"Não é preciso ver um homem, olhar o seu rosto, apertar-lhe a mão e
ouvi-lo falar, para o conhecer. Basta observar como se comporta. Podemos vê-lo através dos olhos dos
outros"
"You don’t need to see a man, look in his face, shake his hand, and hear him talk, in order to know him. You can watch the things he does. You can see him through the eyes of others"
Erle Stanley Gardner*)
The Case of the Silent Partner
Não sei porquê, ao ler isto, vieram-me à memória aquelas carantonhas
inenarráveis que, durante semanas a fio, diretamente - e não através
dos olhos dos outros - sempre temos de contemplar em milhares de
cartazes da campanha para as eleições autárquicas.
Mas não são, apenas, feios: vê-se logo, naqueles olhares fixos,
vazios, o real grau de capacidade e de competência para gerir nem que
fosse a mais insignificante autarquia, atributos que, aliás, os
debates entre candidatos tragicamente confirmam.
Há também aqueles com o tradicional ar de chicos espertos, de
candidatos à perda prematura do mandato, que só não é mais rápida
porque, no nosso Torrão Natal, a justiça é lenta como a alguns convém,
e o sistema judiciário vive à míngua de esmolas que lhe são lançadas
pelos sucessivos orçamentos do Estado.
O
arquivo Ephemera*) conserva um vasto acervo, cuja visita recomendo, de imagens de
cartazes ilustrativos das mais recentes campanhas eleitorais
autárquicas. Diz-se que, quem vê caras, não vê corações, mas até uma
vista de olhos superficial por aquela galeria nos fará entender a
profundidade do pensamento de Stanley Gardner sobre o assunto...
Não se assustem!...
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Por outro lado, o que vemos através dos olhos dos outros,
designadamente dos da comunicação social, diz-nos muto, sobretudo
acerca do caráter, da personalidade, da eventual bondade cívica das
figuras públicas de políticos, de desportistas, de comunicadores, de
toda essa gente que não conhecemos pessoalmente mas, mesmo assim,
muitos de nós idolatram, talvez não tanto por aquilo que parecem ser,
mas pelo bem que esperamos que nos possam trazer ou fazer.
Já parece preocupar-nos cada vez menos o que outros leiam de nós
através daquilo de que, pelo nosso comportamento, se possam aperceber,
preferindo, quantas vezes, mostrar o que comprámos, o que temos e que,
na maior parte dos casos, connosco pouco ou nada tem a ver.
Vivemos, em suma, numa época de primado da imagem pessoal e
institucional, quase sempre manipulada, logo, desprovida de
significação válida, resultando num mero e desprezível engodo, num
logro onde já só cai mesmo quem preferir fazer de conta que não está a
entender.
O que pretendemos, afinal: ser, ou... apenas parecer?