sábado, 22 de janeiro de 2022


Dos Votos que não Parecem... mas São


   “Quem, podendo fazê-lo, não comparece na assembleia de voto a fim de exercer o seu direito sagrado,
 não passa, ou de alguém no fim da linha da desilusão com o sistema e sem esperança de que as coisas algum dia mudem,
ou de um preguiçoso inveterado, de chinelos e roupão

"Vota o povo, esquecendo-se de que as extremas são o refúgio perigoso dos desencantados,
e daqueles que não sabem bem para que serve isso de ir votar
"

 O voto em branco é o cartão vermelho, não ao regime democrático,
mas aos seus atuais atores que nos deixaram nesta lastimável situação
 


Falamos e escrevemos, as mais das vezes, de pessoas que conhecemos como quem conhece um monumento: vemo-las, ouvimos das suas bocas o que querem que ouçamos, e pouco mais, além daquilo que escrevem ou dizem outros que, afinal, pouco melhor as conhecem do que qualquer de nós. 

Por sua vez, outros, que não nos conhecem, leem-nos, e nós lemos outros; e alguns de nós votam, depois.

Ora, imaginemos, em determinado país e como mero cenário virtual, um eleitor informado por estas pessoas que mal conhece, postado em frente a um conjunto físico de materializações individualizadas dos partidos políticos que cada uma destas representa.

Ponto de vista do observador
Do ponto de vista desse eleitor, para cada direção que se voltasse, a sua decisão apenas poderia ser tomada no sentido de votar ou não votar no partido materializado nessa direção, já, que nisto de votar, não há cinzentos: apenas bolas pretas e bolas brancas, sim ou não.

Pode, pois, dizer-se que, até por imposição legal, o sentido de voto de um eleitor em cada partido é, inevitavelmente negativo em relação à totalidade menos um daqueles que se apresentam a eleições, uma vez que, limitado por lei a votar, quando muito, numa força partidária, automaticamente excluirá, no ato, todas as outras.

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Esta impossibilidade legal de preencher mais do que uma quadrícula no boletim, sob pena de nulidade do voto, deve fazer-nos pensar na extraordinária importância da decisão de escolher um partido primus inter pares *). Deve fazer ver, a cada um de nós, que o simples facto de determinado programa eleitoral corresponder àquilo que um eleitor pensa que será o melhor para o seu país é insuficiente para que, apenas por isso, o mesmo eleitor lhe confie o seu voto, uma vez  que não se deve, com indesejável ligeireza, vulgarizar o que é, afinal, uma enorme e exclusiva distinção.

Para justificar a escolha, torna-se imprescindível que o anúncio da política defendida e da estratégia para a desenvolver seja credibilizado, quer pela prática política anterior do partido, quer pela bondade e idoneidade dos exemplos que invoca para ilustrar o que propõe. Isto, seja em funções governativas ou na oposição, seja no parlamento ou, fora dele, no recato das reuniões de militantes ou perante todos, em órgãos de comunicação.

Não parece, de facto, sinal de maturidade política um cidadão deixar-se, levianamente, manipular por programas ou manifestos. Sobretudo, sabendo-se que são amiúde elaborados com base nas momentâneas e instáveis tendências do mercado de eleitores, moldando-se, depois, os discursos da campanha ao sabor e à medida daquilo que, antes do ato eleitoral, as  pessoas mais pediam, em lugar de, sem prejuízo de uma saudável flexibilidade e capacidade de adaptação, cada partido se manter firme nos seus princípios estruturantes - desde que, naturalmente, ainda se lembre de quais eles são...

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Não sendo legítimo, a qualquer força política, pretender o mal do país em que opera, espera-se que todas elas prossigam o bem, apenas diferindo nos processos e meios preconizados para o atingir.

Todavia, bem se sabe que, naquilo que, efetivamente, podem realizar, diferem cada vez menos entre si, sobretudo porque, se o país integrar uma organização internacional no género da poderosa Comunidade Europeia, resta-lhe uma relativamente estreita margem de manobra política a nível nacional; e, cientes os agastados eleitores dessa afinal pouco significativa diferença entre aquilo que, em funções governativas, cada partido poderá, efetivamente, fazer - independentemente das loas que tiver andado a alardear em campanha eleitoral para os nossos votos ganhar ou reter -, cada vez mais se vota menos nas ideias e mais nas pessoas que, mais provavelmente, irão implementar aquilo que lhes convém implementar, em lugar de as primeiras defender.

Debatem-se, não obstante, tais atores com o eterno problema de não contarem, nas suas hostes, com políticos carismáticos que possam e queiram assumir a liderança, tendo, amiúde, de se contentar com aqueles que, continuadamente, se vão arrastando nas mesmas funções ou em semelhantes, apesar do pouco atraente odor a bafienta estagnação que, com o passar do tempo, vão ganhando.

Este facilmente constatável facto de as pessoas dos políticos contarem cada vez mais, e o ideário dos partidos cada vez menos, poderá explicar inesperadas transferências de votos entre a extrema-esquerda e a extrema-direita ou vice-versa, sinal evidente de nos encontrarmos perante a tendência, também indesejável, de escolher as pessoas sem olhar às políticas, como cada vez mais se vê acontecer. Não pretendem estes eleitores das extremas implementar uma política cuja prática desconhecem porque, onde moram, jamais terá sido, plenamente, implementada: apenas querem mudar as pessoas, seja lá a política qual for.

No caso português, cada vez mais o eleitor parece intuir que o problema dos principais partidos do centro não reside nos princípios ou nas políticas que defendem, mas sim na prática do compadrio a qualquer preço, do nepotismo, do mais ou menos encapotado caciquismo, cujo efeito imediato é afastar quem, competente, bem formado e de boa-fé estaria disponível para, com verdadeiro espírito de missão, levar o País onde todos nós, de esquerda, de centro ou de direita, gostaríamos de o ver.

A não muito difusa ideia deste deplorável estado da Nação latente no espírito de um eleitorado carregado de canudos, mas genericamente desinteressado destas coisas e maioritariamente pouco evoluído, leva ao inevitável protesto emotivo, excitado, irracional. Protesto que leva alguns a arriscar, a troco de nada, o tudo que é de todos, ao votar, ora numa extrema-esquerda de ideais dissimulados, ora numa extrema-direita que de si só não diz o que não pode dizer, sob pena de a mandarem, definitivamente, calar.

Assim vota o atarantado e pouco esclarecido eleitor que não sabe, já, para que lado se virar. Não sabe, em suma - ninguém sabe - onde encontrar um partido capaz de convencer alguém de que será capaz de, efetivamente, fazer as coisas evoluir, melhorar, serenar.

Comparece na assembleia
Vota o povo, esquecendo-se de que as extremas são o refúgio perigoso dos desencantados, e daqueles que não sabem bem para que serve isso de ir votar.

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Entre escolher as políticas sem olhar às pessoas e escolher as pessoas sem olhar às políticas, encontram-se casos, aparentemente raros, de equilíbrio. Raros, porque, para o desequilíbrio, concorrem o nível cultural, o interesse pessoal, o ambiente político familiar, laboral ou escolar, a semelhança pessoal com o candidato, a empatia, entre tantos outros factores.

O ideal seria, evidentemente, que o partido com que cada um politicamente mais se identificasse fosse dirigido pela pessoa que mais confiança lhe inspirasse também. Mas, estes, são casos raros: tanto mais raros em países em que boa parte dos dirigentes partidários pouca ou nenhuma confiança inspira a quem se pergunta: "Votar? Mas em quem?"

Intrínseca ou superveniente, esta falta de credibilidade leva a que a democracia não opere no sentido tradicional da participação na escolha de quem nos irá representar ou governar, já que votar num partido cujos lugares cimeiros se encontrem povoados de gente que não é de fiar, será não apenas um ato de insana irresponsabilidade, como uma negação da liberdade que cada um supostamente tem de dizer que, assim, não podemos continuar; e a alternativa de votar em grupos de cidadãos independentes é coisa de que os bem instalados partidos nem querem ouvir falar.

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Sucede, porém, que isto de um eleitor dizer não, entendem alguns que corresponde a ficar comodamente refastelado no sofá, com tamanha passividade a contribuir ativamente para que a taxa de abstenção continue a medrar.

Engano puro: a abstenção não é uma forma respeitável de manifesto antissistema, antes ficando a democracia cada vez mais enfraquecida à medida que ela avança. A taxa de abstenção é, antes de mais, um importante indicador da consciência e motivação políticas do universo dos eleitores, variando no sentido inverso de cada uma destas.

Quem, podendo fazê-lo, não comparece na assembleia de voto a fim de exercer o seu direito sagrado, não passa, ou de alguém no fim da linha da desilusão com o sistema e sem esperança de que as coisas algum dia mudem, ou de um preguiçoso inveterado, de chinelos e roupão, indigno de beneficiar da decisão de quem vota e do esforço de quem passa largas horas de um dia de descanso a trabalhar nas mesas onde decorre a votação.

Também o voto deliberadamente nulo - típico de quem prefere, para exprimir desagrado ou revolta, desenhar bonecos mais ou menos obscenos no boletim de voto, nele escrever palavras vomitando ódio a este ou àquele, ou semelhantes manifestações de falta de respeito e de educação - apenas serve para magoar os olhos e os espíritos daqueles a quem cabe desdobrar o boletim quando da contagem, etapa indispensável da votação. O voto nulo é, no mais saudável entendimento, aquele que corresponde a um erro legítimo no preenchimento do boletim, e não a um inútil, inapropriado e mais ou menos ordinário protesto.

Uma elevada contagem de votos nulos apenas sugere que haverá muitos eleitores tão incapazes que nem uma simples cruz sabem fazer; e, isto, todos sabemos que, apesar de tudo, não é verdade, por muito que, quem assim protesta, involuntariamente acabe por fazer crer.

Como nos manifestarmos, então, eficazmente contra o lastimável estado da Nação?

Quando, por mais letras que tenham, os programas políticos estão vazios e as pessoas a eleger nada nos dizem, também, o sentido do voto será, por uma questão da mais elementar honestidade, negativo em relação a qualquer partido; e, sendo ridículo e ineficaz o voto deliberadamente nulo e sumamente condenável a abstenção, o voto em branco apresenta-se como a única opção.
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Em Janeiro de 2022, em Portugal, as coisas apresentam-se-me como segue:

A suposta defesa simultânea de demasiadas causas demasiado fraturantes de demasiadas minorias nem sempre representativas ou suficientemente perseguidas levou o Bloco de Esquerda a perder, completamente, o Norte, restando-lhe viver no desespero de quem tem à frente o muro da indiferença quase generalizada dos já enfadados eleitores entusiásticos de outrora. Ataca, impiedosamente, a extrema-direita - e muito bem... -, esquecendo-se, no entanto, que tem nas suas fileiras destacados membros das FP-25. Entretém-se a mostrar a Coordenadora em pequenos núcleos urbanos onde o Movimento vai passeando a evidente inutilidade ao repetir ad nauseam, para disfarçar os seus verdadeiros propósitos e a responsabilidade no chumbo do Orçamento, chavões copiados da eterna lenga-lenga do Partido Comunista Português sobre a falta de meios dos organismos do Estado e a perseguição a trabalhadores que já nem o podem ver.

Contra tudo e contra todos, e rejeitando a mais elementar racionalidade, o PCP, embora fiável nos compromissos que assume, mantém-se cegamente fiel aos seus princípios estruturantes, a ideias e políticas de tempos há muito idos e noutras paragens nascidas. Segue uma ideologia que defende, expressamente, a tomada do poder pela luta armada: é nisso que acredita. Reconhece, desta forma, a total incompetência para chegar ao poder pela razão e, consequentemente, para também pela razão o exercer. Não dispõe, patentemente, de gestores políticos competentes, capazes de, num quadro de liberdade cuja verdadeira essência o Partido ainda hoje não entende, administrar a República, tampouco se mostrando capaz de, um dia, alguns captar para as suas hostes.

Do Livre, talvez nem valha a pena falar: se nem numa única - e, para ele, preciosa - deputada foi capaz de ter mão, nenhum crédito alguma vez virá a ter o seu contributo para a definição dos destinos da Nação.

O eterno, desgastado e completamente descaracterizado Partido Socialista, de socialista nada tem, apresentando-se hoje como uma caótica massa indefinida, ali mais ou menos ao centro, eivada de fumos de corrupção: uma espécie de próstata dilatada na imensidão da sua prosápia, entalada por paredes de tecido à direita e à esquerda, formadas por gente com quem, ou não quer falar, ou com ele não quer falar, Pouco mais é, hoje, do que um empecilho com tiques ditatoriais que, como qualquer próstata dilatada, nenhum fluxo para a liberdade por ela deixa passar.

Mesmo pondo de parte as recentes polémicas envolvendo a porta-voz, evidente se torna que o >Pessoas, Animais e Natureza se esqueceu, definitivamente, das pessoas, que da natureza pouco fala, e parece só se interessar pelas saladinhas, pelos tornedós de tofu e pela legítima defesa de alguns adoráveis bichinhos - não sei se das cobras venenosas também. Tremo só de pensar no que seria um governo formado por aquela gente que anda ao sabor do vento soprado pelos desígnios do PS, na esteira da moda iniciada pelo inexistente Partido Ecologista Os Verdes, que se constituiu abcesso do PCP.

O Partido Social Democrata lá vai fazendo a sua romaria, dirigida por um líder que, sem dúvida, transpira honestidade, mas está só: não tem a quem confiar responsabilidades governamentais numa amálgama de gente em tudo semelhante à do PS. É um líder que, ora toca bombo ora é o bombo da festa. Bem-intencionado e com muita vontade de fazer alguma coisa, mas completamente só num deserto de quadros partidários, alguns dos quais seguramente seriam tão incompetentes ou mais ainda do que certas pessoas que pelo atual Governo passaram e outras que ainda lá continuam a ocupar lugar.

A Iniciativa Liberal poderia ser uma possibilidade, mas aqueles rapazes e raparigas, muito originais e empreendedores sem dúvida, não têm estofo, não têm substância, não têm consistência, como ficou bem demonstrado naquela parvoíce dos Santos Populares*). Para negacionista, já cá temos um outrora juiz e, francamente, a receita não é de agradar. Para a IL querer ser alguém na política, tem, ainda, um longo caminho a percorrer, e muita coisa a afinar. Acresce que um partido que se diz liberal não tem lugar num país cuja população não sabe viver em liberdade, que odeia regras apenas porque o são, que as confunde com atos ditatoriais, que entende que o capricho individual vale mais do que qualquer lei, que sempre encara os deveres de má catadura.

Do Chega!, francamente, chega! O Chefe já se pavoneou que bastasse, já se divertiu à grande e à francesa*), já passeou o seu incomensurável ego por tudo quanto era sítio, já se pseudo-demitiu não sei quantas vezes, e faria bem em deixar-se daquelas coisas e ir tratar da vida fazendo algo que servisse para alguma coisa ou, pelo menos, não atrapalhasse. O Partido parece não passar de uma histriónica amálgama de ressabiados façanhudos, que só sabem que são do contra, sem saber, porquê ou, sequer, de que contra são. O Chega! não tem identidade, não existe, como bem o prova o facto de, para evitar as loucas arbitrariedades locais que redundaram no triste e alucinado espetáculo das autárquicas, tenha tido o tal cada vez mais eterno Presidente que, desta vez, avocar, com poder absoluto, a decisão e a responsabilidade pela formação das listas de candidatos.

(Acabo de me lembrar daquilo que resta de um tal Partido do Centro Democrático Social / Partido Popular, praticamente relegado à categoria de inexistente, não sei ao certo se por culpa do Presidente que lhe deu corpo e depois se foi, se por culpa da Presidente que depois por lá passou, ou por culpa do Presidente que quis muito sê-lo, continua a querer, mas parece ser o único a pensar assim)

O resto, é paisagem, como se viu naquele paupérrimo debate a onze na RTP 1. Têm, pois com certeza, esses quase protozoários todo o direito de existir e de gastar dinheiro a candidatar-se, às vezes parecendo que apenas o fazem pelo privilégio de mostrar as carantonhas dos dirigentes na têvê. Mas isso é lá com eles; e, se pretendem continuar a esbanjar dinheiro e a querer confundir o conceito de partido político com o de grupo de pressão, que lhes faça muito bom proveito, na certeza de que não é com qualquer deles que, algum dia, poderemos contar para toda esta confusão clarificar.

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Começa agora mais uma campanha eleitoral. Melhor: continua, porque em campanha todos os partidos sempre estão.

Uma campanha inútil, uma vez que jamais a validade de uma promessa para o futuro se sobreporá, num espírito minimamente lúcido, à da prática continuada nos meses ou anos que a terão antecedido. Não no espírito do meu caro Leitor, e no meu também não.

Já aqui disse que, desde que não sejam extremistas inveterados, me é indiferente quem irá ganhar a eleição de dia 30 de Janeiro: da forma como os vejo, entre maioritariamente corruptos e incompetentes, por um lado, e maioritariamente incompetentes e corruptos por outro, venha o Diabo e escolha.

Bem longe das egrégias figuras dos respetivos fundadores, os partidos tradicionais, aos anos 70, mais parecem hoje viveiros de profissionais da política, que nada mais alguma vez foram e hoje lutam para a sobrevivência de uma imagem que não merecem, frutos bravios de um ensino instável e volúvel e de uma educação que jamais terão tido e, manifestamente, não têm capacidade para, por si próprios, adquirir.

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Ninguém pode ser interrogado quanto à forma como votou ou irá votar no dia das eleições. Mas não é menos certo que ninguém está proibido de o declarar espontaneamente, exceto após o encerramento da campanha eleitoral.

Irei votar, claro! Mas o sentido positivo do meu voto será... nenhum.

Será um voto tão branco, como branco, vazio é o panorama político em Portugal, cenário apático ideal para que um dia caiamos sob o jugo de um ditador ou de equiparável animal.

Certo é que, tal como a abstenção, um voto em branco pode ter como efeito privilegiar partidos não democráticos, cujos apaniguados não deixarão de, pressurosamente, ir depositar o seu voto expresso. Todavia, esse efeito não ocorrerá, esse risco não se correrá, se apenas votarem em branco os absolutamente desiludidos, como o que aqui escreve, e os ainda esperançosos que, a não votar em branco, iriam protestar votando nos inenarráveis partidos extremistas, que todos sabemos o que têm por trás.

Em vez de, inconscientes do real e bem próximo risco que correm ao protestar votando em extremas, melhor fariam os últimos optando, também, pelo voto em branco. Sabiamente. Sensatamente. Esclarecidamente, como se quer numa verdadeira democracia.

O voto em branco não é desejável: é, simplesmente, a alternativa acertada e democrática ao voto nulo deliberado e, sobretudo, à abstenção. É o cartão vermelho, não ao regime democrático, mas aos seus atuais atores, que nos deixaram nesta lastimável situação.

Os votos em branco não parecem votos. Mas são...


  LEIA  AQUI  O  ARTIGO SEGUINTE DESTA SÉRIE DEDICADA AO ATO ELEITORAL!  

sexta-feira, 21 de janeiro de 2022


Olhão: A Primeira Rua Pedonal de Portugal

 

Olhão: Rua do Comércio

Arrisco-me, com este título, a promover uma disputa entre os portugueses de Olhão e os da Praia da Granja, já que uns e outros - se não outros ainda... - reivindicam para a sua terra a primeira rua pedonal de Portugal.

Acontece que, procurando, em vão, validar a menção encontrada no sítio da Associação de Valorização do Património Cultural e Ambiental de Olhão*), deparei, no "Praia da Granja"*), com uma referência à Avenida Sacadura Cabral - ou parte dela -  também como sendo a primeira rua pedonal de Portugal, informação que o jornal "O Gaiense" precisa como tratando-se da primeira rua pedonal registada em Portugal*)

Resta-me, assim, deixar ao cuidado dos interessados e, também, dos Leitores mais bem informados a apresentação de documentos ou testemunhos que permitam validar uma ou outra reivindicação.

Se houver debate... que seja mais interessante do que aqueles a que temos assistido na televisão...*)

quinta-feira, 20 de janeiro de 2022


Inferno e Traição

Isto, preocupa-me. Seriamente.

Hoje de manhã, ao entrar calmamente num supermercado, atraiu-me o olhar uma fileira de capas de revistas habilmente dispostas por forma a chamar a atenção. Revistas daquelas de grande tiragem versando, maioritariamente, sobre os importantes temas relativos a diversas telenovelas, bem como às sem dúvida muito interessantes aventuras e desventuras daquelas criaturas que se consideram personalidades, colunáveis, membros do jet set, ou que ascenderam a qualquer outro patamar porque o elevador social nele os deixou, ou por terem trepado a pulso para o atingir - o que, aqui no Retângulo, cada vez mais parece corresponder a uma especial habilidade para abrir, fechar e movimentar sacos azuis e outras habilidades que tais, a maior parte das quais com significativas repercussões fiscais e outras que tais.

Das ditas capas, sobressaiam os títulos "Inferno e Traição", "Tragédia e Traição", "Amor Proibido", "Todos os Segredos", "Acusado de Pedofilia" e, last but not the least, "Expulsos do BB Famosos".

Como os proprietários da tabacaria não estão ali para perder dinheiro, evidente se torna que sabem muito bem que é aquilo o que mais se vende, o que mais chama clientes, e não os títulos sensaborões  (leia-se "mais sérios") dos representantes da imprensa escrita que, efetivamente, informam e que cada vez menos existe o hábito de ler.

Num dois próximos Domingos, serão estes educados leitores, às centenas de milhar, que, juntamente com os que se deleitam com o conteúdo de pasquins de índole e filiação diversa, juntamente com as notícias fresquinhas da indústria futebolística - que também estavam no escaparate, logo a seguir -, irão, conscienciosa e criteriosamente votar em mais uma eleição.

São estes indivíduos sumamente ocupados e preocupados com a visibilidade do próprio umbigo*) que irão escolher quem, a si, caro Leitor, e a mim irá governar nos próximos quatro anos - se tanto aguentar.

São estas pessoas sem Norte, vazias de si, refugiadas na mirífica ilusão daquilo que nem merece ser -  porque não tem razão válida para existir além da subserviente devoção ao marketing predador que sopra nos lubrificados cataventos destas pequeninas cabeças e destes minúsculos corações -, são estes infelizes que, talvez maioritariamente, irão tomar uma decisão fundamental para o futuro próximo de cada um de nós, e do todo que todos integramos.

Isto, preocupa-me. Seriamente.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2022


André Ventura

 


"O que é que vale mais:
a vontade do povo português,
ou a Constituição da República?"

André Ventura*)     
(Entrevista à RTP - 01.12.2001)


Não entenderá o Presidente eleito e, regularmente, auto-demitido e reeleito do Chega! que, numa democracia representativa - cuja verdadeira natureza, apesar de se apresentar a eleições, parece ter significativa dificuldade em entender -, a vontade do povo se encontra plasmada, acima de tudo e antes de mais, na Constituição da República?

Doutorado que é em direito, não se aperceberá de que a alarvidade que disse equivale a perguntar se vale mais a vontade de roubar do que as disposições penais que tal ato proíbem?

Que tipo de gente insistirá, tendo alternativa, em confiar o voto a alguém com pensamentos como este, subversivos da ordem pública, da paz e da estabilidade que a todos são essenciais e estruturantes da vida em sociedade?

Poderá, por mero capricho, um cidadão ou grupo de cidadãos fazer, impunemente, prevalecer os ditames da sua vontade à letra da lei ou do próprio Texto Constitucional?

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A prática política e as sucessivas declarações do mesmo género permitem excluir que se tenha tratado de um lapso - aliás sempre deslocado em pessoa de tão viva e aguda inteligência. A enormidade da ideia contida na pergunta não pode, assim, deixar de suscitar as mais sérias dúvidas quanto à verdadeira motivação do Autor ao deixar o Partido Social Democrata para fundar o Chega!.

Este partido é, inegável e assumidamente, nacionalista e de extrema-direita. Mas, sê-lo-á, também, o seu Fundador? Até que ponto poderá um outrora quadro destacado de um partido democrático inverter, no seu íntimo, de forma tão fraturante e do dia para a noite, o seu posicionamento político?

Qualquer pessoa, para ser eficaz, tem de acreditar naquilo que faz. Qualquer político, para ser eficaz, tem de acreditar naquilo que diz.

Perante os resultados até agora conseguidos e com tamanha rapidez, dificilmente poderá considerar-se ineficaz o Presidente do Chega! Ficam, no entanto, as perguntas: quais serão os seus verdadeiros propósitos? Estará, afinal, a ser eficaz em quê?

Será, como se apresenta, um genuíno radical, empenhado em defender uns estranhos, aberrantes, anquilosados e patéticos ideais?

Será, quem sabe, um genuíno democrata que terá, em dado momento, decidido manipular uma crescente mole humana que ia surgindo na extrema-direita, inicialmente com um discurso firme e agressivo para depois, insinuando-se junto do PSD, a neutralizar?

Será, como alguns pretendem, um mero oportunista sem escrúpulos, um perigoso ditador unicamente interessado na exaltação da própria imagem e na rápida ascensão ao exercício do poder - eventualmente como ministro da justiça... -, manipulando e usando tudo e todos ao serviço desse desiderato?

Pouco importa, de facto.

Do que não pode haver dúvida é de que se trata de uma personagem de ambiguidade perigosa, politicamente escorregadia, despudorada e subversiva a ponto de insinuar que deve a vontade do legitimamente descontente povo português sobrepor-se, por ilegítima, antidemocrática e injustificada ação direta, aos preceitos que essa mesma vontade popular, expressa no voto, na Constituição fez plasmar.

Preside, assim, a um partido que dói ver merecer um lugar no boletim de voto da supostamente democrática eleição de quem nos irá governar.


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terça-feira, 18 de janeiro de 2022


Novak Djokovic - A Estrela Cadente

Notoriedade é responsabilidade. Responsabilidade para com aquela imensidão de adeptos - ou fans, como insistem em chamar-se - que os segue como se fossem deuses, seres omniscientes e infalíveis, modelos de bondade, seriedade e sabedoria.

Não são. São, apenas, seres humanos habitualmente bastante elementares, com uma especial aptidão - quase sempre na área do desporto e, dentro desta, dos desportos com bola. Talvez a velocidade do esférico atraia, ou a imensidão das fortunas acumuladas; ou talvez as pessoas se embasbaquem simplesmente porque têm necessidade de se embasbacar.

A verdade é que muitos destes astros e estrelas - que também por cá alguns temos... - não passam de indivíduos sem educação, sem estatura moral, narcísicos, ambiciosos, que aprendem a sorrir e a fingir emocionar-se com algo exterior ao seu ego, quando a verdade é que apenas nele pensam, indiferentes ao interesse da comunidade e, sobretudo, à fraca qualidade do exemplo com que, inevitavelmente, contaminam quem os idolatra.

Tudo isto é mau. Mas, muito pior é quando o exemplo põe em causa o bem-estar e a saúde de toda uma nação*) ; que, aliás, nem é a deles.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2022


Fafá de Belém: Coração do Agreste




Coisas que, mesmo sem querer, nos ficam no ouvido, passadas décadas sobre o termo da transmissão da série que as lançou.

A voz potente de Fafá de Belém, aliada à imagem que nos fica de Tieta e de todas as deliciosas personagens saídas da pena de Jorge Amado merece especial referência, numa canção sentida e plena daquela nostalgia que, por vezes, nos não larga a pele.

Pode ouvir aqui.


Imagem: Youtube

Para admirar outras maravilhas do audiovisual, selecione
*Obras de Arte
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