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quinta-feira, 9 de dezembro de 2021
Joacina Katar Moreira e o Elogio da Oligofrenia
terça-feira, 23 de novembro de 2021
PAN: O Partido do Frei Tomás
Enfim, o Porta-voz vai-se, e uma Porta-voz*) vem, com uma carinha laroca e um corpinho de fazer inveja a qualquer deputado do PEV - que, honra lhe seja feita, nos mostra deputados a condizer com a dieta que outros dizem ter adotado.
As dúvidas quanto à bondade dos propósitos não melhoram, compreensivelmente, a tal nova Porta-voz - 'vegana, feminista e workaholic'*) e de ar tão positivo e proativo, como agora se diz, nas múltiplas declarações que profere - parece ter andado envolvida em negócios um bocadinho enviesados, digamos, relativamente àquilo que o Partido diz defender. A fazer fé no que dizem os meios de comunicação, claro está...
Ah, e corre, também, por aí uma história acerca de uma acumulação indevida de funções no setor privado e no Estado*), que deve ser absolutamente falsa, ou não teria sido tão enfaticamente negada, tal como falsa também deve ser uma estupidez qualquer que para aí inventaram acerca de não ter declarado ao Tribunal Constitucional uma imobiliária em nome do marido*), empresa que faria parte dos bens comuns do casal.
Já se sabe que tudo isto são coisas da campanha eleitoral, sem qualquer correspondência com a realidade - ou, pelo menos, muito mal interpretado -, que não é, apenas, a ponta do iceberg, e que, na política, os adversários são todos "Feios, Porcos e Maus".
Convenhamos, no entanto, que já são maldades a mais, não vos parece?
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A ser verdade - não deve ser... -, será que esta gente que se mete na política nunca ouviu falar de computadores, de bases de dados e dessas coisas todas que, cada vez mais, tornam impossível esconder o que quer que seja da comunicação social? Acaso pensam que basta um sorriso de plástico e meia dúzia de palavras fortes e monocórdicas para fazer esquecer o mais ou menos discutível passado que, por uma razão ou por outra, a maioria de nós acaba por ter?
Episódios semelhantes deveriam inibir tanto alguém que os viveu de ir para a política, como alguém que ouve mal de dirigir uma orquestra. Mas não: ao que parece, continuam a ter o desplante de, politicamente, se promover, supostamente na defesa de causas absolutamente incompatíveis com os seus anteriores - e, quem sabe, atuais...- comportamentos.
Em véspera de eleições, claro que o PAN sempre diria que "mantemos total confiança" na dita Porta-voz. O contrário, seria mergulhar no mesmo charco em que os partidos da direita andam, desesperadamente, a esbracejar para se manterem à tona do, cada vez menos molhado, oceano de votos.
Pobres animaizinhos portugueses, que, se aquilo implode, ainda acabam por ter de se contentar com o esforço abnegado de algumas mais interventivas associações particulares e organizações não governamentais!
Muito fala Frei Tomás: faz como ele diz, mas não faças como ele faz
sábado, 20 de novembro de 2021
Na Sala de Pequenos-Almoços
“O respeito pelas mais elementares normas de cortesia e de etiqueta é o garante último de que saberemos comportar-nos e controlar-nos, mesmo quando em tudo diferimos ou divergimos, quando estamos entre amigos ou inimigos, entre parceiros ou adversários. É que o ambiente natural não é o único que importa preservar: existe o ambiente social, que também importa saber enriquecer, cultivar”
Ainda para mais, se o espaço é agradável, o buffet farto, e o serviço
simpático e eficiente.
Anos atrás, estas três expetativas seriam legítimas e naturais, nenhuma menos
agradável havendo a acrescentar, já que, salvo um ou outro episódio esporádico
e menos edificante, para tal grande razão não se iria encontrar.
- x –
Hotel arejado, amplo, tranquilo.
Num canto da sala, sentado pacatamente, um discreto casal nos cinquenta ou sessenta trocava frases em surdina, aqui e ali deslizando pela sala para guarnecer o prato, quase sem se fazer notar. Ambos com a roupa informal, discreta, de pequenas férias numa bonita cidade em Portugal.
O elevador chega. A porta abre-se. Expele três bocas escancaradas e palavrosas nos seus quarentas, fatos de treino num berrante azul e rosa, a gritar alarvidades em suposto português da América enquanto os pés as havaianas fazem falar.
Escolhida a mesa, chinelam para o buffet, atropelando comentários aos assuntos mais diversos que, sem dó nem piedade, impõem ao casal do canto - já que, os ouvidos, quando a gente come à mesa, não tem como tapar.
Minutos depois, o elevador. Tugas boçais, como se tirados de certos cartazes da campanha autárquica, com graça nenhuma.
No carrinho, um infante de tenra idade geme e grita a desdita, ou alguma desconhecida e lancinante dor. O mano, de três ou quatro encantadores aninhos, dá largas à birra de um capricho negado pelos progenitores.
Pára o elevador. Mais gente chegou. Como aqueles dois espécimes que, há muito ido o Verão e num hotel de cidade, se lambuzam de calções de banho e havaianas copiadas das dos outros três. Bonés na cabeça com as palas para trás, como alguns humanoides pensam que é moda, que lhes fica bem, que os faz parecer sabe-se lá quem.
Talvez se sintam importantes influencers, manipuladores ou vendedores de banha da cobra, a mitigar um pouco as frustrações que uma chuva de palavrões projeta no ar matinal de uma outrora tranquila e civilizada sala de refeições.
Outros, mais discretos, sentam-se, hesitantes, ponderando se será prudente por ali ficar ou não.
Entre eles, uma jornalista famosa, desses programas de horário nobre, quase irreconhecível nas enormes olheiras sem a maquilhagem que lhes colam à pele na televisão. Resolve ficar. Cotovelos na mesa, sorve, lânguida e ruidosa, o café com leite, debitando, a espaços, vocábulos esparsos para a farta cabeleira pelos ombros, bigode hirsuto e barba por fazer que em frente come parecendo nem ouvir.
Irremediavelmente comprometida a digestão, o casal do canto precipita o fim da refeição. Levanta-se, ajeita as cadeiras e, desta vez, prefere as escadas, para evitar a confusão.
- x –
A galopante indiferença de uns poucos perante o ambiente que, em cada lugar, a cada um dos outros é legítimo esperar encontrar, surge como uma das notas dominantes de um inovador mas inqualificável conceito que uma parte cada vez maior da população confunde com liberdade: não passa de uma elementar, básica, risível e parola demonstração de completo desrespeito pela tranquilidade alheia; pelas expetativas de quem a um lugar se dirige com determinado propósito, com todo o direito de esperar aí encontrar condições adequadas, como anteriormente sempre encontrava e a cultura (ainda) dominante sugeriria que continuasse a encontrar.
- x -
A forma de trajar é uma das vertentes.
Nada explica e, muito menos, legitima que, em lugar de obedecer ao mais elementar preceito da boa educação que diz “em Roma, sê romano”, se opte por, onde quer que seja, impor à comunidade as regras de meia dúzia - quantas vezes, até, de um só - que queira parecer original, por pouco mais de si lá ter para mostrar. Apenas se torna incómodo, digno de pena, patético, ridículo em toda a imensidão do seu miserável comportamento, como alguém que não sabe estar nem dos outros quer saber.
Cada um tem o direito de se vestir e de agir como bem lhe aprouver; mas apenas
quando está só ou com quem pense e sinta de forma idêntica: que o mesmo vá
buscar onde estiver. Ninguém alguma vez terá um direito legítimo de
impor, a espetadores acidentais ou involuntários, condutas, atitudes ou trajos
inadequados ao tempo, ao lugar e às demais circunstâncias; que lhes não
interessem, que patentemente lhes desagradem ou os violentem nos seus hábitos,
educação ou convicções.
- x -
Será que esta liberdade que insulta a Liberdade considera ofensivo afixar, à
entrada da sala, uma papeleta, um quadrinho, qualquer coisa que informe, em
letras bem visíveis, que não é permitida a entrada, pelo menos, a hóspedes em
chinelas e calções, ou especificando qualquer outra roupagem estapafúrdia que
por lá seja uso encontrar?
Dá mau aspeto o papelinho à porta, dirão. Pois dá. Mas não será bem pior o desfile de manifestações variadas e inacreditáveis de falta de educação com que, de outra forma, cada vez mais nos iremos deparar? É que a forma como trajam sempre diz alguma coisa do modo como as pessoas se irão comportar.
Poderão os estabelecimentos abertos ao público continuar a ignorar os efeitos nocivos da deriva educacional de uma sociedade cada vez mais decadente? Mais do que outros, os estabelecimentos de hoteleria e de restauração, num Portugal em que a captação de turistas estrangeiros é vital para dinamizar a economia?
- x -
As normas de conduta em publico, em sociedade, muito especialmente as que se referem à forma de trajar, nasceram do consenso; e, em quanto não violar as leis do Estado, a sua inobservância ou alteração apenas deve ser permitida ou promovida junto de quem a tal estiver recetivo, e vivida em núcleos que, também consensualmente, comportamentos menos consensuais escolham adotar.
Tudo quanto vá fora disso, não passa de agressão egoísta, oportunista e gratuita de terceiros, visando a subversão de modos de vida estabilizados cuja manutenção é essencial à Humanidade, à paz que viabiliza o progresso moral e espiritual que permite contemplar, pensar, sonhar, criar.
Se cada um se abstiver, antes, de impor ao outro aquilo de que gosta mas ele não, e cuidar de fazer pelo outro aquilo de que não gosta mas ele sim, as relações interpessoais serão muito diferentes e o Mundo será, para todos, um lugar muito mais agradável para se estar, para dar e para usufruir.
Assim, é que não...
* *
Esta coisa da falta de maneiras é, a par de outras por vezes bem mais sérias, uma das características mais irritantes de entre as que parecem omnipresentes, como se fizessem parte de boa parte da população.
quarta-feira, 10 de novembro de 2021
Vergílio Ferreira
"Ser tímido é dar importância aos outros. Ser desinibido é dá-la a si
próprio.
Mas normalmente o tímido tem-na. O desinibido não"
Vergílio Ferreira*)
Conta Corrente 5*)
quinta-feira, 4 de novembro de 2021
Não Basta Ser...
Não teriam o tempo e o esforço sido mais bem empregues noutro qualquer evento onde o Senhor Vice-Almirante pudesse passar a sua importante mensagem a uma plateia bem maior e, até, dela mais necessitada do que um punhado de portugueses supostamente esclarecidos e suficientemente afortunados para ter meios para ali estar?
Lembrei-me, depois, da importância que o certame tem para certos políticos e politiqueiros aqui do nosso Retângulo, onde muitos deles por gente séria já nem tentam passar e sabem mais do que bem que, como também já aqui disse, em política é insensato dar força a uma pessoa sem também nos prepararmos para mais tarde podermos vencê-la
A nossa glória nunca é eterna, e, enquanto dura, sempre haverá outros que dela se saberão aproveitar.
Ocorreu-me, também, que o Senhor Vice-Almirante, a quem todos tanto devemos - mesmo os mais básicos negacionistas...*) -, foi perentório e inequívoco ao exprimir o firme propósito de jamais se dedicar à política; mas ocorreu-me, também, que, não obstante, a aparição naquele meio restrito inevitavelmente traria chorudos proventos em votos expressos a certos políticos habitualmente associados à promoção do Web Summit. Ou não será?
Claro está que o ilustre Oficial é senhor de discernimento mais do que suficiente para ter consciência de tudo isto e, mesmo que o não tivesse, certamente não necessitaria de um recém-nascido blogueiro para o aconselhar. Tampouco deixará de saber como, do ponto de vista emocional, lidar com desmandos parolos do género "Você é o meu herói!"*), sempre apetitoso fruto para aqueles que tendem a olhar para a mais ínfima manifestação de mediocridade como uma fabulosa notícia que num canal qualquer não resistirão a pespegar.
Convirá, no entanto, que, por um lado, se não esqueça facilmente da patifaria que, muito recentemente, lhe fizeram ao nomearem-no Chefe do Estado-Maior da Armada*) quando o lugar estava ocupado e continuaria a estar; e, por outro, que tenha presente que a participação em eventos deste impacto político e mediático, porquanto com uma quantidade de espetadores tão reduzida, poderá soltar as habituais más-línguas, que não deixarão de lucrar com a oportunidade de, aqui e ali, deixar mais um artigo de opinião ou de ir mostrar-se a uma estação televisiva que lhes pague bem para se deliciarem a especular sobre um assunto que, naturalmente, assentará em substância nenhuma, o que nem por isso os desencorajará.
Penso que ninguém terá qualquer motivo para duvidar da hombridade, da idoneidade, da retidão e da honestidade do distinto Oficial da Armada. Mas, Senhor Almirante, foi há muito tempo já que a mulher de César descobriu que não basta ser: é preciso parecer.
Sempre.
Atualização:
Impasse na Carreira de Gouveia e Melo na Armada*)
(07nov2021)
quarta-feira, 3 de novembro de 2021
Erle Stanley Gardner
"You don’t need to see a man, look in his face, shake his hand, and hear him talk, in order to know him. You can watch the things he does. You can see him through the eyes of others"
Erle Stanley Gardner*)
The Case of the Silent Partner
sábado, 23 de outubro de 2021
PAN - A Outra Exploração Infantil
“Apenas nos fez, uma vez mais, sentir que a designação mais apropriada
seria
Partido dos Animais e da Natureza, já que pouco fala das pessoas e das
causas delas,
nem se coibindo, para se manter por mais uns tempos na
espuma dos votos,
de explorar a imagem das crianças e dos jovens que
diz defender”
Tampouco alguma vez conseguir entender a razão pela qual, com total
indiferença pelo sofrimento infligido, na lide a cavalo um mamífero (Homem)
utiliza um também mamífero (cavalo) para torturar um outro mamífero (touro);
ou por que, na lide a pé, o primeiro mamífero, supostamente dotado de mente e
espírito muito além dos dotes do último, experimenta alguma satisfação pelo
facto de sair supostamente vitorioso de um artificiosamente provocado
combate entre a força mental de um e a força bruta de outro.
Sempre me ensinaram que um combate, para o ser realmente e para, sendo-o, ser
também valoroso e leal, haverão de estar equilibradas as forças em presença, o
que, evidentemente, não acontece quando se confrontam, de um lado, uns oitenta
quilos e do outro uns seiscentos; quanto, de um lado, ter-se-á, vá lá, uns cem
e do outro lado escassos vinte, no que se refere a quociente intelectual.
Será a espécie humana tão pouco segura de si que necessite de martirizar uma bem mais volumosa besta para conseguir demonstrar a mais do que conhecida supremacia intelectual? Ou será tão pouco valorosa que, tendo abdicado do combate corpo a corpo entre iguais em prol da venda de armas de destruição maciça e à distância, apenas lhe resta coragem para, com grande aparato, fingir que trava um combate que tem, afinal, como substância, coisa nenhuma, que apenas existe para inglês ver?*)
- x –
Às coisas ditas e feitas para inglês ver nos vem a política, desde tempos imemoriais, habituando, a ponto de, graças à prática demagógica quotidiana da generalidade dos lusitanos partidos, instintivamente havermos substituído, nos nossos espíritos, a suposta nobreza da política e da missão governativa pela quase certeza da mesquinhez, da jogada vil, do golpe de rins, da mais chã, vazia, inevitável e corrupta hipocrisia.
Já quanto à primeira situação, a dos partidos incipientes, acaba o Pessoas, Animais e Natureza (PAN)*) de, com todo aquele patético folclore em torno da enorme vitória*) conseguida com a imposição de limitações à assistência de menores às touradas, fornecer a prova acabada do que acabo de dizer.
Deixo aos especialistas a discussão científica sobre a influência perversa que a assistência ao abestalhado espetáculo possa exercer sobre a formação da personalidade e do carácter das crianças. Sobre este assunto, direi, apenas, que não tenho memória de alguma vez ter lido ou ouvido notícia de evidência científica quanto a um caso que fosse de um inveterado criminoso cuja propensão para o delito se haja formado por haver, na infância, frequentado as praças de touros*).
Não entrarei, também, na discussão primária e de conclusão impossível sobre se
será mais traumatizante ver picar um touro – não digo toiro, com
i, porque dizem que esta forma é mais poética e, poesia, a tourada tem
nenhuma… - ou as continuadas agressões ao adversário num relvado de futebol,
ou qualquer catástrofe ou atrocidade que, à hora de jantar, um menor de
dezasseis ou, até, de doze ou de seis anos não tem como evitar ver na
televisão dos progenitores.
Tudo isso é subjetivo, depende da propensão e das idiossincrasias de cada um, e, a despeito das incomensuráveis fortunas despendidas a tentar provar o impossível, jamais qualquer ciência nomotética*) logrará enunciar, para além da dúvida razoável, uma regra universal.
Muito menos me questionarei quanto à forma como o PAN não deixará, por certo e para ser coerente, de exigir do Partido Socialista (PS)*) que proíba, sem demora, que menores de dezasseis anos assistam, na terra dos pais e dos avós, à matança do porco*) e ao espetáculo de puro horror que a subsequente abertura e limpeza do cadáver constitui. Que assistam e, por maioria de razão, que participem.
- x -
O que venho aqui salientar é a inanidade, a inutilidade, o impacto
absolutamente ridículo da proibição que o PAN conseguiu, a troco de um punhado
de votos, forçar o PS a impor àquela que todos sabemos ser a incontável
quantidade de jovens entre os doze e os dezasseis anos que gosta de ir,
sozinha, ver a corrida sem estar acompanhada por um adulto.
Incontável, porque o que não existe não se pode contar.
A verdade é que a oca e pírrica vitória agora conseguida pelo PAN apenas afeta a meia dúzia de jovens, se tanto, que por lá passava sem ter, a acompanhá-las, um adulto, que nem um dos pais tem de ser!*)
O número 6 do art.8º do Decreto-Lei nº 23/2014, de 14 de Fevereiro, com as
alterações introduzidas pelo Decreto-Lei 90/2019, de 5 de julho, é taxativo:
“O promotor do espetáculo de natureza artística ou de divertimento público
deve negar a entrada de menores quando existam dúvidas sobre a idade face à
classificação etária atribuída, avaliada pelos critérios comuns de
aparência,
salvo quando acompanhados dos pais ou de um adulto, devidamente
identificado, que se responsabilize”.
Simplificando: qualquer criança, desde que tenha mais do que os três anos de
idade mínima previstos na mesma lei, pode assistir a qualquer espetáculo,
desde que acompanhada por um qualquer adulto que por ela se
responsabilize.
Note-se que, isto, nem o vitorioso PAN desmentiu…
- x –
O que conseguiu, então, o PAN?
Nada. Absolutamente nada com que valha a pena desperdiçar um minuto
sequer.
Apenas nos fez, uma vez mais, sentir que a designação mais apropriada seria
Partido dos Animais e da Natureza, e não
Pessoas, Animais e Natureza, já que pouco fala das pessoas e das causas
delas, nem se coibindo, para se manter por mais uns tempos na espuma dos
votos, de explorar a imagem das crianças e dos jovens que diz defender.
Talvez uma inscrição no clube dos satélites de um Partido Comunista Português mais do que desiludido com o inerte desempenho do Partido Ecologista ‘Os Verdes’ (PEV)*), que já só dois ou três votos lhe garante e do qual nem se ouve falar.
- x -
Eis, pois, o perfeito exemplo de uma vitória meramente formal, que garantiu a
um partido minúsculo umas linhas na imprensa escrita e uns escassos minutos de
televisão, mas sem qualquer efeito prático, sem substância, destinada apenas a
promover, a qualquer preço, a imagem de um partido moribundo, de mais um
fanático da suposta proteção animal, em que o termo Pessoas na marca
parece meramente instrumental, marginal.
A menos que as crianças e os jovens não sejam consideradas pessoas, e possam impunemente servir de mote à promoção dos os outros dois bem legítimos e importantes ideais.
sábado, 16 de outubro de 2021
Juíz Negacionista ou Advogado Oportunista?
“Um dos mais escabrosos episódios exemplificativos de uma degradação
da
qualidade dos magistrados que se torna cada vez mais sensível e
evidente,
num Estado que se diz de direito, mas de cuja Justiça
a prática judiciária cada vez mais nos faz
duvidar”
2. Um Caso de Estudo
2.1. Cronologia
2.2. Das Faltas Injustificadas e do Seu Significado
2.3. Algumas Hipóteses
2.3.1. Promoção da Atividade Profissional Enquanto Advogado
2.3.2. Promoção Genuína da Causa Negacionista
2.3.3. Outras Possibilidades
3. (In)Conclusão
1. Dos Limites Abstratos da Validação
De tenebrosos contornos, aterrador enunciado e inimagináveis consequências
sociais futuras, certas hipóteses arrepiam no próprio momento de as
formular.
Talvez por isso, a uma grande parte dos investigadores – mesmo os mais
sensacionalistas – elas nem ocorram, como efeito de um bloqueio natural do
espírito e da mente perante a perversidade, a maldade intrínseca, a quase
sociopatia associável aos correspondentes atos, e imanente das pessoas dos
imaginários autores.
Todavia, apenas poderá, alguma vez, atingir-se um conhecimento razoavelmente
pleno da realidade quando, a par do apuramento dos factos e das respetivas
circunstâncias - fundado na certeza oferecida por prova
positiva fidedigna -, cuidarmos de, procurando com objetividade, com
incansável empenho e até ao limite material e humano do possível, prova
negativa aceitável das hipóteses menos prováveis, das mais caricatas,
das indizivelmente abjetas, das virtualmente impossíveis.
Desta forma, e só desta forma, se estará, mediante a aplicação da dúvida sistemática*), a fazer, efetivamente, tudo quanto é possível para anular qualquer fator de incerteza, por ínfimo que seja, suscetível de inquinar a segurança que sempre se quer presente na validação de uma formulação em qualquer área do conhecimento.
Pois não é, afinal, a dúvida a única certeza da vida?
- x –
Assim, e por mais improvável e ridículo que se nos possa afigurar, o mais
ínfimo resquício de incerteza que possa subsistir só poderá ser eliminado se
todas, mas mesmo todas, as pistas em presença forem seguidas e rejeitadas, num
esforço sério, honesto, empenhado e levado a cabo até aos mais exigentes,
porquanto razoáveis, limites.
Isto é válido, não apenas para a Justiça dos estados, como para a validação,
por cada cidadão, da opinião que, em cada altura, forma sobre terceiros, seja
no âmbito estrito das relações sociais com o núcleo próximo de familiares e
amigos, seja na formação de juízos críticos tendo como objeto personalidades
que, na maior parte das vezes, pessoalmente não conhece, a elas apenas tendo
acesso através das informações até si veiculadas pelos meios de
informação.
Deve, assim, ver-se com olhar crítico quanto de bom e de mau nos chega
relativamente a cada um, procurando, mediante o complementar da informação
disponível e a aplicação à mesma da mais exigente lógica, encarar de frente e
com espírito aberto e rigor científico, quer a mais divinal hipótese, quer a
mais abjeta.
2. Um Caso de Estudo
Sem prejuízo do desfecho de reclamações ou de recursos pendentes sobre a drástica decisão, acaba de ser, pela quarta vez em Portugal*), um juiz de direito (adiante “Visado”) expulso da magistratura, ou seja, afastado compulsiva e definitivamente do digno cargo que lhe fora confiado, bem como das funções a ele inerentes.
Os atos subjacentes à inevitável e há muito esperada decisão foram objeto de
ampla cobertura por jornalistas, juristas, pelos mais diversos
comentadores.
Cumpre, assim, que sobre ela nos debrucemos a fim de procurar afastar qualquer
dúvida que, em qualquer plano, possa, ainda, manifestar-se sobre tão triste
caso.
2.1. Cronologia
Posto que a sequência dos factos parece não ter, ainda, sido objeto de
qualquer tentativa de sistematização, aqui fica, a fazer fé no que foi
noticiado e no que se refere apenas ao mais relevante, o que quanto nela
parece adequado incluir:
i.
Licenciado pela Faculdade de Direito da Universidade Clássica de
Lisboa*), inicia o Visado, em 2003 ou 2004 as
funções de juiz de direito*), que terá exercido até 2011 (ou, segundo alguns, apenas durante quatro
anos).
ii.
Por essa altura, e a seu pedido, passa à situação de licença sem vencimento,
para se dedicar à advocacia, tendo, no mesmo ano, rumado ao Brasil, onde
permaneceria até 2017.
iii.
De regresso a Portugal, algures durante o Outono de 2020 funda o sítio
“Juristas pela Verdade”*), centrado na negação da existência de uma pandemia da doença
COVID-19.
iv.
Entre 2011 e Fevereiro de 2021, tem como atividade profissional o exercício
da advocacia numa sociedade de advogados presumivelmente sediada no Brasil,
mas licenciada para operar também em dois escritórios em Portugal, em Oeiras
e em Lisboa.
Os serviços da Empresa são apresentados como centrando-se em “Homologação de divórcio”, ”Direitos trabalhistas do estrangeiro ilegal”, “Contumácia: como resolver?” e obtenção da cidadania europeia - embora, na apresentação do escritório português no Linkedin*), se apresente o Visado, de forma bem diferente, como especializada em “Direito Penal e Direito Processual Penal”.
v.
De 19 de Fevereiro de 2021 data a mais recente publicação no sítio “Juristas
pela Verdade”.
vi.
Em 01 de Março – não é claro se, automaticamente, no termo da licença sem
vencimento, ou na sequência de solicitação do próprio -, retoma o Visado as
funções de juiz de direito, tendo sido colocado no tribunal de Odemira.
vii.
Em 02 de Março requer a suspensão da inscrição na Ordem dos Advogados.
viii.
No exercício das funções de magistrado judicial, continua a aparecer como
principal rosto da já anteriormente existente
página do
Facebook
”Habeas Corpus”*), negacionista e, aparentemente, sucessora da “Juristas pela
Verdade”.
x. A existência de um inquérito disciplinar*) na sequência da publicação de pequenos filmes manifestando-se contra o estado de emergência é noticiada em 23 de Março.
xi.
A Ordem dos Advogados faz saber, em 25 de Março, que irá proceder
disciplinarmente contra o Visado por ter ela tomado conhecimento de
atos de competência própria de advogados por ele praticados já com a
inscrição suspensa.*)
xii.
No mesmo dia, é o Visado
suspenso do exercício de funções*) pelo Conselho Superior da Magistratura (CSM).
xiii.
Em 29 de Março é noticiado que
desafiara, para um combate de artes marciais, o Diretor Nacional da Polícia
de Segurança Pública (PSP).*)
xiv.
Em 16 de Junho
apresenta defesa no âmbito do processo disciplinar.*)
xv.
Em 29 de Julho,
publica no YouTube, um pequeno filme em que classifica como pedófilo o
Presidente da Assembleia da República.*)
xvi.
Em 25 de Agosto,
apresenta na Procuradoria-Geral da República queixa contra o Presidente da
República e o Primeiro-Ministro pela prática de crimes contra a
Humanidade.*)
xvii.
Na audição levada a cabo em 07 de Setembro, diz-se o rosto dos injustiçados e
reprimidos pelas medidas de combate à pandemia cuja existência nega, tal como
nega o facto de haver a doença provocado qualquer morte entre os cidadãos.
xviii. No mesmo dia 07 de Setembro, depois de um graduado lhe garantir que não iria mandar carregar sobre quem quer que fosse, insiste o Visado em destratar agentes da PSP, nos seguintes termos*): "os Senhores não vão carregar sobre as pessoas, porque senão os Senhores é que vão ser detidos, hoje (...) Ai de você que carregue sobre as pessoas, porque há coisas que vão ser sabidas, se você carregar sobre as pessoas. Diga lá aos seus Chefes!". "O Senhor não tem que me dizer que exemplo é que eu dou ou não. Não me toca, hã? Não me toque. Não me toque. 'tá a perceber? Ponha-se no seu lugar! Ponha-se no seu lugar! Eu sou a autoridade judiciária, aqui. E o Senhor também ponha-se no seu lugar. 'tá a perceber? O Senhor vai ser detido, se carregar em alguém (...). Eu ponho-me no meu lugar, e o meu lugar é este: acima de si, acima de si! 'tá a perceber? O Senhor 'tá abaixo de mim. Portanto o Senhor não vai carregar sobre ninguém".
xix.
Em 08 de Setembro
a PSP apresenta queixa contra o Visado por haver desrespeitado alguns
agentes*) à porta do edifício onde está instalado o CSM.
xx.
Em 07 de Outubro,
o plenário do CSM aplica-lhe, por unanimidade, a pena de expulsão da
magistratura*) por “Ter nove dias úteis consecutivos de faltas injustificadas e não
comunicadas, as quais ocorreram entre o dia 01/03/2021 a 12/03/2021, com
prejuízo para o serviço judicial (...)", “Ter proferido despacho, durante uma audiência e julgamento, no dia
24/03/2021, no qual emitiu instruções contrárias ao disposto na lei no que
respeita às obrigações de cuidados sanitários no âmbito da pandemia Covid19
(…)” e “Ter publicado uma série de vídeos em várias redes sociais, nos quais, e não
deixando de invocar a sua qualidade de Juiz, incentivava à violação da lei e
das regras sanitárias, bem como proferia afirmações difamatórias dirigidas a
pessoas concretas e a conjuntos de pessoas”.
Embora a condenação seja passível de recurso, este não suspende a eficácia da decisão.*)
xxi.
Na mesma data,
a Associação Sindical dos Juízes de Portugal exprime o seu entendimento*) de que a condenação, “que toda a gente esperava e era inevitável”, “coloca uma pedra sobre o assunto”, salientando o “impacto negativo na imagem da justiça” de “um caso isolado e bizarro para aquilo que é o comportamento dos juízes”
2.2. Das Faltas Injustificadas e do Seu Significado
Embora raramente comentado, o aspeto das faltas injustificadas assume, no
presente caso, uma importância muito especial.
Não sendo tal justificação apresentada, haverá que presumir uma de três
coisas: ou justificação válida inexiste e o trabalhador faltou por razões não
atendíveis; ou existe justificação válida mas, denotando desrespeito, o
interessado optou por nem se dar ao trabalho de a apresentar; ou a omissão é
deliberada, procurando assim marcar-se uma posição.
Em qualquer caso, a conduta subjacente denota desrespeito pelos ditames éticos
e deontológicos, na medida em que nenhuma organização alguma vez poderá ser
eficaz quando sujeita ao capricho e à arbitrariedade daqueles de quem depende
para harmoniosamente funcionar, tampouco podendo os que, por sua vez, dela
dependem deixar de ser, de alguma forma, prejudicados nos seus legítimos
direitos e expetativas, nomeadamente no domínio da Justiça, cuja solenidade e
integridade na administração se mostram essenciais ao funcionamento do Estado
de Direito.
- x –
Embora todos sejamos criados e educados de maneiras muito diferentes, qualquer representante do assim chamado homem médio, do bonus pater familiae*), entenderá que é pressuposto da admissão de alguém a um posto de trabalho que esse alguém ao mesmo ser irá dedicar de forma diligente, no interesse de quem contrata e daqueles a quem o empregador presta serviço ou com os quais desenvolve uma relação comercial.
Sendo, no caso do sistema judiciário, o Estado o empregador e sendo a
generalidade dos cidadãos aqueles a quem presta serviço, não há como ilidir a
inevitabilidade da conclusão pelo dever de o juiz agir com irrepreensíveis
brio e empenhamento profissional no desempenho das suas funções, até no
superior interesse da dignificação da atividade judicial.
O facto de o Visado ter, nos dezanove dias úteis em que esteve ao serviço,
faltado nove – quase metade! -
sem apresentar qualquer justificação torna irrazoável não concluir que
o regresso do outrora advogado à magistratura judicial se deveu,
exclusivamente, a motivação egoísta que, embora de natureza e contornos
desconhecidos, nada teve alguma vez a ver com qualquer ideal de missão, de
serviço público ou sequer, de aplicado desempenho de qualquer função.
Jamais podendo alguém minimamente lúcido esperar, de facto, poder continuar a
ser juiz de direito após tamanhos desmandos públicos amplamente divulgados,
seria logicamente aberrante não concluir que
sempre o Visado pretendeu que a sua nova passagem pela magistratura fosse
efémera e acabasse no meio de retumbante queda, durante um espetáculo
cuidadosamente encenado.
Mas com que objetivo? Qual a motivação?
2.3. Algumas Hipóteses
2.3.1. Promoção da Atividade
Profissional Enquanto Advogado
Todos temos presente o caso de um quase desconhecido advogado que, há não muito tempo, esteve na origem da fundação de um sindicato que acabou extinto por decisão judicial devido a irregularidades na sua constituição*), não sem antes ter quase paralisado o País inteiro por privação de combustível que permitisse aos cidadãos assegurar a mais elementar deslocação.
O rosto do mesmo advogado promover-se-ia, mais tarde, em enormes cartazes de
um insignificante partido político, nunca mais, desde então, do portador da
triste cara se tendo ouvido falar, mas sendo de presumir que a respetiva
atividade profissional tenha muito favoravelmente evoluído graças à ampla e
generosa divulgação mediática da imagem do indivíduo, independentemente da
motivação da atuação.
Regressaria, então, à advocacia quando já sobejamente conhecido junto de
potenciais clientes pouco sensíveis aos prejuízos causados à coletividade, mas
muito atentos aos desacatos, ao tom agressivo, à suposta coragem com
que o interessado afrontaria os poderes públicos e as autoridades,
comportamentos por alguns considerados fortemente promissores de um bom
desempenho na barra dos tribunais.
Dar-se-ia, assim, razão ao velho chavão publicitário segundo o qual não
importa o que digam de nós: o que importa é que falem de nós.
- x -
A favor desta hipótese milita praticamente toda a sequência cronológica acima
resumida em 2.1., sobre a qual, dada a evidente clareza, não valerá muito a
pena elaborar.
Contra ela, temos o facto de se tratar de algo tão abjeto, tão vil, tão
manipulador, são indiferente aos interesses e aos direitos do próximo que,
considerá-la válida seria o reconhecimento último de que muito pouco haverá,
já, que esperar de certos representantes da Humanidade. Ou dela toda…
A propósito:
terá, quando deixou a profissão, o Visado vendido as quotas na sociedade de
advogados, obrigada que esta está a apenas contar, no capital, com
participações de advogados inscritos e no exercício da atividade
profissional?
Terá a Ordem cuidado de averiguar o que, efetivamente, se passou?
2.3.2. Promoção Genuína da Causa
Negacionista
Outra hipótese que não pode deixar de ser considerada quanto à motivação para
o uso e abuso da oportunidade de regresso à magistratura com o fito específico
de dela ser rapidamente expulso no meio de enorme alarido será ter o
Visado pretendido chamar a atenção, não para a atividade de advogado - que,
necessitando de assegurar o sustento, provavelmente irá retomar -, mas para a
causa negacionista da pandemia.
Tal possibilidade não pode deixar de nos fazer refletir um pouco também sobre a motivação dos próprios negacionistas: o que ganharão em insistir na tola ideia de que não existe pandemia, de que a evidência científica apresentada não é válida, de que ninguém morreu devido a infeção pelo vírus Sars-Cov-2?*)
O que ganharão elementos da extrema-direita em negar o holocausto nazi*), ou elementos da extrema-esquerda em negar Holodomor?
O que ganhará, afinal, quem quer que seja em, de entre aquilo que se encontra
cientificamente demonstrado, negar seja o que for?
No caso da COVID, será assim tão nocivo andar de máscara, ou ser inoculado com
uma vacina idêntica a tantas outras? Será que o dano residual a um ou outro
vacinado entre largos milhões justificará que milhões se neguem a proteger-se
e a proteger os outros?
Não estaremos, antes, diante de pessoas que advogam causas em que não
acreditam, que nem chegam a entender bem, às quais aderem apenas pelo ruído
mediático que provocam e que, dessa forma, algum protagonismo a um punhado de
barulhentos e irracionais frustrados poderá trazer?
Como poderá encarar-se como legítima a posição de um verdadeiro, de um genuíno
juiz de direito que, com porventura inconfessáveis ou condenáveis e
egocêntricos objetivos, em grupelhos destes se imiscui, advogando posições
antissociais e anti o que quer que de saudável e construtivo para o bem
de todos queiramos fazer?
Como considerar natural a identificação de um magistrado com gente que é do contra seja no que for, pela notoriedade, pela mera fruição, pelo prazer de o ser?
2.3.3. Outras Possibilidades
Significarão aquelas camisolas pretas, aquele ar agressivo, aquele discurso
desconexo e repetitivo, a negação desrazoável, que o juiz apenas estará a
advogar, numa toscamente encapotada manobra, práticas extremistas visando a
desestabilização e a subversão?
Ou, mais singelamente, não passará de uma personalidade narcísica -
característica que se não coibiu de atribuir ao Presidente do STJ quando,
durante a audição no CSM, o interrogou?
Estará o pretenso juiz negacionista a agir apenas como
advogado oportunista de si mesmo, da própria imagem, consistentemente
com as múltiplas fotografias do próprio que povoam a Internet, seja no sítio
da Sociedade de Advogados, seja nos sítios das causas que diz defender?
Tratar-se-á, afinal, de uma completa indiferença ao sofrimento que, se
atendidas as suas inenarráveis pretensões, estas poderiam causar a todos,
desde que o seu estatuto pessoal acabasse elevado por via da defesa exacerbada
das mesmas?
Se não, como explicar, a não ser por mero exibicionismo, a insistência em,
valendo-se do seu estatuto, proibir
uma carga policial sobre quem se manifestava à porta das instalações do CSM,
quando já lhe fora, por mais de uma vez, garantido que ela não iria ser
ordenada?
Mais a mais, proibiu estando suspenso do exercício de funções, coisa que ninguém se lembrou de lhe recordar…
3. (In)conclusão
Se a primeira hipótese for verdadeira, o sujeito rapidamente desaparecerá de
cena - e nem terá, provavelmente, chegado a vender as quotas da sociedade
comercial.
Se a segunda o for, continuará a manifestar-se como prometido*), pelo menos enquanto a pandemia fizer manchetes - eventualmente mudando depois de bandeira para uma então mais mediática.
Se é válida uma destas duas ou qualquer outra igualmente desprezível, cada um
por si o julgará. Jamais poderá, no entanto, uma das hipóteses ser plenamente
validada: por um lado, porque só o Visado saberá o que, efetivamente, o moveu;
por outro, porque, mesmo que o admita, perante as características que a pessoa
tem vindo a manifestar, de muito escassa credibilidade se iria tal admissão
afigurar.
Causa cognoscitur ab effectu, mas nem sempre…
De facto, quer a imagem enquanto advogado, quer a causa negacionista, quer,
eventualmente, as causas de quem milita com camisolas pretas, quer, por fim, a
imagem pessoal do Visado acabarão, inevitavelmente, promovidas, se não pelas
melhores razões e junto do mais recomendável auditório, pelo menos de quem
aprecie o género de pessoa de quem as pessoas certas se não
esquecerão.
Tudo isto à custa de irreparável dano para a ideia que cada um tem do sistema
judiciário, da magistratura judicial, daquilo que ambos representam, da
Justiça que, supostamente, administram e da qual, a assim continuar, pouco
mais esperarão os cidadãos.
Estamos perante um então juiz de direito que, enquanto tal, se não coibiu de
achincalhar, de humilhar, que se sentiu acima de outros que entendia
que deveriam pôr-se no respetivo lugar, em posição de subserviência
perante tão distinta e iluminada criatura.
Mais ou menos tenebrosa e arrepiante, cada uma destas quatro hipóteses e qualquer outra que, além delas, possa formular-se, terá estado na origem daquele se apresenta como um dos mais escabrosos episódios exemplificativos de uma degradação da qualidade dos magistrados que se torna cada vez mais sensível e evidente, num Estado que se diz de direito, mas de cuja Justiça a prática judiciária cada vez mais nos faz duvidar.
* *
Negacionista por negacionista, o que será pior? Juiz, ou Médico?