Depois de ler a notícia, dei comigo a perguntar-me sobre a razão pela qual,
por muito entusiasta que possa ser do tema - e é -, terá um outrora
coordenador da assim denominada task force da vacinação contra a COVID-19 sido
convidado a discursar no WebSummit sobre a sua recente e muito bem
sucedida experiência.
Mais admirado fiquei quando soube que a plateia ultrapassava apenas a
escassa centena de pessoas, contrastando, fortemente, com o significativo
relevo mediático que a iniciativa mereceu.*)
Não teriam o tempo e o esforço sido mais bem empregues noutro qualquer evento
onde o Senhor Vice-Almirante pudesse passar a sua importante mensagem a uma
plateia bem maior e, até, dela mais necessitada do que um punhado de
portugueses supostamente esclarecidos e suficientemente afortunados para ter
meios para ali estar?
Lembrei-me, depois, da importância que o certame tem para certos políticos e
politiqueiros aqui do nosso Retângulo, onde muitos deles por gente séria já
nem tentam passar e sabem mais do que bem que, como também já
aqui
disse, em política é insensato dar força a uma pessoa sem também nos
prepararmos para mais tarde podermos vencê-la
A nossa glória nunca é eterna, e, enquanto dura, sempre haverá outros que dela
se saberão aproveitar.
Ocorreu-me, também, que o Senhor Vice-Almirante, a quem todos tanto devemos -
mesmo
os mais básicos negacionistas...*) -, foi perentório e inequívoco ao exprimir o firme propósito de jamais
se dedicar à política; mas ocorreu-me, também, que, não obstante, a aparição
naquele meio restrito inevitavelmente traria chorudos proventos em votos
expressos a certos políticos habitualmente associados à promoção do
Web Summit. Ou não será?
Claro está que o ilustre Oficial é senhor de discernimento mais do que
suficiente para ter consciência de tudo isto e, mesmo que o não tivesse,
certamente não necessitaria de um recém-nascido blogueiro para o
aconselhar. Tampouco deixará de saber como, do ponto de vista emocional, lidar
com desmandos parolos do género "Você é o meu herói!"*), sempre apetitoso fruto para aqueles que tendem a olhar para a mais ínfima
manifestação de mediocridade como uma fabulosa notícia que num canal qualquer
não resistirão a pespegar.
Convirá, no entanto, que, por um lado, se não esqueça facilmente da patifaria
que, muito recentemente, lhe fizeram ao nomearem-no
Chefe do Estado-Maior da Armada*) quando o lugar estava ocupado e continuaria a estar; e, por outro, que tenha
presente que a participação em eventos deste impacto político e mediático,
porquanto com uma quantidade de espetadores tão reduzida, poderá soltar as
habituais más-línguas, que não deixarão de lucrar com a oportunidade de, aqui
e ali, deixar mais um artigo de opinião ou de ir mostrar-se a uma estação
televisiva que lhes pague bem para se deliciarem a especular sobre um assunto
que, naturalmente, assentará em substância nenhuma, o que nem por isso os
desencorajará.
Penso que ninguém terá qualquer motivo para duvidar da hombridade, da
idoneidade, da retidão e da honestidade do distinto Oficial da Armada. Mas,
Senhor Almirante, foi há muito tempo já que a mulher de César descobriu que
não basta ser: é preciso parecer.
Sempre.
Atualização:
Impasse na Carreira de Gouveia e Melo na Armada*)
(07nov2021)