A recente maioria absoluta do Partido Socialista demonstrou, à saciedade, pelo
menos duas coisas: que os portugueses têm um medo intuitivo dos males que o
Chega! traz consigo, e que, entre o menos bom que já conhecem e o talvez
melhor que poderiam vir a conhecer, preferem o primeiro, por entenderem que é
tempo de estabilizar e de desenvolver. Pelo menos, de não retroceder.
O conhecimento, ou a presunção do conhecimento, sobressai, assim, como um dos
principais desideratos de quem vota, acima, porventura dos ideais políticos
que quem merece o voto prossegue - partindo, naturalmente, do princípio que
são conhecidos.
Pela inegável responsabilidade no chumbo do orçamento, os partidos da
extrema-esquerda foram severamente penalizados no voto. Mas, à direita, que
partidos cresceram, e que partidos encolheram?
Iniciativa Liberal e Chega! são partidos de dirigentes fortes e inequívocos,
mesmo à medida daquilo que o eleitorado pretende: conhecer, não apenas as
ideias, mas as pessoas que as dizem defender. Um, é marcadamente liberal e, vá
lá, um pouco mais radical do que aquilo que de um liberal se esperaria. O
outro, não sendo fascista, é assumidamente radical, sectário, racista e muitas
outras coisas feias terminadas em ista.
Mas,
subiram exponencialmente no voto, porque se sabe o que são, e quem são as
pessoas que por lá estão.
Em contrapartida, CDS e PSD implodiram em lutas intestinas entre desconhecidos
ou pouco conhecidos dirigentes, sem estrutura para o ser. Dissolveram-se em
ideais e objetivos difusos, que, à geralmente pouco informada opinião pública,
aparecem apenas como sendo de direita, sem alguém saber bem ao certo
aquilo que, isso, hoje em dia quer dizer.
Adormeceram, baixaram os braços perante a ascensão fulgurante dos outros dois,
falharam-lhes as ideias. Faltou-lhes, sobretudo, o rumo, que é a pior coisa
que pode faltar a um político, mormente a quem quer escapar a um fim
inexorável e fatídico.
Ao se evaporar do Parlamento, o primeiro, extinguiu-se, na prática e
provavelmente para todo o sempre, passando a figurar apenas naqueles debates
televisivos dos pobrezinhos em votos, que tão triste espetáculo dão de quem,
em aparente estado de perpétua negação e indiferente ao ridículo, há décadas
garante que fará tudo isto e mais aquilo "quando eu for eleito".
A maior dimensão do PSD salvou-o do trambolhão definitivo. Mas, aliado à falta
de diferença verdadeira e conhecida face aos dois claros vencedores à direita,
o quase desconhecido perfil de uns quantos prospetivos candidatos à
Presidência apenas augura, tal como à relíquia comunista portuguesa*) e, ao que parece, também ao Bloco de Esquerda, um calvário descendente e de
fim desconhecido apenas de quem o não quer ver.
O espetáculo no PSD é hoje, patético, triste a ponto de chegar ao
ponto imputar ao povo português a falha que na origem da maioria absoluta
que acabou por sair na rifa ao Partido Socialista*).
Esquece-se quem assim fala que, em democracia, o povo jamais falha,
porque jamais pode falhar, já que, nem má, nem boa, uma eleição nada mais é do
que a expressão legítima da vontade do eleitorado, o verdadeiro soberano em
democracia.
De um eleitorado que tem todo o direito de acertar, como de errar.
Poderá o povo português ter escolhido mal para si ao eleger o Partido
Socialista. O tempo, e só o tempo, o dirá. Mas, que esperança para o Futuro
teve, ou tem, o PSD para lhe garantir?
Ou, pelo menos, para apresentar?