“Propositado, necessário ou acidental, o bem que se faz gera, em quem o
pratica,
inilidível responsabilidade pela perpétua dignificação da
memória dos feitos
junto de quem deles se apercebeu, pelo que nenhum
ídolo tem o direito de
boicotar a própria obra; e, em matérias tão
importantes e sensíveis
como a Liberdade e a Democracia, não pode a
tal ponto desiludir, quase renegar”
1. Fala Breve sobre a Motivação
2. A Dívida dos Portugueses
3. O Homem da
Revolução
4. O Lado Mais Negro
5. Anedotário Politicamente Correto
6. Cuidar do Futuro
7. Requiescat

No Palácio da Pena, em Sintra, existe a Sala das Pegas*), cujo teto está pintado com cento e trinta e seis destes pássaros – a quantidade de damas da corte na altura -, cada uma das quais segura a rosa que simboliza a Casa de Lencastre e ostenta, junto ao bico, os dizeres “POR BEM”.
Conta-se que, na origem da pintura, terá estado um beijo que El-Rei Dom João
I, marido de Dona Filipa de Lencastre, dera a uma cortesã, gesto testemunhado
por uma dama da corte que, qual pega tagarela, terá ido piar ao ouvido
da Rainha o ternurento evento.
Justificando-se, responderia o Rei a Dona Filia que beijou “por bem”,
com tal expressão querendo afastar qualquer condenável intenção.
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“Foi sem querer”. “Foi por bem”.
Quantas vezes não ouvimos já, às crianças grandes que somos e às verdadeiras
crianças, expressões como estas procurando justificar algo de menos bom que se
fez por acidente? Ou, até, com boa intenção, mas com alguma falta de jeito,
qualquer das duas expressões apenas visando fazer aceitar o que, por vezes,
parece injustificável, desde um simples pecadilho a uma morte às mãos de
alguém.
À morte sem intenção às mãos de alguém, ora chama o Direito crime por
negligência, ora legítima defesa, e a pena aplicada é relativamente leve no
primeiro caso e, até, inexistente no outro, já que seria aberrante punir quem
mata ou fere para se defender ou para salvar a vida de outrem.
Deixando o contexto penal, no mundo dos comum mortais quem também “sem querer”, por mero acaso, obtém um bom resultado para outros, não pratica, na verdade, uma boa ação; logo, não merece especial louvor, já que nada terá, propositadamente, feito para que esse bom resultado acontecesse.
De igual modo, quem, já não “sem querer” mas deliberadamente,
com má intenção, acaba por praticar uma boa ação, faz, também uma obra
sem mérito, pois com má intenção e a título meramente instrumental a fez.
Ou seja: fê-lo, porque, para alcançar o resultado censurável que o movia, era
imprescindível praticar esse tal bem que, mais tarde e sem qualquer mérito, os
beneficiários, enganados e indevidamente agradecidos, lhe viriam a
atribuir.
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Assim, aquilo que, em dado momento e com resultado positivo acidental para o
bem comum, alguém possa ter feito antes não desculpa o mal que vier a
fazer depois - ou a quantidade daqueles que na cadeia as culpas
purgam seria, seguramente, muito inferior.
A Dívida dos Portugueses
Não vou preocupar-me com a demonstração de factos que bem altas instâncias já deram como provados: cingir-me-ei, unicamente, à interpretação dos mesmos tal como me chegaram e que demonstram, antes de mais, que a responsabilidade do então Major Saraiva de Carvalho no êxito da revolução que viria a derrubar a ditadura é inquestionável, e é, e será sempre, digna de assinalável registo histórico, ou jamais seria credível a História.
A fazer fé nas palavras do próprio e relembrando aquilo que, à época, se ouviu
e a que se assistiu, o Senhor Major não foi apenas o comandante operacional:
foi a mente por detrás do planeamento do golpe militar. Foi, a bem dizer,
quase tudo, sendo digna de especial menção a brilhante estratégia de,
antecedendo qualquer ação armada de maiores dimensões que poderia resultar num
banho de sangue, ordenar a tomada das principais estações de radiodifusão e de
televisão.
Silenciou, assim, o regime e, simultaneamente, assegurou, numa altura em que ainda não se falava de telemóveis, um veículo eficaz e simples de comunicação com os revolucionários espalhados por todo o País. Isto, sem esquecer a excecional relevância da ativação de escutas das conversas dos governantes entre si por se haver assegurado, previamente, a colaboração da Escola Prática de Transmissões*).
Entretanto, sob o comando do Capitão Salgueiro Maia*), avançava sobre Lisboa uma gigantesca coluna armada até aos dentes que, num primeiro momento, não passava, afinal, de uma genial manobra de diversão destinada a desviar as atenções das outras e primordiais operações.

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Já a atuação subsequente, não só pelo que fez, mas pelo que disse sem
hesitação ou pudor, dúvidas não pode deixar quanto à certeza de que, quanto na
Primavera de 74 fez de bom, lhe granjeou, para toda a vida e além dela, um
estatuto que as qualidades pessoais manifestamente não mereciam e com o qual
nunca soube lidar; e não deixa, também, dúvidas de que, na base de quanto fez,
jaziam projetos e intenções dos quais custa até falar.
A evolução pela via democrática do "País que em 25 de Abril viu abertas com estrondo Pá as portas de uma
esperança Pá enorme Pá no Futuro" acabaria por desiludir, profundamente, o Herói a quem arrepiava a "democracia representativa ocidental burguesa" e não escondia que “não viemos aqui para assaltar o poder. Mas queremos transformar o poder” - que, à data, já era democrático, algo que, na visão distorcida do Major,
seria, sempre, de condenar.
Quaisquer incertezas que subsistissem relativamente ao que entendia por liberdade e democracia, ficaram definitiva e inequivocamente esclarecidas na sua frase “custa-me a admitir que, estando nós a fazer uma revolução decididamente no campo da esquerda, possamos admitir vozes de direita. Pessoalmente, isso repugna-me, mas, democraticamente, no âmbito da democracia ocidental burguesa, tenho de as acatar e respeitar”*).
De outra forma dito: uma democracia em que todos votassem naquilo a que
Saraiva de Carvalho chamava esquerda revolucionária - na qual, graças
ao estatuto de heroico libertador, as suas modestas qualidades intelectuais de
alguma forma pudessem brilhar - estava muito bem.
Mas, nada mais.
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Apesar de toda a sua propensão para o mediatismo, demonstrou ignorar que, propositado, necessário ou acidental, o bem que se faz gera, em quem o pratica, inilidível responsabilidade pela perpétua dignificação da memória dos feitos junto de quem deles se apercebeu, pelo que nenhum ídolo, seja de quem for, tem o direito de boicotar a própria obra; e, em matérias, tão importantes e sensíveis como a Liberdade e a Democracia, não pode a tal ponto desiludir, quase renegar.

O que de bom possa ter feito, começou em Março de 74, e logo em Abril seguinte
terminou.
O que depois disse e fez demonstra que, desde o início, agiu com propósitos de tal maneira inconfessáveis que obnubilam por completo o mérito residual pela organização e operacionalização do golpe militar, pelo qual muito mais devemos à abnegação e coragem daqueles que, ao longo do tempo, sempre se souberam comportar, e o 25 de Abril souberam dignificar.
O Homem da Revolução
Como qualquer um pode ler nas entrelinhas da imprensa de agora e da de há mais
de quarenta anos, a personalidade do Extinto era tudo menos complexa, antes de
uma simplicidade atroz: tratava-se de um indivíduo intelectualmente pouco
dotado, sanguíneo de carácter, sanguinário de temperamento e de educação e
instrução assaz elementares no que não dissesse respeito ao combate e à ação
militar.
O facto de ter sido um homem dito de esquerda radical que, apesar disso, dizem
as más-línguas ter trabalhado para a Comissão de Censura - entre outras
incoerências de percurso - não pressupõe qualquer complexidade, antes
transmitindo uma ideia de confusão, de indecisão ou, mais simplesmente, de uma
absoluta ausência de ideais além de, ora este, ora aquele que aqui ou ali ia
apanhar.
De raciocínio e discurso mais que elementares, nele não sobressaía uma espinha
dorsal, pessoal ou política: mais parecia um daqueles ditadores pantomineiros
que se apoiam no que e em quem lhe vier à mão, só não tendo levado a bom porto
os seus desgraçados intentos por ter sido travado a tempo por outros
militares, pelas forças de segurança, pelos tribunais e, antes disso, pela
clareza do voto popular.
Como ideal, Saraiva de Carvalho tinha, notoriamente, uma narcísica ânsia de protagonismo, anos depois bem patente no símbolo da Força de Unidade Popular (FUP)*)- e que, como caso de estudo, importaria, provavelmente, à investigação de alguma mais ou menos interessante patologia -, bem como uma sede de poder pessoal impossível de cercear.

Estaria, apesar de tudo, ciente de que, apesar da indiscutível competência no plano militar, não detinha qualificações mínimas para governar e que, aceite o poder e exercido este de forma incompetente, se iria a sua bem querida imagem, inexoravelmente, degradar?
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Um patente e avassalador complexo de inferioridade relativamente àqueles a
quem, num plano que não fosse o das armas, o Major jamais poderia surgir como
igual estava, possivelmente, na origem do ódio mortal pelos opositores sentido
por alguém que sempre achou que “se tivesse cultura livresca, podia ter sido o Fidel Castro da Europa”.
Bem, se não tinha, tivesse tratado disso, já que de tal nada nem ninguém o impediu, além da vontade própria de se dedicar a outras artes que conhecemos. Graças a estas, pode alimentar o desgraçado sonho da tomada do poder pela força e posterior instauração de um regime que nada tinha de democrático, antes passando por um Projeto Global dominado por um partido político radical e apoiado por um exército revolucionário que não olharia a meios para garantir a implementação das suas políticas governamentais, “visando a destruição, pelas armas, do regime democrático português”*).
Ora, poderá o propósito de eliminação pura e simples de quem não se enquadrasse na tal definição muito própria de democracia - fuzilar os contrarrevolucionários no Campo Pequeno*), quem sabe se depois de os tourear - deixar de nos lembrar, salvas as devidas distâncias e proporções, um alucinado que, décadas antes e apoiado por fidelíssimas, hipnotizadas e poderosas forças armadas e de segurança implementou, não um projeto global, mas uma Solução Final igualmente pensada para a eliminação dos que, na sua doentia opinião, não eram dignos de respirar o mesmo ar que ele?
Será caso para se pensar...

Para vergonha imensa de todos nós, o Português que, com especial
preponderância, organizou e operacionalizou o 25 de Abril de 1974 era adepto
do terrorismo ideológico, e não tinha qualquer vergonha de considerar
fascistas as democracias de tipo ocidental.
Provou-se que cometeu e mandou cometer crimes - não apenas "excessos" -, e o facto de a condenação inicial ter sido revertida por decisão do Tribunal Constitucional*), amnistia ou indulto e ter sido dispensado da pena ainda não cumprida em nada diminui a forte e dolosa culpa ou contamina a decisão relativa à prova dos factos.
Assim, dúvidas não restam de que o posterior sucesso do Major Saraiva de
Carvalho na agregação de vontades de uns quantos visionários radicais como ele
- que culminaria na formação das Forças Populares 25 de Abril (FP-25) de má
memória - apenas serviu para espalhar, nos espíritos da população, o medo; nos
corpos a mesma morte que, de forma bem mais pacífica, agora o veio chamar.
Pela força, procurou implementar um reinado de autêntico terror que, sucesso tivesse tido, não hesitaria, como a tentativa não hesitou, em recorrer à banalização do homicídio com dolo direto puro e simples*); à detonação de engenhos explosivos em representações diplomáticas e instalações militares, com o intuito de outras vidas tirar; ao roubo à mão armada a inúmeros bancos para se financiar, e a instalações do Estado para de se apropriar de impressos que permitissem às FP-25 diversos documentos falsificar; à emissão de mandados de captura em branco para mais facilmente ser perseguido quem ao caminho se lhe viesse atravessar.
Não me lembro, em contrapartida, de ter ouvido falar de sequestros: as FP-25
não faziam prisioneiros. A ordem era, sempre, para matar.
Uma antiga piada de gosto duvidoso dizia que os comunistas comiam criancinhas ao pequeno-almoço, o que não era, evidentemente, verdade; mas era verdade que, sem piedade e pelas mãos das FP-25, Otelo mandava matar-lhes os pais*).
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Quem não acreditar neste rosário de crimes dados como provados, que ataque
específica, lúcida e fundamentadamente a prova produzida e validada em
juízo, ou para sempre há de se calar: bramar à toa contra uma sentença apenas
causa alarde e ofende o sistema judiciário que garante a segurança e a paz
social, inclusivamente a esses mesmos que o atacam apenas quando à defesa da
memória dos seus pouco merecedores heróis isso convém.
Chocam-se, e ajudam à festa do vexame público, quando agora algum outro
assassino é condenado - especialmente se tiver vitimado alguém das relações
deles. Nesses casos, não se preocupam em criticar as decisões judiciais. Já no
caso do Major Saraiva de Carvalho, indignam-se quando se belisca a imerecida e
distorcida imagem que o próprio a tantos trabalhos se deu para criar e fazer
admirar.

Diz-se, com verdade, que o 25 de Abril é historicamente mais importante do que
as FP-25, que lhe são marginais. Mas Saraiva de Carvalho foi protagonista
também nessa Frente terrorista que tentou subverter os ideais da Revolução dos
Cravos; e, ao contrário da maior parte dos outros heróis de Abril, fez parte
da gente que não soube nem sabe estar.
Anedotário Politicamente Correto
De mortuis nihil nisi bonum *) está muito bem, mas não apaga a memória individual ou coletiva, e apenas é de seguir desde que algo de fundamentalmente, de estruturalmente bom haja a dizer de quem morreu, e não apenas de um ou outro feito mais ou menos sensacional se possa falar.
Não sendo esse, propriamente, aqui o caso, o chavão da
personalidade complexa foi a forma elegante que lá encontraram
políticos proeminentes e comentadores já não muito incipientes para definir o
popular Defunto, assim procurando fugir a acusações de maledicência comezinha
e esquivando-se a, sobre ele, ter de dizer algumas coisas necessariamente
embaraçosas tratando-se de quem se trata, fossem elas “boas” ou “más”.
Não passam, pois, no quadro aqui descrito, de desengraçadas anedotas as que
saem da boca ou da pena de quem pretende estarmos perante de um "enfant térrible" com uma "história empolgante e apaixonante para contar", e uma "personalidade complexa" e dominada por um intrigante "lado lunar".
Bem pelo contrário, das públicas palavras proferidas após a morte - e dos não
menos públicos e eloquentes quase silêncios - por quem a seu lado lutou ou
nele acreditou, apenas pode concluir-se que o agora Tenente-Coronel não passou
de um alucinado sem qualquer vontade de liberdade que não fosse a dele, sem
sentido de responsabilidade democrática, sem qualquer competência além da
inerente à conceção e operacionalização da preferencialmente violenta ação –
sem prejuízo, naturalmente, do derramamento de sangue que, em 25 de Abril, a
sua notável capacidade de organização permitiu evitar.
Para muitos, um grande incómodo político enquanto viveu. O mesmo incómodo
agora, que morreu sem que alguém que queira ficar bem na fotografia dele
aceite dizer alguma coisa: mal, não pode, por causa do
dever histórico de agradecer o bem, ainda que acidental; bem, também
não, já que dispensar encómios a quem demonstrou ser o que a História sabe que
era acarreta um custo político que se não pode desconsiderar.

Mas arriscou por ele mesmo, por aquela que, do que mais tarde fez e das
palavras que proferiu, emerge como a sua verdadeira e inconfessável causa.
Outros, muitos outros, arriscariam tudo lutando por todos nós, pela verdadeira
Liberdade. Como entender que um seja mais falado e louvado do que os
outros?
Luto nacional? Discorde-se do Governo no que se quiser, mas aqui não é
possível deixar de acompanhar.
No entanto, lá conseguiu a sua homenagem: embora em Julho, não em Abril,
morreu a 25, distinção que lhe fez, quem sabe, um Além capaz de descortinar
para lá dos atos cujas motivações perversas e distorcidas as nossas limitadas
e imperfeitas mentes não sabem aceitar; e os nossos corações sangram por não
poder negar.
Cuidar do Futuro
Não se ouve muito a gente mais nova falar de Otelo Saraiva de Carvalho, mas é
pena: como os jovens não viveram as emoções de Abril, estão, talvez, mais
habilitados a julgar com objetividade a pureza, a crueza dos factos, sem
preocupação com a memória e com o politicamente correto, e sem receio de
derrubar de um esboroado pedestal de barro quem há muito lá não deveria
estar.
Gratidão aos corajosos Capitães por tudo aquilo que o 25 de Abril significou e
significa para cada um de nós, todos a sentimos; em alguma medida, mesmo quem
a data faz questão de, estupidamente, continuar a invetivar.
Mas a data tem suficientes heróis, verdadeiros heróis, para que, presa da
emoção excessiva e da memória curta, a sua lembrança fique excessivamente
dependente de um protagonista que, além da atuação naquele incomparável e
decisivo mês de Abril, pouco deixou para louvar.
Nada há de mais natural do que cada um de nós povoar o imaginário com os seus
ídolos, e quase os endeusar na exata medida em que a nossa endémica
insegurança o recomendar: sentimo-nos mais seguros, sentimos que fazemos
parte, que somos importantes ao projetar neles as qualidades que gostaríamos
de ter.
Ficamos felizes quando os tais ídolos nos entram em casa pela televisão,
quando dizem bem deles, quando têm sucessos, quando marcam um golo. Pelo
contrário, ai de que diga mal deles e, se algum não defende um remate ou,
pior, a equipa perde, pobres de nós e, sobretudo, daqueles que levam com os
despejos mais ou menos explosivos das nossas emoções.

O que gostaríamos de ver amanhã em Portugal? Será, mesmo, o jugo terrorista de uma ditadura popular? Será a imagem do agora Tenente-Coronel Saraiva de Carvalho o ideal de Cidadão que aos nossos jovens queremos passar?
Se não é, vamos lá arrefecer um pouco o ânimo e selecionar com alguma
objetividade e critério aqueles que queremos e devemos elogiar…
Requiescat
Desenganem-se os que ainda pensam que há dias morreu o alguém de "pouca cabeça e muito coração" de que o recente anúncio de cerveja nos vem falar: quem, há dias, morreu
foi um ídolo de pés de barro, o implacável comandante do COPCON, o rosto da
FUP, o homicida por detrás das FP-25, o autor e promotor da aberração que, a
exemplo de outros ditadores, queria impor a todos nós: o muito seu
Projeto Global de imposição, pela força dos explosivos e das armas e
ordenando a aniquilação dos adversários, daquilo a que chamava
verdadeira democracia, mas não passava de um reinado de terror.
A América Latina teve Guevara. Por cá, e à nossa maneira incuravelmente
tuga, tivemos um aluado que nem lhe chegava aos calcanhares e tudo fez
para aniquilar, subvertendo-o, o regime democrático que dizia defender e que,
por ser instrumental na senda de um objetivo pessoal, com inegável coragem e
dedicação num curto e muito feliz momento acabaria por ajudar a implantar.
No dia 25 de Julho de 2021 morreu um duro e rude, mas muito competente,
operacional e estratega, a quem, em vida, a maior parte dos políticos
viraria a cara, se pudesse, e agora, morto, reza para que dele lhe não venham
falar.
Para os radicais de esquerda que se não podem dar ao luxo de deixar de o
idolatrar e para os verdadeiros e valorosos Capitães de Abril, de nobres
propósitos a que se mantiveram fiéis, e que souberam, cada um, ocupar na vida
posterior o respetivo lugar, o Tenente-Coronel Saraiva de Carvalho foi, será
sempre, o espinho que nem a morte soube arrancar.
O quam cito transit gloria mundi!
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