sexta-feira, 15 de abril de 2022


Sport Lisboa e... GNR

Ponte Vasco da Gama, Lisboa. Ontem, véspera de fim-de-semana prolongado. Filas a perder de vista, desde a zona do Aeroporto até muito para além de Alcochete.

Algures no tabuleiro, já passada metade da tortura, frenéticos batedores motorizados da Guarda Nacional Republicana (GNR) acenavam aos saturados e imobilizados condutores para que abrissem alas.

Não, não era uma viatura de emergência, nem de um político atrasado para uma aparição urgente na televisão. Tratava-se, mais singelamente, do enorme autocarro encarnado.

Regressavam os futebolistas de Liverpool, onde tinham conseguido um inútil empate a três, depois do desaire em casa. Mas as primas-donas vinham, por certo, fatigadas, e ansiosas por chegar rapidamente à universidade, ou à academia, ou lá o que é aquela coisa que têm ali para o Seixal.

Não tinham, que se saiba, jogos nos dias seguintes. Estavam, simplesmente, cansados do dia de trabalho, desejosos de uma boa banhoca e de ficar em paz e harmonia na dependência da sua Catedral.

No tabuleiro da ponte, ao mesmo tempo, desesperavam, no trânsito, centenas de portugueses sem batedores da GNR, de clubes desportivos diferentes e muitos deles sem clube, também cansados do dia de trabalho, desejosos de uma boa banhoca e de ficar em paz e harmonia nos respetivos lares.

O que deve um destes portugueses - mesmo pagando... - fazer para conseguir batedores que o escoltem mais rapidamente a casa?

Que estatuto especial têm, ao olhos da lei e da ética, esta dezena ou duas de pessoas - do Sport Lisboa e Benfica ou de outros clubes -, especializadas em maltratar uma bola e os pés e outras partes do corpo dos adversários, que lhes permita tratamento tão diferenciado relativamente à restante população?

Será que os membros do Governo têm direito a escolta e, até, a exceder a velocidade máxima também quando estão desejosos de chegar a casa para a banhoca, ou só quando têm, em representação do Estado, de comparecer a determinada hora em determinado lugar?

O que têm, afinal, de tão especial estas pessoas que, no meio da maior das desgraças, exibem relógios de milhares de euros, automóveis de milhões, casas fabulosas, iates, sei lá mais o quê, perante milhões de basbaques que nem entendem que, ao fazê-lo, aqueles craques com eles apenas estão a gozar?

Com gente a pensar e a agir assim, onde é que tudo isto irá parar?


Outros temas que poderão interessar-lhe no Mosaicos em Português:
- A disparidade entre os salários dos futebolistas e os dos dirigentes dos clubes desportivos Leia AQUI
- A necessidade do equilíbrio de forças entre duas equipas desportivas que se defrontam Leia AQUI
Sem comentários:
Enviar um comentário