quinta-feira, 3 de março de 2022


A Ucrânia e o Inefável PCP

Dos treze votos -  dois por cento - contra a proposta de condenação da invasão da Ucrânia pela Federação Russa contados no Parlamento Europeu, dois foram, para grande vergonha nossa, dos deputados da despudorada relíquia comunista portuguesa, que, com os habituais absurdos e desproporcionados pretextos,*) uma vez mais deu, de Portugal, uma bem triste imagem junto dos nossos parceiros da União*).

De entre os eleitores habituais que, do facto, se inteirarem, quantos continuarão a votar naquela obstinada coisa? Quantos, sobretudo, de entre os certamente muitos que, generosamente, de alguma forma têm contribuído para as ações de solidariedade de que, por esse País fora, nos tem dado conta a comunicação social?

Quem, de facto, continuará a votar nas gentes de um partido que continua, cega e obstinadamente, a apoiar um regime russo - que não há como confundir com comunista - que, indiferente ao sofrimento do próprio povo, mais não defende, afinal, do que as colossais fortunas dos oligarcas? Que sanciona com coimas quem escreve ou pronuncia invasão ou guerra, e com penas de prisão de entre quatro e seis anos quem ousa participar numa manifestação?

Naquilo que à liberdade e à democracia diz respeito, o regime russo e outros como ele são, para o Partido Comunista Português*), o paradigma da sua predileção. É isto que querem para Portugal.

A este respeito, não tenhamos ilusões...

Talvez os comunistas não comam criancinhas ao pequeno almoço. Mas, o regime russo que apoiam, prende crianças *), crianças *). Crianças*)

Cuspindo palavras ocas e monocórdicas a um ritmo tal que, assim, não há mensagem que alguém consiga entender, o deputado-metralhadora de serviço do PCP foi, anteontem, à RTP3*) "explicar" que, não só condenam a invasão da Ucrânia, como até condenam todo o processo que a tal levou.

Ora, o que ninguém se lembrou, ainda, de lhe perguntar é a razão pela qual, se o PCP condena, até, mais do que a invasão, por que razão não apoiou a resolução que condenava, pelo menos, a invasão.

A razão é óbvia e bem simplória: o voto contra apenas se destinou a ganhar algum tempo de antena para utilizar na divulgação de um antiamericanismo primário do qual o bolorento e anquilosado Partido não tem como libertar-se, sob pena de ainda acabar por apressar a já inevitável implosão.

A mesma Constituição da República Portuguesa com que o PCP não cessa de acenar, em campanha, como se do seu programa eleitoral se tratasse é bem clara: "Portugal reconhece o direito dos povos à autodeterminação e independência e ao desenvolvimento, bem como o direito à insurreição contra todas as formas de opressão" (art.7º n.º 3)

Como pode, então, o PCP demitir-se de fazer corresponder o seu voto aos bons propósitos que votou na Constituição?

* *

Claro que a pergunta é de mera retórica. Ninguém duvida que a anfibológica recusa em não apoiar a posição da Ucrânia ao mesmo tempo que condena a invasão desta pela Rússia acaba por ser a última cana que um partido político imerso no pântano da entropia inexorável e irreversível ainda tem para se agarrar.

[não perca, aqui, a sequência deste artigo]




quarta-feira, 2 de março de 2022


Aquilino Ribeiro


 

"O janotismo nas sociedades primárias
é sempre um trunfo certo"

Aquilino RIbeiro*)   
(Quando os Lobos Uivam)      


Por alguma estranha razão, quando leio coisas destas, lembro-me logo de certas pessoas que deambulam sem rumo a exibir os glúteos nas redes sociais, os bólides à porta dos estádios, as toilettes nos chamados picadeiros, os milhões sabe-se lá como amealhados, e outras tantas foleiradas de cultivadores da própria imagem, quantas vezes pendurados, com as suas famílias, no crédito necessário à aquisição destas máscaras e fantasias que não dispensam no seu eterno e humanamente desolador Carnaval dos Animais.

Lembro-me, também, daqueles políticos profissionais que nada mais fizeram na vida do que ser políticos profissionais, o que quer que tal coisa possa querer dizer; e temo o efeito que um governo recheado de pessoas destas - alcandoradas ao poleiro, não por especial competência ou mérito, mas como forma de retribuição pelos serviços prestados à maioria absoluta instituída - possa vir a provocar sobre um país conformado, anestesiado e em estado de negação quanto à manifesta irresponsabilidade de quem parece obstinar-se em aplicar tão irresponsável critério à escolha daqueles por quem tão grandes responsabilidades irá distribuir.

Na situação em que o Mundo se encontra, e em pleno período crítico de aplicação de fundos externos generosamente distribuídos,Portugal carece de rigor, de princípios, de disciplina, de valores.

Tudo isto é incompatível com a simples ideia de ter irredutíveis janotas a governar.