Com esta ressalva bem presente, atrevo-me a considerar "Conde d'Abranhos", não apenas como uma das melhores séries portuguesas a que alguma vez tive o gosto de assistir, como capaz de ombrear com muito do melhor que lá de fora nos é trazido, em brasileiro, em inglês, francês ou outra língua.
Composta por treze episódios transmitidos, pela primeira vez, no ano 2000, a série inspirou-se no romance póstumo "O Conde de Abranhos - Notas Biográficas por Z. Zagalo", de Eça de Queiroz, do qual é frequentemente citada a passagem “Este governo não há de cair - porque não é um edifício. Tem de sair com benzina - porque é uma nódoa!”, aplicável, segundo uns ou segundo outros, a todos os governos dos quais alguma vez dependeram os destinos das respetivas nações.
No sétimo episódio da série - integralmente disponível no arquivo RTP - ouvimos, nas palavras que o guião pôs na boca de Zagalo: "Um país vazio, que anuncia um país ainda mais vazio. Como se fosse o deserto de tudo. Tão deserto e tão seco, que não há lugar para uma única ideia que seja. Só palavras, palavras. Nada mais que palavras (...). Um país ridículo e analfabeto", imagem que, no tempo de Eça como agora, parece descrever, na perfeição a indisfarçável decadência de valores e de costumes em que as gentes deste nosso ocidental retângulo vêm caindo.Esta crítica social e política é o mote, e uma constante ao longo da obra e da série, desta sendo justo destacar, além do texto de Francisco Moita Flores e da realização de António Moura Mattos*), as interpretações de Paulo Matos*) (Alípio Abranhos), João d'Ávila*) (Zagalo), Carmen Santos*) (Laura Amado), Filomena Gonçalves*) (Casimira) e Rui Luís*) (Justiniano Amado).
Não me lembro de ter lido essa obra de Eça, mas creio ter visto alguns episódios da série televisiva.
ResponderEliminarA propósito do teor acerca da vida de alguns políticos, pouco ou nada se alterou. Continua a grassar a corrupção, o compadrio e tudo o mais que se 'diz' da classe política.
Ocorreu-me, agora, uma peça de teatro que vi há largos anos, satirizando a classe burguesa nacional sobre a facilidade com que os novos-ricos adquiriam títulos nobiliárquicos. Dizia a Fernanda Borsatti encarnando o papel de esposa de um recente Barão, interpretado pelo grande Armando Cortez: "Se tu és Barão, então, eu sou Baroa". :)
Bom dia, boa semana.
Ah, mas não perca esta série, se gosta de dar boas gargalhadas para descomprimir de todo este panorama desolador.
EliminarGostos, são gostos, já se sabe. Penso, no entanto, não me enganar quando digo não ter grandes dúvidas de que irá, devidamente, apreciar.