"A Referência Exata de Local (REL) responde positivamente
a cada uma
das ineficiências da extensa lista apresentada ao permitir,
de forma
muito dificilmente sujeita a erro, direcionar um condutor ao ponto
exato,
seja da emergência, seja da entrega de bens, seja onde
determinado serviço deva ser prestado"
1. Introdução: Caricatura
2. Enquadramento: Situação Atual
2.1. Possíveis Fontes Humanas de Problemas na Localização de
uma Morada
2.1.1. Semelhanças na Toponímia
2.1.2. Escassez de Sinais de Direção
2.1.3. Confusão entre os Diversos Tipos de
Artéria
2.1.4. Indicações Essenciais Inexistentes ou
Ilegíveis
2.1.5. Dificuldade na Localização de Edifícios
Isolados
2.1.6. Síntese das Fontes Humanas de Problemas
na Localização
2.1.7. Custos Marginais Evitáveis Associados à
Ineficiência na Localização
2.2. As Limitações e os Erros na Informação das Coordenadas
GPS
2.2.1. Problemas Práticos da Referenciação das
Coordenadas
2.2.2. O que Não Tem, Mesmo, Remédio
2.3. Síntese do Enquadramento
3. Modelo: A Referência Exata de Local (REL)
3.1. Apresentação
3.2. Especificação
3.3. Confirmação da Morada por Identificação Visual do
Local
3.4. Recolha e Armazenamento dos Dados
3.5. Processamento e Disponibilização da Informação
4. Conclusão
4.1. Limitações, Cuidados e
Sugestões
4.2. Reflexões Finais
-----------------
1. Introdução: Caricatura
Temos bem vivos na memória os “Bombeiros de Mafamude”,
farsa dos Gato Fedorento*) ao incidente ocorrido quando de uma chamada ao Instituto Nacional de
Emergência Médica (INEM), incidente esse que acabou por se tornar paradigma da
ineficiência dos serviços de urgência em Portugal.
Corria a primeira semana de Janeiro de 2008.
Na raiz desse triste episódio estava a nímia esqualidez organizacional do
Instituto, que
não tinha protocolo assinado com qualquer das corporações de bombeiros de
Alijó*), concelho onde se deu a ocorrência.
Para agravar a situação, o sinistro aconteceu em Castedo, aldeia de cuja
localização a equipa da viatura médica de emergência e reanimação (VMER,
ambulância) nem desconfiava, pelo que houve necessidade de estabelecer diálogo
com um descontraído e aparentemente meio adormecido bombeiro de Favaios que,
durante um longo minuto, lá foi tentando explicar como a ambulância poderia
chegar ao Castedo, partindo de Vila Real.
Aqui fica um pequeno excerto do diálogo, para recordar do que estamos a falar…
“Médica - Podia-nos dar algumas indicações, então, sobre
aquilo? / Bombeiro – Como? Como?
Médica – Onde é que é? Se nos podia dar algumas
indicações… / Bombeiro – (suspiro) Ora bem,
eu não sei como é que lhe vou dizer… que lhe vou explicar… eeeh… aquilo
chega-se ali a Alijó… aaahhhh… vai ali ao pé das bombas de gasolina…
Médica – Sim. / Bombeiro
– Nas bombas de gasolina em cima tem uma rotunda à esquerda… aaahhh… na
rotunda corta à esquerda, que é para ir para o Intermarché, e sempre,
sempre, sempre em frente é Castedo, sempre pela estrada a fora.
Médica – É? / Bombeiro –
É.
Médica – Para onde, desculpe? /
Bombeiro – Para o Castedo.
Médica
– Castedo, ok. Pronto, obrigada. / Bombeiro –
E agora, o que é que eu faço?
Médica – Diga? / Bombeiro
– E eu o que faço? É preciso lá ir eu?”.
(Antes de continuar a ler, será conveniente
ouvir
aqui*) a inesquecível gravação
para se saber ao certo do que estamos a falar).
A conversação com o bombeiro durou quase dez minutos, dos quais um inteiro foi
gasto com a transmissão de indicações - imprecisas e com relativamente baixa
probabilidade de sucesso - quanto à forma de chegar a uma aldeia no Concelho
de Alijó, minuto esse ao qual haverá, inevitavelmente, que acrescentar o tempo
gasto pela VMER, uma vez em Castedo, a procurar, primeiro, o Bairro e, depois,
o
número de polícia*) da porta onde se teria dado a ocorrência.
Não será exagero dizer que, toda esta confusão com o endereço terá custado dez
preciosos minutos a uma vítima… em provável paragem cardiorrespiratória.
Isto aconteceu treze anos atrás.
- x -
Na altura, o Ministro da Saúde admitiu que “há muito trabalho a fazer”, designadamente “cobrir o país com ambulâncias”*), como se fosse essa a única falha emergente da comunicação telefónica e o
facto de cobrir o País com ambulâncias valesse por si só, sem ser acompanhada
da preocupação de tornar a rede eficiente no que diz respeito ao
rápido e fácil acesso a qualquer local de sinistro.
Claro está que a efetiva falta de ambulâncias era, então – e eventualmente
ainda será – um tema de extrema atualidade e que importava sobremaneira
resolver. Mas, também não é menos certo que este tipo de falha não é
transversal a todo o País, havendo zonas em que, apesar de a quantidade de
veículos ao serviço ser adequada, as coisas nem sempre correm pelo melhor.
Entre as variáveis que afetam e atrasam a prestação de socorro praticamente
por todo o território encontra-se a imprecisão que, pelas mais
diversas razões, ocorre, quer na indicação da morada durante a chamada de
emergência, quer, por causas também variadas, na anotação da mesma pelo
operador do call center do Número Naional de Emergência (112), quer,
ainda, na procura da localização precisa do destino por parte do condutor da
VMER.
- x -
Há algumas semanas, embora em urgência de menor gravidade clínica, uma pessoa
dos meus conhecimentos que caminhava na estrada viu a assistência que
solicitara através do 112 prejudicada por um atraso de mais de vinte minutos
na chegada da ambulância devido ao facto de a operadora do
call center haver registado como localidade uma outra, de nome
semelhante mas situada a uma meia dúzia de quilómetros por estrada lenta,
daquela onde ocorrera o sinistro.
Dirigiu-se, assim, a VMER à localidade errada – dez minutos de desvio num
sentido e outros dez no outro -, além do que por lá perdeu, pelo menos, cinco
minutos à procura do sinistrado, até que acabou por contactá-lo através do
telemóvel cujo número tinha sido informado quando do pedido de assistência.
Enfim, como em tantos casos semelhantes, lá se esclareceu a situação, desta
vez sem consequências de maior.
No entanto,
a ambulância esteve ocupada mais tempo do que o estritamente
necessário; a equipa que a tripulava, também; gastou-se combustível
desnecessário; a vítima permaneceu ferida e ansiosa também durante mais tempo do que o
estritamente necessário, e por aí fora na lista de custos supérfluos e de evitáveis inconvenientes.
Era, de facto, coisa de pouca gravidade. Mas, caso se tratasse, como no
incidente de Castedo, de uma provável paragem cardiorrespiratória, que impacto
teriam estes vinte e tal minutos tido no desfecho da situação?
Pois é…
Têm em comum estes dois episódios, de gravidade e de natureza distinta,
dificuldades de navegação do veículo de socorro até ao local do
sinistro, problema que afeta, naturalmente, todos os condutores que conduzem viaturas
de socorro - como nas forças policiais, nos bombeiros, empresas de segurança e
afins - sem falar de todo o tipo de empresas cuja atividade implica
deslocações frequentes a destinos não conhecidos previamente dos motoristas.
Como será possível, na quase totalidade dos casos, de forma significativa,
eficiente e económica, reduzir drástica e definitivamente o tempo perdido
com a condução até destinos errados devido a desconhecimento da localidade
e da artéria, a uma incorreta anotação do endereço ou, até, a erro na sua
interpretação?
- x -
Refletirei, de seguida, sobre as diversas fontes de erro sempre latentes na
indicação de endereços na forma tradicional, bem como sobre a problemática da
eficácia ou ineficácia da indicação alternativa de coordenadas para navegação
por GPS.
Passarei, então, a
propor um modelo de referenciação complementar de prédios urbanos,
rústicos ou mistos, visando a sua eficiente e eficaz localização.
No quadro da modernização administrativa de um setor tão crítico como o da
prestação de socorro, é imperativo reduzir o tempo de assistência, bem como o
de ocupação das viaturas e das suas tripulações. São, assim, destinatários
principais da solução proposta, os serviços de urgência, médica, medicamentosa
policial e afins.
Colateralmente, beneficiarão do aqui proposto as empresas de distribuição
postal ou de mercadorias, bem como os prestadores de serviços pontuais ao
domicílio ou em instalações públicas ou empresariais - como, por exemplo, os
serviços de enfermagem, os de limpeza ou os de assistência técnica, ente
tantos outros possíveis -, além das equipas de reportagem de órgãos de
informação, assim se obtendo, designadamente, ganhos de eficiência que
permitirão significativas melhorias na qualidade do trabalho e na
rentabilidade operacional, além da redução na emissão de poluentes para a
atmosfera.
Como mais à frente veremos, a solução proposta é de implementação muito fácil
e rápida - aproveitando sistemas informáticos já ao serviço da Administração
Pública - além de implicar
um investimento muito reduzido por parte do Estado e de ser
gratuita para as empresas e particulares, aos dois últimos apenas sendo pedido, no próprio interesse a manutenção de
uma minúscula placa e, a título facultativo e por uma única vez, alguns
minutos de atenção e de dedicação.
Impossível?
Vamos ver…
2. Enquadramento: Situação Atual
2.1. Fontes Humanas de Problemas
na Localização de uma Morada
2.1.1. Semelhanças na
Toponímia
Os condutores residentes ou que trabalham na região onde é originado o pedido
de socorro tendem a conhecer a maior parte dos locais vizinhos e a saber
distingui-los, assim se tornando relativamente rara – mas não totalmente
evitável – a confusão entre localidades próximas entre si e com designações
semelhantes.
De idêntica vantagem não dispõem, porém, os distantes operadores do
call center do 112, centralizados numa mesma localização geográfica e
dos quais seria desrazoável esperar que estivessem igualmente familiarizados
com todas as regiões e localidades onde são originados pedidos de socorro.
Para estes, num momento de desconcentração de um dia e hora de maior movimento
e por mais legítimas que sejam as razões na sua génese, fácil se tornará
confundir, no concelho de Barcelos, Rio Covo – Santa Eulália com
Rio Covo – Santa Eugénia. Principalmente se, como é natural acontecer, quem faz a chamada se
esquecer, num momento de tensão, de especificar o nome da Santa, dizendo
apenas Rio Covo e assim abrindo portas ao equívoco.
Ora, entre as duas aldeias – Santa Eulália e Santa Eugénia –
existem sete minutos de estrada para cada lado, aos quais haverá a
acrescentar o tempo desperdiçado pela VMER na tentativa de localização de
um endereço inexistente; e foi, precisamente, um destes o caso que acima referi como ocorrido com
uma pessoa minha conhecida, que ficou desnecessários vinte e tal minutos
suplementares à espera de socorro, em plena estrada estreita, bastante
esburacada e de não muito fácil acesso.
- x -
Estes casos de designações toponímicas semelhantes e propiciadoras de erro na
referenciação não são assim tão poucos. Sem procurar ser exaustivo, extraí
alguns de uma
listagem de freguesias por concelho*), os quais passo a apresentar.
Num tal panorama, as possibilidades de erro são, como é bom de ver,
diversas e variadas: de baixo/de cima, nova/velha, nomes de santos diferentes
para uma mesma designação principal.
Veja-se o caso extremo dos São Bento do Ameixial, de Ana Loura e do
Cortiço, muito próximos uns dos outros no concelho de Estremoz: se
disserem ao operador que anota a chamada 'aqui em São Bento’, ele
escreverá apenas São Bento já que, como não é do mesmo concelho nem lá
mora, nem desconfia de que três aldeias do mesmo nome nele possam coexistir.
Depois, quando o bombeiro ou o condutor da VMER perguntam ao mesmo operador
‘Mas, São Bento? Qual?’, vá de ligar para o participante do sinistro e
de gastar mais preciosos minutos a esclarecer o equívoco, que poderá, ainda,
piorar quando descobrirem que ali por perto anda, também, uma… Santa Vitória
do Ameixial.
Entretanto, o sangue corre, o AVC continua a progredir, ou, mais simplesmente,
a ferida começa a infetar…
Isto, para não falar da existência, num mesmo Concelho, de designações
principais diferentes para um mesmo santo, de vilar ou vilela disto ou
daquilo, de designações semelhantes (Boivães/Bravães), de ordem invertida
(Ribeira de São João/São João da Ribeira), todas propícias a confusões de
muito provável ocorrência, implicando, um pouco por todo o território, tempos
de percurso agravados em múltiplas situações que o quadro acima apenas
parcamente exemplifica, para a enumeração se não tornar fastidiosa.
Mesmo nos casos de curta distância, será sempre significativo o tempo
decorrido à procura do endereço errado até que o motorista se aperceba da
anomalia.
Se a situação clínica for realmente grave, ao fim desses poucos minutos… mais
uma família estará de luto precoce.
Evitavelmente.
2.1.2. Escassez de Sinais de
Direção
A fabricação, em expressiva quantidade, das placas que, por toda a parte,
deveriam indicar aos automobilistas a direção de localidades, de lugares, de
bairros ou de locais dignos dessa menção é dispendiosa, e a manutenção das
mesmas em boas condições de legibilidade implica o recurso a mão de obra
também dispendiosa e nem sempre disponível em quantidade suficiente para se
antecipar às causas da deterioração, que vão desde a ação da Natureza aos atos
de vandalismo por parte de uns quantos degenerados que andam por aí.
Neste contexto, ainda que a morada esteja completa, mesmo que seja a constante
do registo do prédio e tenha sido exatamente anotada pelo operador de
call center, sempre poderá suceder que os dados dela constantes não
correspondam a um local devidamente sinalizado dentro da localidade. Se, por
exemplo, o endereço for Bairro de São Pedro, Lote C-D, será necessário
que, em cada entrada da localidade, exista um sinal de direção relativo ao
dito Bairro, a fim de que o condutor para lá possa dirigir a VMER, o que nem
sempre acontece, mormente em casos de bairros de construção recente.
Nestas circunstâncias, o recurso habitual será,
como se de um veraneante em tranquilo gozo de férias se tratasse, o
condutor parar a ambulância em marcha de urgência para perguntar o caminho
a um qualquer transeunte – que pode, também ele, não saber informar -, ou
para indagar num estabelecimento comercial, com a inevitável demora que
tudo isto não deixará de significar..
2.1.3. Confusão entre os Diversos
Tipos de Artéria
Da
listagem das abreviaturas recomendadas pelos CTT*), constam perto de trinta tipos de artérias, como avenida, rua, travessa,
calçada e calçadinha, e outras que tais.
Não será, pois, de admirar, muito especialmente nas maiores cidades, a
ocorrência de inúmeras dúvidas e de numerosos erros ao transmitir ou anotar um
endereço, particularmente em pouco tranquilas situações operacionais.
Essa dúvida, pode, aliás, nem sempre ser expressa ou, mesmo, apercebida,
limitando-se o operador que desconhece a existência, na mesma localidade, de
uma Rua das Flores e de uma Travessa das Flores a anotar o
endereço Rua das Flores, 43-F
que um primo afastado de visita ocasional à vítima telefonicamente transmitiu
em estado de desespero, quando a verdade que é se encontravam na Travessa das
Flores, distante largos minutos da rua do mesmo nome, e bastantes mais em
horas de ponta, que é, quase sempre, quando estas coisas acontecem, vá lá
saber-se porquê…
O certo, é que mais umas boas dezenas de irrecuperáveis minutos ficam para
trás, enquanto a VMER faz o que pode para dar com a rua, quando era para a
travessa que, quando partiu, deveria ter sido direcionada.
2.1.4. Indicações Essenciais
Inexistentes ou Ilegíveis
Bairro de São Vicente, Lote C é um destino que faz qualquer motorista
torcer o nariz.
Ainda que uma sequência clara de sinais de direção indique o dito Bairro, o
Lote C pode ser uma entre dezenas ou centenas de casas que o constituam e,
contrariamente ao que sucede com um arruamento tradicional no centro de uma
localidade – em que a localização aproximada do edifício é facilmente
previsível por os números de polícia se encontrarem em sequência de números
ímpares ou pares -, resulta praticamente impossível encontrar o dito lote sem
perder tempo a parar para perguntar a um residente.
Ora, se a pessoa interpelada nem um residente for, quantos transeuntes
ocasionais saberão onde fica o Lote C de um bairro que, por mero acaso, estão
a atravessar?
A quantos terá o motorista de perguntar? Quanto tempo precioso deverá
desperdiçar?
- x -
Pode, também, dar-se o caso de a morada ser insuficientemente conhecida ou
incompletamente indicada pela pessoa que pede auxílio – por exemplo, um
passante, para alguém que, à sua frente, tombou no solo diante da entrada de
um edifício. Se o número da porta estiver visível, o que nem sempre acontece,
poderá indicá-lo;
mas, se for um passante, que probabilidade teremos de que saiba o nome
exato da rua? E se nem uma placa com o número da porta existir para
ajudar?
Nestas circunstâncias, e se mais ninguém por ali estiver a passar, que
probabilidade haverá de que o operador do call center receba uma
informação fidedigna que possa transmitir ao condutor da VMER?
- x –
Admitamos, apesar de tudo, que a pessoa sabe o nome da artéria e que esse nome
está visível para o motorista; ou, até, que quem pede socorro é alguém que
reside com o sinistrado, e conhece perfeitamente o endereço completo do local:
se, numa série de meia dúzia de edifícios, nenhum tiver a placa com o número
da porta – como tantas vezes sucede -, como saberá o condutor à frente de que
prédio parar?
Esta situação é semelhante à que poderá, facilmente, ocorrer numa das nossas
estradas, nas quais a maior parte dos marcos quilométricos há muito deixou de
existir – nomeadamente os que indicam os hectómetros - ou se encontram em
estado de tal forma degradado que se torna impossível deles extrair qualquer
informação válida: ainda que a indicação esteja perfeitamente legível no marco
que sinaliza o hectómetro “5” do quilómetro “12”,
sempre haverá que perder tempo a conduzir – ou a caminhar… - quinhentos
metros até ao quilómetro inteiro mais próximo até o participante que
passou pelo local do acidente se inteirar do número da estrada
secundária, coisa que muito poucos terão presente quando a estão a percorrer.
2.1.5. Dificuldade na Localização
de Edifícios Isolados
Operador – “Pode informar-me a morada, por favor?”
Participante do sinistro – “Fica a uns cinquenta metros da Quinta das Maravilhas, naquela estradinha
que vai de Canecas de Baixo a Garrafas de Cima. Antes de chegar àquela curva
à esquerda, mete à direita por um caminho de terra batida, anda uns duzentos
metros, chega ao cruzamento, vira à direita, anda um bocadinho e é logo
ali”. Lembram-se da descrição feita pelo bombeiro à médica do INEM? Pois será
mais ou menos isso…
Quantas vezes acontecerão situações destas? Quanto tempo irá o operador
do call center demorar a interpretar e anotar tudo aquilo da
forma mais clara possível? Quem chegará ao local com indicações tão
pobres? E quanto tempo depois, se acabar por chegar?...
Quando, na melhor das hipóteses, acabar por conseguir aproximar-se
razoavelmente do local, como o identificará se no portão de entrada não
existir uma placa com os dizeres “Quinta das Maravilhas”?
Como irá a história acabar?
2.1.6. Síntese das Fontes Humanas
de Problemas na Localização
Sem prejuízo, naturalmente, de outras situações que poderão ocorrer e que os
motoristas profissionais conhecerão melhor do que ninguém, as anteriormente
exemplificadas têm, essencialmente, como fontes:
i Semelhança do nome da localidade de destino com o de
localidades limítrofes ou próximas no mesmo município
ii Insuficiência ou inexistência de sinais de direção
iii Existência, na mesma localidade, de mais do que uma artéria com a
mesma designação, embora de diferentes tipos
iv Inexistência ou ilegibilidade de indicações essenciais relativas à
localização do prédio de destino
v Inexistência ou ilegibilidade de marcos quilométricos
vi Impossibilidade prática de indicar com precisão a localização de
prédios isolados
Saliente-se que, nos casos referidos nos pontos i., iii., v., vi. e, em
certos casos, também no ponto iv., o erro não é evitável pela introdução
do endereço tradicional no Waze®, no Google Maps® no TomTom® ou em
qualquer outro sistema de navegação, que apenas em algumas situações do ponto ii. poderão auxiliar.
Num tal panorama, e mesmo num dia calmo do call center e em que o
quartel dos bombeiros e o centro de saúde estejam repletos de ambulâncias,
quem poderá estranhar a demora na chegada do socorro?
Que preço em cuidados de saúde – ou em vidas… - estaremos a pagar por tudo
isto, diariamente, durante todo o ano? Sem falar nos casos em que as forças
policiais detêm, indevidamente, anciãos pacatos e indefesos por terem
confundido a morada da residência deles com a do criminoso que procuravam…
Faz-vos lembrar alguma coisa?*)
2.1.7. Custos Marginais Evitáveis
Associados à Ineficiência na Localização
Os custos não se limitam, porém, ao impacto negativo na rapidez e na qualidade
global da assistência prestada.
Como impactos económicos marginais negativos há a destacar, desde logo, a
ocupação indevida da viatura de socorro e de uma equipa de duas pessoas –
exceto no caso das motorizadas - que anda de um lado para o outro, a perguntar
a este e àquele, até encontrar o local onde deve dirigir-se.
O desperdício não só é significativo quanto ao tempo despendido, mas também,
em números agregados da frota, em muitos milhares de quilómetros percorridos desde o início ao fim do ano,
com o dispêndio de combustível inerente e a necessidade de manutenções de
rotina mais frequentes, para não falar do inútil desgaste suplementar das
viaturas, tendente a determinar o seu abate precoce.
Se atentarmos no quadro exemplificativo acima incluído em 2.1., facilmente
concluiremos pela enorme desproporção entre os 9 km a percorrer em treze
minutos até um endereço completo e claramente indicado em Barrosas – Santo
Estêvão por uma ambulância estacionada em Vila Verde ou, caso ocorra erro ou
imprecisão na indicação da freguesia, os 17,2 km (17 minutos) de Lousada a
Santa Eulália onde se constataria o erro, acrescidos dos 9,3 km (15 minutos)
de Santa Eulália a Santo Estêvão, onde deveria ser assistido o sinistrado.
Ou seja: em lugar de 9 km em treze minutos, a VMER e os dois profissionais da
saúde percorreriam 26,5km em 32 minutos, o que representaria
um acréscimo de 194% na distância e de 146% no tempo de percurso – e,
possivelmente, um óbito ocorrido nos 23 minutos perdidos no trajeto, mais alguns passados a procurar uma casa simplesmente não existia, ou na
qual nada tinha ocorrido que requeresse urgente auxílio.
No caso da já referida pessoa das minhas relações, o tempo de espera total foi
de 35 minutos – os dez correspondentes ao socorro eficiente,
acrescidos dos vinte e cinco em que andou a deambular uma ambulância que
estava de prontidão à porta do centro de saúde e partiu, no máximo, quatro
minutos após a chamada para um percurso total de… oito quilómetros, sempre
a direito, por um Itinerário Principal.
- x -
Dir-se-á que casos de tamanha desproporção não serão assim tão frequentes, o
que é aceitável. Mas quantos casos com acréscimos menores, mas sempre
significativos, não existirão? Qual a aritmética final em combustível gasto,
horas de oficina e… vidas?
A tudo isto haverá, evidentemente, que adicionar o risco acrescido de
ocorrência de acidentes de viação durante o tempo em que a VMER anda
perdida, não apenas dada a maior distância percorrida, como pelo facto de,
como a tripulação não é composta por robots, esta ficar,
compreensivelmente, perturbada por saber que uma vítima acabará prejudicada
devido ao erro, assim havendo, ainda, que adicionar o desgaste emocional
associado à tensão nervosa ao facto de, tal como a ambulância,
os recursos humanos ficarem retidos mais tempo do que o necessário, logo,
menos disponíveis para acorrer a outras situações.
Tal como os elementos da equipa da VMER, o operador do
call center ficará, também ele, retido ao telefone mais tempo do que o
necessário, já que irá ser, inevitavelmente, contactado pelos tripulantes na
tentativa de obter esclarecimentos complementares quanto ao endereço.
Não será, assim, de admirar que uma outra ligação para o 112, efetuada poucos
minutos depois, demore a ser atendida, e que, por via do atraso escusado no
serviço, as vítimas de outros episódios de urgência em que o endereço seja
corretamente processado acabem por ver o socorro atrasado por
indisponibilidade de quem anda de Herodes para Pilatos à procura do edifício
correspondente a uma morada que lhes deveria ter sido transmitida com toda a
precisão. Mas não foi...
Decorrentes de todos estes atrasos e ineficiências, haverá, naturalmente, que
considerar também os custos de imagem para o INEM e para o Estado, nos quais
todos, em princípio, deveríamos confiar.
Por fim, juntando às ambulâncias e outras viaturas de socorro todos os
veículos cujos condutores experimentam idênticas dificuldades na localização
de endereços – carrinhas e camionetas de distribuição, equipas de reportagem,
veículos de empresas de serviços ao domicílio, como enfermagem e assistência
técnica -, não será difícil imaginar o impacto negativo global na receita do
Estado por via da redução do IRC decorrente de menos favoráveis resultados
económicos das empresas afetadas, bem como o impacto ambiental agregado das
emissões de gases poluentes.
Aqueles que acham que nada disto tem a ver com eles, pensem então quanto, ao
longo de um lustro ou uma década, tudo não representa em impostos
desnecessariamente cobrados aos cidadãos. A cada um deles!
Porque, até pelas coisas que acontecem só aos outros, de alguma forma
acabamos por pagar todos nós.
- x -
Em síntese, temos como custos marginais supérfluos:
» Quanto ao Equipamento
• Maior gasto de
combustível
• Necessidade de
mais frequantes operações de manutenção das viaturas
• Menor duração
útil das viaturas
• Maior risco de
acidente rodoviário
• Maior tempo de
indisponibilidade da ambulância
» Quanto às Pessoas Diretamente Envolvidas
• Agravamento da
situação clínica e da probabilidade de óbito do sinistrado
• Maior tempo de
indisponibilidade da tripulação da VMER
• Maior desgaste
emocional da tripulação com inevitável impacto negativo sobre o desempenho na
prestação do socorro
• Maior tempo de
indisponibilidade do operador do call center
» Quanto à Generalidade da População
• Menor
rentabilidade das empresas de distribuição, de assistência técnica e de
prestação de outros serviços ao domicílio
• Impacto negativo
sobre a imagem do INEM e do Estado
• Efeitos nocivos
da emissão de gases poluentes
• Impacto dos
custos na receita fiscal
Num tal quadro, os atrasos e as frustrações serão, mesmo, de admirar?
2.2. As Limitações e os Erros na
Informação das Coordenadas GPS
Bem, dir-se-á, mas as ambulâncias estão equipadas com dispositivos de
navegação por GPS – ou, pelo menos, os telemóveis dos tripulantes permitem-na
… – e, quem pede auxílio, sempre poderá indicar, além do endereço na forma
tradicional, as coordenadas exatas do local do sinistro.
Ninguém duvida. Mas, como adiante veremos, contrariamente ao que acontece com
os endereços em língua de gente que a todas as horas e minutos introduzimos no
telemóvel para obter o melhor caminho para lá chegar,
a indicação por coordenadas do sistema GPS foi pensada mais para as
máquinas e menos para as pessoas,
o que aparece como uma das razões possíveis para que, se considerarmos a
generalidade da população e das situações – particularmente em casos de picos
de enervamento, como nos pedidos de socorro -, poucas vezes essa indicação
seja publicitada ou pontualmente transmitida.
Lá se vai vendo um ou outro anúncio de restaurante, ou de andar para venda com
a indicação das coordenadas; mas muito raramente, e em muito poucos tipos de
situação, também.
Quais serão, então, as razões específicas para tão fraca adesão?
2.2.1. Problemas Práticos da
Referenciação das Coordenadas
Uma razão provável da fraca utilização das coordenadas como referência de
local será a existência, não de uma única, mas de três notações distintas e,
mesmo dentro de cada uma delas, com variações:
•
Notação complexa,
em graus, minutos, segundos e decimas de segundo (DMS): gg°mm'ss.s"
• Notação decimal,
em graus e centésimas-milésimas de grau: (DD): gg.ggggg
• Notação mista, em
graus, minutos e décimas-milésimas de minuto (DMM): gg mm.mmmm
Como se não bastasse, a indicação dos pontos cardeais também varia, podendo
acontecer antes ou depois do valor numérico, e utilizando letras ou sinais
aritméticos.
Assim, teremos, por exemplo, “N gg.ggggg W gg.ggggg” ou “gg.ggggg N gg.ggggg
W”, ou, ainda, “(+)gg.ggggg -gg.ggggg”, ou qualquer uma de outras dezenas de
combinações possíveis.
Dado que
boa parte dos navegadores apenas aceita uma destas notações, e nenhum
deles aceita todas, imagine-se o tempo perdido a procurar o conversor adequado e a utilizá-lo
quando o participante do sinistro informa N 38°51’23.080” W 9°6’11.455” e o
navegador GPS do condutor da VMER só aceita o formato gg.ggggg -gg.ggggg, o
que corresponderia a 38.856411 -9.103182.
Alguém normal se entende no meio de uma confusão destas?*)
A agravar o que já de si é bem grave, também existem diversos sistemas, não
apenas de notação mas de medição, como o Datum 73, o WGS84 e o ED50 - mais ou
menos utilizados, é certo -, para dar com qualquer um em doido, e inviabilizar
totalmente o recurso fiável à indicação das coordenadas geográficas para
localizar, com inequívoca precisão, o destino de um condutor.
Sobretudo ao atender uma emergência…
Tão útil, indispensável e preciso é, pois, o sistema GPS no seu funcionamento,
como é perigosamente falível na transmissão ou introdução de coordenadas por
humanos.
- x –
A indicação da coordenadas é inesperadamente equívoca num sistema de tamanha
precisão, não apenas devido à existência de variados sistemas de medição e de
notação, como ao facto de
a combinação das duas coordenadas resultar numa expressão
indesejavelmente extensa e, em certos casos, praticamente sem separadores,
o que dificulta a transmissão verbal e, até, a simples leitura, gerando
erros potencialmente catastróficos
quando se trata de prestar auxílio urgente.
Pode, pois, dizer-se que, no que se refere à indicação do endereço mediante a
entrada das coordenadas, o GPS, tão preciso no funcionamento, nasceu com o
formato infetado pelo vírus da confusão.
2.2.2. O que Não Tem, Mesmo,
Remédio
O problema mais sério que afeta a utilização das coordenadas para referir um
local não reside, porém, na inevitável ambiguidade gerada pela diversidade de
formatos e pela extensão e falta de clareza da notação.
Em boa verdade, estes inconvenientes até poderiam, em tese, ser resolvidos
mediante a normalização para um sistema de notação único, acompanhado de um
separador complementar de traço ou de ponto a intercalar nos decimais extensos
– a ser esse o formato finalmente adotado - ou por expediente similar, um
pouco na linha dos traços que separavam os grupos alfanuméricos das matrículas
portuguesas de automóveis, cuja supressão a leitura por humanos acabou por
dificultar.
Isto, apesar de as tentativas de normalização de sistemas tenderem a perder-se
em discussões intermináveis, e de,
faça-se o que se fizer, a sequência de algarismos ou de letras e
algarismos das coordenadas continuar extensa, confusa e, sobretudo,
difícil de ditar.
Mas o mau, mesmo, é que além da possibilidade de erro na localização por
circunstâncias diversas – como as condições ambientais e as características
técnicas do equipamento de leitura no que se refere, por exemplo, à antena ou
à potência de receção -,
o que não tem solução é a impossibilidade material de validação da mais
do que falível indicação de coordenadas transmitida.
Vejamos…
Voltando ao exemplo anterior das coordenadas 38.856411 -9.103182, se o
participante do sinistro indicasse, por lapso, 38.856411 -9.103183
- em vez de 2, como seria correto –, mesmo que não ocorresse erro significativo na
precisão do dispositivo de leitura a VMER desviar-se-ia escassos dez
centímetros da localização informada, o que, por ser impercetível, não teria
qualquer importância.
Se o erro fosse, por exemplo, 38.856411 -9.103192, a diferença seria também insignificante, cifrando-se em pouco mais de um
metro, também sem provocar qualquer dano.
No entanto, e como é mais do que evidente, o erro – ou os diversos erros…
- pode ocorrer com a mesma facilidade ao indicar um dos últimos dígitos de
cada coordenada, como ao indicar um dos primeiros!
Por isso mesmo, se o erro fosse, por exemplo, 38.856411 -9.104182, a ambulância dirigir-se-ia para um quarteirão adjacente ao
do edifício onde a vítima se entraria; e, se fosse 38.856411 -9.203182
o desvio seria de uns bons dez quilómetros*), acarretando consequências que poderiam ser mais nefastas do que aqui seria
viável descrever.
Ora,
o que não tem, mesmo, remédio é a impossibilidade prática de adicionar à
indicação das coordenadas um ou mais dígitos de verificação
(
check digits *)), como acontece, por exemplo, no IBAN, nos números dos cheques bancários e
em tantas outras situações da vida corrente em que dessa existência nem nos
apercebemos.
- x -
Clarificando um pouco, os check digits são algarismos que não
fazem parte da numeração e têm como única função procurar garantir que a parte
significativa da referência numérica se encontra corretamente indicada.
Exemplificando com uma situação bem simples, o código internacional de
Portugal a duas letras é “PT”, de acordo com a
norma ISO 3166-1 alpha-2*). Esta é também, como todos sabemos, a designação que corresponde às duas
letras iniciais de uma referência IBAN.
No entanto, dado que seria relativamente fácil alguém cometer um erro ao
transmitir ou ao digitar o “PT”,
estas duas letras são sempre seguidas dos algarismos “5” e “0”, assim
se formando as quatro primeiras posições do IBAN correspondente a uma conta
bancária num banco português que é, como se sabe, a sequência “PT50” – em
Espanha, “ES39”, em França “FR14” e assim por esse Mundo fora, sempre com o
objetivo de evitar erros numa indicação unicamente alfabética a duas letras do
país.
O efeito prático é o “chumbo” do IBAN se alguém introduzir um daqueles números
compridos começando por “PT40” ou "PW50" em vez de “PT50”, algo que o sistema
informático nunca aceitará porque essas combinações de código de país com os
dígitos de verificação – o PT mais o 40, o o PW mais o 50 - simplesmente não
existem na referida norma ISO!
A propósito, os dois últimos dígitos do IBAN são, também, check digits,
que nada têm a ver com a identificação da conta bancária a que o IBAN se
refere, apenas servindo para evitar que o dinheiro que acabou de transferir vá
parar onde não deveria ter ido só porque quando lhe informaram, por telefone,
o número da conta de destino o seu ouvido estava um pouco entupido, o
interlocutor constipado ou tinha sotaque, algum dos dois estava distraído ou…
um comboio perturbou a conversa ao passar.
- x -
Ora, as coordenadas a introduzir num sistema de navegação por GPS não têm
check digits;
nem podem ter, já que, para tanto, seria necessário criá-los e
divulgá-los para cada coordenada possível, sendo elas, como facilmente se
depreende, aos milhares de milhões!
Restar-nos-ia, pois, sem nos enganarmos, informar as coordenadas, nada fiáveis
apesar do aspeto rigoroso e certinho daqueles números todos, e esperar que
fossem corretamente entendidas no call center e o condutor também
corretamente as introduzisse no telemóvel ou no dispositivo de navegação.
Caso contrário, haveria que perder mais tempo a ligar de volta para quem pediu
assistência e procurar esclarecer o equívoco, depois retificar a rota para um
ponto a dezenas de quilómetros de distância enquanto a vítima se ia esvaindo
em sangue e demorando, toda esta trapalhada, bastante mais tempo do que o
desperdiçado, em Janeiro de 2008, numa inesquecível conversa telefónica entre
uma médica da VMER de Vila Real e um bombeiro de Favaios, no concelho de
Alijó...
2.3. Síntese do Enquadramento
Por muito que a aplicação de navegação por GPS e o dispositivo em que é
utilizada sejam fiáveis e precisos, nada poderá evitar um direcionamento
errado da viatura de socorro no caso de o endereço de destino ser, no formato
tradicional, indevidamente transmitido ou anotado.
Uma eventual ambiguidade na toponímia, a escassez de placas de direção, a
multiplicidade de ruas, estradas, calçadas e calçadinhas, a facilidade com
que, em situações de perturbação extrema, podem ser transmitidas ou
rececionadas informações de endereço erradas, e a dificuldade na identificação
da localização precisa de quintas isoladas ou de prédios semelhantes são
fatores potenciais de elevado risco de quebra grave – por vezes fatal - na
celeridade da prestação do socorro, com consequências nefastas, não apenas
para a situação do doente ou do sinistrado, mas para a tripulação do veículo,
sobre o dispêndio com a deslocação e sobre a intensidade dos riscos a ela
inerentes, sendo também responsáveis por um inevitável e significativo impacto
ambiental.
A alternativa à indicação do endereço no formato tradicional - que todos estes
erros repetidamente provoca e muitos mais potencia -, não passa, porém, pela
substituição daquela pela informação das coordenadas geográficas, extensas,
confusas e sem possibilidade mínima de validação, o que as torna, também elas,
suscetíveis de provocar desvios de dezenas de quilómetros em relação ao local
do incidente.
À custa de tanta diferenciação e de tanta especialização, as coordenadas
geográficas, que poderiam representar uma vantagem imensa para a comunidade,
transformaram-se, no que respeita à especificação de endereços, numa miragem
inacessível para a grande maior parte dos eventuais utilizadores.
Resta, neste quadro, conceber e implementar, com inegável urgência, um sistema
de referenciação que, preferencialmente conjugado com a indicação do endereço
no formato tradicional - mas sendo, também, eficaz e funcionando autonomamente
-, permita conduzir até ao destino com o erro de navegação limitado ao máximo
de escassos metros próprio de um equipamento de navegação digno de tal
designação.
3. Modelo: A Referência Exata de Local (REL)
3.1. Apresentação
A Referência Exata de Local (REL) responde positivamente a cada uma das
ineficiências da extensa lista apresentada ao permitir, de forma, se não
absolutamente fiável, pelo menos muito dificilmente sujeita a erro, direcionar
um condutor ao ponto exato, seja da emergência, seja da reportagem, seja da
entrega de bens, seja onde determinado serviço deva ser prestado.
A sua estrutura traz-nos, simultaneamente, as seguintes vantagens:
i. é incomparavelmente mais precisa
do que a do endereço indicado no formato tradicional de artéria, número e
localidade;
ii. é de muito mais fácil leitura
do que a informação das coordenadas do local, qualquer que seja o formato
considerado;
iii. contém caracteres de validação que a tornam infalível na exata medida em que anulam a possibilidade de erro
na transmissão e na receção da informação;
iv. é de ditado simples, alternando letras com números, em grupos de reduzida dimensão;
v. permite
que, à indicação da REL pelo participante do incidente, responda o operador do
call center pedindo para confirmar que a morada real corresponde à que lhe é
apresentada no monitor do sistema de apoio,
assim reduzindo drasticamente a possibilidade de equívoco.
A informação quanto ao local exato de destino será, naturalmente,
complementada com a indicação do andar e lado ou letra, sempre que aplicável.
Exemplificando, a REL 12.34.AB.56.78.904 pode ser lida como “doze, trinta e quatro, à bê, cinquenta e seis, setenta e oito, novecentos e
quatro”, ou como “um dois ponto três quatro ponto Algarve Barreiro ponto cinco seis ponto
sete oito ponto nove zero quatro”, ou algo semelhante, ao que o operador de call center responderá “a sua emergência situa-se na Calçadinha dos Morangueiros número trinta e
cinco. Confirma?”, seguindo-se, se aplicável, a indicação pelo participante do andar e lado
ou letra,
e assim se eliminando qualquer razoável possibilidade de engano por
troca, por exemplo, com uma travessa do mesmo nome que também exista na
localidade.
Mas, vejamos mais pormenorizadamente em que consiste a REL e, seguidamente,
como poderá proceder-se à sua implementação.
3.2. Especificação
Os dois primeiros dígitos da Referência Exata de Local correspondem à
identificação do distrito*), de um a 18, para este efeito correspondendo os números 19 e 20 às regiões
autónomas dos Açores e da Madeira. Assim, uma REL começada por “02”
referir-se-á, sempre, a uma localização no distrito de Beja.
O terceiro e o quarto dígitos correspondem ao código de cada concelho dentro
do distrito correspondente. Como exemplo, saberemos que uma REL iniciada por
“02.06” dirá respeito a uma localização no
concelho de Castro Verde, do distrito de Beja*).
As quinta e sexta posições, alfabéticas, correspondem a check
letters, em lugar dos tradicionais check digits já aqui
referidos.
Esta opção pelas check letters deveu-se, essencialmente, a duas
considerações:
• Por um lado,
porque com a saúde e a vida não se brinca, e a validação com duas das vinte e
seis letras do alfabeto garante uma possibilidade de erro cerca de seis vezes
menor (1 : 26² = 0,0016) do que a que é proporcionada por dois dos dez
algarismos do sistema numérico (1 : 10² = 0,0100).
• Por outro, em
virtude de a utilização de um grupo alfabético intercalando outros numéricos
assegurar uma maior fiabilidade do ditado, na medida em que permite evitar
erros de transmissão dos grupos numéricos decorrentes da troca eventual da
posição relativa de cada um deles.
Por fim, as posições sete a onze designam o código numérico do local de
destino dentro do concelho em que está situado, servindo o ponto que separa a
oitava posição da nona unicamente para facilitar o ditado e para o tornar
menos sujeito a erros.
Há que dizer que, inicialmente, se pensou na possibilidade de fazer o código
numérico do local coincidir exatamente com o número constante do registo
predial da freguesia em que o prédio estivesse localizado – já que, como
adiante veremos, o processamento informático estará intimamente relacionado
com esse registo. Corresponderiam, assim, as posições sétima e oitava ao
código numérico daquela.
No entanto, além de tal opção reduzir substancialmente a quantidade de números
de ordem disponível, a recente dança entre freguesias e uniões de freguesias a
que recentemente assistimos, aliada à vontade latente de autonomização de umas
relativamente a outras, desaconselha tal escolha, já que o assunto que aqui
nos entretém é demasiadamente sério para que fique sujeito a alterações
constantes da REL ao sabor de manifestações de bairrismo, de estados de alma,
de campanhas eleitorais autárquicas, em suma, da vontade política de uns e de
outros.
Num assunto sensível como este, requer-se rigor e estabilidade,
deixando a ânsia de protagonismo para outras ocasiões e outras atividades de
menor responsabilidade e premência.
A Referência Exata de Local deverá ser obrigatoriamente comunicada por escrito
pelos locadores aos locatários e constará dos contratos de arrendamento e de
compra e venda de imóveis, bem como dos respetivos anúncios, nos termos que a
lei prevê para o
Certificado Energético.*)
3.3. Confirmação da Morada por
Identificação Visual do Local
Como vimos em 2.1., a possibilidade de erro na indicação ou interpretação da
REL no momento da comunicação da emergência fica, praticamente, eliminada pelo
facto de, uma vez introduzida aquela no sistema informático, o endereço
correspondente ser imediatamente apresentado no monitor do operador do
call center, que o lerá ao participante a fim de que este o valide por
comparação com a informação que é do seu conhecimento.
Por outro lado, na generalidade dos casos, não haverá o perigo de a equipa da
VMER entrar no prédio errado, já que a exatidão do destino sempre será
validada no local mediante a observação no nome da artéria, do número de
polícia, da designação da propriedade rural, ou de indicação congénere que
desejavelmente existirá junto à entrada.
Utilizando a REL, mesmo se, no caso de imprecisão na navegação devida a
variáveis atmosféricas pontuais e impossíveis de controlar, a localização
correta não for aquela para a qual o veículo de socorro se dirigiu, será outra
no raio máximo do erro do GPS, o qual não deverá, mesmo em casos extremos
ultrapassar os cinquenta metros
– logo, bem menor do que os quilómetros que separam uma aldeia de outra com
nome semelhante -, o que, no local, facilmente pode corrigir-se.
- x –
Acontece, porém, que a Referência Exata de Local se destina, também, a
facilitar a localização de emergências ocorridas no exterior de prédios
urbanos, rústicos ou mistos, ocorrências geralmente participadas por
transeuntes que, em boa parte dos casos, não saberão o nome da artéria em que
se encontram; ou de automobilistas que circulam numa estrada e acabam de
passar pela Quinta das Maravilhas (v 2.1.5.), próximo de cuja entrada ocorreu
o sinistro, e não fazem a mais remota ideia de como informar o operador do
call center do 112 de como a ambulância lá poderá chegar em tempo útil .
Assim, e porque importa que o socorro a prestar o seja de forma eficiente,
quer dentro, quer fora dos prédios, deverá ser obrigatória a afixação de uma
pequena placa – discreta, mas facilmente localizável – na entrada principal do
local identificado pela REL, a fim de que qualquer pessoa que passe e
presencie o sinistro possa pedir socorro de forma eficiente e eficaz.
A utilíssima plaquinha servirá, até, às mil maravilhas para marcar encontro
para umas comprinhas, para beber um copo ou para qualquer outra
coisa a que se possa adaptar.
A fornecer e enviar gratuitamente pelo Estado para a morada dos proprietários
ou usufrutuários – e será este, além das campanhas publicitárias, o único
investimento mais ou menos significativo, dependendo da quantidade e da
voracidade dos intermediários que se acabar por contratar para chegar a quem a
irá fabricar -, a placa deverá:
•
conter, unicamente, "REL ", seguido da referência;
• ser fabricada em
material plástico razoavelmente flexível;
• ser gravada ou
impressa em material e por processo resistentes à humidade e à luz solar;
• ter as dimensões
estritamente necessárias a uma rápida localização e a uma correta leitura na
porta ou portão em que estiver afixada, a fim de evitar resistências alegando
ser a placa desproporcionadamente grande e inestética;
• estar dotada de
uma banda autocolante e, próximo de cada extremo, de duas pequenas perfurações
que permitam a respetiva aposição em superfícies nas quais a colagem não seja
eficaz.
A afixação da placa é obrigatória, sendo a contravenção punível com coima -
proporcional à capacidade económica do infrator, como já se defendeu
aqui*) - aplicada solidariamente aos diversos proprietários e ao responsável pela
gestão do prédio, sem prejuízo da eventual responsabilidade civil e criminal
originada na demora no socorro por dificuldade na localização.
Também não fará mal se um pequeno dístico a afixar em local visível no
interior da habitação ou estabelecimento for enviado, por correio eletrónico,
para o endereço de cada um dos proprietários, usufrutuários ou arrendatários -
tal como a Autoridade Tributária e Aduaneira volta e meia envia aquelas
importantíssimas notícias relativas aos sorteios da e-Fatura *).
3.4. Recolha e Armazenamento dos Dados
Dado que se destina, antes de mais, a direcionar para prédios urbanos,
rústicos e mistos, a Referência Exata de Local ficará associada ao
correspondente registo na conservatória do registo predial em, pelo menos,
três campos especialmente acrescentados para o efeito: um para a designação
alfanumérica, outro para a coordenada correspondente à latitude e outro para a
correspondente à longitude, informações que serão, desde o início da operação,
livre e gratuitamente disponibilizadas a toda a população, designadamente aos
serviços públicos, empresas e pessoas individuais:
• através de
ficheiro de dados a ser descarregado pela Internet por quantos o pretendam
utilizar em aplicações próprias para fins específicos – como para que as
coordenadas exatas e sem possibilidade de erro sejam imediatamente
transmitidas eletronicamente (por exemplo, por SMS), tanto ao condutor de uma
VMER como ao de uma a carrinha de distribuição de um supermercado ou a alguém
que apenas pretende visitar uma casa que está para comprar ou arrendar ou ao
restaurante ir jantar;
• através de
aplicações para telemóveis que, uma vez eletronicamente recebida a REL - ou
manualmente introduzida em campo próprio -, exportem as coordenadas para o
navegador (ex: Waze®, Google Maps®) utilizado no telemóvel ou no
computador, assim evitando qualquer possibilidade de erro que subsista na
cópia, para a memória temporária, da indicação das coordenadas e subsequente
colagem no campo de pesquisa adequado;
• através de aplicação na
Internet que, a partir da REL introduzida, informe as coordenadas
correspondentes, para utilizações de qualquer natureza ou tipo.
Diz quem penso saber do que fala que as aplicações informáticas de suporte são
tão simples de desenvolver, mas mesmo tão simples, que poderão ser entregues a
qualquer estudante dos níveis médios de um curso de informática, não existindo
assim qualquer necessidade de, para o efeito, contratar dessas
empresas de parques de campismo - detidas por maridos de autarcas e
intermediadas por padeiros - que fornecem golas que eram à prova de fogo mas
afinal não são*), ou consultores mirabolantes e muitíssimo bem remunerados externos ao Portal
da Habitação.
Em qualquer caso, os custos de desenvolvimento não chegarão aos calcanhares
dos absorvidos pelo tão propalado
ivaucher*),
atrasado*) e de eficácia ainda por apurar, ou daquela coisa mirabolante denominada
StayAwayCOVID*), que nunca alguém chegou a entender muito bem para que servia e que, ou me
engano muito, ou tinha uns errozitos de análise que desde o início a
condenaram ao insucesso, já que, feitas as contas, do grandioso projeto apenas
se conseguiu entender pouco mais do que a intenção. Ao vírus, pelo menos,
parece não ter feito a mais leve comichão…
Também não é necessário enfeitar e encarecer as páginas da Internet e as agora
chamadas apps com caríssimos e parolos bonecos e mapinhas, ou com
aquelas frases pategas de encorajamento de que certos políticos e fabricantes
de jogos para consolas tanto gostam, do género "Fixe! Conseguiste, Meu!", uma vez que o assunto aqui é sério, e o único propósito das tais
app será o de copiar para a área de transferência (clipboard) as
duas coordenadas a colar no campo de pesquisa do Waze® ou do
Google Maps® ou similar.
Por uma vez, façam as coisas de forma célere e simples, focando o essencial,
como sempre deveria acontecer em Portugal.
- x -
A gravação dos dados competirá, numa primeira fase facultativa, aos
proprietários ou moradores, logo se seguindo a confirmação por técnicos
camarários dotados de formação e de equipamento adequados a tais operações,
confirmação essa que, porque, tal como o nome sugere, os imóveis se
caracterizam pela imobilidade,
serão realizadas uma única vez, sem que os dados necessitem de qualquer
manutenção
– a menos que os satélites do sistema GPS endoideçam ou a Terra resolva
inverter o sentido da rotação.
O processo será muito simples:
I. No
primeiro arranque, o software afetará, a cada um dos prédios à data
registados na base de dados do
Instituto dos Registos e do Notariado*), uma REL, sendo os cinco últimos dígitos atribuídos sequencialmente dentro
do concelho em que o prédio se situa, começando na primeira freguesia e
terminando na última.
II. De
seguida e após abundante divulgação, os cidadãos interessados – por exemplo,
proprietários, coproprietários, administradores de condomínio, proprietários
de frações no caso de não haver condomínio constituído -, devidamente
identificados, utilizarão, se assim o entenderem e a fim de agilizar
procedimentos, uma muito simples página da Internet criada para o efeito para,
acedendo pela morada ou pelo número de registo do prédio, nela introduzirem as
coordenadas correspondentes.
III. À
medida que as coordenadas forem sendo gravadas – ou de uma vez só, logo de
início, como for julgado mais funcional e conveniente -, o Estado remeterá aos
interessados as placas normalizadas onde estarão inscritas as REL, que eles
obrigatoriamente afixarão ou farão afixar, sendo também deles a
responsabilidade pela manutenção das condições de visibilidade e de
legibilidade, bem como, eventualmente, pela substituição caso a deterioração
chegue a um ponto tal que não possam ser repostas tais condições.
IV. A informação originada nos cidadãos –
extremamente útil numa fase inicial, mas menos precisa - será posteriormente
validada pelos técnicos municipais já referidos, competindo ainda aos mesmos
ir, gradualmente, medindo e gravando as coordenadas correspondentes a cada REL
que não hajam sido, entretanto, informadas pelos primeiros.
V. Posteriormente, sempre que um novo prédio seja adicionado, concentrado ou
dividido será automaticamente gerada para o mesmo uma REL, com número de ordem
igual ao primeiro disponível por ordem numérica ascendente, sendo obrigatória
a indicação manual, pelo operador responsável pelo registo, das coordenadas
correspondentes.
VI. Qualquer
registo de um novo prédio ou alteração a um já existente estará,
obrigatoriamente, dependente de declaração de medição de coordenadas a emitir
pela câmara municipal.
Escusado será dizer que, aos três campos a acrescentar ao registo predial já
referidos, outros se deverão juntar, nomeadamente para, em nome da fiabilidade
e da segurança do sistema, registar a data em que as coordenadas foram
gravadas no sistema e a identidade do cidadão responsável pela informação, bem
como, numa fase posterior, a data da validação e a identidade do técnico
municipal que a tiver efetuado.
3.5. Processamento e Disponibilização
da Informação
Diariamente, será a informação relativa à Referência Exata de Local e às
correspondentes coordenadas exportada para um ficheiro de texto ordenado e
formatado de forma a assegurar, simultaneamente:
• a utilização por
qualquer cidadão, por visualização direta e, eventualmente, por aplicação que,
para o efeito, alguém entenda desenvolver;
• a pesquisa
eficiente e segura.
O ficheiro – que poderá, evidentemente, ser desdobrado por distrito ou, até,
por concelho a fim de que a consulta e pesquisa se tornem mais rápidas e
simples – será livremente descarregado a qualquer momento a partir do Portal
da Habitação, ou, melhor ainda, de um sítio simples e económico desenhado com
esse propósito específico, do qual uma explicação pormenorizada da REL e do
seu funcionamento deverá constar.
4. Conclusão
4.1. Limitações, Cuidados e Sugestões
Poderá argumentar-se que a generalidade dos cidadãos não quererá dar-se ao
trabalho de tomar nota, no telemóvel ou num papelinho que guardará na
carteira, de uma referência que apenas irá utilizar no caso de lhe bater à
porta uma daquelas desgraças que se está mesmo a ver que só aos outros irão
acontecer.
Uma boa campanha publicitária saberá, no entanto, alertá-los para o facto de
que a REL dará bastante jeito para agilizar a entrega daquelas coisas todas
que os mesmos cidadãos passam a vida a encomendar pela Internet, para fornecer
ao senhor que lá vai hoje reparar a televisão e para um sem-número de outras
coisas de que os publicitários se não esquecerão de enfatizar.
Sempre haverá, naturalmente, que lembrar que quem, unicamente para agilizar a
distribuição da correspondência, aderiu ao Código Postal Português, não terá
grandes argumentos para se furtar a acolher com agrado uma REL pensada, antes
de mais, para garantir o socorro pronto e eficaz ao próprio, seus amigos e
familiares.
- x -
Embora com sacrifício tolerável do rigor da validação, haverá que ter em conta
uma certa vantagem no facto de o algoritmo a desenvolver para a atribuição das
check letters não contemplar as letras k, w e
y que, por muito que isso possa doer a quem quer convencer-se de que os
portugueses são todos muito cultos, eruditos e, até, licenciados, são de
existência desconhecida pela maior parte da população mais idosa que não fala
inglês, mormente em zonas rurais desfavorecidas onde, não obstante, as
emergências acontecem e há que, de forma especialmente segura e expedita, as
reportar, o que não será possível a menos que se possa soletrar.
Aprendamos, pois, por uma vez, no terreno o que só pode ser constatado no
terreno, em lugar de fingir que não existe quando nos entretemos a ler papéis
e páginas da Internet como esta nos gabinetes ministeriais, uma vez mais
dizendo “Stay away!” à eficácia de projetos, de aplicações e de outros
que tais.
- x –
Além dos prédios urbanos, rústicos e mistos, haverá considerável vantagem em
estender a utilização da Referência Exata de Local a locais públicos
relevantes, como monumentos isolados, pontos críticos de estruturas viárias e
afins.
No caso de edifícios ou espaços especialmente vastos, deverá contemplar-se a
atribuição de mais do que uma REL, a distribuir pelas diversas entradas ou
pontos de interesse existentes no interior.
- x –
Embora pensada para o território português, será de considerar a utilização
internacional, eventualmente fazendo preceder a REL das mesmas quatro posições
que antecedem o NIB para a formação do IBAN (PT50).
Poderá, também, dar-se o caso de, com tal objetivo, a estrutura proposta dever
ser modificada a fim de acomodar estados com maior quantidade de distritos e
concelhos, ou de unidades administrativas equivalentes.
- x -
Sempre haverá, no entanto, que cuidar de que nada do que neste ponto
antecede atrase o desenvolvimento e implementação urgente do demais.
4.2. Reflexões Finais
Fala-se muito de mudanças estruturais e de outras inconsequentes divagações.
Porém, quando uma ineficiência de tamanho impacto subsiste numa área tão
sensível como a emergência sanitária, parece não se lhe encontrar urgência na
necessidade de resolução.
Erros efetivos de localização, levados às últimas consequências, poderão não
ser assim tantos, mas todos aqueles que ocorrerem representarão,
inevitavelmente danos acrescidos para a saúde ou, mesmo, perda de vidas, além,
entre outros, dos diversos efeitos colaterais já enumerados.
Assim, o custo irrisório de implementação da Referência Exata de Local -
dispêndio que, recorde-se, acontecerá de uma só vez e sem necessidade de
manutenção ou de repetição - torna aberrante, condenável, quase criminosa,
até, não apenas a rejeição do que aqui se propõe, como a mera demora na sua
implementação.
Em qualquer caso, os danos colaterais para a economia, para a eficiência do
call center, para as tripulações das VMER e para o ambiente são tão
recorrentes, como frequentes são as perdas de tempo diárias a corrigir e
confirmar, telefonicamente, informações evitavelmente confusas (a propósito:
alguém sabe como estarão agora as coisas lá pelos bombeiros de Favaios e de
Alijó?).
A Eletricidade de Portugal (EDP) já há muito tem o seu CPE (Código do Ponto de
Entrega). Como entender, então, que, numa área tão crítica como os serviços de
socorro, o omnipresente Estado Português não tenha já adotado idêntica medida?
Se não fosse o incidente ocorrido com um conhecido meu, é verdade que nem da
gravidade do problema sistémico me teria apercebido. Mas, tendo ele sempre
existido, estando, necessariamente, identificado, e sendo a solução tão
simples e pouco dispendiosa, por que razão, num país com tantas cabeças
supostamente pensantes em exércitos de assessores, ninguém se deteve a pensar
no assunto e investir, seriamente, em investir seriamente nun
think tank - como, para parecerem estrangeiros importantes, agora
gostam de dizer... -, visando encontrar uma solução, fosse esta ou outra pelo
menos igualmente eficaz, segura e eficiente?
Por que não foi tão elementar problema há muito resolvido num País e, pelo
menos, numa Europa que não para de inventar, para tudo e mais alguma coisa,
classificações, e referências, e códigos novos a que ninguém liga deles se
consegue, sequer, lembrar?
Portugal que, apesar de tudo, é pioneiro em tantas áreas, por que não o foi já
também na definição de
uma fórmula precisa, económica, funcional, eficaz e segura de indicação
dos locais?
- x -
Não apenas ao nível da ideia, mas com razoável desenvolvimento e vasta
fundamentação, aqui fica uma possível solução que pode ser desenvolvida num
máximo de três ou quatro meses, sem necessidade de análise por comissões e
mais comissões.
Porque é simples, inacreditavelmente simples, como se viu.
Quanto à implementação, o mais moroso ainda poderá acabar por ser a conceção e
fabricação das placas identificativas do local, já que é onde acaba por estar
dinheiro com algum interesse nisto tudo, apesar de gasto quase de uma vez só -
pelo que haverá que gastar algum tempo a escolher, criteriosamente, quem o,
mesmo assim, razoável cesto de maná irá engordar: se o homem das golas, se
alguma empresa do "grupo", mais ou menos habilmente encapotada, que coisas
destas não são de se desperdiçar.
A programação informática, num computador doméstico, seria, dizem-me, coisa
para escassas horas, incluindo uma razoável bateria de testes para garantir
que tudo correria sobre rodas. Como não é feito em casa, poderá, com empenho a
sério, ser coisa para um ou dois meses. Não mais.
Junte-se-lhe a campanha publicitária – que também irá render bastante a certas
empresas e não só -, e lá para a Primavera de 2022, a REL poderá estar a
funcionar, e a economia e a saúde a melhorar.
Não nos esqueçamos de que, como disse um eminente cirurgião português em
entrevista subsequente a uma pequena intervenção cirúrgica na pessoa de outro
ilustre português, “a saúde é um estado transitório que não augura nada de bom”.
Ou que, como diziam os romanos,
Salus populi suprema legis est