Como já vos disse, não sou católico. Tampouco professo alguma religião.
Mas já fui católico. "Muito", até. Passei Natais em família. Muitos Natais em família. Encantadores para alguns, entediante rotina para outros.
Até que, de forma inesperada, alguém com obrigação de saber do que falava, disse algo que talvez não devesse ter dito.
Mas disse-o; e, embora tenha, nesse preciso instante, matado em mim a encantadora Fé e, com ela, a confortável Esperança, estou-lhe grato por ter dito o que disse, do alto do púlpito e com toda a autoridade da função.
Sem intenção, buscando, até, o efeito contrário, abriu-me os olhos.
Dessa luz radiante e pura, desse tempo infinito da Fé, desse aconchego de um pai invisível mas omnipresente e supostamente omnipotente que me livraria de todo o mal, separava-me, afinal, uma fração de segundo: primeiro, da dúvida dilacerante, das trevas efémeras dos que se dizem iluminados, esclarecidos; depois, da segurança calma e firme dos que sabem que, na Vida, apenas contam os que nos são próximos, a quem podemos fazer algum bem; da segurança dos que sabem ser nada, ter nada, e nada poder esperar, também.
Mesmo assim, e em memória desses Natais de outrora, trago-vos aqui a gravação, num disco velhinho e no meio de uma canção bem conhecida, de um singelo mas comovente poema, que não encontrei na Internet.
Com ele para encantar crentes e não crentes, ficam os meus melhores votos para este Natal.