Às vezes, até dormiam juntos. Ele a abraçar-lhe o frio, ela a aquecer-lhe o coração.
Para ele, o café da manhã; para ela, um pouco de ração. Para ele, o trabalho por casa ou no quintal, que era o mundo dela; para ela, um rato ou um passarinho, o troféu, a refeição.
À noite, lá ele lhe abraçava o frio, lá ela lhe aquecia o coração.
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Dormir com a gata na cama? Que horror, dirão! Que porcaria! Micróbios! Álcool, já! Desinfeção!
Não passa, afinal, esta história de mais uma do primado do coração sobre a razão, eternos opostos que, a cada dia, dentro de nós debatem, por um lado, a substância, a essência da vida; por outro, o que dela fizemos, a grande e caricata ilusão.
Faz-se, agora, inteligência não humana, artificial, desumana, nascida da razão dos computadores, do puro e frio raciocínio, destituída de emoção. Mas o núcleo de nós, homens e gatos, não é replicável, explicável, racionalizável; e é ele a razão de tudo, da própria Criação.
Essa nova inteligência de que falam, imensa, deslumbrante, aterradora, não passa do exponencial desenvolvimento do conhecimento e da lógica que sobre ele opera, arrimado em intermináveis sequências de instruções e em bancos de dados de inimaginável dimensão.
Mas, dizem os sábios, jamais alguém vencerá o verdadeiro desafio: entender o coração, seja ele o do Homem, do gato ou do cão.
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A nós, simples e pequenos, convém o simples e pequeno: fica mal a roupa, quando é larga ou roça o chão.
Por um segundo da Vida, a pequena gata foi a fiel companhia do também pequeno velho.
Nas noites de Inverno, ele abraçou-lhe o frio; ela, aqueceu-lhe o coração nas noites de solidão.
Contar uma história em rima, proeza que não é para qualquer um.
ResponderEliminarSe for terna e nos aquecer o coração, então, merece compensação.
Gostei muito, caro Sr. Ladrilhador. 👏
😊
Muito grato, Cara Senhora D. Janita, pelas suas amáveis palavras.
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