sexta-feira, 15 de abril de 2022


Sport Lisboa e... GNR

Ponte Vasco da Gama, Lisboa. Ontem, véspera de fim-de-semana prolongado. Filas a perder de vista, desde a zona do Aeroporto até muito para além de Alcochete.

Algures no tabuleiro, já passada metade da tortura, frenéticos batedores motorizados da Guarda Nacional Republicana (GNR) acenavam aos saturados e imobilizados condutores para que abrissem alas.

Não, não era uma viatura de emergência, nem de um político atrasado para uma aparição urgente na televisão. Tratava-se, mais singelamente, do enorme autocarro encarnado.

Regressavam os futebolistas de Liverpool, onde tinham conseguido um inútil empate a três, depois do desaire em casa. Mas as primas-donas vinham, por certo, fatigadas, e ansiosas por chegar rapidamente à universidade, ou à academia, ou lá o que é aquela coisa que têm ali para o Seixal.

Não tinham, que se saiba, jogos nos dias seguintes. Estavam, simplesmente, cansados do dia de trabalho, desejosos de uma boa banhoca e de ficar em paz e harmonia na dependência da sua Catedral.

No tabuleiro da ponte, ao mesmo tempo, desesperavam, no trânsito, centenas de portugueses sem batedores da GNR, de clubes desportivos diferentes e muitos deles sem clube, também cansados do dia de trabalho, desejosos de uma boa banhoca e de ficar em paz e harmonia nos respetivos lares.

O que deve um destes portugueses - mesmo pagando... - fazer para conseguir batedores que o escoltem mais rapidamente a casa?

Que estatuto especial têm, ao olhos da lei e da ética, esta dezena ou duas de pessoas - do Sport Lisboa e Benfica ou de outros clubes -, especializadas em maltratar uma bola e os pés e outras partes do corpo dos adversários, que lhes permita tratamento tão diferenciado relativamente à restante população?

Será que os membros do Governo têm direito a escolta e, até, a exceder a velocidade máxima também quando estão desejosos de chegar a casa para a banhoca, ou só quando têm, em representação do Estado, de comparecer a determinada hora em determinado lugar?

O que têm, afinal, de tão especial estas pessoas que, no meio da maior das desgraças, exibem relógios de milhares de euros, automóveis de milhões, casas fabulosas, iates, sei lá mais o quê, perante milhões de basbaques que nem entendem que, ao fazê-lo, aqueles craques com eles apenas estão a gozar?

Com gente a pensar e a agir assim, onde é que tudo isto irá parar?


Outros temas que poderão interessar-lhe no Mosaicos em Português:
- A disparidade entre os salários dos futebolistas e os dos dirigentes dos clubes desportivos Leia AQUI
- A necessidade do equilíbrio de forças entre duas equipas desportivas que se defrontam Leia AQUI

quinta-feira, 14 de abril de 2022


Braga: A Arcada

 

Situada na Praça da República, a Arcada*) é um dos mais emblemáticos edifícios da Cidade.

Sacrificada aos imperativos da desejada rentabilidade e da implacável moda, a vista desafogada que o postal velhinho nos mostra foi, entretanto, substituída pelos inevitáveis mamarrachos típicos do desenvolvimento de aglomerados que, alguns dos respetivos ex libris, com a dignidade devida não souberam conservar.

segunda-feira, 11 de abril de 2022


Ciganos e PCP: Iguais em Quê?

Dedicado aos jovens ciganos e aos jovens comunistas
que os velhos patriarcas pouco ou nada deixam ser


"São iguais os velhos ciganos e os velhos comunistas no preciso ponto em que
ambos ignoram o pleno significado da palavra das palavras: Liberdade!
A liberdade temperada pelo respeito essencial ao bem-estar de qualquer país, de qualquer partido, de qualquer comunidade
"

"Perante o escancarado féretro que o aguarda, procura o Partido, para prolongar o último e patético alento,
alimentar as urnas com cacofónicas reivindicações de um impossível
que apenas os economicamente analfabetos ainda conseguem considerar possível.
Mas, os analfabetos estão em vias de extinção;
e, com eles, a ignorância, tradicional mas hoje quase inerte substrato do voto comunista em cada eleição
"



1. Motivação
2. Do Respeito pela Lei e pelos Usos Instituídos
3. Da Indiferença e da Tirania da Tradição Cigana
4. Da Indiferença e da Tirania da Prática do PCP
5. Crepúsculo


Colaboradores de restaurante1. Motivação

Para “perplexidade” do advogado de defesa, uma juíza portuguesa considerou, em sentença prolatada há alguns dias, que as agressões levadas a cabo nas pessoas de colaboradores de determinado restaurante “são inadmissíveis e envergonham a etnia cigana*).

A primeira parte da declaração é pacífica, uma vez que, a pronúncia pela inadmissibilidade dos atos, parece que ninguém contestou. Já a segunda, a da suposta vergonha para a etnia cigana, mereceu honras de notícia, quanto mais não fosse por, nos dias que correm, ser in fazer eco do que quer que se escreva ou diga acerca de qualquer minoria. Seja o que for, em abono ou desabono, já se sabe que cola, que vende; e, estando os leitores já saturados das intermináveis, porquanto comoventes e terríveis, histórias e historietas da invasão da Ucrânia, pendurar-se um comentador na suposta e estafada defesa de minorias sempre aparecerá aos menos esclarecidos como uma mais-valia, uma bandeira agitada, um pouco de sal e de pimenta no ror de notícias sem novidade e comentários sem substância que se vê por aí.

Não será, porém, despiciendo recordar àqueles que são capazes de encontrar laivos de racismo até no mais banal comentário de uma juíza com juízo, que quem o proferiu foi a mesma magistrada que, anos atrás, foi acusada de, entre outras decisões mais ou menos polémicas num ou no outro sentido, ter violado direitos constitucionais de arguidos neonazis, simplesmente por haver determinado que, enquanto meio de prova, fossem analisadas por peritos as tatuagens que aqueles ostentavam no corpo*).

Não passará, assim, de nova e mais do que forçada fabricação mediática qualquer insinuação quanto à interferência do preconceito, seja na atuação genérica da decisora, seja nas considerações que, na leitura do acórdão, esta oportunamente teceu.


2. Do Respeito pela Lei e pelos Usos Instituídos

As sábias e pedagógicas considerações proferidas em tribunal, estupidamente consideradas polémicas, trazem à balha a velha questão da existência de dois tipos de ciganos - os bons e os maus, com todos os graus intermédios -, tal como a de dois tipos de negros e a de dois tipos de brancos, verdes, azuis, todos.

A propósito, e antes que meia dúzia de exaltados comece por aí aos gritos, convirá lembrar que, se podemos falar de democratas, de fascistas, de comunistas, de progressistas e de reacionários, de portugueses e de franceses, de africanos e de europeus, razão não haverá para nos caírem em cima quando, por comodidade de expressão e sem que isso traduza menos respeito ou afloramento de discriminação, falamos de ciganos referindo-nos à organização dita social da comunidade cigana, à cultura cigana, a certos aspetos da etnia*): não, necessariamente, à raça*) cigana, o que, naturalmente, seria impróprio sob qualquer ponto de vista que com as ciências ditas exatas não tenha a ver.

Ora, de um modo geral, encontra-se socialmente estabelecido que qualquer ilícito penal, qualquer crime, de qualquer tipo, envergonha os restantes elementos da etnia - enquanto grupo social - que o infrator integra, tal como envergonha os restantes membros de qualquer comunidade a que pertença: país, região, religião, escola, empresa ou outra forma de organização, e seja qual for a cor ou tom da pele, que, decididamente, nunca deveria ser chamado a esta discussão.

Isto, é evidente, sabido e sentido por todos e, como tal, não carece de demonstração.

Em grupos firmemente estabelecidos na comunidade, de raízes sólidas e reputação firmada, cada ovelha ronhosa envergonha as restantes. Os atos condenáveis que pratica chocam pares, parentes, companheiros, correlegionários, que tendem - quando isentos, de boa-fé e socialmente responsáveis e sensíveis - a ser os primeiros a censurar a conduta ilícita ou, mesmo, criminosa. São, também, estes que promovem e exercem, no âmbito social, disciplinar ou criminal, indispensável e expedita ação em claro sinal de repúdio que, além de prevenir a contaminação interna da podridão e a consequente proliferação de ilícitos, transmite, para o exterior da coletividade, o necessário à salvaguarda da respetiva reputação.

Tal não sendo feito, essa reputação sofre ainda mais quando o prevaricador pertence a setores ou grupos minoritários que lutam pelo reconhecimento de legítimos direitos, e cujos elementos, nomeadamente os socialmente saudáveis, se veem - por vezes, com indesejável frequência e dispensável sofrimento, quase sempre, por serem vítimas do aproveitamento político, do egoísmo ou da pura maldade – na contingência de ter de, legitimamente, se manifestar de forma indignada e veemente contra a inaceitável discriminação típica das lastimáveis civilizações que, formalmente os acolhem, mas, substantivamente, os rejeitam.

Neste conceito de socialmente saudável apenas cabem, naturalmente, aqueles que, no respeito pelos valores da liberdade, da democracia e do respeito pelo semelhante, observam as leis e os usos da comunidade em que escolheram viver, abstendo-se de, seja por que razão for, procurar impor-lhe tipos de organização social, modos de vida ou traços culturais que a maioria autóctone não quer para si, não aceita, não admira, ao que, democraticamente, lhe assiste todo o direito.


3.  Da Indiferença e da Tirania da Tradição Cigana

No mesmo conceito de socialmente saudável não existe, evidentemente, lugar para aquela meia dúzia de mofinos aprendizes de sociopata que procura impor as suas regras: para párias que violam a lei, a desrespeitam ou insultam. Em liberdade, cada um tem todo o direito a viver a seu bel-prazer, como foi formatado ou educado, ao seu estilo, mas, jamais, com uma patente e egocêntrica indiferença pelo modo de vida da comunidade que o acolhe, na qual, jamais tencionando integrar-se, se limita a imiscuir-se; e foi essa indiferença que, no que a boa parte diz respeito, muito injustamente granjeou aos ciganos a proverbial aversão que certos setores da sociedade inequívoca e ativamente manifestam, e que outros parecem incapazes de, pelo menos, disfarçar.

Não me refiro, que fique claro, aos ciganos que, respeitando os valores da liberdade e da democracia, se integraram nas sociedades previamente estabelecidas nas terras onde eles escolheram viver. Quanto a esses, qualquer distinção no plano social e humano apenas poderia basear-se na ideia de raça, o que não passaria de um rematado e vazio dislate, de uma inaceitável manifestação do sectarismo primário que é próprio de indivíduos de pobre jaez.

Há, não obstante, que considerar que o impacto fortemente negativo sobre a eficiência rodoviária provocado pelas carroças puxadas por equídeos insalubres e lazarentos em que - habitualmente em contravenção com as mais elementares normas de salubridade e de circulação e segurança na estrada -certos ciganos insistem em continuar a fazer-se deslocar não passa de um aspeto menor e, de algum modo, folclórico de algo bem mais grave que àquele subjaz.

folclóricos não poderão ser considerados não raros julgamentos e condenações por furtos, roubos ou cenas de mais ou menos expressiva violência; ou, até, bodas para as quais a lei proibia, em plena pandemia, serem convidadas centenas de pessoas*), que as autoridades se viram obrigadas a dispersar.

Típica dos déspotas, dos tiranos, dos machistas, dos racistas, a causa profunda e ainda não muito remota destas constantes e persistentes violações da lei e manifestações de desrespeito pelos costumes instituídos terá sido a recusa, décadas a fio e por parte dos mais velhos patriarcas ciganos por muitos ainda respeitados quais anacoretas, em permitir que os jovens que o desejassem se integrassem nas comunidades que os rodeavam. Terá sido a proibição de que as raparigas ciganas casassem com rapazes de outras raças, a proibição de que os jovens se instruíssem e se desenvolvessem intelectual e culturalmente visando tornar-se elementos válidos e produtivos da sociedade.

Tudo isto apenas por receio de que a aquisição, pelos vindouros, de competências que os quase analfabetos patriarcas patentemente não detinham e jamais seriam capazes de vir a deter, um belo dia permitisse àqueles destituí-los e ocupar os seus lugares, ciosamente assegurados por uma suposta tradição centenária ou milenar, mas, seguramente, pela força, pelo temor de quem, sem qualquer competência para tal, dirige despoticamente um grupo, porque, na vida, outra coisa não é capaz de fazer.

Importa-lhes, outrossim, impedir quem pensa e estuda de expor a inutilidade prática, a inanidade, a vacuidade do domínio dos patriarcas: a ineficácia, a irracionalidade de posições e de políticas anquilosadas por eles preconizadas e defendidas, há muito desfasadas da realidade do tempo e do lugar. Encaram estes velhos caducos a contestação e a simples evolução como perigosamente conducentes ao inevitável e crescente desrespeito pela monolítica hierarquia por parte de quem já se questiona e, pela própria cabeça, procura pensar. Por parte de quem olham como apóstata porque, simplesmente, não entende como pode quem se diz superior e sábio continuar a defender o indefensável, o insano, o ilógico, apenas para que se mantenha no poder, na ribalta, num palanque de chão podre uma meia dúzia de ignorantes, arbitrários e incompetentes heróis de lutas de outrora que no poder, não tem hoje, evidentemente, qualquer lugar.

Dizem as más línguas que estes tradicionais ciganos apenas sobrevivem à custa de subsídios e de roubar. É possível. Mas, que alternativa resta a quem, desde cedo, se vê impossibilitado de ganhar o sustento pelo trabalho e de, através dele, validamente se integrar na sociedade? A quem tal é negado, não apenas pelo preconceito irracional e abusivo, mas, sobretudo, pela falta de competências decorrente da proibição de estudar, de se valorizar, a não ser no seio de uma comunidade nómada e pouco respeitadora das normas e dos valores estabelecidos e estabilizados?

Como pode, afinal, admitir-se, num supostamente civilizado estado de direito, que uma comunidade  ou família faça depender a entrega de um foragido à justiça portuguesa da decisão, na mais alta instância, do respetivo patriarca cigano?


4. Da Indiferença e da Tirania da Prática do PCP

Terá dito o mais falado ditador português que “muitos dos que se têm sentido oprimidos nos últimos trinta anos já demonstraram em discursos, e jornais e em outros atos públicos, estar em condições de gozar dessas liberdades e com tão grande amplitude que não chegarão para mais ninguém”.

Apenas desvalorizada pela identidade do seu autor, a ironia assenta como uma luva a certos grupos  -tanto sociais, como os ciganos, como políticos, como o Partido Comunista Português (PCP) -, que, em nome e a coberto da propalada defesa de direitos minoritários, galgam, espezinham e desprezam a maioria legítima de que diferem, embora o direito à diferença digam defender.

Apesar de o PCP não ser propriamente conhecido pela diversidade étnica com que recruta os seus deputados e quadros proeminentes*), tem em comum, com a tradicional e anquilosada liderança da fatia retrógrada e reacionária da comunidade cigana, a liderança cediça e retrógrada, que, numa tentativa desesperada de se manter agarrada ao poder, não hesita em continuar, contra toda a sensatez e evidência, a defender o indefensável, a recusar-se a condenar algo tão condenável como a invasão de um estado por outro*), a abrir ao Mundo as suas portas, a olhar em volta, a limpar as suas impenetráveis paredes de vidro, a romper a crosta do secretismo e da indiferença, a abrir as janelas e deixar entrar o ar.

Tal como os agora caducos patriarcas ciganos do antigamente se recusam a sancionar, a condenar quem agride militares da GNR ou burla centenas de utilizadores do Multibanco, ou, das mais variadas formas, viola a lei, também os patriarcas comunistas que o poleiro se recusam a deixar proíbem que se sancione, se condene regimes ditatoriais que, arbitrária e implacavelmente, subjugam populações indefesas e incapazes de se revoltar, em total desrespeito pelos mais elementares direitos humanos; ou quem agride inocentes cidadãos que vivem em paz nas suas casas, que nada têm ou querem ter a ver com a política dos grandes, mas que, sem querer, morrem por eles, pelas suas riquezas, poder, vaidade, exaltação.

Não pode considerar-se socialmente saudável aquele que defende estados e formas de governo alérgicos aos valores da liberdade, da democracia e do respeito pelo semelhante, que impõem leis repressivas, que invadem, que torturam, que matam, que exterminam. Não é socialmente saudável quem nega, por exemplo, Holodomor*) e hesita em condenar os sobejamente documentados massacres na Ucrânia - por muito adulteradas que certas imagens possam ser -, ou se recusa a condenar a invasão de um estado por um outro que não hesita em aniquilar, em, indiscriminadamente, matar civis, em arrasar. Tal como no caso dos ciganos, foi essa indiferença ou estado de negação que, muito injustamente, granjeou aos comunistas a proverbial aversão que certos setores da sociedade inequívoca e ativamente manifestam, e que outros parecem incapazes de, pelo menos, disfarçar.

Esgorjando por poder, recusam-se os dirigentes comunistas, não apenas a sancionar e a condenar o reprovável, como a permitir que os mais jovens militantes sancionem e condenem, impondo-lhes uma férrea e implacável disciplina partidária. Tal como os patriarcas ciganos, ao defender o indefensável, os patriarcas comunistas portugueses envergonham aqueles que, nos tempos da nossa ditadura, abnegadamente a ela se opuseram, com sacrifício pessoal muitas vezes além do imaginável e entregando-se sem reservas à causa da liberdade.

Típica dos déspotas, dos tiranos, dos machistas, dos racistas, a causa profunda e ainda não muito remota da cada vez mais próxima morte política terá sido a insistência, por parte dos velhos patriarcas do PCP, em formatar os jovens, incutindo-lhes convicções que, uma vez por estes alardeadas como suas, os tornam indesejáveis num mercado de trabalho capitalista e democrático, apenas lhes deixando como modo de vida trabalhar para o Partido, ou representá-lo em instituições democráticas, mesmo naquelas que, expressamente, não admiram. Transformam jovens potencialmente válidos em parlamentares e autarcas olhados de esguelha, incapazes de se integrar plenamente na sociedade, profissionalmente inúteis ao mercado de trabalho, em gente que, além de política ou politiquice, para garantir o agasalho nada mais sabe fazer.

Importa-lhes, outrossim, impedir quem pensa e estuda de expor a inutilidade prática, a inanidade, a vacuidade do domínio dos patriarcas: a ineficácia, a irracionalidade de posições e de políticas anquilosadas por eles preconizadas e defendidas, há muito desfasadas da realidade do tempo e do lugar. Encaram estes velhos caducos a contestação e a simples evolução como perigosamente conducentes ao inevitável e crescente desrespeito pela monolítica hierarquia por parte de quem já se questiona e, pela própria cabeça, procura pensar. Por parte de quem olham como apóstata porque, simplesmente, não entende como pode quem se diz superior e sábio continuar a defender o indefensável, o insano, o ilógico, apenas para que se mantenha no poder, na ribalta, num palanque de chão podre uma meia dúzia de ignorantes, arbitrários e incompetentes heróis de lutas de outrora que no poder, não tem hoje, evidentemente, qualquer lugar.


5. Crepúsculo

As duas partes que, neste texto, imediatamente antecedem contêm dois parágrafos iguais, tal como iguais são os velhos ciganos e os velhos comunistas no preciso ponto em que ambos ignoram o pleno significado da palavra das palavras: Liberdade! A liberdade temperada pelo respeito essencial ao bem-estar de qualquer país, de qualquer partido, de qualquer comunidade.

Tal como os ciganos nómadas de antanho têm, no mundo dito civilizado, os dias contados, o PCP não passa, hoje de um doente terminal que ainda não interiorizou que, em breve, vai morrer, apesar de, cada vez mais alto, os eleitores lho gritarem aos ouvidos moucos.

Perante o escancarado féretro que o aguarda, procura o Partido, para prolongar o último e patético alento, alimentar as urnas com cacofónicas reivindicações de um impossível, que apenas os economicamente analfabetos ainda conseguem considerar possível.

Mas, os analfabetos estão em vias de extinção; e, com eles, a ignorância, tradicional mas hoje quase inerte substrato do voto comunista em cada eleição.

* *

Embora em vias de extinção, enquanto ela não acontece vão estes seres oferecendo, pelo exemplo que constituem, uma machadada na causa antirracista, assim potenciando os efeitos bem nefastos que esta já vem sofrendo dos excessos e dos desmandos praticados por alguns daqueles que se arrogam seus principais defensores, embora não passem, muito provavelmente, de pouco escrupulosos oportunistas que olham para a causa, ora como escada de acesso a outros voos.

[não perca aqui a sequência!]

domingo, 10 de abril de 2022


Eça de Queiroz: Conde d'Abranhos

A classificação da maior ou menor qualidade de qualquer produção é, sempre, subjetiva, como bem o demonstra a disparidade habitualmente encontrada na crítica cinematográfica.

Com esta ressalva bem presente, atrevo-me a considerar "Conde d'Abranhos", não apenas como uma das melhores séries portuguesas a que alguma vez tive o gosto de assistir, como capaz de ombrear com muito do melhor que lá de fora nos é trazido, em brasileiro, em inglês, francês ou outra língua.

Composta por treze episódios transmitidos, pela primeira vez, no ano 2000, a série inspirou-se no romance póstumo "O Conde de Abranhos - Notas Biográficas por Z. Zagalo", de Eça de Queiroz, do qual é frequentemente citada a passagem “Este governo não há de cair - porque não é um edifício. Tem de sair com benzina - porque é uma nódoa!”, aplicável, segundo uns ou segundo outros, a todos os governos dos quais alguma vez dependeram os destinos das respetivas nações.

No sétimo episódio da série - integralmente disponível no arquivo RTP - ouvimos, nas palavras que o guião pôs na boca de Zagalo: "Um país vazio, que anuncia um país ainda mais vazio. Como se fosse o deserto de tudo. Tão deserto e tão seco, que não há lugar para uma única ideia que seja. Só palavras, palavras. Nada mais que palavras (...). Um país ridículo e analfabeto", imagem que, no tempo de Eça como agora, parece descrever, na perfeição a indisfarçável decadência de valores e de costumes em que as gentes deste nosso ocidental retângulo vêm caindo.

Esta crítica social e política é o mote, e uma constante ao longo da obra e da série, desta sendo justo destacar, além do texto de Francisco Moita Flores e da realização de António Moura Mattos*), as interpretações de Paulo Matos*) (Alípio Abranhos), João d'Ávila*) (Zagalo), Carmen Santos*) (Laura Amado), Filomena Gonçalves*) (Casimira) e Rui Luís*) (Justiniano Amado).

Imagens: arquivo.rtp.pt

Pode ler a obra completa aqui,
ou assistir a toda a série televisiva aqui.

sexta-feira, 8 de abril de 2022


Figueira da Foz: Praça 8 de Maio

 


A praça evoca a data do desembarque, em 1834, das tropas constitucionais, em Buarcos*), tendo a guerra civil*) entre miguelistas e liberais terminado dias depois, com a assinatura, a 26 de Maio, da Convenção de Évoramonte.

Também conhecida por Praça Nova*), é uma das principais artérias da Cidade.


quarta-feira, 6 de abril de 2022


Luís de Camões


"Um rei fraco
faz fraca a forte gente
"

Luís de Camões*)              
(Lusíadas, III 138)                       


Referia-se o Poeta a Dom Fernando I*), no tempo em que o poder executivo se encontrava nas mãos do monarca, e não nas do chefe do governo.

Naquele tempo, não existiam eleições; tampouco partidos políticos aos quais, na sequência de indesejáveis resultados daquelas, o rei tivesse de se coligar, ficando refém de cedências desmesuradas e fortemente lesivas do interesse nacional.

Naquele tempo, também havia, por toda a parte, escaramuças, guerras e invasões; mas, dominada pelo soberano, a população que aguentasse os impactos bélicos, políticos, sociais e económicos, já que outro remédio não tinha, e a vida  fácil não passava de uma ilusão.

Naquele tempo, existiam ainda mais pestes e pragas sanitárias; mas o incipiente estágio da medicina pouco ou nada permitia fazer para as controlar, pelo que, sob esse aspeto, pouco importava se o rei era forte ou fraco, competente ou não, já que impotente seria, certamente, para resolver problemas de tamanha dimensão.

Naquele tempo, não havia, liberdade, direitos humanos, e eram muito elementares a justiça, a educação e os outros pilares de uma democracia então inconcebível, e da qual, hoje, muita gente não tem a mais ínfima noção.

Hoje, sabe-se que todas estas novidades existem; e que, mesmo em detrimento da ordem pública e da paz social, muito tuga que por aí anda delas chorudos proventos procurará extrair, em lugar de pensar como poderá assegurar o respetivo gozo aos concidadãos.

Hoje, depois dos brutais impactos recentemente sofridos, há fundos europeus generosamente distribuídos em volume suficiente para, não apenas procurar minorar os efeitos daqueles, como para proporcionar oportunidades únicas de suster o nosso já proverbial trambolhão económico, seja absoluto, seja relativo face aos parceiros da União.

Hoje, mais do que nunca, tornou-se de suma importância, para o Estado, ter ao leme um primeiro-ministro que seja, não apenas popular, habilidoso e flexível, mas, pelo menos, um gestor convincente, recrutador eficaz, estratega competente, administrador incorruptível, educador culto e informado, legislador experiente.

Hoje, como naquele tempo, um governo chefiado por alguém ideologicamente débil, politicamente elástico, gestor inseguro, justiceiro complacente, comunicador fechado, planeador disperso, andarilho ausente, apenas faria ainda mais fraca a nossa cada vez mais fraca gente.