quarta-feira, 3 de novembro de 2021


Erle Stanley Gardner


Stanley Gardner
"Não é preciso ver um homem, olhar o seu rosto, apertar-lhe a mão e ouvi-lo falar, para o conhecer. Basta observar como se comporta. Podemos vê-lo através dos olhos dos outros"

"You don’t need to see a man, look in his face, shake his hand, and hear him talk, in order to know him. You can watch the things he does. You can see him through the eyes of others"

Erle Stanley Gardner*)
The Case of the Silent Partner


Não sei porquê, ao ler isto, vieram-me à memória aquelas carantonhas inenarráveis que, durante semanas a fio, diretamente - e não através dos olhos dos outros - sempre temos de contemplar em milhares de cartazes da campanha para as eleições autárquicas.

Mas não são, apenas, feios: vê-se logo, naqueles olhares fixos, vazios, o real grau de capacidade e de competência para gerir nem que fosse a mais insignificante autarquia, atributos que, aliás, os debates entre candidatos tragicamente confirmam.

Há também aqueles com o tradicional ar de chicos espertos, de candidatos à perda prematura do mandato, que só não é mais rápida porque, no nosso Torrão Natal, a justiça é lenta como a alguns convém, e o sistema judiciário vive à míngua de esmolas que lhe são lançadas pelos sucessivos orçamentos do Estado.

O arquivo Ephemera*) conserva um vasto acervo, cuja visita recomendo, de imagens de cartazes ilustrativos das mais recentes campanhas eleitorais autárquicas. Diz-se que, quem vê caras, não vê corações, mas até uma vista de olhos superficial por aquela galeria nos fará entender a profundidade do pensamento de Stanley Gardner sobre o assunto...

Não se assustem!...

- x -

Por outro lado, o que vemos através dos olhos dos outros, designadamente dos da comunicação social, diz-nos muto, sobretudo acerca do caráter, da personalidade, da eventual bondade cívica das figuras públicas de políticos, de desportistas, de comunicadores, de toda essa gente que não conhecemos pessoalmente mas, mesmo assim, muitos de nós idolatram, talvez não tanto por aquilo que parecem ser, mas pelo bem que esperamos que nos possam trazer ou fazer.

Já parece preocupar-nos cada vez menos o que outros leiam de nós através daquilo de que, pelo nosso comportamento, se possam aperceber, preferindo, quantas vezes, mostrar o que comprámos, o que temos e que, na maior parte dos casos, connosco pouco ou nada tem a ver.

Vivemos, em suma, numa época de primado da imagem pessoal e institucional, quase sempre manipulada, logo, desprovida de significação válida, resultando num mero e desprezível engodo, num logro onde já só cai mesmo quem preferir fazer de conta que não está a entender.

O que pretendemos, afinal: ser, ou... apenas parecer?

terça-feira, 2 de novembro de 2021


As Casas Assombradas de LIsboa

Estarão assombrados? Serão malditos?

O que aconteceu para por lá ficarem tanto tempo, naquele estado lastimoso, estes mamarrachos que ainda assombram a Avenida Fontes Pereira de Melo, em Lisboa?

As Coisas Deixam Marcas
Só recentemente, em vésperas de eleições autárquicas e na última reunião do mandato, a Câmara Municipal lá terá aprovado, finalmente, um projeto*) para arrasar com o miolo de tudo aquilo, mantendo, no entanto, as fachadas, com aquelas caixas de vidro por trás, que ficam tão bem, não ficam? Sim, porque não se espere que os prédios fiquem só com aqueles andares...

Irão conservar os graffiti?

Já se sabe que o anterior Presidente da Câmara - futuro ministro e, se tudo lhe correr bem apesar de tudo, talvez, um dia, primus inter pares - primava pela irascibilidade, pela antipatia, pela arrogância e, já agora, pela incompetência, também. Não é, pois, de admirar que as coisas se arrastassem anos a fio no seu mandato, embora se trate de uma herança de outros que por lá passaram antes dele.

As Três Casas Assombradas da Fontes Pereira de Melo
Será que, com todos os seus bons propósitos, o novo Presidente terá garra e vontade para fazer andar o projeto? Será que não valerá a pena, por outro lado, adiar um pouco as coisas a fim de pôr a descoberto uma ou outra negociata latente que possa interessar a quem se dedica ao estudo dessas coisas de colarinho branco de que tanto se fala?

Não nos esqueçamos de quem por lá andou a mandar no urbanismo até há um par de anos. E estas coisas deixam marcas.

Se deixam...