sábado, 1 de janeiro de 2022


A Falácia da Democracia Portuguesa

"A matéria-prima da liberdade é a educação"

"Longe de ser perfeita, a democracia não é segura, mas é a menos perigosa; não é pura,
mas é a menos impura. Em países como o nosso peca, no entanto, por ser sustentada por um eleitorado
cujo efetivo nível académico e cultural não passa de uma miragem construída por políticos para parecerem bem na fotografia
"

"A democracia só funciona quando conta, maioritariamente, com eleitores razoavelmente ensinados, educados
e politicamente empenhados e esclarecidos. Nunca, quando assenta numa turba desinteressante, desinteressada e
preferencialmente dedicada às notícias da mais recente competição desportiva, de preferência com muitos cartões de diversas cores,
insultos e pancadaria, para financiar os eternos comentadores, para animar a coisa"


Combinado ou não com lavagem de dinheiro, a ser verdade o que a comunicação social vem noticiando sobre o assunto*) – na linha, aliás, de desabafos, não desenvolvidos e eficazmente desencorajados, que, anos atrás, na imprensa*) e  na blogosfera*) se podia ler -, um alto dirigente de um dos principais clubes desportivos portugueses recorre, regularmente, aos serviços de bruxos, para prever ou influenciar resultados da equipa de futebol.

A credibilidade destas notícias é, já se sabe, a habitual nos nossos dias. Não deixa, no entanto, de ser relevante o facto de o diz-que-disse se arrastar ao longo de vários anos e de, agora, os factos aparecerem divulgados no âmbito de averiguações oficiais, necessariamente mais credíveis, que poderão, por uma ou outra rzaão, levar a ações penais*).

Acresce que uma leitura perfunctória dessas peças noticiosas poderá, com toda a naturalidade, levar-nos a, rapidamente, nos desinteressarmos do aliás desinteressante assunto, quando muito com a conclusão elementar de que, de verdadeiramente desportiva, a postura da pessoa muito pouco poderá ter (hipoteticamente, que diferença haverá, de facto, entre procurar falsear um resultado subornando um árbitro e fazê-lo recorrendo à bruxaria, quando é certo que, no espírito dos prevaricadores, sempre se estará a visar mais uma trafulhice entre tantas outras de que ouvimos falar, relacionadas com um desporto que alguns bem intencionados ainda gostariam de ver límpido e impoluto?)

O pior de tudo isto, é que, se quisermos complementar, com uma breve consulta à Wikipedia *), a leitura dessas notícias, ficaremos a saber que o ilustre suposto cliente dos bruxos é, além de personalidade proeminente na sociedade portuguesa, um menino bem nascido, ensinado em bons colégios particulares. Mesmo sem a Wikipedia, basta atentar na forma como a dita personalidade se exprime em pontuais aparições em entrevistas e afins para podermos concluir tratar-se de uma pessoa informada, esclarecida, de nível cultural muito acima da média, educada, civilizada… que nem por isso deixará de ir à bruxa com a mesma facilidade com que vai a Fátima pedir ajuda a alguém que muitos parecem considerar a padroeira dos clubes de futebol.

Perante esta possibilidade, veio-me ao espírito a inevitável pergunta: quantos mais destes cidadãos supostamente esclarecidos e evoluídos por aí haverá, como ele, e mais educados e ensinados do que ele, até?

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Não deixa de ser verdade que o dirigente do nosso exemplo não detém um grau académico de nível superior; mas não é menos verdade que, no que à educação e à cultura diz respeito, merece lugar de destaque, muito acima da mais grossa fatia dos licenciados que vemos por aí.

Se for verdade
A ser verdade o que se diz e escreve sobre o tema, teremos, pois, um bom exemplo da enorme falácia, de consequências facilmente adivinháveis, que consiste na crença de que quase obrigar todos os jovens a estudar até mais não poder é essencial para assegurar o funcionamento em pleno da democracia, designadamente em Portugal. Mesmo sabendo que a oferta de emprego condigno é muito escassa e é menos que diminuta a probabilidade de se concretizar a carreira profissional com que sonharam, encorajam estes jovens pouco informados e pouco esclarecidos a continuar os estudos até ao ensino superior, nomeadamente no pressuposto falso e enganador de que a aprendizagem de nível superior tem, como efeito imediato e indissociável, o esclarecimento dos estudantes eleitores, designadamente quanto à capacidade de adquirir a maturidade política suficiente para garantir o voto em liberdade, em consciência e de forma razoavelmente informada e esclarecida.

Independentemente do nível de estudos e do grau de erudição, por parte da mole humana, de proporções pouco divulgadas, que despende rios de dinheiro com os mais do que discutíveis mas principescamente pagos préstimos dos ditos videntes, o exercício do direito de voto em eleições democráticas parece, antes, caracterizar-se pela escolha de quem legisla e irá governar segundo os mesmos critérios básicos, elementares, idiotas, apavorados, adotados nas decisões de consultar estes magos. Vivemos, na verdade, no meio de uma população fortemente permeável à manipulação pelo marketing - seja ele comercial, feiticeiro ou partidário - e, claro, ao espetáculo mediático que técnicos altamente especializados na arte do engodo encenam para os atores políticos poderem mostrar o que, maioritariamente, não são, e que se encontram em patamares de excelência e de competência a que jamais conseguirão chegar.

Encenam estes técnicos, magistralmente, campanhas eleitorais que nada esclarecem quanto às ideias e aos princípios, antes se tornando progressivamente mais focadas na capacidade de se exibir, na tendência para o estardalhaço por parte de quem os partidos escolhem para por eles dar a cara como candidato em sucessivas eleições. Isto, porque qualquer político muito bem sabe que são mínimas as probabilidades de sucesso nas urnas sem o espetáculo pimba, sem as provocações gratuitas dirigidas aos adversários, sem os acalorados debates denegrindo a qualidade dos opositores... e com pouco ou nada sobre linhas programáticas que, ao fim e ao cabo, a poucos interessam, que quase ninguém entenderia, e que fazem muita gente mudar de canal quando a conversa envereda por aí, levando a que boa parte dos telespectadores deixe de conseguir descodificar e, muito menos, assimilar o que nela é dito.

A ditadura é em mais calma, que remédio. Mas terá de ser tão pateticamente animada e extremada a democracia?

Eleições autárquicas
Nas recentes eleições autárquicas, o espetáculo triste foi o que se viu. Nas legislativas que se avizinham, a coisa deverá ser mais subtil, é verdade; mais controlada, já que, afinal, estamos a falar de futuros deputados da Nação, que em muito alta conta costumam ter-se - mesmo aqueles que, quando eleitos, muito pouco ou nada irão fazer nas suas intrinsecamente importantes funções.

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Em abstrato, a ditadura em si mesma nada tem de mal, desde que o ditador seja movido por bons propósitos - o que se tem demonstrado uma impossibilidade prática, bem sei - e, também, competente. Inversamente, a democracia pode revelar-se bem nociva, caso os eleitos apresentem inversas características.

A vantagem inegável e indispensável da democracia, em relação à ditadura, reside, essencialmente, na possibilidade de ser a ação legislativa e governativa sujeita a escrutínio através do voto popular, sempre estando na mão de quem vota pôr fim a eventuais arbitrariedades e desmandos mediante a entrega do poder a outro partido… que, a curto ou médio prazo, os eleitores irão também remover do poder a fim de pôr fim às respetivas arbitrariedades e desmandos; e assim sucessivamente, até que um dia, desgastada pelo uso e abuso de uma alternância exageradamente competitiva que em nada contribui para sedimentar a República e serenar os ânimos, a democracia acabe por soçobrar.

Não se estranhe, assim, quando alguém pretende que “a democracia ainda é a pior forma de governo que existe, se excetuarmos todas as outras”.

Longe de ser perfeita, a democracia não é segura, mas é a menos perigosa; não é pura, mas é a menos impura. Em países como o nosso peca, no entanto, por ser sustentada por um eleitorado cujo efetivo nível académico e cultural não passa de uma miragem construída por políticos para parecerem bem na fotografia, e para assegurar a empregabilidade e o lucro nas universidades, institutos e quejandos que vão criando cursos vazios, de interesse escasso ou nenhum mas que, como qualquer outro, dão direito ao almejado mas insignificante diploma cada vez mais desvalorizado pelos maus tratos que o ensino tem, há largas décadas, sofrido e continua a sofrer em Portugal.

Uma educação efetiva, sólida, encorpada por um ensino estável, responsável, com visão estratégica, ministrado por quem sabe e não por quem se supõe que deva saber, numa sociedade com valores éticos que se sobreponham aos chamamentos da fachada, da ganância e dos mais desprezíveis aspetos de um desejavelmente saudável mercado é requisito indispensável a qualquer verdadeira democracia.

Poderemos não estar, felizmente, a passar pelos horrores de uma ditadura. Mas, tampouco vivemos em verdadeira liberdade numa saudável democracia, antes em algo que cada mais se assemelha a uma anarquia imparável, com contornos de oligarquia - dominada por uma certa elite partidária aparentemente mal formada, corrupta com tiques ditatoriais cada vez mais difíceis de escamotear - e alimentada pela ignorância cívica e pelo desinteresse puro e simples pela ética por parte da uma crescente percentagem da população, adepta fervorosa da abstenção, da demissão da responsabilidade política que, num país democrático, é indissociável da própria condição de cidadão.

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Quando a maturidade, política ou não, de boa parte dos habitantes, mesmo dos mais educados e ensinados, ainda reside nos conselhos da bruxa, quando, se os deixassem, às vacinas prefeririam as mezinhas e, aos medicamentos, as poções; quando pensam pela boca e pela pena dos outros, abdicando do direito sagrado que a democracia lhes confere - pelo qual tantos tanto lutaram e sofreram… - de cada um pensar pela própria cabeça e, esclarecidamente, agir e votar por vontade própria, ninguém poderá insurgir-se contra a ideia de que eleitor é o “indivíduo que goza do privilégio sagrado de votar na pessoa escolhida por outro indivíduo”.

A democracia só funciona quando conta, maioritariamente, com eleitores razoavelmente ensinados, educados e politicamente empenhados e esclarecidos. Nunca, quando assenta numa turba desinteressante, desinteressada e dedicada, antes de mais, às notícias da mais recente competição desportiva, de preferência com muitos cartões de diversas cores, insultos e pancadaria para animar a coisa, e assim garantir a publicidade, impiedosamente impingida aos basbaques, que irá financiar, nas televisões, as horas arrastadas dos eternos comentadores.

Sabia-o muito bem o Presidente do Conselho que, notavelmente, sintetizou a ideia na que se tornou, provavelmente, na mais conhecida frase por ele proferida: "O que nós queremos, é futebol! *)". Foi essa apetência desmedida das massas pelo supérfluo como elemento estruturante da sociedade que lhe deu pulso livre para, juntamente com os seus sequazes, durante décadas privar da liberdade toda uma população que então não sabia e hoje não sabe que a matéria-prima da liberdade é a educação.

A simples ideia de eleições supostamente livres num regime democrático feito de gente civicamente pouco educada e pouco habituada a pensar mais não é do que uma perigosa falácia, de efeitos tão previsíveis quanto indesejáveis. “Como é bom para os governantes que as pessoas não pensem!*)... como um dia disse aquele que foi, porventura, o mais pérfido dos ditadores...


  LEIA  AQUI  O  ARTIGO SEGUINTE DESTA SÉRIE DEDICADA AO ATO ELEITORAL!  

6 comentários:
  1. "Em abstrato, a ditadura em si mesma nada tem de mal, desde que o ditador seja movido por bons propósitos - o que se tem demonstrado uma impossibilidade prática, bem sei - e, também, competente. Inversamente, a democracia pode revelar-se bem nociva, caso os eleitos apresentem inversas características.", escreve neste seu "post".
    Confesso que, atendo-me àquilo que tem escrito no blogue, não consigo compreender esta sua tese. No meu entender, o valor mais importante no viver em sociedade é a liberdade, entendida, aqui, em sentido amplo. Se assim é, a ditadura, qualquer ditadura, é sempre um atentado ao viver comunitário.
    Não me parece, pois, razoável que se possa igualar a democracia à ditadura, como parece resultar da sua asserção.?
    Ademais, o que se entende por "bons propósitos"? e por "competente"?
    Será que, na luta política, e no resto da vida, tais conceitos podem ser apriorísticos? Se sim, como chegámos a eles? Será que os mesmos servem para analisar convenientemente a realidade?
    Pode admitir-se, no século XXI, que um qualquer ditador, por mais iluminado que fosse, encontrasse legitimidade para definir "um bom propósito" para a sociedade que pretendesse tutelar?
    Ou será que a democracia é o regime que tem garantido a resolução minimamente pacífica dos diversos conflitos de interesses que atravessam, naturalmente, o viver social?
    Acredito nesta última hipótese e, por isso, não a ponho no mesmo plano de uma qualquer ditadura!

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    1. Muito grato pelas suas observações.
      Não me passa, naturalmente, pela cabeça equiparar, seja em que plano for, a democracia e a ditadura. A expressão 'bons propósitos' que utilizo no texto apenas pode, assim, ser entendida do ponto de vista subjetivo do próprio ditador; ou seja, na sua perversa visão do Mundo - ou 'mundividência', como agora gostam de dizer... - e das gentes que governa, considerar que está a fazer o bem, como sabe que lhe compete, nem se dando conta de que mais não está, de facto, do que a arrogar-se a sapiência, o conhecimento e o direito de, ilegitimamente, impor a sua ordem e maneira de ser aos 'pobres coitados' dos seus governados que, 'coitadinhos', sempre seriam incapazes de discernir aquilo que seria melhor para eles.
      Não obstante, desde que animado destes 'bons' propósitos e capaz de administrar uma nação de forma objetivamente competente nas mais diversas áreas, desde o ensino, saúde e justiça à economia, finanças e todas as outras, torna-se, no mesmo plano objetivo, mais difícil atacar, em abstrato, a ditadura que professa e pratica, dado que sempre acabaremos confrontados com este ou outro exemplo de particular eficácia na gestão.
      Ambos sabemos que assim acontece, por exemplo, no caso português ao ouvir invocar o extraordinário desempenho de Oliveira Salazar no entesouramento que levou à acumulação das reservas de ouro enquanto os democratas depois dele as desbarataram e endividaram a economia; ou as vantagens de um ensino ao tempo sólido e homogéneo, apesar de boa parte daquilo que se ensinava para nada interessar além da consolidação dos tentáculos do regime até ao ultramar que apenas ele desejava conservar sob o seu poder. Que outra utilidade haveria, por exemplo, em incluir na Geografia do professor Pedro de Carvalho as estações do caminho de ferro de Benguela, ou qualquer outra alarvidade do mesmo género?
      Refere, e concordo, que "a democracia é o regime que tem garantido a resolução minimamente pacífica dos diversos conflitos de interesses que atravessam, naturalmente, o viver social", mas vejo-me obrigado a sublinhar o 'minimamente'.
      O facto incómodo é, não obstante, que, embora excessiva, aberrante e violenta, existia ordem, as coisas aconteciam - mesmo para o lado errado -, sabia-se com o que contar.
      Para poderem desenvolver-se, as pessoas não apenas necessitam de liberdade, mas também - e muito... - de estabilidade, de saber com o que contam, e isso é algo que a demagógica gestão da democracia portuguesa não tem sabido proporcionar-lhes: o catavento governativo gira, quase exclusivamente, ao sabor dos atos eleitorais, cedendo por tudo e por nada - ou, quando não cede, não sabendo evitar crises políticas -, cada vez mais esmigalhando a espinha dorsal da gestão da República e, assim, dando azo ao ressurgimento de uma extrema-direita que, na verdade, ninguém quer, mas para a qual, erradamente, todos se voltam por pensarem não existir alternativa de protesto.
      A democracia portuguesa encontra-se fragilizada, doente, como o 'termómetro' da galopante abstenção constantemente nos diz.
      Os textos dos dois próximos Sábados, dias 8 e 15, aqui no Mosaicos refletirão sobre como protestar nas urnas contra o atual 'estado da nação'.
      Terei gosto em ler, depois, a sua opinião sobre o assunto.

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    2. Se bem percebi a sua resposta, entende que Salazar terá governado, objectivamente, de forma competente, ao contrário dos "democratas depois dele". Invoca, para o efeito, o entesouramento que norteou a sua política económico-financeira, bem como a solidez e homogeneidade do ensino que promoveu. Nestes pontos estamos em profundo desacordo. Sem grandes teorizações, para as quais não tenho competências, direi, muito resumidamente, que:
      - tínhamos muito ouro, mas a maioria, grande maioria, da população passava fome e a restante desejava apenas chegar a uma vidinha "remediada"; não havia água nem luz na maioria das localidades e das habitações e o saneamento nem as cidades cobria decentemente (Lisboa e Porto incluídas); era o tempo da "casinha portuguesa", "com certeza"!
      - pedia-se trabalho de chapéu na mão e, os mais pobres dos pobres, "pão por Deus";
      - a economia e a riqueza gerada era apropriada por meia dúzia de famílias, verdadeiras donas do país;

      - sobre a qualidade do ensino, direi apenas que estamos a falar de outro mito. Em primeiro lugar, poucos eram aqueles que tinham esse privilégio, pois o regime não queria, abominava, pessoas letradas. Para facilitar a explanação, usarei a minha experiência: no meu concelho, e era assim, ou pior, em todo o país, no início dos anos 60 havia apenas um modesto colégio, para os filhos dos mais possidentes, uns simples comerciantes. Escola Técnica(ET) e Liceu (L) só na capital de distrito. A ET era para os pobres que tinham a ousadia, feita de muitos sacrifícios, de imaginar que os seus filhos poderiam escapar da miséria que os perseguia; o L era para os ricos que podiam guindar os seus à Universidade, como já havia acontecido com eles, ou para os remediados para quem o 5º ano já era o céu.
      No escalão acima deste havia os Institutos Comerciais e Industriais, As Escolas Normais e a Universidade (tudo isto reunido nas cidades de Lisboas, Porto e Coimbra). Tolerava-se que um aluno mais espevitado das ET pudesse aceder aos Institutos, mas, mais do que isso era já um sacrilégio. Era, era mesmo assim: um aluno que viesse da ET e que quisesse entrar nos Institutos, apesar do seu curso inicial ser vocacionado para esse acesso, tinha que fazer exame de admissão a 7 disciplinas, enquanto que um outro que viesse do L apenas faria 3 (a estratificação social era bem vincada, para que não houvesse dúvidas!). Em abono da verdade, o aluno da ET antes referido podia igualar-se ao do L, mas para isso teria de vencer mais um ano na ET fazendo aquilo a que chamavam SPI (secção preparatória ao instituto)!Ah, é verdade, também se alimentava a esperança de os pobres da ET pudessem chegar à Universidade (Economia e Engenharia), possibilitando-lhe fazer nos Institutos o Curso de Preparação ao Ensino superior. Uma última nota sobre este arrazoado que acabo de explanar: no ano lectivo de 1972/73, o nº de vagas no Instituto Comercial do Porto era de 27!
      - sobre a qualidade do ensino à época, direi somente que era possível estudar filosofia no 7ºAno (compêndio do Bonifácio, salvo erro) sem se falar dos filósofos materialistas, nomeadamente Karl Marx!

      Desculpe-me, caro António Ladrilhador, por mim bem teria dispensado os "bons propósitos" e a "competência" do ditador!
      E a "ordem", a dita "ordem" queria dizer apenas medo. Não se diga mais que só era incomodado quem refilava!

      TUDO ISTO COMPARA MUITO, MUITO MAL COM O QUE FOI FEITO NA DEMOCRACIA, PARA LÁ DE TODOS OS ERROS COMETIDOS.

      Chamemos tais erros à discussão, iluminemos os seus contornos, mas sem perdermos o norte.

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  2. De facto, não me fiz entender.
    A minha resposta ia, quanto à questão da competência, precisamente no sentido contrário. "(...) torna-se, no mesmo plano objetivo, mais difícil atacar, em abstrato, a ditadura que professa e pratica, dado que sempre acabaremos confrontados com este ou outro exemplo de particular eficácia na gestão" foi escrito no sentido de que acabam os ataques à ditadura por ficar, dado o descalabro económico em que mergulhámos, vulneráveis ao referido tipo de argumentação contrária que, decididamente, não subscrevo, já que o entesouramento promovido por Salazar e seus adeptos apenas teve como efeito o estrangulamento da economia e a paragem do desenvolvimento, nas mais diversas áreas.
    Quanto ao ensino, não entendo a interpretação que faz do que escrevi:"apesar de boa parte daquilo que se ensinava para nada interessar além da consolidação dos tentáculos do regime até ao ultramar que apenas ele desejava conservar sob o seu poder. Que outra utilidade haveria, por exemplo, em incluir na Geografia do professor Pedro de Carvalho as estações do caminho de ferro de Benguela, ou qualquer outra alarvidade do mesmo género?". Serão estas palavras de concordância? Não creio, de facto. Em todo o caso, obrigado pelo testemunho pessoal.
    Tal como citei no artigo, "a democracia ainda é a pior forma de governo que existe, se excetuarmos todas as outras”. Com isto, concordo, inteiramente, já que, em abstrato, a democracia será, sem dúvida, a forma me governação menos má que, até agora, se concebeu - já que, boa, não conheço, mas a democracia portuguesa padeceu e padece de excessos decorrentes da falta de formação e educação cívicas de parte significativa da população - muito por causa de décadas de estagnação, claro está -, que acaba por descambar nesta caótica sociedade em que vivemos e à qual, sim, já vai faltando a ordem mínima necessária ao normal funcionamento das instituições democráticas. As manifestações de indiferença perante a doença alheia a que assistimos relacionadas com a COVID são disso bom exemplo, por parte de quem entende que o que importa é divertirmo-nos e sermos 'livres' de fazer o que nos apetece... mesmo contagiando os outros.
    A outra 'ordem', claro que queria dizer apenas medo. Isso, todos sabemos, mesmo os que dizem que não.
    Mas o que significida, verdadeiramente, a palavra 'liberdade' é algo por que poucos, muito poucos, de facto se interessarão.
    Em síntese: não encontro, entre nós, pontos relevantes de desacordo. A menos que esteja a ver mal...

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  3. É na divergência que se aprende. Contudo, folgo em saber que, no caso, estamos em concordância. Fui eu que li mal o seu texto, pelo que me penitencio. Percebo e comungo de muitas das suas preocupações, mas serei um pouco mais optimista. Para mim, a democracia é, hoje, em abstracto e na realidade, a melhor forma de organização da sociedade. Quanto ao resto, estou com uma velha tia que faleceu aos 99 anos e dizia: "meus filhos, a saúde e a santidade não se querem demasiado perfeitas...". É segundo esta "alegoria" que vou "lendo" a realidade e tem-me sido muito útil.
    As minhas melhores saudações.

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  4. Para mim, também em abstrato, não será a melhor, mas, sem dúvida, a menos má, que boa, como digo, não conheço.
    Saúdo-o, também, com os votos de aqui continuem as nossas agradáveis e saudáveis discussões.

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