quinta-feira, 10 de fevereiro de 2022


Adeus, PSD...

A recente maioria absoluta do Partido Socialista demonstrou, à saciedade, pelo menos duas coisas: que os portugueses têm um medo intuitivo dos males que o Chega! traz consigo, e que, entre o menos bom que já conhecem e o talvez melhor que poderiam vir a conhecer, preferem o primeiro, por entenderem que é tempo de estabilizar e de desenvolver. Pelo menos, de não retroceder.

O conhecimento, ou a presunção do conhecimento, sobressai, assim, como um dos principais desideratos de quem vota, acima, porventura dos ideais políticos que quem merece o voto prossegue - partindo, naturalmente, do princípio que são conhecidos.

Pela inegável responsabilidade no chumbo do orçamento, os partidos da extrema-esquerda foram severamente penalizados no voto. Mas, à direita, que partidos cresceram, e que partidos encolheram?

Iniciativa Liberal e Chega! são partidos de dirigentes fortes e inequívocos, mesmo à medida daquilo que o eleitorado pretende: conhecer, não apenas as ideias, mas as pessoas que as dizem defender. Um, é marcadamente liberal e, vá lá, um pouco mais radical do que aquilo que de um liberal se esperaria. O outro, não sendo fascista, é assumidamente radical, sectário, racista e muitas outras coisas feias terminadas em ista.

Mas, subiram exponencialmente no voto, porque se sabe o que são, e quem são as pessoas que por lá estão.

Em contrapartida, CDS e PSD implodiram em lutas intestinas entre desconhecidos ou pouco conhecidos dirigentes, sem estrutura para o ser. Dissolveram-se em ideais e objetivos difusos, que, à geralmente pouco informada opinião pública, aparecem apenas como sendo de direita, sem alguém saber bem ao certo aquilo que, isso, hoje em dia quer dizer.

Adormeceram, baixaram os braços perante a ascensão fulgurante dos outros dois, falharam-lhes as ideias. Faltou-lhes, sobretudo, o rumo, que é a pior coisa que pode faltar a um político, mormente a quem quer escapar a um fim inexorável e fatídico.

Ao se evaporar do Parlamento, o primeiro, extinguiu-se, na prática e provavelmente para todo o sempre, passando a figurar apenas naqueles debates televisivos dos pobrezinhos em votos, que tão triste espetáculo dão de quem, em aparente estado de perpétua negação e indiferente ao ridículo, há décadas garante que fará tudo isto e mais aquilo "quando eu for eleito".

A maior dimensão do PSD salvou-o do trambolhão definitivo. Mas, aliado à falta de diferença verdadeira e conhecida face aos dois claros vencedores à direita, o quase desconhecido perfil de uns quantos prospetivos candidatos à Presidência apenas augura, tal como à relíquia comunista portuguesa*) e, ao que parece, também ao Bloco de Esquerda, um calvário descendente e de fim desconhecido apenas de quem o não quer ver.

O espetáculo no PSD é hoje, patético, triste a ponto de chegar ao ponto imputar ao povo português a falha que na origem da maioria absoluta que acabou por sair na rifa ao Partido Socialista*).

Esquece-se quem assim fala que, em democracia, o povo jamais falha, porque jamais pode falhar, já que, nem má, nem boa, uma eleição nada mais é do que a expressão legítima da vontade do eleitorado, o verdadeiro soberano em democracia.

De um eleitorado que tem todo o direito de acertar, como de errar.

Poderá o povo português ter escolhido mal para si ao eleger o Partido Socialista. O tempo, e só o tempo, o dirá. Mas, que esperança para o Futuro teve, ou tem, o PSD para lhe garantir?

Ou, pelo menos, para apresentar?

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