terça-feira, 22 de março de 2022


Angela Merkel: Onde Pára, agora, a Chanceler?

Por muitos apontada como a grande responsável por um considerável aumento da dependência da Alemanha e de boa parte da Europa dos combustíveis produzidos na Rússia - logo, pela manifesta dificuldade sentida pela União em aplicar, à oligarquia presidida pelo implacável torcionário cultivado no viveiro do KGB, ainda mais severas e eficazes sanções -, não deixa de ser surpreendente ou, pelo menos, inesperado o persistente quase silêncio da anterior Chanceler durante semanas após o eclodir da assim chamada guerra.

Surpreendente ou não, o que parece inegável é que, a despeito daquilo que cada vez mais se revela um clamoroso erro estratégico, terá sido ela o último grande estadista que o notoriamente perturbado e fortemente comprometido Presidente da Federação Russa respeitava numa Europa atualmente nas mãos de governantes pusilânimes como, ao mesmo tempo, jamais se viu: uns, fracos e dependentes; outros, esgrouviados, de cabelos ao vento; outros ainda, habilidosos, mas pouco mais do que isso. Todos eles, enfim, como que catalépticos, estáticos, desnorteados, embrutecidos perante os horrores da invasão da Ucrânia, contrastando fortemente com o lépido, algo gárrulo, mas inegavelmente intrépido Presidente dessa martirizada Nação.

Talvez por isso mesmo, pela postura, pelo carisma, pela bem patente estrutura e solidez do carácter de quem sabia bem por que ali estava e ao que ia, mereceria ela, por parte do ora agressor, uma espécie de respeito, de temor, que, o terá levado a abster-se de enveredar pelo caminho da mais abjeta maldade enquanto o mandato da Chanceler durou.

Claro está que, a essa contenção, não terão sido alheias as sucessivas concessões da Alemanha nas trocas comerciais com a Rússia, na vá esperança de manter a fera amansada, as quais a besta transtornada terá, despudoradamente, aproveitado para aceitar enquanto, pela calada, preparava o seu supostamente grandioso mas de facto lastimável e frustrado ato de saída de cena: a invasão. Da Ucrânia, de mais alguma coisa, ou de tudo e mais alguma coisa e sabe-se lá mais do quê.

Tirando uma ou outra aparição pontual e quase esquiva, onde pára, agora a Chanceler? A que papel poderia, porventura, ser chamada na tentativa de resolver o que parece irresolúvel?

A nenhum, talvez.

Acabaria, provavelmente, destratada e confrontada com o logro que prováveis boa-fé e ingenuidade viabilizaram; com a pouco invejável situação negocial de uma União manietada pela dependência; com considerável culpa pelo arrastar de uma agressão, de uma destruição maciça de pessoas e bens por parte de quem, afinal, controla e controlará os combustíveis tornados indispensáveis à economia dos estados que o agressor poderiam deter.

* *

Entretanto, na Ucrânia, o notório excesso de mediatização da ação do presidente Zelensky tem vindo a lançar sérias dúvidas acerca daquilo que verdadeiramente o move.

[encontrará aqui a sequência deste artigo]



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