domingo, 30 de janeiro de 2022


O Circo sem Fim

Cumpriu-se, ontem, o dia de faz-de-conta, o chamado 'dia de reflexão'. Um dia miserável para os órgãos de comunicação, em que, já e ainda, não se pode 'fazer' política; em que jornalistas, comentadores e politólogos não podem atirar-nos as suas já gastas e mais do que previsíveis opiniões, baseadas em sondagens cada vez menos credíveis e em desempenhos enviesados e esquivos dos protagonistas e daqueles que gostariam de, um dia, vir a sê-lo.

Hoje, o circo mediático volta à bilheteira, já que o 'dia de ansiedade' se segue ao 'dia de reflexão'.

Ansiedade dos candidatos na corda bamba e dos que se julgam a um passo da eleição. Ansiedade das as agências de marketing e das de sondagens, que nas urnas vão ver decididos os negócios da próxima campanha. Ansiedade para os compadres dos eleitos e dos perdedores também. Ansiedade para os adeptos do clube político, que, como se a final de ontem da Taça da Liga não bastasse, não sabem se vão sair em ombros ou humilhados, se vão ter ou não coragem para aparecer no café no dia seguinte ao do jogo... que dizer, da eleição.

O circo mediático suspendeu-se ontem. Hoje regressa com o ar beatífico, confiante e bem disposto do candidato com o boletim meio introduzido na urna à espera do fotógrafo; com declarações firmes que fazem lembrar as do recentemente derrotado candidato à Câmara Municipal de Lisboa, a meio da tarde do dia da eleição; com os discursos de vitória e de fingida vitória.

A partir de amanhã, mais forte e barulhento fica o circo, com dias e dias dedicados à especulação e à cacha quanto às negociações em curso que dificilmente do pântano nos tirarão. Tudo isto, com muita, muita publicidade à mistura, que se não pode parar o circo da desinformação.

Os acrobatas, são os candidatos. Politólogos e quejandos, os palhaços e restantes atores.

Os animais... nós, desgraçados e enganados eleitores.

sábado, 29 de janeiro de 2022


Um dos Motores da Abstenção

 

Com toda esta reflexão sobre o que fazer amanhã, a adrenalina vai-se, a preguiça vem, e o melhor acaba por ser mesmo ficar por casa

A ninguém parece ter ocorrido que, com o voto em mobilidade, se gerou uma intolerável situação de desigualdade entre os eleitores que a ele recorrem e não têm direito a dia de reflexão e os que votam uma semana depois, no dia marcado para a votação principal estes com direito a dia de reflexão

 

 LEIA  AQUI  O PRIMEIRO ARTIGO DESTA SÉRIE DEDICADA AO ATO ELEITORAL!  

Hoje é mais uma daquelas vésperas de eleições.

Comícios animados
Ontem, ainda houve comícios animados, declarações inflamadas, comentários repetitivos por parte de senhores muito eruditos e de ar enfadado. Se a votação acontecesse no dia de hoje, muitos dos menos motivados ainda acorreriam, possivelmente, às urnas, de alguma forma espevitados pela animação televisiva da véspera; ou pela barulheira dos megafones das carrinhas a despejar pregões desesperados, ao som daquelas músicas das revoluções, de mais do que prováveis perdedores. Quanto mais não fosse, alguma adrenalina clubística ainda aos eleitores correria nas veias, pelo menos em quantidade suficiente para, no ato eleitoral, assegurar a participação.

Mas, não. Hoje, ainda não há votação.

Hoje é dia de reflexão; ou seja, de pegar na carripana e na famelga e ir dar a voltinha dos tristes, se o combustível no fundo do depósito ainda chegar; ou de ir até ao café ver quem por lá estará para uma bisca ou dois dedos de conversa; ou de ficar em casa espapaçado a ver a bola, com um pratinho de tremoços ou de pistachos e uma jola na mão. Ou para acabar aquela camisola para o filho da prima que nasceu na semana passada; ou para dar mais um avanço naquele trabalho que já devia estar pronto e nunca mais está porque, com tanta politiquice, até me falta inspiração.

Para ir à terra, não , porque amanhã é dia de ir votar, que me esqueci daquilo do voto antecipado, e ir e vir no mesmo dia era mesmo uma estafa e uma grande confusão.

A menos que…

A menos que a gente se marimbe nisto tudo, e vá mesmo até à terra, ou, se houver fundos para tanto, dar uma escapadela a um turismo rural ou de habitação. Depois vota-se, numa outra altura em que haja eleição. Tanto faz, votar numa ou noutra eleição. Ou nem votar, sei lá... Corre tudo sempre mal... e por aí fora, em igualmente elevada cogitação.

Com estas obrigatórias trinta e duas horas de reflexão sobre o que fazer quando as urnas abrirem – porque é nisto que pensa toda a gente que, de um modo geral, se está bem nas tintas se irá votar neste ou naquele partido ou coligação -, a adrenalina vai-se, a preguiça vem, e o melhor acaba por ser mesmo ficar por casa, que se calhar até nem está sol e ainda acabamos mas é por passar uma eternidade naquela fila imensa porque, logo por azar, a mesa onde voto tem imensa gente inscrita e vou sair lá desfeita e aflita dos joanetes ou de coisa ainda pior.

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Anacronismo
O anacronismo popularmente denominado dia de reflexão é imposto pela aplicação conjunta dos artigos 53º, 61º e 141º da Lei n.º 14/79, de 16 de Maio, denominada Lei Eleitoral para a Assembleia da República, tão velhinha, tão velhinha que ainda diz que “aquele que no dia da eleição ou no anterior fizer propaganda eleitoral por qualquer meio será punido com prisão até seis meses e multa de 500$ a 5000$” (para quem não sabe o que quer dizer o $, a seguir aos números, aquilo é o valor numa moeda que existia antigamente, chamada escudo português, correspondendo os dois valores a 2,494€ e 24,940€, respetivamente). Pena suspensa, e multas "pesadas", a valores de hoje, como se vê...

Em tempos há muito idos, quando esta ideia de democracia era, até há bem pouco antes desses tempos, uma coisa perigosa, proibida, e da qual só em sussurro se ouvia falar, poderia admitir-se, embora não sem estranheza, que as três semanas que então se passava em campanha eleitoral pudessem gerar tamanha confusão nos pobres espíritos dos atarantados e ainda entusiasmados eleitores; que necessitassem eles de uma pequena pausa para assentar ideias e, nesses tempos ainda conturbados, decidir, com a lucidez possível a quem iriam confiar o seu voto, acreditando, como acreditavam, no programa que cada um tinha na mão..

Mas hoje, Senhores?

Quem, apesar da descrença, ainda se dá ao trabalho de ir votar num partido, fá-lo por clubismo, por compadrio, por um sem fim de possibilidades igualmente lastimáveis, ou por uma cega, intuitiva, irracional crença em que "aquele é que é"!

Qualquer que seja o caso, neste dia de reflexão o eleitor sabe, há muito tempo, em quem irá votar, em pouco nada influindo - a despeito dos sobressaltos das caricatas sondagens com 152 inquiridos... - aquilo que, das bocas dos candidatos, o mesmo eleitor ouviu nas semanas que acabam de passar, uma vez que já em nada acredita daquilo que lhe vêm prometer quantos políticos - tarimbeiros, caloiros ou apenas prospetivos - por aí viu desfilar.

Já houve projetos apresentados no Parlamento*) para acabar com esta idiotice do dia de reflexão que, nos nossos dias, apenas serve para fazer arrefecer a vontade de ir votar; já constitucionalistas*) que, inicialmente, com a sua existência terão concordado ou a terão, até, defendido, disseram que, agora, o melhor seria esquecer o assunto e deixar a campanha prolongar-se por mais um dia, até à véspera da eleição.

Assim sendo, numa altura em que a abstenção vai devorando, com crescente voracidade, as raízes da democracia, por que razão ainda se não tratou de alterar estas disposições que, sem qualquer utilidade, impõem uma pausa de arrefecimento entre o já de si cada vez menor calor da campanha eleitoral e o momento em que – suprema maçada! - lá teremos de dar uma saltada ao local da votação?

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O arrastar de decisões, o receio de mexer naquilo que está, porque as coisas já estão complicadas e não temos tempo a perder com essas minudências, não será, talvez, a melhor demonstração de que, em Portugal, a democracia funciona - ou, pelo menos, de que tudo se faz para a tornar racional, efetiva, competente ou, pelo menos, para a manter em funções.

A falta de interesse na análise da situação é tamanha que ainda a ninguém parece ter ocorrido que, com o voto em mobilidade*) – coisa com que, por todas as razões e mais algumas, ainda ninguém, sequer, sonhava quando foi elaborada a Lei Eleitoral -, se gerou uma intolerável situação de desigualdade entre, por um lado, os eleitores que a ele recorrem e não têm direito a dia de reflexão, e, por outro, aqueles que votam uma semana depois, no dia marcado para a votação principal, estes com direito a dia de reflexão.

Quem votou antecipadamente no passado Domingo, fê-lo no meio de comícios, de comentário político, de declarações de candidatos, de tudo e mais alguma coisa destinada, precisamente, a influenciar o voto, sem qualquer legal proteçãoPara não falar, evidentemente, no bombardeio nas redes sociais, impossíveis de controlar totalmente e onde sempre acabam por aparecer apelos na véspera da votação.

Não estará na altura de olhar, de alto a baixo, para a Lei Eleitoral e, aproveitando para converter os valores para os euros que já se utiliza há vinte anos, repensar toda mecânica da eleição, com especial atenção a esta e a outras formas, eventualmente mais eficazes, de voltar a dar algum significado ao voto democrático, tudo fazendo para reduzir, drasticamente, a abstenção?

sexta-feira, 28 de janeiro de 2022


Arrábida: A mais alta serra do Alentejo

 

Portinho da Arrábida

"ARRÁBIDA — a mais alta serra do Alemtejo, comarca de Setúbal, a Thebaida dos capuchos arrabidos. E' composta de pedra calcarea e termina no Cabo do Espichel, onde está, junto á praia, a gruta de Santa Margarida, que tem formosas stalatites e stalagmites. Tem 640 metros acima do nivel do mar. E' palavra árabe, Arrabdá, significa habitação de gado, logar de pastagem. Dizem alguns que o nome actual d'esta serra vem do latim, Rábidus; alludindo â braveza e raiva com que o mar aqui bate na costa. Outros, finalmente, derivam este nome da antiquíssima cidade de Arábriga, que existiu na raiz da serra, entre Setúbal e Gezirabra. Os romanos lhe chamavam Mons-barbaricus, e já antes d'elles se lhe dava o nome de Promontório barbarico. O nome actual foi-lhe incontestavelmente posto pelos mouros. Diz-se que o nome de Barbarico se lhe pôz, pela grande barbaridade dos sárrios primeiros habitadores d'esta serra.

Tem seu principio na freguezia da Ajuda, termo de Setúbal. Tem 35 kilometros de comprido e 6 de largo. Tem altos e baixos, e em um dos seus outeiros, chamado Castello de Olivede ou Olivete, ha vestígios de uma antiga fortaleza. Tem mais os altos chamados, Cabeça-Gorda, Cabeço- de-Visão, Matta-da-Louriceira e Monte-Formosinho (onde, segundo a tradição, existiu um templo de Apollo, do qual ha ruinas.) Também na vertente d'esta serra, onde hoje está a fortaleza do Outão, dizem que houve um templo dedicado a Neptuno. Em 1644, mandando D. João IV accrescentar esta fortaleza (sendo as obras dirigidas por Martim de Albuquerque, conde de Alegrete) nas escavações se achou parte de uma estatua de mármore, com versos em louvor de Neptuno e uma estatua de metal, do mesmo deus; entre as ruinas de um edifício que mostrava ser templo d'esta divindade, entre as quaes haviam muitas architraves e pedaços de columnas de mármore fino e inscripções latinas; nas quaes se dava áquelle sitio o nome de Promontório de Neptuno. (Vê-se pois que Promontório Barbario não era nome commum a toda a serra, mas só á parte que corre desde o Outão até Cezimbra.) Também por essa occasião appareceram muitas medalhas de cobre, dos imperadores Vespasiano, Tito e Adriano. Manuel da Silva Mascarenhas, superintendente d'estas obras do forte, deu as medalhas, a estatua de mármore e os cippos a D.Pedro de Alencastre, arcebispo de Braga. A estatua de metal (sem Mascarenhas o saber) a fundiram para fazer artilheria para a mesma fortaleza. arbaridade bastante (diz o padre Cardoso, e diz bem) para se dar a esta serra o nome de Promontório dos Bárbaros, se já o não tivesse.

(...) Na ladeira da serra que olha para o mar, e quasi no meio d'ella, está o convento de capuchos franciscanos, chamados arrabidos, fundado em 1522 por frei Martinho de Santa Maria (castel bano) filho dos condes de Santo Estevam dei Puerto ; ao qual fez doação d'esta serra D. João de Alencastre, primeiro duque de Aveiro e parente do dito frade. Aqui viveu S. Pedro de Alcantara. Este frei Martinho morreu no hospital de Lisboa, a 2 de janeiro de 1545. Não é este convento um edificio continuado, como os outros; mas compõe-se de varias cellas (ou pequenos cubículos) espalhadas por diversas partes da montanha, mas todas dentro de um dilatado muro, que lhe serve de clausura, á maneira das antigas hauras do Egypto e Palestina. Eram pobríssimos estes cubículos, e tão estreitos que apenas lhe cabe uma pessoa. A egreja é pobre como o convento, e só tem trez altares. Desde o cabeço chamado Monte Cabrão se veem muitas capellinhas, sendo a mais notável a que em 1650 fez D. Antonio d'Alencastre, 6. filho do duque d'Aveiro D. Alvaro; a qual lhe custou 16 mil crusados. Tem casas para o ermitão. Perto do convento ha umas casas que eram dos duques d'Aveiro. Na raiz da serra, a bastante distancia do convento, está uma lapa com um altar de Santa Margarida, virgem martyr, onde cabem mais de 500 pessoas. Os povos de Seixal e Arrentella lhe fazem uma grande festa no seu dia. A um kilometro d'esta lapa, para o lado de Setúbal, mandou D. Pedro II fazer uma fortaleza em 1670, para que os mouros não viessem inquietar os frades e captivaros como até allí faziam. Defronte da lapa se levanta, sobranceiro ao mar, o Penedo do Duque".

Pinho Leal, in "Portugal Antigo e Moderno"
Livraria Editora de Matos Moreira & Companhia - Lisboa, 1873 - vol.1, págs 238KK-238MM

quinta-feira, 27 de janeiro de 2022


Da Orientação Sexual dos Sacerdotes Católicos

Não professando qualquer religião, não tenho particular apetência por escrever sobre o tema, a menos que, como é o caso, algum facto com ele relacionado se me afigure, por exemplo, logicamente inaceitável ou particularmente ridículo.

Foi, há dias, noticiado o anúncio, por parte de mais de uma centena de católicos alemães, não, propriamente, da orientação sexual de cada um, mas do facto de todos eles se incluírem no grupo social designado por LGBTI, ou seja, lésbicas, gays, bissexuais, transgênero e intersexuais - sigla que, numa palavra, poderia resumir-se à palavra homossexuais mas que a humana propensão para considerar que complicar equivale a dignificar acabará, provavelmente, por a alongar a ponto de, um dia, conter a totalidade desordenada das letras do alfabeto. Adiante...

Claro está que, excetuando culturas em que a homossexualidade seja criminalizada, cada pessoa é livre de, relativamente ao próprio, a anunciar ou alardear como bem entender, sem prejuízo de o despropósito e o exagero a que, amiúde, se assiste em manifestações dessa natureza acabar por se tornar contraproducente, levando ao crescente cansaço, à saturação de uma população (ainda) maioritariamente heterossexual e que da existência dessas coisas prefere fingir nem saber.

O problema neste anúncio reside, assim, não na orientação sexual declarada, mas no facto de algumas destas pessoas serem sacerdotes católicos, e isto por duas razões principais:

  • Segunda (propositadamente antes da primeira): para a Igreja Católica a homossexualidade é condenável, assim se encontrando todos esses sacerdotes deliberadamente "em pecado", o que os torna, implicitamente, inaptos para, como dizem, perdoar os pecados dos outros - da mesma forma que um juiz assumidamente criminoso perde a idoneidade necessária a, pela prática de crimes, condenar os seus concidadãos.

  • Primeira: antes de tudo, porque, tanto quanto julgo saber, não apenas o celibato é imposto aos sacerdotes católicos, como até toda e qualquer atividade sexual lhes é negada; e esta razão parece-me a mais importante simplesmente porque carece, absolutamente, de interesse conhecer a orientação sexual de quem nenhuma atividade sexual tem ou pode ter.

Ou terá? Ou alguém acreditará, ainda, que não tem? Ou, tal como muitas vezes acontece na política, tudo isto não passará de uma fabulosa construção para inglês ver?

Juntando este anúncio aos dos abusos sexuais que há muito vêm sendo denunciados, não estará na altura de uma reflexão séria sobre o tema, mesmo que, com ela, os sacerdotes acabem por perder aquela espécie de aura de superiores querubins e serafins, semelhança que as notícias vindas a lume cada vez mais afastam do ideário até dos mais ingénuos crentes?

* *

O papel da mulher na sociedade e no casamento é outro tema candente da Igreja Católica, que continua a parecer alheada à evolução, à mudança das mentalidades ao longo dos séculos.

(continua aqui)





A linguagem inclusiva, neutra ou o que lhe queiram chamar, está indelevelmente associada ao ideal da igualdade de género, e nele teve origem.

Além de gramaticalmente inadmissível, até que ponto não estará este linguajar a prejudicar a causa que se propõe promover?






quarta-feira, 26 de janeiro de 2022


Paul Masson

 

Paul Masson

A honra é uma bússola escondida no nosso coração,
mas cuja agulha está sempre falseada pela pequena mina de ouro do nosso porta-moedas"


"L´honneur est une boussole cachée sur notre coeur,
mais dont l´aiguille est toujours faussée par la petite mine d´or de notre porte-monnaie.
"

Paul Masson *)               

Vá lá alguém saber por que razão me lembro sempre de coisas destas em períodos de campanha eleitoral...

Será apenas por ler e ouvir eternos candidatos, ávidos do poder e daquilo que traz consigo, recorrer, insistentemente, à despudorada mentira para prometer o impossível ou para denegrir, difamando ou caluniando, a imagem de quem tais epítetos não merece?

Será, também, por assistir a numerosas e oportunas quebras do segredo de justiça - necessariamente por parte de pessoas afetas aos processos criminais que, a troco de por vezes magros proventos, se deixam corromper - unicamente para criar notícias "de última hora" a troco dos bem mais gordos proventos que outros irão receber das receitas publicitárias?

Ou será por ver que as empresas que pagam tais anúncios ficam indiferentes ao facto de os órgãos de comunicação que os impingem serem prováveis corruptores ativos daqueles funcionários?

Por conveniência de ofício, passam os mais altos responsáveis da Nação o tempo a encher-nos os ouvidos com loas à atitude madura e responsável dos portugueses - o que não passa, também, de uma rematada hipocrisia, já que, tal como nós, bem vêem os magotes de tugas sem distanciamento ou máscara filmados pelas televisões.

Será que, nessa tão madura e responsável atitude fictícia não existe um menos fictício lugar para a verdade e para a honra?

Que estranha espécie de po(l)vo, afinal, queremos ser!...

terça-feira, 25 de janeiro de 2022


Não É Obrigatório o Voto Presencial

Muito se tem ouvido falar dos problemas suscitados, com isto da COVID, relativamente ao voto presencial*) na próxima eleição legislativa.

Esclareça-se, antes de mais, que, nos termos da Constituição da República Portuguesa, apenas é obrigatoriamente presencial o voto na eleição para a Presidência da República, uma vez que o artigo 121º cujo número 3. corresponde à disposição "o direito de voto no território nacional é exercido presencialmente" se encontra integrado, não numa parte geral, mas no Capítulo I do Título II, ou seja: "Presidente da República - Estatuto e Eleição".

Quanto a qualquer outra eleição, a Constituição é omissa quanto à componente presencial do voto, assim sendo, na minha opinião, de considerar que, se o Legislador incluiu a obrigação numa única parte especial, deve, a contrario, considerar-se que o fez por entender que não seria de aplicar a qualquer outro tipo de ato eleitoral.

Posto isto, ficam no ar as perguntas:

1. Na terra da Via Verde, num país tecnologicamente tão avançado - ou, pelo menos, em tal insistem em fazer-nos crer... -, como explicar que o voto eletrónico não passe, ainda, de uma quimera?

2. Perante o comodismo que grassa no seio do desiludido eleitorado, gravado a fogo na crescente taxa de abstenção, como explicar o aparente desinteresse em avançar, a velocidade supersónica, com a possibilidade de votar através da Internet?

3. Não sendo de admitir que se trate de limitação de caráter técnico numa terra em que até muitos impostos já são obrigatoriamente declarados à distância, que força política tão poderosa estará a impedir a prossecução do interesse do Estado democrático em avançar com uma medida tão importante para que a vontade popular se manifeste, tanto quanto possível, na sua plenitude?

A resposta imediata parece evidente: a mesma força política*) na qual, até ao recente chumbo do Orçamento Geral do Estado, o Primeiro-Ministro inteiramente confiava, e cujos disciplinados, indefectíveis e obedientes militantes lá irão depor o o voto quer chova ou faça sol... e cujo peso no resultado final ficaria, ainda mais diminuído se os comodistas que, apenas de vez em quando, lá consentem em ir aos locais de voto escolher partidos democráticos para os governar pudessem exercer o seu direito em casa, confortavelmente refastelados num cadeirão.


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