quarta-feira, 1 de setembro de 2021


António de Sousa Franco



"Os princípios defendem-se na fronteira precisa em que começam a ser violados, e não no momento em que, após sucessivas cedências, a corrupção e o autoritarismo hajam chegado a consequências incomportáveis
"

António de Sousa Franco *)       
O Independente, 12.03.1993    

Há que salientar que, à data em que recolhi esta citação, o Ilustre Autor havia já abandonado o Partido Social Democrata e, embora sem alguma vez aderir, era simpatizante do PSPS (Partido Socialista Pré-Socrático, o tal que contava com militantes distintos e de elevados valores e princípios, cujo percurso aqui seria redundante referir).

Tal não significa, naturalmente que, na era do tal PSPS, alguns militantes destacados e de talvez não tão elevados valores e princípios não fizessem das suas. Mas, havia, pelo menos, uma preocupação consensual de assegurar aquela aparência de propriedade que, quando falta e as coisas feias são, como agora acontece, publicitadas como se de grandes feitos se tratasse, se torna um veículo excecional de propagação da corrupção.

O preço dessa aparência de propriedade era abafar-se as tais coisas feias? Talvez. Mas, agora, dá ideia de que, não sendo abafadas, são quase sempre ignoradas ou esquecidas, o que é ainda pior, não só pelo risco de disseminação, como por ficar a ideia de que se trata de pecadilhos sem importância.

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A frase de Sousa Franco poderá ter, até agora, passado despercebida junto de atuais militantes e simpatizantes do atual PS e seus confrades de geringonça, pelo que parece oportuno lembrá-la aqui, dada a sua eterna relevância para a atividade política que se preze de o ser, sobretudo em vésperas de acontecimentos determinantes dos destinos de uma nação.

No meio de tanto falatório sobre suspeitas de nepotismo, de compadrio, de corrupção, de procurar sugar, até secar, o já escanzelado úbere da República, não podemos deixar de lembrar a frase de um dos pais do socialismo - do verdadeiro, puro e duro, do punho fechado, e não do da alaranjada rosa lusitana -, na qual dizia que "não é a consciência que determina a vida, mas a vida que determina a consciência". A epidemia de corrupção que, com o freio nos dentes, galopa pelo Estado Português, sugere que terão alguns políticos - e amigalhaços, e familiares e alguns funcionários proeminentes  -entendido esta última citação como "não é o ladrão que cria a oportunidade, mas a ocasião que faz o ladrão"; como, aliás, há muito se sabe, porque o brocardo o diz.

A ser a interpretação legítima, parece haver marxistas destes em todos os partidos políticos, e um pouco por toda a parte entre os mui habilidosos descendentes de Viriato e Sertório.


* *
Que reformas de fundo poderemos esperar nos tempos mais próximos?
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