o futebol ensina pouco mais do que o supérfluo,o ostentatório, o inútil, o artificial,
sem esquecer todas aquelas coisas feias que acabam por colocar
algumas das suas mais destacadas personalidadesdebaixo da alçada da justiça criminal"
2. Desculpas para Todos os Gostos
3. Preguiça, Cansaço ou Ordem para Abrandar?
4. Lágrimas sem Suor
Não sendo dotado, senti-me, justificadamente, nos píncaros quando depois de
aturados esforços lá consegui absorver toda a matéria relacionada com a
difícil problemática do fora de jogo; vibrei com a novidade do VAR –
vídeo-árbitro, para quem disto ainda menos entende do que eu -; e o
zénite da minha realização como futebolista de poltrona ocorreu quando, há
dias, ouvi o termo trivela e, de uma só vez, consegui entender o que
significava, para o efeito recorrendo a um desses filmezinhos que no
YouTube ilustram tudo e mais alguma coisa, embora nem sempre com a
fiabilidade que seria desejável.
Há muito se desconfiava, e os acontecimentos recentes cada vez melhor ilustram, que o assim chamado futebol profissional de profissional pouco tem além da utilidade de a si atrair a exaltação dos ânimos, melhor ou pior a contendo no perímetro dos estádios e assim permitindo desviá-la de situações em que poderia acabar por se tornar socialmente mais prejudicial ainda, se possível for.
Quanto ao mais, o que a imprensa tem vindo a divulgar da conduta supostamente
cívica de uma generosa quantidade dos mais relevantes
soit disant empresários e dirigentes do futebol chaamado profissional
apenas lança, progressiva e, ao que parece, justificadamente, o futebol num
pantanal de descrédito relativamente a qualquer plano eticamente sustentável
em que o queiramos posicionar.
Num tal cenário, não me sinto elevado, orgulhoso - o orgulho era pecado, mas
agora é qualidade, ao que parece -, enaltecido por qualquer feito glorioso da
Seleção Outrora Campeã em Título, da Seleção das Quinas, da
Seleção de Todos Nós, já que, além de um importante veículo de
marketing para as trocas comerciais internacionais, se limita ela a
agregar o que de supostamente melhor existe num meio que, manifestamente, em
nada contribui para elevar os espíritos, a qualidade humana ou o conhecimento
relevante e válido, científico ou social, que deveria estar na base de
qualquer atividade e, até, da própria essência e razão de ser da espécie
humana.
Quando assisto a jogos como o Croácia-Espanha ou o Holanda-República Checa nos
oitavos de final do Euro 2020 (e um…), vem-me à memória o vivo contraste com a
primeira parte do nosso jogo nos mesmos oitavos de final, no qual o
lusitano onze, às arrecuas, dobrava o corpo a meio, em pose aflita,
estacionando o autocarro em frente à baliza sempre que, também
adormecida, a Bélgica tinha a bola e dava uns passitos em frente - com
ar não muito ameaçador.
Bem vistas as coisas, se a garbosa Seleção das Quinas não tivesse caído nesse jogo, teria caído noutro qualquer, tamanha era a falta de vontade no campo, de coragem, de ousadia, de energia; de alegria, sobretudo, que nestas coisas tanta falta faz para que aquela hora ou duas não redunde num monumental frete para atores, espetadores e outros que tais.
Felizmente, caíram os nossos guerreiros com a Bélgica, o lhes permitirá, pelo resto das suas mui desportivas e bem remuneradas vidas, dizer aos amigos, filhos e netos que perderam contra o número um do ranking da FIFA, o que alguma coisa do desaire permitirá disfarçar; e poderão, até, dizer que também a França, campeã do Mundo em título, caiu nos oitavos de final, que a poderosa Alemanha também não resistiu e que do terrível Grupo F ninguém viveu para contar, além da infinidade de desculpas que em ocasiões destas é hábito ouvi fazer ecoar.
O pior – de que rapidamente se irão esquecer - é que a França caiu, mas caiu
com estrondo, frente a uma incansável e valorosa Suíça, precisamente o tal
adversário supostamente mais fraco que o sábio Selecionador Nacional
dizia nos oitavos de final preferir enfrentar...
Não haverá, mesmo, alternativa viável? É que este homem, que tudo leva a crer
ser bom e sério, parece ter já aprendido, no meio do futebol, o velho truque
dos políticos que nele se misturam cada vez mais: nunca arriscar e, quando a
coisa dá para o torto, assumir, teoricamente, as responsabilidades, na
prática, as consequências rejeitar.
Talvez com o inconfessável propósito de esbracejar procurando manter-se à tona
de uma notoriedade de méritos duvidosos, antes e durante o desafio
mostravam-se às câmaras da televisão alguns outrora craques, hoje
recauchutados, fora de prazo e que, talvez para parecerem ainda jovens,
seguem os tiques de penteado daqueles que ainda mexem, assim se
demonstrando, também aqui, que, apesar das suas academias, dos campus,
das cidades do futebol, das catedrais do futebol, o futebol ensina pouco mais
do que o supérfluo, o ostentatório, o inútil, o artificial, sem esquecer todas
aquelas coisas feias que acabam por colocar algumas das suas mais destacadas
personalidades debaixo da alçada da justiça criminal.
Na
final, ganha-se ou perde-se; no plano desportivo, evidentemente, já que o
abundoso pecúlio percebido por quantos vão ficando pelo caminho também não
será, propriamente, coisa de se desprezar…
Mas aquele jogo dos oitavos de final era capital, era, como qualquer outra
eliminatória, uma final, já que, sem o ganhar, a
Seleção Outrora Campeã em Título levaria para casa apenas uns trocos no
bolso e o amargo de boca de nem ter chegado à final em que um tudo ganha e, do
outro, rapidamente ninguém se irá lembrar, o que, depois de tanta luta,
deita qualquer um abaixo, dentro e fora do campo, nos tais desportos que, como
os de bola, lá vão servindo para fingir que, pelo menos naquilo, somos tão
bons ou melhores do que aqueles que dizem saber analisar e comentar.
Naquele nosso jogo dos oitavos, não havia chama, vontade, equipa; apenas uma exibição muito cerebral e calculista por parte de uma dúzia de milionários doutores da bola, cheios de táticas na cabeça, mas, talvez com uma ou outra exceção, sem garra, sem capacidade de dar vida à competição.
Ou teria o Técnico dos Empates dado contrária instrução?
Portugal passava bolas entre peões que faziam lembrar bonecos inanimados de um
jogo de matraquilhos; outras seleções corriam, corriam que não se fartavam -
coisa que, no futebol como no resto, os Portugueses de hoje parecem já não ter
grande capacidade ou vontade de fazer – e, quando caiam, era com a satisfação,
não apenas do dever cumprido, mas também de ter procurado ultrapassar em muito
esse dever.
Dir-se-á, como sempre, que o que importa não é o espetáculo, mas sim ganhar. Até pode ser verdade, mas desde que se ganhe, ou, nem pelo espetáculo, da vitória moral a memória irá perdurar.
Lágrimas sem suor
Estariam os excelentíssimos e mimados futebolistas sentidos com o facto de,
por uma natural demonstração de boçalidade por parte de quem deveria saber
estar e, nesse campo, não é, seguramente, o campeão, terem os mais altos
magistrados da Nação acabado por não assistir àquele espetáculo de tamanha
falta de desportiva abnegação? Duvido.
Independentemente de quem possa estar a assistir, correr do princípio ao fim exige forma física, persistência, trabalho árduo, acreditar para além do possível, coisas com que apenas um ou outro dos futebolistas da Seleção Outrora Campeã em Título parece comprometer-se e, assim sendo, nos faz desconfiar que, mais uma vez, a ordem do Selecionador Nacional não terá sido para atacar, mas para aguentar.
A Croácia caiu nos oitavos frente à Espanha, mas caiu de pé, “como as árvores" e após prolongamento. A República Checa desfez a muito forte Holanda. Até a fraquinha Ucrânia eliminou a Suécia e apenas caiu frente à finalista Inglaterra, que tão caro vendeu a derrota, também.
Portugal, caiu sentado a fazer contas de somar, com uma equipa a ouvir, desolada, apelos e preces do tristonho e lamuriento Selecionador Nacional.
Esperar-se-á, assim sendo, que fiquemos comovidos com o facto de alguns destes
milionários da bola terem ido para o balneário chorar?
Feitas as contas - ou no fim do dia, como agora é chic dizer... -, ainda bem que caímos cedo: em plena pandemia - do que muita gente parece que já se esqueceu -, com uma parte expressiva população composta por inconscientes e básicos alarves capazes de tudo sacrificar a uma comemoração parola, e na vivência de uma das mais tristes e amadoras desgovernações de que sou capaz de me lembrar, ainda bem que não houve oportunidade para grandes festividades, ou o grande vencedor seria, uma vez mais, o famigerado índice de propagação.
Mas, por que me ralo com isto eu, que nem gosto de futebol?
- x - x -
A Câmara Municipal de Lisboa era, nos termos da lei,
obrigada a
impedir as comemorações do Sporting
"No fim do dia" já oiço essa expressão desde qe comecei a trabalhar há onze anos. Era muito usada na minha empresa lolol sobre o futebol, a redução dos festejos em cenário de pandemia é de facto a única coisa positiva.
ResponderEliminarO futebol hoje em dia é uma industria, em que se transaciona o talento de um ser humano por valores absurdos.