve de abandonar a empreza, reembarcando em Cascaes, e não tornando a tentar fortuna, para recuperar a coroa.

Ainda que a Ericeira seja, como é, uma povoação muito antiga, não ha noticia da sua origem, nem tem vestígio algum d'anti- guidades. Posto que esta villa seja pequena, é muito aceiada, as ruas são muito bem calçadas, as casas muito bem caiadas e interiormente muito limpas. É muito farta de géneros alimentícios, óptima fructa, excelleate e muito peixe, e tudo barato. A agua é que não é lá muito boa, e a gente riea d'aqui, a manda buscar á Tapada de Mafra (a 100 réis cada cântaro)".

Pinho Leal, in "Portugal Antigo e Moderno"
Livraria Editora de Matos Moreira & Companhia - Lisboa, 1874 - vol.3, pág 43

domingo, 27 de fevereiro de 2022


Funchal: Rua do Aljube

 

Funchal: Rua do Aljube

Aljubes eram cárceres clericais, tendo o do Funchal sido inaugurado em meados do séc.XVII.
De alguma forma contrastando, a Rua do Aljube situa-se numa zona que chegou a ser uma das mais abastadas da Cidade.

Parte dela é dominada pela Sé Catedral (à direita, na imagem).

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2022


Lamego: Igreja de Santa Cruz e Quartel de Infantaria 9

 

Lamego: Igreja de Santa Cruz e Quartel de Infantaria 9

Convento "de eremitas de Santo Agostinho (gracianos). Fundado pelo dr. Francisco d'Almeida Cabral. Hoje quartel do regimento de infanteria n." 9 (quartéis de Santa Cruz). (...) Ao S. da cidade, e pouco distante do templo dos Remédios, está o convento de Santa Cruz, hoje quartel de infanteria n.° 9. Em frente d'este quartel, está um vasto e bello terreiro, orlado de arvores, chamado Largo de Santa Cruz. Foi feito pelos soldados de infanteria 9, por iniciativa do sr. José Manuel da Cruz, coronel commandante do regimento; que muito fez para levar avante esta obra : levou 18 annos a fazer (desde 1846 até 1864) que tantos foi o sr.Cruz commandante d'este regimento".

Pinho Leal, in "Portugal Antigo e Moderno"
Livraria Editora de Matos Moreira & Companhia - Lisboa, 1874 - vol.4, págs 36-37




Afinal, Deus existe mesmo, ou não passa de pura invenção de um ser humano que desespera com a efemeridade da sua existência?

NÃO PERCA uma reflexão lógica, fundamentada, sobre o tema porventura mais elementar e decisivo da vida humana.





A existir um deus, será ele o representado
no teto da Capela Sistina? Jeová? Alá? Manitou?
Ou nenhum destes?

sexta-feira, 28 de janeiro de 2022


Arrábida: A mais alta serra do Alentejo

 

Portinho da Arrábida

"ARRÁBIDA — a mais alta serra do Alemtejo, comarca de Setúbal, a Thebaida dos capuchos arrabidos. E' composta de pedra calcarea e termina no Cabo do Espichel, onde está, junto á praia, a gruta de Santa Margarida, que tem formosas stalatites e stalagmites. Tem 640 metros acima do nivel do mar. E' palavra árabe, Arrabdá, significa habitação de gado, logar de pastagem. Dizem alguns que o nome actual d'esta serra vem do latim, Rábidus; alludindo â braveza e raiva com que o mar aqui bate na costa. Outros, finalmente, derivam este nome da antiquíssima cidade de Arábriga, que existiu na raiz da serra, entre Setúbal e Gezirabra. Os romanos lhe chamavam Mons-barbaricus, e já antes d'elles se lhe dava o nome de Promontório barbarico. O nome actual foi-lhe incontestavelmente posto pelos mouros. Diz-se que o nome de Barbarico se lhe pôz, pela grande barbaridade dos sárrios primeiros habitadores d'esta serra.

Tem seu principio na freguezia da Ajuda, termo de Setúbal. Tem 35 kilometros de comprido e 6 de largo. Tem altos e baixos, e em um dos seus outeiros, chamado Castello de Olivede ou Olivete, ha vestígios de uma antiga fortaleza. Tem mais os altos chamados, Cabeça-Gorda, Cabeço- de-Visão, Matta-da-Louriceira e Monte-Formosinho (onde, segundo a tradição, existiu um templo de Apollo, do qual ha ruinas.) Também na vertente d'esta serra, onde hoje está a fortaleza do Outão, dizem que houve um templo dedicado a Neptuno. Em 1644, mandando D. João IV accrescentar esta fortaleza (sendo as obras dirigidas por Martim de Albuquerque, conde de Alegrete) nas escavações se achou parte de uma estatua de mármore, com versos em louvor de Neptuno e uma estatua de metal, do mesmo deus; entre as ruinas de um edifício que mostrava ser templo d'esta divindade, entre as quaes haviam muitas architraves e pedaços de columnas de mármore fino e inscripções latinas; nas quaes se dava áquelle sitio o nome de Promontório de Neptuno. (Vê-se pois que Promontório Barbario não era nome commum a toda a serra, mas só á parte que corre desde o Outão até Cezimbra.) Também por essa occasião appareceram muitas medalhas de cobre, dos imperadores Vespasiano, Tito e Adriano. Manuel da Silva Mascarenhas, superintendente d'estas obras do forte, deu as medalhas, a estatua de mármore e os cippos a D.Pedro de Alencastre, arcebispo de Braga. A estatua de metal (sem Mascarenhas o saber) a fundiram para fazer artilheria para a mesma fortaleza. arbaridade bastante (diz o padre Cardoso, e diz bem) para se dar a esta serra o nome de Promontório dos Bárbaros, se já o não tivesse.

(...) Na ladeira da serra que olha para o mar, e quasi no meio d'ella, está o convento de capuchos franciscanos, chamados arrabidos, fundado em 1522 por frei Martinho de Santa Maria (castel bano) filho dos condes de Santo Estevam dei Puerto ; ao qual fez doação d'esta serra D. João de Alencastre, primeiro duque de Aveiro e parente do dito frade. Aqui viveu S. Pedro de Alcantara. Este frei Martinho morreu no hospital de Lisboa, a 2 de janeiro de 1545. Não é este convento um edificio continuado, como os outros; mas compõe-se de varias cellas (ou pequenos cubículos) espalhadas por diversas partes da montanha, mas todas dentro de um dilatado muro, que lhe serve de clausura, á maneira das antigas hauras do Egypto e Palestina. Eram pobríssimos estes cubículos, e tão estreitos que apenas lhe cabe uma pessoa. A egreja é pobre como o convento, e só tem trez altares. Desde o cabeço chamado Monte Cabrão se veem muitas capellinhas, sendo a mais notável a que em 1650 fez D. Antonio d'Alencastre, 6. filho do duque d'Aveiro D. Alvaro; a qual lhe custou 16 mil crusados. Tem casas para o ermitão. Perto do convento ha umas casas que eram dos duques d'Aveiro. Na raiz da serra, a bastante distancia do convento, está uma lapa com um altar de Santa Margarida, virgem martyr, onde cabem mais de 500 pessoas. Os povos de Seixal e Arrentella lhe fazem uma grande festa no seu dia. A um kilometro d'esta lapa, para o lado de Setúbal, mandou D. Pedro II fazer uma fortaleza em 1670, para que os mouros não viessem inquietar os frades e captivaros como até allí faziam. Defronte da lapa se levanta, sobranceiro ao mar, o Penedo do Duque".

Pinho Leal, in "Portugal Antigo e Moderno"
Livraria Editora de Matos Moreira & Companhia - Lisboa, 1873 - vol.1, págs 238KK-238MM

sexta-feira, 21 de janeiro de 2022


Olhão: A Primeira Rua Pedonal de Portugal

 

Olhão: Rua do Comércio

Arrisco-me, com este título, a promover uma disputa entre os portugueses de Olhão e os da Praia da Granja, já que uns e outros - se não outros ainda... - reivindicam para a sua terra a primeira rua pedonal de Portugal.

Acontece que, procurando, em vão, validar a menção encontrada no sítio da Associação de Valorização do Património Cultural e Ambiental de Olhão*), deparei, no "Praia da Granja"*), com uma referência à Avenida Sacadura Cabral - ou parte dela -  também como sendo a primeira rua pedonal de Portugal, informação que o jornal "O Gaiense" precisa como tratando-se da primeira rua pedonal registada em Portugal*)

Resta-me, assim, deixar ao cuidado dos interessados e, também, dos Leitores mais bem informados a apresentação de documentos ou testemunhos que permitam validar uma ou outra reivindicação.

Se houver debate... que seja mais interessante do que aqueles a que temos assistido na televisão...*)