Numa época em que o que conta é o espetáculo, em que as entrevistas de fundo
parecem contar pelo impressivo tom de voz de quem pergunta, pelas
filmagens por drone, pela aparente incapacidade de manter uma conversa
longa e profunda, sem artifícios, sem montagens, sem tudo fazer para parecer
moderno, dinânico, arrojado, diferente de tudo,
vêm à memória sete anos de entrevistas tranquilas, de onde a paz e a
profundidade emanam ao longo de cinquenta ininterruptos minutos da voz serena
de Ana Sousa Dias e de quanto, com maestria, conseguia arrancar da
caixa de segredos de convidados escolhidos, num formato que, é certo, não
agradaria às assistências de hoje, mas que continha algo a cujos calcanhares
hoje só muito dificilmente um entrevistador conseguirá chegar.
Alguns exemplos que pode ver aqui: Maria José Morgado, João Lobo Antunes, João Amaral, tantos outros...
(Imagem: Arquivo RTP)