quarta-feira, 26 de janeiro de 2022


Paul Masson

 

Paul Masson

A honra é uma bússola escondida no nosso coração,
mas cuja agulha está sempre falseada pela pequena mina de ouro do nosso porta-moedas"


"L´honneur est une boussole cachée sur notre coeur,
mais dont l´aiguille est toujours faussée par la petite mine d´or de notre porte-monnaie.
"

Paul Masson *)               

Vá lá alguém saber por que razão me lembro sempre de coisas destas em períodos de campanha eleitoral...

Será apenas por ler e ouvir eternos candidatos, ávidos do poder e daquilo que traz consigo, recorrer, insistentemente, à despudorada mentira para prometer o impossível ou para denegrir, difamando ou caluniando, a imagem de quem tais epítetos não merece?

Será, também, por assistir a numerosas e oportunas quebras do segredo de justiça - necessariamente por parte de pessoas afetas aos processos criminais que, a troco de por vezes magros proventos, se deixam corromper - unicamente para criar notícias "de última hora" a troco dos bem mais gordos proventos que outros irão receber das receitas publicitárias?

Ou será por ver que as empresas que pagam tais anúncios ficam indiferentes ao facto de os órgãos de comunicação que os impingem serem prováveis corruptores ativos daqueles funcionários?

Por conveniência de ofício, passam os mais altos responsáveis da Nação o tempo a encher-nos os ouvidos com loas à atitude madura e responsável dos portugueses - o que não passa, também, de uma rematada hipocrisia, já que, tal como nós, bem vêem os magotes de tugas sem distanciamento ou máscara filmados pelas televisões.

Será que, nessa tão madura e responsável atitude fictícia não existe um menos fictício lugar para a verdade e para a honra?

Que estranha espécie de po(l)vo, afinal, queremos ser!...

terça-feira, 25 de janeiro de 2022


Não É Obrigatório o Voto Presencial

Muito se tem ouvido falar dos problemas suscitados, com isto da COVID, relativamente ao voto presencial*) na próxima eleição legislativa.

Esclareça-se, antes de mais, que, nos termos da Constituição da República Portuguesa, apenas é obrigatoriamente presencial o voto na eleição para a Presidência da República, uma vez que o artigo 121º cujo número 3. corresponde à disposição "o direito de voto no território nacional é exercido presencialmente" se encontra integrado, não numa parte geral, mas no Capítulo I do Título II, ou seja: "Presidente da República - Estatuto e Eleição".

Quanto a qualquer outra eleição, a Constituição é omissa quanto à componente presencial do voto, assim sendo, na minha opinião, de considerar que, se o Legislador incluiu a obrigação numa única parte especial, deve, a contrario, considerar-se que o fez por entender que não seria de aplicar a qualquer outro tipo de ato eleitoral.

Posto isto, ficam no ar as perguntas:

1. Na terra da Via Verde, num país tecnologicamente tão avançado - ou, pelo menos, em tal insistem em fazer-nos crer... -, como explicar que o voto eletrónico não passe, ainda, de uma quimera?

2. Perante o comodismo que grassa no seio do desiludido eleitorado, gravado a fogo na crescente taxa de abstenção, como explicar o aparente desinteresse em avançar, a velocidade supersónica, com a possibilidade de votar através da Internet?

3. Não sendo de admitir que se trate de limitação de caráter técnico numa terra em que até muitos impostos já são obrigatoriamente declarados à distância, que força política tão poderosa estará a impedir a prossecução do interesse do Estado democrático em avançar com uma medida tão importante para que a vontade popular se manifeste, tanto quanto possível, na sua plenitude?

A resposta imediata parece evidente: a mesma força política*) na qual, até ao recente chumbo do Orçamento Geral do Estado, o Primeiro-Ministro inteiramente confiava, e cujos disciplinados, indefectíveis e obedientes militantes lá irão depor o o voto quer chova ou faça sol... e cujo peso no resultado final ficaria, ainda mais diminuído se os comodistas que, apenas de vez em quando, lá consentem em ir aos locais de voto escolher partidos democráticos para os governar pudessem exercer o seu direito em casa, confortavelmente refastelados num cadeirão.


Outros temas que poderão interessar-lhe no Mosaicos em Português:
- Acerca de uma retratação que o não chegou a ser... Leia AQUI
- Frase de um rei de França sobre o dever de um político prometer aquilo que não pode dar Leia AQUI


segunda-feira, 24 de janeiro de 2022


Jacques Brel: Ne Me Quittes Pas






A canção desalinhada da obra de Jacques Brel.

Demasiado grande para que ouse comentar...

Pode ver e ouvir aqui.


Imagem: i1.sndcdn.com

domingo, 23 de janeiro de 2022


E Jacuzzi, Tem?

Um dia, a moda ainda pega, neste paraíso do facilitismo escondido sob a capa de um humanismo desmesurado, além de tudo o que é minimamente exigível por quem queira, como alardeia, assegurar a segurança e o bem-estar da generalidade da população.

A coisa terá começado quando aquele que disputa, com um outro também a braços com a justiça, o título de ex-banqueiro mais conhecido da praça*) - um e outro talvez não pelas melhores razões... - se lembrou de andar por aí a indagar das condições do estabelecimento prisional onde teria mais ou menos como certo ir parar depois de condenado pelas trampolinices que andou a fazer em atividades dignas do mais despudorado amigo do alheio (e, como a sentença condenatória já transitou em julgado, já posso omitir o eterno "alegadamente").

A esse, de pouco o cuidado terá servido, diga-se de passagem, se atentarmos na alhada em que acabou por se meter*) ao querer fugir com o rabo à seringa, acabando por ir parar a uma cadeia bem pior do que aquela onde não quis cumprir pena.

Ora, entre ex-banqueiro e ex-ministro a diferença não será assim tão grande - alguém terá pensado. Vai daí, um pobre governante que nem o suficiente conseguiu reunir para satisfazer a pesada caução milionária que lhe fora imposta por suspeitas de ter feito umas coisas menos bonitas - provavelmente em conluio com um dos anteriores -, não terá resistido à intolerável pressão psicológica de, apesar do tempo frio, estar instalado numa palhota ali mesmo ao pé do quase Mediterrâneo e, por causa dessa estupidez da prisão domiciliária, nem um simples mergulho o deixarem dar.

Na palhota do Minho, terá pensado, é que lhe apetecia agora estar!...

Meu dito, meu feito, e vá de convencer não sei quem de bom coração a deixá-lo mudar-se para lá, a fazer fé no que li por aí*), num viatura da Guarda Nacional Republicana, acompanhado da respetiva tripulação - e, talvez, de uma escoltazita ou guarda de honra, pois então!

Terá, ao menos, uns trocos para pagar as despesas de deslocação?


sábado, 22 de janeiro de 2022


Dos Votos que não Parecem... mas São


   “Quem, podendo fazê-lo, não comparece na assembleia de voto a fim de exercer o seu direito sagrado,
 não passa, ou de alguém no fim da linha da desilusão com o sistema e sem esperança de que as coisas algum dia mudem,
ou de um preguiçoso inveterado, de chinelos e roupão

"Vota o povo, esquecendo-se de que as extremas são o refúgio perigoso dos desencantados,
e daqueles que não sabem bem para que serve isso de ir votar
"

 O voto em branco é o cartão vermelho, não ao regime democrático,
mas aos seus atuais atores que nos deixaram nesta lastimável situação
 


Falamos e escrevemos, as mais das vezes, de pessoas que conhecemos como quem conhece um monumento: vemo-las, ouvimos das suas bocas o que querem que ouçamos, e pouco mais, além daquilo que escrevem ou dizem outros que, afinal, pouco melhor as conhecem do que qualquer de nós. 

Por sua vez, outros, que não nos conhecem, leem-nos, e nós lemos outros; e alguns de nós votam, depois.

Ora, imaginemos, em determinado país e como mero cenário virtual, um eleitor informado por estas pessoas que mal conhece, postado em frente a um conjunto físico de materializações individualizadas dos partidos políticos que cada uma destas representa.

Ponto de vista do observador
Do ponto de vista desse eleitor, para cada direção que se voltasse, a sua decisão apenas poderia ser tomada no sentido de votar ou não votar no partido materializado nessa direção, já, que nisto de votar, não há cinzentos: apenas bolas pretas e bolas brancas, sim ou não.

Pode, pois, dizer-se que, até por imposição legal, o sentido de voto de um eleitor em cada partido é, inevitavelmente negativo em relação à totalidade menos um daqueles que se apresentam a eleições, uma vez que, limitado por lei a votar, quando muito, numa força partidária, automaticamente excluirá, no ato, todas as outras.

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Esta impossibilidade legal de preencher mais do que uma quadrícula no boletim, sob pena de nulidade do voto, deve fazer-nos pensar na extraordinária importância da decisão de escolher um partido primus inter pares *). Deve fazer ver, a cada um de nós, que o simples facto de determinado programa eleitoral corresponder àquilo que um eleitor pensa que será o melhor para o seu país é insuficiente para que, apenas por isso, o mesmo eleitor lhe confie o seu voto, uma vez  que não se deve, com indesejável ligeireza, vulgarizar o que é, afinal, uma enorme e exclusiva distinção.

Para justificar a escolha, torna-se imprescindível que o anúncio da política defendida e da estratégia para a desenvolver seja credibilizado, quer pela prática política anterior do partido, quer pela bondade e idoneidade dos exemplos que invoca para ilustrar o que propõe. Isto, seja em funções governativas ou na oposição, seja no parlamento ou, fora dele, no recato das reuniões de militantes ou perante todos, em órgãos de comunicação.

Não parece, de facto, sinal de maturidade política um cidadão deixar-se, levianamente, manipular por programas ou manifestos. Sobretudo, sabendo-se que são amiúde elaborados com base nas momentâneas e instáveis tendências do mercado de eleitores, moldando-se, depois, os discursos da campanha ao sabor e à medida daquilo que, antes do ato eleitoral, as  pessoas mais pediam, em lugar de, sem prejuízo de uma saudável flexibilidade e capacidade de adaptação, cada partido se manter firme nos seus princípios estruturantes - desde que, naturalmente, ainda se lembre de quais eles são...

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Não sendo legítimo, a qualquer força política, pretender o mal do país em que opera, espera-se que todas elas prossigam o bem, apenas diferindo nos processos e meios preconizados para o atingir.

Todavia, bem se sabe que, naquilo que, efetivamente, podem realizar, diferem cada vez menos entre si, sobretudo porque, se o país integrar uma organização internacional no género da poderosa Comunidade Europeia, resta-lhe uma relativamente estreita margem de manobra política a nível nacional; e, cientes os agastados eleitores dessa afinal pouco significativa diferença entre aquilo que, em funções governativas, cada partido poderá, efetivamente, fazer - independentemente das loas que tiver andado a alardear em campanha eleitoral para os nossos votos ganhar ou reter -, cada vez mais se vota menos nas ideias e mais nas pessoas que, mais provavelmente, irão implementar aquilo que lhes convém implementar, em lugar de as primeiras defender.

Debatem-se, não obstante, tais atores com o eterno problema de não contarem, nas suas hostes, com políticos carismáticos que possam e queiram assumir a liderança, tendo, amiúde, de se contentar com aqueles que, continuadamente, se vão arrastando nas mesmas funções ou em semelhantes, apesar do pouco atraente odor a bafienta estagnação que, com o passar do tempo, vão ganhando.

Este facilmente constatável facto de as pessoas dos políticos contarem cada vez mais, e o ideário dos partidos cada vez menos, poderá explicar inesperadas transferências de votos entre a extrema-esquerda e a extrema-direita ou vice-versa, sinal evidente de nos encontrarmos perante a tendência, também indesejável, de escolher as pessoas sem olhar às políticas, como cada vez mais se vê acontecer. Não pretendem estes eleitores das extremas implementar uma política cuja prática desconhecem porque, onde moram, jamais terá sido, plenamente, implementada: apenas querem mudar as pessoas, seja lá a política qual for.

No caso português, cada vez mais o eleitor parece intuir que o problema dos principais partidos do centro não reside nos princípios ou nas políticas que defendem, mas sim na prática do compadrio a qualquer preço, do nepotismo, do mais ou menos encapotado caciquismo, cujo efeito imediato é afastar quem, competente, bem formado e de boa-fé estaria disponível para, com verdadeiro espírito de missão, levar o País onde todos nós, de esquerda, de centro ou de direita, gostaríamos de o ver.

A não muito difusa ideia deste deplorável estado da Nação latente no espírito de um eleitorado carregado de canudos, mas genericamente desinteressado destas coisas e maioritariamente pouco evoluído, leva ao inevitável protesto emotivo, excitado, irracional. Protesto que leva alguns a arriscar, a troco de nada, o tudo que é de todos, ao votar, ora numa extrema-esquerda de ideais dissimulados, ora numa extrema-direita que de si só não diz o que não pode dizer, sob pena de a mandarem, definitivamente, calar.

Assim vota o atarantado e pouco esclarecido eleitor que não sabe, já, para que lado se virar. Não sabe, em suma - ninguém sabe - onde encontrar um partido capaz de convencer alguém de que será capaz de, efetivamente, fazer as coisas evoluir, melhorar, serenar.

Comparece na assembleia
Vota o povo, esquecendo-se de que as extremas são o refúgio perigoso dos desencantados, e daqueles que não sabem bem para que serve isso de ir votar.

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Entre escolher as políticas sem olhar às pessoas e escolher as pessoas sem olhar às políticas, encontram-se casos, aparentemente raros, de equilíbrio. Raros, porque, para o desequilíbrio, concorrem o nível cultural, o interesse pessoal, o ambiente político familiar, laboral ou escolar, a semelhança pessoal com o candidato, a empatia, entre tantos outros factores.

O ideal seria, evidentemente, que o partido com que cada um politicamente mais se identificasse fosse dirigido pela pessoa que mais confiança lhe inspirasse também. Mas, estes, são casos raros: tanto mais raros em países em que boa parte dos dirigentes partidários pouca ou nenhuma confiança inspira a quem se pergunta: "Votar? Mas em quem?"

Intrínseca ou superveniente, esta falta de credibilidade leva a que a democracia não opere no sentido tradicional da participação na escolha de quem nos irá representar ou governar, já que votar num partido cujos lugares cimeiros se encontrem povoados de gente que não é de fiar, será não apenas um ato de insana irresponsabilidade, como uma negação da liberdade que cada um supostamente tem de dizer que, assim, não podemos continuar; e a alternativa de votar em grupos de cidadãos independentes é coisa de que os bem instalados partidos nem querem ouvir falar.

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Sucede, porém, que isto de um eleitor dizer não, entendem alguns que corresponde a ficar comodamente refastelado no sofá, com tamanha passividade a contribuir ativamente para que a taxa de abstenção continue a medrar.

Engano puro: a abstenção não é uma forma respeitável de manifesto antissistema, antes ficando a democracia cada vez mais enfraquecida à medida que ela avança. A taxa de abstenção é, antes de mais, um importante indicador da consciência e motivação políticas do universo dos eleitores, variando no sentido inverso de cada uma destas.

Quem, podendo fazê-lo, não comparece na assembleia de voto a fim de exercer o seu direito sagrado, não passa, ou de alguém no fim da linha da desilusão com o sistema e sem esperança de que as coisas algum dia mudem, ou de um preguiçoso inveterado, de chinelos e roupão, indigno de beneficiar da decisão de quem vota e do esforço de quem passa largas horas de um dia de descanso a trabalhar nas mesas onde decorre a votação.

Também o voto deliberadamente nulo - típico de quem prefere, para exprimir desagrado ou revolta, desenhar bonecos mais ou menos obscenos no boletim de voto, nele escrever palavras vomitando ódio a este ou àquele, ou semelhantes manifestações de falta de respeito e de educação - apenas serve para magoar os olhos e os espíritos daqueles a quem cabe desdobrar o boletim quando da contagem, etapa indispensável da votação. O voto nulo é, no mais saudável entendimento, aquele que corresponde a um erro legítimo no preenchimento do boletim, e não a um inútil, inapropriado e mais ou menos ordinário protesto.

Uma elevada contagem de votos nulos apenas sugere que haverá muitos eleitores tão incapazes que nem uma simples cruz sabem fazer; e, isto, todos sabemos que, apesar de tudo, não é verdade, por muito que, quem assim protesta, involuntariamente acabe por fazer crer.

Como nos manifestarmos, então, eficazmente contra o lastimável estado da Nação?

Quando, por mais letras que tenham, os programas políticos estão vazios e as pessoas a eleger nada nos dizem, também, o sentido do voto será, por uma questão da mais elementar honestidade, negativo em relação a qualquer partido; e, sendo ridículo e ineficaz o voto deliberadamente nulo e sumamente condenável a abstenção, o voto em branco apresenta-se como a única opção.
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Em Janeiro de 2022, em Portugal, as coisas apresentam-se-me como segue:

A suposta defesa simultânea de demasiadas causas demasiado fraturantes de demasiadas minorias nem sempre representativas ou suficientemente perseguidas levou o Bloco de Esquerda a perder, completamente, o Norte, restando-lhe viver no desespero de quem tem à frente o muro da indiferença quase generalizada dos já enfadados eleitores entusiásticos de outrora. Ataca, impiedosamente, a extrema-direita - e muito bem... -, esquecendo-se, no entanto, que tem nas suas fileiras destacados membros das FP-25. Entretém-se a mostrar a Coordenadora em pequenos núcleos urbanos onde o Movimento vai passeando a evidente inutilidade ao repetir ad nauseam, para disfarçar os seus verdadeiros propósitos e a responsabilidade no chumbo do Orçamento, chavões copiados da eterna lenga-lenga do Partido Comunista Português sobre a falta de meios dos organismos do Estado e a perseguição a trabalhadores que já nem o podem ver.

Contra tudo e contra todos, e rejeitando a mais elementar racionalidade, o PCP, embora fiável nos compromissos que assume, mantém-se cegamente fiel aos seus princípios estruturantes, a ideias e políticas de tempos há muito idos e noutras paragens nascidas. Segue uma ideologia que defende, expressamente, a tomada do poder pela luta armada: é nisso que acredita. Reconhece, desta forma, a total incompetência para chegar ao poder pela razão e, consequentemente, para também pela razão o exercer. Não dispõe, patentemente, de gestores políticos competentes, capazes de, num quadro de liberdade cuja verdadeira essência o Partido ainda hoje não entende, administrar a República, tampouco se mostrando capaz de, um dia, alguns captar para as suas hostes.

Do Livre, talvez nem valha a pena falar: se nem numa única - e, para ele, preciosa - deputada foi capaz de ter mão, nenhum crédito alguma vez virá a ter o seu contributo para a definição dos destinos da Nação.

O eterno, desgastado e completamente descaracterizado Partido Socialista, de socialista nada tem, apresentando-se hoje como uma caótica massa indefinida, ali mais ou menos ao centro, eivada de fumos de corrupção: uma espécie de próstata dilatada na imensidão da sua prosápia, entalada por paredes de tecido à direita e à esquerda, formadas por gente com quem, ou não quer falar, ou com ele não quer falar, Pouco mais é, hoje, do que um empecilho com tiques ditatoriais que, como qualquer próstata dilatada, nenhum fluxo para a liberdade por ela deixa passar.

Mesmo pondo de parte as recentes polémicas envolvendo a porta-voz, evidente se torna que o >Pessoas, Animais e Natureza se esqueceu, definitivamente, das pessoas, que da natureza pouco fala, e parece só se interessar pelas saladinhas, pelos tornedós de tofu e pela legítima defesa de alguns adoráveis bichinhos - não sei se das cobras venenosas também. Tremo só de pensar no que seria um governo formado por aquela gente que anda ao sabor do vento soprado pelos desígnios do PS, na esteira da moda iniciada pelo inexistente Partido Ecologista Os Verdes, que se constituiu abcesso do PCP.

O Partido Social Democrata lá vai fazendo a sua romaria, dirigida por um líder que, sem dúvida, transpira honestidade, mas está só: não tem a quem confiar responsabilidades governamentais numa amálgama de gente em tudo semelhante à do PS. É um líder que, ora toca bombo ora é o bombo da festa. Bem-intencionado e com muita vontade de fazer alguma coisa, mas completamente só num deserto de quadros partidários, alguns dos quais seguramente seriam tão incompetentes ou mais ainda do que certas pessoas que pelo atual Governo passaram e outras que ainda lá continuam a ocupar lugar.

A Iniciativa Liberal poderia ser uma possibilidade, mas aqueles rapazes e raparigas, muito originais e empreendedores sem dúvida, não têm estofo, não têm substância, não têm consistência, como ficou bem demonstrado naquela parvoíce dos Santos Populares*). Para negacionista, já cá temos um outrora juiz e, francamente, a receita não é de agradar. Para a IL querer ser alguém na política, tem, ainda, um longo caminho a percorrer, e muita coisa a afinar. Acresce que um partido que se diz liberal não tem lugar num país cuja população não sabe viver em liberdade, que odeia regras apenas porque o são, que as confunde com atos ditatoriais, que entende que o capricho individual vale mais do que qualquer lei, que sempre encara os deveres de má catadura.

Do Chega!, francamente, chega! O Chefe já se pavoneou que bastasse, já se divertiu à grande e à francesa*), já passeou o seu incomensurável ego por tudo quanto era sítio, já se pseudo-demitiu não sei quantas vezes, e faria bem em deixar-se daquelas coisas e ir tratar da vida fazendo algo que servisse para alguma coisa ou, pelo menos, não atrapalhasse. O Partido parece não passar de uma histriónica amálgama de ressabiados façanhudos, que só sabem que são do contra, sem saber, porquê ou, sequer, de que contra são. O Chega! não tem identidade, não existe, como bem o prova o facto de, para evitar as loucas arbitrariedades locais que redundaram no triste e alucinado espetáculo das autárquicas, tenha tido o tal cada vez mais eterno Presidente que, desta vez, avocar, com poder absoluto, a decisão e a responsabilidade pela formação das listas de candidatos.

(Acabo de me lembrar daquilo que resta de um tal Partido do Centro Democrático Social / Partido Popular, praticamente relegado à categoria de inexistente, não sei ao certo se por culpa do Presidente que lhe deu corpo e depois se foi, se por culpa da Presidente que depois por lá passou, ou por culpa do Presidente que quis muito sê-lo, continua a querer, mas parece ser o único a pensar assim)

O resto, é paisagem, como se viu naquele paupérrimo debate a onze na RTP 1. Têm, pois com certeza, esses quase protozoários todo o direito de existir e de gastar dinheiro a candidatar-se, às vezes parecendo que apenas o fazem pelo privilégio de mostrar as carantonhas dos dirigentes na têvê. Mas isso é lá com eles; e, se pretendem continuar a esbanjar dinheiro e a querer confundir o conceito de partido político com o de grupo de pressão, que lhes faça muito bom proveito, na certeza de que não é com qualquer deles que, algum dia, poderemos contar para toda esta confusão clarificar.

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Começa agora mais uma campanha eleitoral. Melhor: continua, porque em campanha todos os partidos sempre estão.

Uma campanha inútil, uma vez que jamais a validade de uma promessa para o futuro se sobreporá, num espírito minimamente lúcido, à da prática continuada nos meses ou anos que a terão antecedido. Não no espírito do meu caro Leitor, e no meu também não.

Já aqui disse que, desde que não sejam extremistas inveterados, me é indiferente quem irá ganhar a eleição de dia 30 de Janeiro: da forma como os vejo, entre maioritariamente corruptos e incompetentes, por um lado, e maioritariamente incompetentes e corruptos por outro, venha o Diabo e escolha.

Bem longe das egrégias figuras dos respetivos fundadores, os partidos tradicionais, aos anos 70, mais parecem hoje viveiros de profissionais da política, que nada mais alguma vez foram e hoje lutam para a sobrevivência de uma imagem que não merecem, frutos bravios de um ensino instável e volúvel e de uma educação que jamais terão tido e, manifestamente, não têm capacidade para, por si próprios, adquirir.

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Ninguém pode ser interrogado quanto à forma como votou ou irá votar no dia das eleições. Mas não é menos certo que ninguém está proibido de o declarar espontaneamente, exceto após o encerramento da campanha eleitoral.

Irei votar, claro! Mas o sentido positivo do meu voto será... nenhum.

Será um voto tão branco, como branco, vazio é o panorama político em Portugal, cenário apático ideal para que um dia caiamos sob o jugo de um ditador ou de equiparável animal.

Certo é que, tal como a abstenção, um voto em branco pode ter como efeito privilegiar partidos não democráticos, cujos apaniguados não deixarão de, pressurosamente, ir depositar o seu voto expresso. Todavia, esse efeito não ocorrerá, esse risco não se correrá, se apenas votarem em branco os absolutamente desiludidos, como o que aqui escreve, e os ainda esperançosos que, a não votar em branco, iriam protestar votando nos inenarráveis partidos extremistas, que todos sabemos o que têm por trás.

Em vez de, inconscientes do real e bem próximo risco que correm ao protestar votando em extremas, melhor fariam os últimos optando, também, pelo voto em branco. Sabiamente. Sensatamente. Esclarecidamente, como se quer numa verdadeira democracia.

O voto em branco não é desejável: é, simplesmente, a alternativa acertada e democrática ao voto nulo deliberado e, sobretudo, à abstenção. É o cartão vermelho, não ao regime democrático, mas aos seus atuais atores, que nos deixaram nesta lastimável situação.

Os votos em branco não parecem votos. Mas são...


  LEIA  AQUI  O  ARTIGO SEGUINTE DESTA SÉRIE DEDICADA AO ATO ELEITORAL!  

sexta-feira, 21 de janeiro de 2022


Olhão: A Primeira Rua Pedonal de Portugal

 

Olhão: Rua do Comércio

Arrisco-me, com este título, a promover uma disputa entre os portugueses de Olhão e os da Praia da Granja, já que uns e outros - se não outros ainda... - reivindicam para a sua terra a primeira rua pedonal de Portugal.

Acontece que, procurando, em vão, validar a menção encontrada no sítio da Associação de Valorização do Património Cultural e Ambiental de Olhão*), deparei, no "Praia da Granja"*), com uma referência à Avenida Sacadura Cabral - ou parte dela -  também como sendo a primeira rua pedonal de Portugal, informação que o jornal "O Gaiense" precisa como tratando-se da primeira rua pedonal registada em Portugal*)

Resta-me, assim, deixar ao cuidado dos interessados e, também, dos Leitores mais bem informados a apresentação de documentos ou testemunhos que permitam validar uma ou outra reivindicação.

Se houver debate... que seja mais interessante do que aqueles a que temos assistido na televisão...*)