"Para crescer em votos, um partido necessita de bons políticos; para ser
eficaz, um governo necessita de bons gestores"
"A confiança na ação governativa assenta na suposta competência técnica, e
a falta desta não é suprível, nem com um milhão de filhos, sobrinhos,
compadres e outros potencialmente incompetentes assessores que, a expensas
nossas, os governantes aproveitem para contratar"
"Ao nível da governação, Portugal não pode continuar nas mãos de amadores
mais ou menos bem-intencionados,
mas escandalosamente impreparados para
ocupar tais lugares"
"Parecem apenas cinco indiferenciados portugueses que andam, há décadas,
a brincar aos políticos e que, ainda por cima, cedo acabarão a esgadanhar-se mutuamente numa
acesa luta pela ascensão à liderança do Partido"
Maioria absoluta assegurada nas urnas, seria de esperar um governo realmente
novo para Portugal, livre da carga política associada à necessidade de agradar
a gregos e a troianos que caracterizou o lastimável período da chamada
geringonça - a qual, em boa verdade, nem aos dois agora insignificantes
penduricalhos de extrema-esquerda serviram, no médio prazo, para o que quer
que fosse, como bem o demonstrou o recente descalabro eleitoral.
Outrora tido por descobridor, por empreendedor, Portugal é, há muito tempo, um
mero seguidor dos mais crescidos que bajula e admira, refastelado no
Sol e na gastronomia, salvo um ou outro rebento que lá vai frutificando na
área empresarial, logo pressurosamente louvado e alardeado por governantes sem
substância que se veja, e por meios de comunicação muito felizes por, além das
já muito gastas imagens da guerra e das balbuciadas opiniões de também mais ou
menos gastos comentadores, lá irem tendo alguma notícia positiva, ainda que
minúscula, para dar.
Certo parece, porém, que gestão económica, pouco ou nada tem a ver com
socialismo, como bem demonstram inúmeras experiências falhadas, aqui e noutras
paragens, mau grado o persistente estado de negação de certas forças
partidárias que continuam a admirá-las. Apesar, claro, de o Partido
dito Socialista, de socialista já pouco ou nada ter, limitando-se, no que
à dita doutrina diz respeito, a acolher alguns elementos que melhor fariam em
aconchegar-se em partidos mais à esquerda; e são estes, bem conhecidos mas não
assumidos elementos extremistas, que mais preocupam quando os vemos guindados
a postos ministeriais, a par de outros que apenas se parecem com a esquerda
quando mais lhes convém.
A verdade é que, em seis anos perdidos num oceano de demagogia, sem uma carta
náutica claramente traçada, sem rumo definido para um navio amolecido,
apodrecido e minado de gente que apenas quer ser alguém na vida,
praticamente se limitou o Governo a navegar à vista, numa cabotagem incapaz de
desenvolver um trajeto de longo curso que, de alguma forma, contribuísse para
nos tirar da cauda da Europa. Uma Europa cujas palmadinhas nas costas, beijos
e abraços não passam, ao fim e ao cabo, de estafadas demonstrações de enfadada
condescendência para com um paupérrimo país cuja improdutiva economia não
passa de uma desengraçada anedota, e que, décadas a fio, sempre tem
demonstrado que pouco ou nada mais do que isso quer continuar a ser.
Perdida que parece, para sempre, a desculpa do espartilho dos sócios
extremistas da geringonça, poderão alguns crentes ter esperado vir, num
cenário de maioria absoluta, a contar com um governo, não só mais compacto e
eficiente, mas realmente eficaz, dinâmico, renovado, competente. Esqueceram-se
esses ingénuos da fragilidade, da insegurança e, até, de uma certa
incompetência que a simples habilidade não disfarça, as quais fazem, sempre
fizeram, com que o Primeiro-Ministro não abra mão de ter, a seu lado, o
conforto dos seus mais fiéis de entre os que se não cobriram de ridículo a
ponto de terem mesmo de ser afastados à pressa, ainda que a seu pedido, antes
das eleições.
- x -
O Estado não é, afinal, mais do que uma enorme organização sem fins lucrativos
- pelo menos, para ela própria... - que, como convém a qualquer organização,
deve fazer pela vida, sob pena de a passar a depender de mecenas e daqueles
que, como mais ou menos arte e engenho, lá por fora conseguir continuar
a cravar.
Todavia, no espíritos dos políticos eleitos, uma grande confusão sempre existe
entre quem apenas seve para fazer política e quem é, de facto, necessário e
competente para governar.
Para crescer em votos, um partido necessita de bons políticos; para ser
eficaz, um governo necessita de bons gestores. Quanto a isto, não há que duvidar.
Ora, a qualquer eleitor é legítimo esperar que o partido vencedor defina as
opções políticas em consonância com as promessas eleitorais, e entregue a
execução daquelas a ministros que, antes de mais, sejam verdadeiros,
encartados e experientes gestores profissionais. É que a confiança na ação
governativa assenta na suposta competência técnica, e a falta desta não é
suprível, nem com um milhão de filhos, sobrinhos, compadres e outros
potencialmente incompetentes assessores que, a expensas nossas, os governantes
aproveitem para contratar.
A oportunidade única agora proporcionada pelos fundos que, da Europa, começam
a jorrar - embora não seja claro onde estão a ir parar...
>- não pode ficar comprometida às mãos de uma gestão casuística dos impactos
daqui e dali, como eram as frequentes exigências dos parceiros da
geringonça; nem pode ser essa gestão assegurada, antes de mais, por fiéis
satélites de um manifestamente exaurido e saturado Primeiro-Ministro,
porventura acolitados localmente por aqueles elementos de distritais ou de
concelhias do Partido que, por terem acesso privilegiado ao dito governante, embandeiravam em arco na
campanha eleitoral autárquica.
Não se entende, assim, como, a fazer fé no que por aí se diz, poderá o núcleo
duro do novo Governo ser constituído pelos zelotas do costume,
políticos de profissão e com poucas ou nenhumas competências na área da
gestão, seja do Estado, seja empresarial, exceção feita ao recentemente derrotado candidato à presidência da Câmara
Municipal de Lisboa, agora talvez arvorado a ministro das finanças, após uma
brevíssima e mal notada passagem por uma prateleira do anterior emprego, à
espera de nova oportunidade na política - que, felizmente (para ele), não
tardou a chegar.
Será verdade que os frequentes e ridículos casos ocorridos durante o
mandato autárquico não terão tido a gravidade de alguns do entretanto arredado
ministro do interior; mas o desnorte na governação camarária, a pusilanimidade
e a muito falada submissão ao então vereador dominante - que agora se encontra
a contas com a justiça, tal como outros da sua bem temperada família... -
dificultam bastante a já de si árdua tarefa de encontrar mérito que justifique
uma possível nomeação para o tão falado novo lugar.
O mesmo se diga do outrora número dois na Câmara, altivo e sisudo, cujos
préstimos como arquitecto da maioria absoluta conseguida agora serão,
provavelmente, recompensados. Mas que competência demonstrou, até agora, a
dita pessoa para gerir o que quer que fosse, além da Juventude Socialista, de
uma secretaria de estado eminentemente política e da máquina do Partido em
campanha eleitoral? Será, mesmo, verdade que lhe irá ser dada uma pasta
ministerial?
Idêntica objeção se aplica a outro provavelmente indigitado e já ministro,
oriundo da Juventude do Partido, a quem outros méritos não são conhecidos além
de uma voz algo tonitroante e uma razoável eficácia em negociações, sem que,
no entanto, lhe subjaza qualquer brilhantismo e subsequente capacidade de
planeamento, atributos indispensáveis para um ministro em tempos de
crescimento do País - ou, pelo menos, de recuperação.
Não será, por certo, a tímida e desnorteada apresentadora das conferências de
imprensa da Diretora-Geral da Saúde que, possivelmente em nova pasta
ministerial, irá trazer grandes rasgos de genialidade à gestão da coisa
pública. Ela que, apesar da genealogia partidária, profissionalmente não
terá, como experiência profissional ou política, passado de adjunta de um
secretário de estado também adjunto, até lhe ter sido dado um ministério
também eminentemente político. Além da confiança pessoal e de ser filha de
quem é, que mais-valia efetiva pensará o Primeiro-Ministro que uma tal pessoa
poderá trazer à gestão do Estado?
Fala-se, também, da eterna deputada desde tenra idade, outrora chefe da
Concelhia de Almada do Partido, outrora chefe da Federação Distrital de
Setúbal do Partido, outrora secretária-geral adjunta do Partido, outrora líder
parlamentar, a quem nenhuma aptidão é conhecida para gerir ou coordenar o que
quer que seja além, talvez, do aparelho partidário, e cujas débeis e muito
forçadas e parciais intervenções num programa de debate televisivo - que, a ir
para o Governo, agora terá de deixar - nada de bom quando a um possível
desempenho governativo nos permitem augurar.
Vá lá, livramo-nos, ao que parece, do desajeitado e malquisto Secretário de
Estado do Lítio, que apenas impopularidade ao Governo haveria de acrescentar.
- x -
Todos apreciamos e queremos a liberdade, e muitos lutaram e sofreram para que
a ela pudéssemos almejar.
Mas, jamais teremos essa liberdade, enquanto não estiverem razoavelmente
seguros do que fazem aqueles que nos governam, enquanto a coisa pública
não puder contar com uma gestão transparente, minimamente sensata e
eficaz.
O mal de Portugal não é a política. Essa, não nos falta, e até temos para dar.
O nosso mal é, sempre foi, uma economia, que não vai lá com habilidades e
golpes de rins:
ao nível da governação, Portugal não pode continuar nas mãos de amadores
mais ou menos bem-intencionados, mas escandalosamente impreparados para
ocupar tais lugares.
A serem mantidos ou chamados como por aí se diz, o que farão, no Governo,
estas cinco mais ou menos jovens pessoas?
Que capacidade efetiva tem qualquer um deles para planear, para organizar
e, sobretudo, para liderar?
Parecem, apenas, cinco indiferenciados portugueses que andam, há décadas, a
brincar aos políticos e que, ainda por cima, cedo acabarão a
esgadanhar-se mutuamente numa acesa luta pela ascensão à liderança do Partido.
Será que, ao menos, a economia da própria casa sabem gerir? A
confirmar-se a inclusão no novo governo, uma tal task force governamental será, uma vez mais, eminentemente tática, eivada dos
vícios próprios de uma luta intestina partidária permanente e aguerrida, sem
aptidão relevante para gerir, e que facilmente confundirá
fazer coisas com... governar, estrategicamente, um país.
Numa conjuntura internacional tão crítica, perante uma oportunidade única na
vida de uma nação, o que poderemos deles esperar? No momento em que resolver
escolhê-los, em que estará o Primeiro-Ministro indigitado a pensar?
O resto do governo não passará, provavelmente, de subserviente paisagem, como
costuma acontecer: além do Primeiro-Ministro, será, unicamente, neste
preocupante e pouco qualificado pentavirato *) - este, de mulheres e homens - que residirá toda a nossa talvez última
e vã esperança de sacudir a tão pesada e pegajosa poeira nacional...
Que ímpeto reformador dele poderemos esperar? Como irá a sua ação beneficiar
uma administração pública há tanto e tão necessitada de uma verdadeira e
exaustiva reestruturação?
- x -
Uma vez o primeiro-ministro derrotado nas urnas, ninguém na Europa o quereria,
a não ser para contar as caixas de sardinhas pescadas na zona exclusiva.
Agora, ser-lhe-á fácil guindar-se, em breve, a um lugar de grande prestígio
internacional.
Nessa altura, qual dos cinco satélites ficará a fingir que governa Portugal?
* *
Perante o calamitoso desempenho recente - ou falta dele... -, a dúvida quanto
a um deles parece estar prestes a deixar de existir.