De entre os eleitores habituais que, do facto, se inteirarem, quantos
continuarão a votar naquela obstinada coisa?
Quantos, sobretudo, de entre os certamente muitos que, generosamente, de
alguma forma têm contribuído para as ações de solidariedade de que, por esse
País fora, nos tem dado conta a comunicação social?
Quem, de facto, continuará a votar nas gentes de um partido que continua, cega
e obstinadamente, a apoiar um regime russo - que não há como confundir com
comunista - que, indiferente ao sofrimento do próprio povo, mais não defende,
afinal, do que as colossais fortunas dos oligarcas? Que sanciona com coimas
quem escreve ou pronuncia invasão ou guerra, e
com penas de prisão de entre quatro e seis anos quem ousa participar numa
manifestação?
Naquilo que à liberdade e à democracia diz respeito, o regime russo e outros
como ele são, para o
Partido Comunista Português*), o paradigma da sua predileção. É isto que querem para Portugal.
A este respeito, não tenhamos ilusões...
Talvez os comunistas não comam criancinhas ao pequeno almoço.
Mas, o regime russo que apoiam, prende crianças *), crianças *).
Crianças! *)
Cuspindo palavras ocas e monocórdicas a um ritmo tal que, assim, não há
mensagem que alguém consiga entender,
o deputado-metralhadora de serviço do PCP foi, anteontem, à RTP3*) "explicar" que, não só condenam a invasão da Ucrânia, como até condenam todo
o processo que a tal levou.
Ora, o que ninguém se lembrou, ainda, de lhe perguntar é a razão pela qual,
se o PCP condena, até, mais do que a invasão, por que razão não
apoiou a resolução que condenava, pelo menos, a invasão.
A razão é óbvia e bem simplória:
o voto contra apenas se destinou a ganhar algum tempo de antena para
utilizar na divulgação de um antiamericanismo primário do qual o bolorento
e anquilosado Partido não tem como libertar-se, sob pena de ainda acabar
por apressar a já inevitável implosão.
A mesma Constituição da República Portuguesa com que o PCP não cessa de
acenar, em campanha, como se do seu programa eleitoral se tratasse é bem
clara: "Portugal reconhece o direito dos povos à autodeterminação e independência e
ao desenvolvimento, bem como o direito à insurreição contra todas as formas
de opressão" (art.7º n.º 3)
Como pode, então, o PCP demitir-se de fazer corresponder o seu voto aos
bons propósitos que votou na Constituição?
* *
Claro que a pergunta é de mera retórica. Ninguém duvida que a anfibológica recusa em não apoiar a posição da Ucrânia ao mesmo tempo que condena a invasão desta pela Rússia acaba por ser a última cana que um partido político imerso no pântano da entropia inexorável e irreversível ainda tem para se agarrar.
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