quarta-feira, 28 de julho de 2021


Agatha Christie

Agatha Christie
"Atravessamos a vida como um comboio,
precipitando-nos na noite, rumo a um destino desconhecido"

"We go through life like a train
rushing through the darkness to an unknown destination"

Agatha Christie *)       
(The Red Signal*)               



Se os temas da
VIDA
são um mistério para si, leia os artigos indexados no correspondente separador no topo desta página,
Serão um ponto de partida para refletir...

segunda-feira, 26 de julho de 2021


As Nove Sinfonias de Beethoven, por René Leibowitz

Estátua de Beethoven a preto e branco
Porventura a mais conseguida gravação integral das Nove Sinfonias de Beethoven*), dirigida pelo maestro René Leibowitz*) para a etiqueta DECCA*), em 1961, procurando seguir, rigorosamente, as marcações de tempo originais do Compositor.

Merece especial destaque o segundo andamento da "Sétima", sabendo embora que tal distinção é injusta para com tudo o mais que, durante cinco horas, deleita o ouvido do mais empedernido rapper.


sábado, 24 de julho de 2021


Coisas que Se Nos Colam à Pele

As viaturas do Ministro da Administração Interna, do Ministro do Ambiente
e do Primeiro-Ministro andam para aí
a abrir que nem loucas nas autoestradas,
descarregando alguns dos mui ilustres transportados, a culpa para cima de motoristas que,
agindo na melhor tradição daqueles que os educaram, apenas aceleram para ao
patrão agradar


    1. Dos Vícios Tolerados e Seus Efeitos Expressamente Condenados
    2. “Não Me Comprometa
    3. O Hábito que o Português Partilha com a Avestruz
    4. A Cultura da Indiferença

  

Toxicodependência Droga
1. Dos Vícios Tolerados e Seus Efeitos Expressamente Condenados

Quando um bem conhecido norte-americano escreveu que “uma vez adquirido um hábito, ninguém deve lançá-lo pela janela, mas ampará-lo na descida, degrau a degrau *)” referia-se, por certo, àquelas coisas a que o nosso cérebro ou o nosso organismo se habituam a consumir sem qualquer benefício conhecido para eles.

Acontece com o álcool, com o tabaco e com uma infinidade de outros mais ou menos nocivos estupefacientes, causando aos ditos cérebro e organismo danos por vezes irreparáveis em proveito exclusivo de quantos fazem transbordar as respetivas bolsas graças à exploração do trabalho mal pago de largos milhares de desgraçados que dependem, para sobreviver, dos proventos de um trabalho quase escravo a que se sujeitam sabendo, embora, quão nocivo o resultado será para o chamado consumidor final daquilo que colhem, destilam ou refinam para sobreviver.

Não se referia, seguramente, o tal norte-americano a hábitos socialmente bem mais perniciosos, daqueles que não apenas prejudicam quem os adquire e uma ou outra vítima inocente do fumo do tabaco, de uma criminosa agressão que, por muito grave e condenável, nem por isso deixa de ser pontual ou, pelo menos, limitada no alvo e nos eventuais lesados por arrastamento ou proximidade. Isto, sabendo, como bem se sabe, que a proliferação de certos comportamentos ocasionais agressivos e de consequências inenarráveis, acabam por se tornar chagas sociais que cumpre e urge erradicar, sob pena de acabar completamente subvertida a ordem social.

Todos estes hábitos que são causa direta ou indireta de tão nefastos efeitos não deixam de gerar na comunidade a descontraída sensação – ou, pelo menos, a ilusão – de que sempre haverá como os desencorajar, como os controlar ou como os seus efeitos mitigar a ponto de o coletivo se não sentir ameaçado a menos que conheça um caso próximo ou lhe tenha sofrido os efeitos na pele.

Fora isso, não apenas são tais vícios tolerados, como até há quem tudo faça para tornar alguns deles socialmente naturais ou, no mínimo, considerados como devidos a doenças ditas comportamentais - embora nascidas de comportamentos censuráveis e evitáveis desde a génese -, por este processo meramente cosmético passando a ter a dignidade de patologias e tornando-se, pelo facto, os seus ditos portadores a merecer epítetos próprios de quem padece de verdadeiras e inevitáveis enfermidades, genéticas ou contraídas.

Passou, desta forma, a louvar-se o que é objetivamente condenável; e a promover-se, também.

 

2. “Não Me Comprometa

PIDE/DGS Existe, no entanto, algo bem mais grave que não tem raízes nos genes, ou na vontade de experimentar sentida por um adolescente desacompanhado, num inultrapassável desgosto de amor, no desespero de alguém que pensa que apenas lhe resta “dar de beber à dor”.

São coisas que se nos colam à pele, que estão culturalmente enraizadas e disseminadas por toda uma população habituada, durante décadas a fio, a ser governada e gerida por incompetentes e corruptos caciques numa ditadura plenamente assumida pelos seus protagonistas num pensamento lapidar: “Aqueles que concordarem com o programa da Ditadura praticam ato patriótico colaborando; os que não concordam são livres de proclamar a sua discordância mas, no que respeita a atuação política efetiva, evitaremos que nos incomodem demasiadamente”.

Colam-se à pele dessa população que, banida a ditadura, se foi, também há décadas a fio, habituando a ser governada e gerida, entre outros, por alguns incompetentes e corruptos caciques que só agora, graças à coragem e ousadia de uns quantos e a um agora mais apurado sentido de oportunidade política de outros, vão sendo desmascarados e, até, aqui e ali, efetivamente, confinados atrás de grades que nada têm a ver com as de uma pandemia.

A dependência do caciquismo labrego e bacoco dos tempos da famigerada PIDE/DGS continua, não obstante, a correr pelos caminhos portugueses, a correr da pena dos portugueses, a correr nas artérias e veias dos portugueses.

A miúfa endémica - eufemisticamente chamada temor ou respeito - por uma hierarquia superior que jamais o soube ser, continua a condicionar, a ditar a forma como os portugueses pensam, decidem, agem ou omitem, tentam alijar responsabilidades na crença que esperam não seja vã de que nada lhes aconteça e ninguém, pelo seu silêncio, os arrelie.

Um conhecido programa de humor de um País irmão incluía uma personagem que passava o tempo a dizer “Eu não fiz nada, meu Amigo, não sei nada, se disser que eu fiz eu nego, ene, é, gê, ô, n-e-g-oooo. Não me comprometa! *)”. Retratava esta convicção de que, não agindo, não nos manifestando, não tomando partido, não denunciando condutas que a lei proíbe, podemos levar, tranquilos, a nossa vidinha e há-dem continuar a tratar de nós e a zelar por nós aqueles que são eleitos e pagos para isso; e que nada fazer não faz mal, porque quem se tramou foi sempre quem fez alguma coisa.

Como, sabe-se lá porquê, nesta nossa terrinha o indispensável Direito não é ensinado nos níveis escolares mais básicos nem nos assim-assim, a maior parte das gentes continua convencida de que o que dá cadeia é fazer o que não se pode, não lhes passando pela cabeça que quem não faz o que pode por quem se encontra em estado de necessidade é igualmente punível ou, na linguagem que melhor entendem, pode ir dentro.

 

SEF Serviço de Estrangeiros e Fronteiras
3. O Hábito que o Português Partilha com a Avestruz

Um emigrante ucraniano encontrou a morte em circunstâncias nada humilhantes para ele, mas que o são profundamente para cada um de nós.

Havia indícios quase insofismáveis de que, naquele dia no Aeroporto Humberto Delgado, vários cidadãos alistados nas fileiras do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) ou ao serviço de entidades externas por ele contratadas tinham estado em situação de ter intervindo ou, pelo menos, de ter pedido ajuda para aquilo que, pelos gritos do infeliz, era impossível não desconfiar que estaria a acontecer.

Pois, apesar disso e vá lá saber-se porquê – talvez por estarem os seus funcionários ainda imbuídos do tal temor do caciquismo que inquina quer ditaduras, quer supostas democracias como a nossa -, optou o Ministério Público por não acusar esses portugueses pelo menos por omissão de auxílio, crime punível com pena de prisão até um ano nos termos do n.º 1 do art.200º do Código Penal Português, já para não falar de eventuais cumplicidades ou conluios, passíveis de bem mais pesada sanção.

Teve, assim, de ser o tribunal que, em primeira instância, julgou e condenou os agressores diretos e por ele condenados de deixar claro que "há um conjunto de pessoas cuja atuação não fica isenta de reparos *)" e determinado a extração das correspondentes certidões e subsequente remessa ao Ministério Público para que contra elas os cabíveis inquéritos-crime instaurasse.

Vem, então, agora a imprensa anunciar, com fanfarra e bandeira, que “o Ministério Público (MP) está a dar passos no sentido de vir a sentar no banco dos réus mais pessoas pela morte de Ihor Homenyuk no Aeroporto de Lisboa *)”, como se o Órgão Judiciário o houvesse feito espontaneamente, adequadamente, como lhe competia, sem esperar, do tribunal, o implícito e nada elogioso reparo.

Que razões estarão na base daquilo que poderá não ter passado de uma tentativa de resolver rapidamente e com o menor prejuízo para um certo e já desacreditado governante a questão?

 

4. A Cultura da Indiferença

Ihor Homenyuk Se o problema for encarado de um ponto de vista meramente casuístico, o Tribunal fez, do ponto de vista técnico-jurídico, o que lhe competia fazer, ao determinar a extração de certidões.

Poderemos, porém, acalentar alguma esperança de que episódios pontuais e isolados como este contribuam, ainda que só um pouco, para uma mudança de mentalidades cada vez mais indispensável num país desgovernado por desgovernados autoproclamados governantes que, magistralmente aproveitando a velhinha cultura social herdada da ditadura, continuam a permitir que coisas com esta aconteçam, que a cultura da indiferença se sobreponha, quase sempre, à cultura humanista pela qual que o Partido Socialista diz pugnar e que, se a memória me não falha, noutros tempos, era apanágio de quantos nele escolhiam militar?

Que chegou ao Partido, ao Governo, ao Parlamento a indiferença pelas pessoas, por tudo quanto não seja ganhar a próxima eleição já todos sabemos. Disso tivemos, uma vez mais, a confirmação quando, num curto espaço de tempo, soubemos que as viaturas do Ministro da Administração Interna, do Ministro do Ambiente e do Primeiro-Ministro andam para aí a abrir que nem loucas nas autoestradas – só? – em situações que a lei está longe de contemplar, descarregando alguns dos mui ilustres transportados, quando apertados pelos jornalistas, a culpa para cima de motoristas que, agindo na melhor tradição daqueles que os educaram, apenas aceleram para ao patrão agradar, para manter o lugar: tal como alguns inspetores e seguranças do SEF ficaram calados ao ouvir o grito de morte de Ihor Homenyuk para aos superiores não desagradar, para o emprego não arriscar.

Quando a impunidade e a indiferença servem que nem uma luva a quem governa e delas não parece ter capacidade ou vontade para se livrar, quanto à tal indispensável e urgente mudança de mentalidades, o que podemos, efetivamente, esperar?

Mas como estas penas se ouvem tantas vezes e nunca se veem,
são tão mal cridas, como nós estamos experimentando

* *

Tudo isto radica, naturalmente, na clamorosa falta de sentido de estado de que enferma boa parte da chamada classe política portuguesa.

(continua aqui)

quarta-feira, 21 de julho de 2021


Daniel Oliveira

Daniel Oliveira define barbárie no Eixo do Mal


"A barbárie faz-se normalizando o impensável"


 Daniel Oliveira            
(Eixo do Mal)              



Estas palavras foram proferidas antes da invasão da Ucrânia pela Rússia, antes da invasão de um estado europeu por outro que, supostamente, o é também.

Fala-se, já, da invasão de outros estados, já que Vladimir Putin insiste em vulgarizar a prática, a ponto de como que normalizada tal iniciativa começar a parecer.

segunda-feira, 19 de julho de 2021


Castigos Inúteis da COVID

Complicado? Claro que não! É, até, bem simples!

Se não foi por desnorte, incompetência ou desinteresse,
por que será que pelo menos um destes tão simples
como evidentes retoques não foi introduzido no modelo em vigor,
antes tendo-se vindo a insistir, cegamente,
na aplicação continuada de tão descabidas e desnecessárias sanções
a concelhos que já tanto tiveram de sofrer quando para tal havia plena justificação?

 

1. COVID: Cidade Injustiçada
2. Ligeireza e Arbitrariedade Redundam em Castigos Inúteis e Injustos
3. Como Resolver Objetivamente a Questão?


Elvas Injustiçada
1. COVID; Cidade Injustiçada

Há pessoas que falam pelos cotovelos e, algumas delas, não só falam pelos cotovelos como o fazem em voz impossível de deixar de ouvir por alguém que esteja menos de uma boa dúzia de metros afastado. Foi assim que anteontem tomei conhecimento de uma história insólita, quando beberricava, descontraidamente, numa esplanada um líquido qualquer.

O sujeito da voz tonitroante tinha decidido jantar em Elvas, no regresso de uma deslocação profissional algures ao Alentejo.

Procurou na Internet um restaurante que correspondesse às suas preferências, e também pela Internet ficou a sabe que Elvas iria entrar, no dia seguinte, na situação de risco muito elevado de contágio pelo vírus Sars-Cov-2.

Assim, e como quem o atendeu no restaurante, era algo dado à conversa, interessou-se o viajante palrador pelas razões que teriam levado aquele fim de um Alentejo quase imune à doença a apresentar uma tão elevada quantidade de novos doentes COVID, ao que o outro retorquiu que os infetados eram, na sua maioria, jovens finalistas em festejos de final de ano letivo.

Ora, gostando o tuga de comemorar desabrida e descontroladamente como gosta e entendendo que, mesmo nestes tempos terríveis, o que importa é viver plenamente com tudo aquilo a que tem direito, razão não haveria para que o efeito destas folias em Elvas, Alentejo, diferisse, nas devidas proporções, do descalabro estatístico resultante das loucuras que se seguiram à mais do que esperada vitória do Sporting Clube de Portugal na Liga NO, loucuras essas cometidas perante a completa passividade do Ministério da Administração interna e da Câmara Municipal de Lisboa.

Dispôs-se o nosso tagarela a aprofundar a questão, ao que o seu interlocutor no restaurante informou que tinha Elvas atingido, na quinzena que então terminara, uma taxa de incidência superior a 480 novos infetados por cem mil habitantes, razão pela qual os alarmados responsáveis por nos salvar a todos da pandemia tinham decretado novas proibições que iriam, uma vez mais, dar cabo do negócio dos restaurantes, agora operados por pessoas habilitadas, além de servir refeições, também a, sem qualquer formação específica, vigiar a forma como os clientes realizavam os indispensáveis autotestes que lhes confeririam, se negativos, o direito a desfrutar da refeição.

Ligeireza e Arbitrariedade
Mas disse mais o colaborador do restaurante – e aqui começa a nossa história: disse que tudo aquilo era um perfeito disparate que os iria prejudicar sem qualquer razão. E porquê? Porque as aulas tinham terminado semanas antes, a maior incidência de infetados, em números absolutos, tinha chegado a perto de 130 pessoas duas semanas antes, não tendo, no entanto, ultrapassado os 70 na semana seguinte e continuando a diminuir a olhos vistos à data em que começariam a vigorar as novas restrições.

Como Elvas tem uma população de cerca de 23.000 habitantes, os cerca de 130 casos reais absolutos correspondem a cerca de 520 por 100.000 habitantes, donde a decisão de regredir no desconfinamento.

2. Ligeireza e Arbitrariedade Redundam em Castigos Inúteis e Injustos

Fazer qualquer coisa implica esforço, já se sabe; mas não poder fazer implica também, pelas privações que daí advêm, da qual a privação de receitas do já tão martirizado comércio, entre outros setores, não será, por certo, a mais desprezível.

Para que alguém aceite confinar-se, privar-se, para que a lei seja por todos - ou quase todos - aceite e cumprida, tem, também, de ser racional e clara, tem de fazer sentido, para que os destinatários nela vejam algum propósito credível e com uma probabilidade de eficácia que justifique um sacrifício já enorme: não pode, ao invés, ficar nas mãos de amadores incapazes de planear seja o que for com ponderação e seriedade; de pessoas impreparadas, irresponsáveis, precipitadas, politicamente desesperadas, até.

Claro que o ideal teria sido, nas datas em que as comemorações eram previsíveis, vigiar o cumprimento da lei que já proibia os ajuntamentos para evitar novas doenças COVID. Tal não tendo acontecido, não pode pôr-se em causa que, no interesse de todos, teria sido necessário reagir quando se ultrapassou o patamar legalmente fixado, e isto independente de a tal contagem absoluta de cento e vinte ser cientificamente válida para o efeito ou não, coisa que não estou, de perto nem de longe, habilitado a discutir.

O que não há como entender são duas coisas muito simples.

A primeira, qual a utilidade de agir só ao fim de uma quinzena, isto é, quando o vírus já fez criação mais do que suficiente para assegurar uma, para ele, saudável e profícua expansão pelo sistema respiratório de umas boas centenas ou milhares de exemplares da tão descuidada e irreverente população tuga; e da outra, vítima ajuizada e inocente, também.

Independentemente da variação
Como entender, de facto, que decisões tão graves e tão penalizadoras para a economia de empresários, de consumidores, de todo o Estado, sejam tomadas com base em médias estáticas relativas a um período de tempo tão tardio e independentemente da variação ao longo do mesmo, alegando meras dificuldades na explicação de um critério, como iremos ver?

Evidentemente, se, por mera hipótese, no primeiro dia de uma quinzena, determinado concelho registar uma contagem de, por exemplo, cento e quarenta infetados e, no derradeiro, apenas noventa e sete, sendo a média móvel dos sete últimos dias consistentemente inferior ao longo da segunda semana, estamos perante uma situação obviamente resolvida ou em vias disso, jamais se justificando, em tal cenário, qualquer novo confinamento ou outra imposição.

A Elvas, valeu, apesar dos festejos que não soube evitar, ter uma população responsável que não esperou que as novas medidas restritivas fossem decretadas para, espontânea e rapidamente, pôr cobro à indesejada evolução. Mesmo assim, e graças a modelos obsoletos e, desde o início, descabidos, não teve como evitar o implacável e imerecido castigo, a exemplo, mais do que provavelmente, de muitos outros concelhos na mesma situação de serem punidos, não por a propagação do vírus estar a aumentar, mas por estar prestes a terminar!

Ora, se como na esplanada ouvi ao animado conversador, a quantidade de pessoas infetadas pelo Sars-Cov-2 na segunda semana da quinzena era inferior em cerca de metade à da primeira, que justificação poderá, em tal cenário, alguém invocar para impor novas medidas de restrição? Para tamanha incompetência e arbitrariedade, onde procurar explicação?

- x -

Traz-nos isto à segunda coisa que não há como entender: que, caso não se queria recorrer à análise da evolução da média móvel, os indicadores estatísticos utilizados nesta aparência de governação não estejam sujeitos a uma, ainda que elementar, ponderação em função do dia da quinzena, mais próximo do início ou do fim, em que cada leitura é registada.

Não seria lógico que os primeiros dias tivessem um peso reduzido na decisão e os últimos um peso incomparavelmente maior, assim se tornando fácil ajustar, de forma automática e objetiva, o número relevante para a decisão final conforme estivesse a aumentar ou a diminuir a quantidade de novas infeções?

Fatídica Quinzena em Elvas
De facto, os números dessa desnecessariamente fatídica quinzena em Elvas perdem todo significado perante o facto de a sequência de leituras diária significar, insofismavelmente, que estariam em queda abrupta as infeções – a comprovar-se, já se sabe, a exatidão daquilo que ouvi naquela ocasião. Mas, mesmo que não se comprove, haverá múltiplas situações destas por esse País fora, e é delas que aqui, em abstrato, aqui me ocupo, tendo como mote o exemplo de Elvas, independentemente de os tais valores que ouvi por alto estarem certos ou não.

3. Como Resolver Objetivamente a Questão?

A parte mais triste disto tudo é que, segundo li na imprensa, terá o Governo rejeitado este critério fundamental da aceleração ou desaceleração do contágio*), que teria, muito facilmente, evitado estas situações profundamente injustas e injustificadas que a tantos a própria sobrevivência dos negócios poderão custar, apenas aplicando o do nível de incidência, o dos concelhos circundantes e o do surto localizado.

A justificação terá sido a de que o critério da aceleração do contágio seria pouco objetivo, ou difícil de explicar.

Numa abordagem apenas destinada a ilustrar quão fácil seria, até para um amador como quem aqui escreve, dotar o critério rejeitado da necessária objetividade e facilitar a correspondente explicação, aqui deixo aqui duas sugestões muito simples de aplicar, e que os especialistas facilmente afinarão.

- x -

A primeira, consiste na observação da evolução, ao longo da quinzena (duas semanas) e, a partir do dia em que tal seja possível, da média móvel dos últimos sete dias (sete, para incluir, obrigatoriamente, os desvios próprios dos fins de semana): registando-se uma diminuição constante da média móvel ao longo do período (Quadro 1 infra, Cenário A), não serão aplicadas quaisquer novas restrições, independentemente da média geral absoluta e estática apurada no termo da quinzena.

Quadro 1

Caso esta simulação correspondesse a dados reais de Elvas (com uma população de cerca de 23.000), a média real de 115,64 das duas semanas corresponderia a cerca de 503 novos infetados por cem mil habitantes [(115,64 : (23.000 : 100.000)].

No entanto, no Cenário A do Quadro 1, cada uma das médias móveis nos últimos sete dias - de 124,43 > 121,86 > 119,57 e assim sucessivamente até 106,86 - teria sido, consistentemente, inferior à anterior, pelo que nenhum agravamento da situação haveria de ser aplicado a este concelho com mais de 480 novos infetados por cem mil habitantes.

- x -

Quantidade de Novos Casos Registada em Cada Dia
A segunda (Quadro 2), afeta, a cada um dos dias da quinzena, uma ponderação, que começa em 1,00 no primeiro dia e é multiplicada por 1,50 por cada dia que passa (1,50 no segundo dia, 2,25 no terceiro e assim sucessivamente). Por este valor de ponderação - a ser afinado por quem entende da matéria - é multiplicada a quantidade de novos casos registada em cada dia, assim resultando a quantidade relativa ao primeiro dia da quinzena (1,00 no exemplo) muitíssimo menos relevante do que a do décimo quarto (194,62).

Para o cálculo da média será, assim, utilizado esse valor ponderado, em lugar do absoluto, o que fará com que, no Cenário A do Quadro 2, os 140 casos do primeiro dia tenham um peso de 140 (140 x 1) e os 97 do último dia tenham um peso de 18,878 (97 x 194m92); ou seja: que conte muito mais a redução efetiva do número de casos no último dia do que o valor mais elevado no primeiro, como deve contar numa situação clara de progressivo controlo da infeção.

A soma destas quantidades ponderadas é, então, dividida pela soma das ponderações, do que resulta, no Cenário A (incidência da doença a descer), uma média diária ponderada de 103,46, substancialmente diferente da média aritmética não ponderada de 115,64 resultante da aplicação do modelo que suponho ser o atualmente utilizado – pelo menos, assim está descrito de forma simplista. 

Quadro 2

Esta retificação ao modelo determinaria que não mais fossem, indevida e injustificadamente, aplicadas restrições sem qualquer utilidade prática em concelhos onde, apesar de a média da quinzena ser superior ao limiar mínimo estabelecido para que as medidas não sejam agravadas, a incidência de novos contágios estaria, inequivocamente, a descer.

Novamente no caso de a simulação se referir a Elvas, a média ponderada dos 14 dias de 103,46 corresponderia, desta vez, a 449 casos por cem mil habitantes [(103,46 : (23.000 : 100.000)], assim não havendo lugar a qualquer agravamento da classificação de risco.

- x -

É, até, bem simples!
Em suma: qualquer que fosse, destes dois, o critério complementar aplicado – ou ambos -, sempre ficaria salvaguardada a posição dos concelhos bem comportados, ou seja, daqueles que, tendo passado por uma situação de alguma gravidade durante um curto período de tempo, rapidamente lhe houvessem posto cobro de forma espontânea, assim resultando injusta e abusiva qualquer punição que, a destempo, viesse a ser-lhes aplicada.

Complicado? Claro que não! É, até, bem simples!

Se não foi por desnorte, incompetência ou desinteresse, por que será que pelo menos um destes tão simples como evidentes retoques não foi introduzido no modelo em vigor, antes tendo-se vindo a insistir, cegamente, na aplicação continuada de tão descabidas e desnecessárias sanções a concelhos que já tanto tiveram de sofrer quando para tal havia plena justificação?

Para cúmulo, sendo a explicação a dificuldade de explicação do critério, num governo que dá emprego a não poucos assessores de comunicação!

Mistérios de uma agora gasta e há muito desnorteada governação...

Sic transit gloria mundi...

sábado, 17 de julho de 2021


Seleção das Quinas: Ordem para Recuar!

"Apesar das suas academias, dos campus, das cidades do futebol,das catedrais do futebol,
o futebol ensina pouco mais do que o supérfluo,o ostentatório, o inútil, o artificial,
sem esquecer todas aquelas coisas feias que acabam por colocar
algumas das suas mais destacadas personalidadesdebaixo da alçada da justiça criminal
"


      1. O Futebol e eu
      2. Desculpas para Todos os Gostos
      3. Preguiça, Cansaço ou Ordem para Abrandar?
      4. Lágrimas sem Suor

Futebol Profissional
O Futebol e eu

Percebo menos que nada de futebol, nem é coisa que particularmente aprecie.

Não sendo dotado, senti-me, justificadamente, nos píncaros quando depois de aturados esforços lá consegui absorver toda a matéria relacionada com a difícil problemática do fora de jogo; vibrei com a novidade do VAR – vídeo-árbitro, para quem disto ainda menos entende do que eu -; e o zénite da minha realização como futebolista de poltrona ocorreu quando, há dias, ouvi o termo trivela e, de uma só vez, consegui entender o que significava, para o efeito recorrendo a um desses filmezinhos que no YouTube ilustram tudo e mais alguma coisa, embora nem sempre com a fiabilidade que seria desejável.

Há muito se desconfiava, e os acontecimentos recentes cada vez melhor ilustram, que o assim chamado futebol profissional de profissional pouco tem além da utilidade de a si atrair a exaltação dos ânimos, melhor ou pior a contendo no perímetro dos estádios e assim permitindo desviá-la de situações em que poderia acabar por se tornar socialmente mais prejudicial ainda, se possível for.

Quanto ao mais, o que a imprensa tem vindo a divulgar da conduta supostamente cívica de uma generosa quantidade dos mais relevantes soit disant empresários e dirigentes do futebol chaamado profissional apenas lança, progressiva e, ao que parece, justificadamente, o futebol num pantanal de descrédito relativamente a qualquer plano eticamente sustentável em que o queiramos posicionar.

Num tal cenário, não me sinto elevado, orgulhoso - o orgulho era pecado, mas agora é qualidade, ao que parece -, enaltecido por qualquer feito glorioso da Seleção Outrora Campeã em Título, da Seleção das Quinas, da Seleção de Todos Nós, já que, além de um importante veículo de marketing para as trocas comerciais internacionais, se limita ela a agregar o que de supostamente melhor existe num meio que, manifestamente, em nada contribui para elevar os espíritos, a qualidade humana ou o conhecimento relevante e válido, científico ou social, que deveria estar na base de qualquer atividade e, até, da própria essência e razão de ser da espécie humana.

Quatro-três-três
Como país do terceiro mundo que, pelo menos ao nível das mentalidades, Portugal é, não espanta que os blocos noticiosos abram, por vezes, com importantíssimas notícias de tão intelectual e espiritualmente desinteressante vertente da vida em sociedade, o mesmo acontecendo com as primeiras páginas de certa imprensa escrita supostamente direcionada a outras clientelas, mas que sabe bem que os elevados espíritos desses diferenciados leitores são, também – ou especialmente – indefetíveis adeptos desses futebóis; e, por vezes, de alguns outros, também.


Desculpas para Todos os Gostos

Isto esclarecido, há que dizer que também tenho olhos na cara, que sei o que é correr, empenhar-se. Sei o que é acreditar, sei o que é querer e, como qualquer espetador incapaz de resolver complexos enunciados aritméticos como quatro-quatro-dois ou quatro-três-três, vejo bem quando alguém corre com vontade, quando está focado no jogo, puxa pelos companheiros ou, inversamente, se limita a provocar faltas, a fazer fita quando o adversário não leva cartão, ou a descarregar no árbitro uma frustração a que a diminuta intensidade de certos encontros dificilmente alguma vez dará razão.

Quando assisto a jogos como o Croácia-Espanha ou o Holanda-República Checa nos oitavos de final do Euro 2020 (e um…), vem-me à memória o vivo contraste com a primeira parte do nosso jogo nos mesmos oitavos de final, no qual o lusitano onze, às arrecuas, dobrava o corpo a meio, em pose aflita, estacionando o autocarro em frente à baliza sempre que, também adormecida, a Bélgica tinha a bola e dava uns passitos em frente - com ar não muito ameaçador.

Bem vistas as coisas, se a garbosa Seleção das Quinas não tivesse caído nesse jogo, teria caído noutro qualquer, tamanha era a falta de vontade no campo, de coragem, de ousadia, de energia; de alegria, sobretudo, que nestas coisas tanta falta faz para que aquela hora ou duas não redunde num monumental frete para atores, espetadores e outros que tais.

Felizmente, caíram os nossos guerreiros com a Bélgica, o lhes permitirá, pelo resto das suas mui desportivas e bem remuneradas vidas, dizer aos amigos, filhos e netos que perderam contra o número um do ranking da FIFA, o que alguma coisa do desaire permitirá disfarçar; e poderão, até, dizer que também a França, campeã do Mundo em título, caiu nos oitavos de final, que a poderosa Alemanha também não resistiu e que do terrível Grupo F ninguém viveu para contar, além da infinidade de desculpas que em ocasiões destas é hábito ouvi fazer ecoar.

O pior – de que rapidamente se irão esquecer - é que a França caiu, mas caiu com estrondo, frente a uma incansável e valorosa Suíça, precisamente o tal adversário supostamente mais fraco que o sábio Selecionador Nacional dizia nos oitavos de final preferir enfrentar...

Notoriedade de Méritos Duvidosos
Preguiça, Cansaço ou Ordem para Abrandar?

Ora, num espetáculo em que a assistência parece transbordar de alegria e os jogadores, com vantagem, uma boa dose dela poderiam usar, este Selecionador Nacional, a única vez que lhe vi um sorriso foi naquele também desengraçado outdoor em que dizia já ter ido ao Fluviário de Mora. Quando lá foi, espero que não tenha sofrido e resmoneado muito durante a visita, ou os peixinhos terão, por certo, ficado tão enjoados, tão desmotivados como, no jogo decisivo, a nossa Seleção parecia estar.

Não haverá, mesmo, alternativa viável? É que este homem, que tudo leva a crer ser bom e sério, parece ter já aprendido, no meio do futebol, o velho truque dos políticos que nele se misturam cada vez mais: nunca arriscar e, quando a coisa dá para o torto, assumir, teoricamente, as responsabilidades, na prática, as consequências rejeitar.

Talvez com o inconfessável propósito de esbracejar procurando manter-se à tona de uma notoriedade de méritos duvidosos, antes e durante o desafio mostravam-se às câmaras da televisão alguns outrora craques, hoje recauchutados, fora de prazo e que, talvez para parecerem ainda jovens, seguem os tiques de penteado daqueles que ainda mexem, assim se demonstrando, também aqui, que, apesar das suas academias, dos campus, das cidades do futebol, das catedrais do futebol, o futebol ensina pouco mais do que o supérfluo, o ostentatório, o inútil, o artificial, sem esquecer todas aquelas coisas feias que acabam por colocar algumas das suas mais destacadas personalidades debaixo da alçada da justiça criminal.

Na final, ganha-se ou perde-se; no plano desportivo, evidentemente, já que o abundoso pecúlio percebido por quantos vão ficando pelo caminho também não será, propriamente, coisa de se desprezar…

Mas aquele jogo dos oitavos de final era capital, era, como qualquer outra eliminatória, uma final, já que, sem o ganhar, a Seleção Outrora Campeã em Título levaria para casa apenas uns trocos no bolso e o amargo de boca de nem ter chegado à final em que um tudo ganha e, do outro, rapidamente ninguém se irá lembrar, o que, depois de tanta luta, deita qualquer um abaixo, dentro e fora do campo, nos tais desportos que, como os de bola, lá vão servindo para fingir que, pelo menos naquilo, somos tão bons ou melhores do que aqueles que dizem saber analisar e comentar.

Naquele nosso jogo dos oitavos, não havia chama, vontade, equipa; apenas uma exibição muito cerebral e calculista por parte de uma dúzia de milionários doutores da bola, cheios de táticas na cabeça, mas, talvez com uma ou outra exceção, sem garra, sem capacidade de dar vida à competição.

Ou teria o Técnico dos Empates dado contrária instrução?

Portugal passava bolas entre peões que faziam lembrar bonecos inanimados de um jogo de matraquilhos; outras seleções corriam, corriam que não se fartavam - coisa que, no futebol como no resto, os Portugueses de hoje parecem já não ter grande capacidade ou vontade de fazer – e, quando caiam, era com a satisfação, não apenas do dever cumprido, mas também de ter procurado ultrapassar em muito esse dever.

Demonstração de Boçalidade
O onze português finalmente reagiu, na segunda parte, já o caldo estava entornado.

Dir-se-á, como sempre, que o que importa não é o espetáculo, mas sim ganhar. Até pode ser verdade, mas desde que se ganhe, ou, nem pelo espetáculo, da vitória moral a memória irá perdurar.


Lágrimas sem suor

Estariam os excelentíssimos e mimados futebolistas sentidos com o facto de, por uma natural demonstração de boçalidade por parte de quem deveria saber estar e, nesse campo, não é, seguramente, o campeão, terem os mais altos magistrados da Nação acabado por não assistir àquele espetáculo de tamanha falta de desportiva abnegação? Duvido.

Independentemente de quem possa estar a assistir, correr do princípio ao fim exige forma física, persistência, trabalho árduo, acreditar para além do possível, coisas com que apenas um ou outro dos futebolistas da Seleção Outrora Campeã em Título parece comprometer-se e, assim sendo, nos faz desconfiar que, mais uma vez, a ordem do Selecionador Nacional não terá sido para atacar, mas para aguentar.

A Croácia caiu nos oitavos frente à Espanha, mas caiu de pé, “como as árvores" e após prolongamento. A República Checa desfez a muito forte Holanda. Até a fraquinha Ucrânia eliminou a Suécia e apenas caiu frente à finalista Inglaterra, que tão caro vendeu a derrota, também.

Portugal, caiu sentado a fazer contas de somar, com uma equipa a ouvir, desolada, apelos e preces do tristonho e lamuriento Selecionador Nacional.

Esperar-se-á, assim sendo, que fiquemos comovidos com o facto de alguns destes milionários da bola terem ido para o balneário chorar?

No Fim do Dia
No fundo, se o futebol é, para quase todos nós, o mais importante da vida de todos nós, não espanta por aí além que o pouco empenhado desempenho da Seleção das Quinas seja, de alguma forma, o espelho da maior parte de nós, que lá vamos trabalhando nos nossos empregos, mas somos incapazes de nos unir e de agir de forma responsável numa situação de grave emergência sanitária a nível nacional.

Feitas as contas - ou no fim do dia, como agora é chic dizer... -, ainda bem que caímos cedo: em plena pandemia - do que muita gente parece que já se esqueceu -, com uma parte expressiva população composta por inconscientes e básicos alarves capazes de tudo sacrificar a uma comemoração parola, e na vivência de uma das mais tristes e amadoras desgovernações de que sou capaz de me lembrar, ainda bem que não houve oportunidade para grandes festividades, ou o grande vencedor seria, uma vez mais, o famigerado índice de propagação.

Mas, por que me ralo com isto eu, que nem gosto de futebol?

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A Câmara Municipal de Lisboa era, nos termos da lei,
obrigada a impedir as comemorações do Sporting

Veja aqui porquè!