Elaborando um pouco sobre o anúncio da 'poderosa e competente' Dona
Maria com que ilustrei o artigo do passado dia 8, qualquer de nós não deixará
de notar, naquela coisa, aspetos curiosos que, lamentavelmente, não parecem
merecer a atenção, quer de organizações das quais se esperaria que defendessem
os interesses dos seus fiéis ou associados, quer dos poderes públicos
mandatados para a defesa da lei e da ordem.
Não existindo, que se saiba, qualquer imagem autenticada e fidedigna de Jesus
Cristo, dúvidas não poderão, porém, restar quanto ao facto de a ele se
pretender associar a figura representada naquele miserável panfleto em que se
publicita os serviços de uma 'famosa senhora de poderes naturais e sobrenaturais', seja lá isso o que for; e, até, 'divinos', o que pouca margem deixa
quanto ao propósito de se recorrer a uma alegada e fraudulenta relação com a
Divindade cuja imagem é representada no panfleto. Mesmo porque a penúltima
linha expressamente a nomeia, numa saudação de paz...
Não obstante, a Igreja Católica parece indiferente a estes despudorados
aproveitamentos tendentes a cobrar chorudos honorários vendendo o
que não existe e tendo como veículo a crendice e a ignorância de muitos dos
nossos concidadãos; ou com eles não sabe lidar, preferindo continuar a
assistir à disputa entre a Senhora de Fátima e as bruxas, como aqui, a este propósito, já referi.
Por outro lado, e não menos surpreendentemente, os médicos parecem conformados
com a concorrência ilícita - e contraproducente para aqueles de cuja saúde
lhes compete cuidar - por parte de quem chama, aos potenciais pagadores, 'Querido Paciente' e refere, além dos tais poderes, um aprofundamento de conhecimentos,
necessariamente na área da saúde, ou não designaria
por paciente os incautos que lá irão parar.
Não obstante, e tal como acontece com a passividade eclesiástica, a Ordem dos
Médicos parece dedicar às Donas Marias desta terrinha um desprezo altivo, de
efeito nenhum no combate a esta variante da banha da cobra de cariz popular.
Note-se que a pessoa em questão - e, como ela, tantas outras... -, não apenas
se arroga infalíveis e especialíssimos poderes curativos, como se propõe
comercializar, está-se mesmo a ver que mediante a emissão de
fatura e recibo, 'poderosos talismãs para si e para a sua casa que lhe darão toda a sorte em
menos de quinze dias terá todos os seus problemas resolvidos'.
Atentos os valores astronómicos de que a comunicação social vem dando
presumivelmente rigorosa notícia, parece claro estarmos em presença de crimes
de burla, alguns deles de valor elevado, para os quais,
dada a aparente inércia das autoridades judiciárias e fiscais, talvez a Igreja e a Ordem pudessem ter algum papel relevante ao
pressioná-las, se não no interesse das próprias organizações, pelo menos como
ato de intervenção cívica elementar nas respetivas áreas de atuação.
- x -
Será que investigar, devidamente, este tipo de crime de colarinho pardacento é
considerado pouco meritório por quem com coisas mais mediáticas tem com que se
entreter? Serão as Donas Marias e seus equivalentes masculinos - como, com as
devidas adaptações, o célebre
Padre Gama*) - já tantos, mas tantos, que rapidamente tornariam insuportável a vida nas já
sobrelotadas cadeias?
Seria interessante conhecer algumas respostas, já que o problema existe com
'consultas em todo o País', não é uma mistificação.
Agora, a minha vida vai começar a correr mal, cheio que vou ficar de alfinetes
espetados num boneco, como mais que merecida e justa retaliação.
* *
Existem, no entanto, certas amplamente disseminadas formas de adivinhação que apresentam, nos fundamentos, alguma base científica e lógica e que, por isso mesmo, são merecedores de um escrutínio atento, da nossa maior atenção.
(leia aqui o desenvolvimento)