quarta-feira, 21 de julho de 2021


Daniel Oliveira

Daniel Oliveira define barbárie no Eixo do Mal


"A barbárie faz-se normalizando o impensável"


 Daniel Oliveira            
(Eixo do Mal)              



Estas palavras foram proferidas antes da invasão da Ucrânia pela Rússia, antes da invasão de um estado europeu por outro que, supostamente, o é também.

Fala-se, já, da invasão de outros estados, já que Vladimir Putin insiste em vulgarizar a prática, a ponto de como que normalizada tal iniciativa começar a parecer.

segunda-feira, 19 de julho de 2021


Castigos Inúteis da COVID

Complicado? Claro que não! É, até, bem simples!

Se não foi por desnorte, incompetência ou desinteresse,
por que será que pelo menos um destes tão simples
como evidentes retoques não foi introduzido no modelo em vigor,
antes tendo-se vindo a insistir, cegamente,
na aplicação continuada de tão descabidas e desnecessárias sanções
a concelhos que já tanto tiveram de sofrer quando para tal havia plena justificação?

 

1. COVID: Cidade Injustiçada
2. Ligeireza e Arbitrariedade Redundam em Castigos Inúteis e Injustos
3. Como Resolver Objetivamente a Questão?


Elvas Injustiçada
1. COVID; Cidade Injustiçada

Há pessoas que falam pelos cotovelos e, algumas delas, não só falam pelos cotovelos como o fazem em voz impossível de deixar de ouvir por alguém que esteja menos de uma boa dúzia de metros afastado. Foi assim que anteontem tomei conhecimento de uma história insólita, quando beberricava, descontraidamente, numa esplanada um líquido qualquer.

O sujeito da voz tonitroante tinha decidido jantar em Elvas, no regresso de uma deslocação profissional algures ao Alentejo.

Procurou na Internet um restaurante que correspondesse às suas preferências, e também pela Internet ficou a sabe que Elvas iria entrar, no dia seguinte, na situação de risco muito elevado de contágio pelo vírus Sars-Cov-2.

Assim, e como quem o atendeu no restaurante, era algo dado à conversa, interessou-se o viajante palrador pelas razões que teriam levado aquele fim de um Alentejo quase imune à doença a apresentar uma tão elevada quantidade de novos doentes COVID, ao que o outro retorquiu que os infetados eram, na sua maioria, jovens finalistas em festejos de final de ano letivo.

Ora, gostando o tuga de comemorar desabrida e descontroladamente como gosta e entendendo que, mesmo nestes tempos terríveis, o que importa é viver plenamente com tudo aquilo a que tem direito, razão não haveria para que o efeito destas folias em Elvas, Alentejo, diferisse, nas devidas proporções, do descalabro estatístico resultante das loucuras que se seguiram à mais do que esperada vitória do Sporting Clube de Portugal na Liga NO, loucuras essas cometidas perante a completa passividade do Ministério da Administração interna e da Câmara Municipal de Lisboa.

Dispôs-se o nosso tagarela a aprofundar a questão, ao que o seu interlocutor no restaurante informou que tinha Elvas atingido, na quinzena que então terminara, uma taxa de incidência superior a 480 novos infetados por cem mil habitantes, razão pela qual os alarmados responsáveis por nos salvar a todos da pandemia tinham decretado novas proibições que iriam, uma vez mais, dar cabo do negócio dos restaurantes, agora operados por pessoas habilitadas, além de servir refeições, também a, sem qualquer formação específica, vigiar a forma como os clientes realizavam os indispensáveis autotestes que lhes confeririam, se negativos, o direito a desfrutar da refeição.

Ligeireza e Arbitrariedade
Mas disse mais o colaborador do restaurante – e aqui começa a nossa história: disse que tudo aquilo era um perfeito disparate que os iria prejudicar sem qualquer razão. E porquê? Porque as aulas tinham terminado semanas antes, a maior incidência de infetados, em números absolutos, tinha chegado a perto de 130 pessoas duas semanas antes, não tendo, no entanto, ultrapassado os 70 na semana seguinte e continuando a diminuir a olhos vistos à data em que começariam a vigorar as novas restrições.

Como Elvas tem uma população de cerca de 23.000 habitantes, os cerca de 130 casos reais absolutos correspondem a cerca de 520 por 100.000 habitantes, donde a decisão de regredir no desconfinamento.

2. Ligeireza e Arbitrariedade Redundam em Castigos Inúteis e Injustos

Fazer qualquer coisa implica esforço, já se sabe; mas não poder fazer implica também, pelas privações que daí advêm, da qual a privação de receitas do já tão martirizado comércio, entre outros setores, não será, por certo, a mais desprezível.

Para que alguém aceite confinar-se, privar-se, para que a lei seja por todos - ou quase todos - aceite e cumprida, tem, também, de ser racional e clara, tem de fazer sentido, para que os destinatários nela vejam algum propósito credível e com uma probabilidade de eficácia que justifique um sacrifício já enorme: não pode, ao invés, ficar nas mãos de amadores incapazes de planear seja o que for com ponderação e seriedade; de pessoas impreparadas, irresponsáveis, precipitadas, politicamente desesperadas, até.

Claro que o ideal teria sido, nas datas em que as comemorações eram previsíveis, vigiar o cumprimento da lei que já proibia os ajuntamentos para evitar novas doenças COVID. Tal não tendo acontecido, não pode pôr-se em causa que, no interesse de todos, teria sido necessário reagir quando se ultrapassou o patamar legalmente fixado, e isto independente de a tal contagem absoluta de cento e vinte ser cientificamente válida para o efeito ou não, coisa que não estou, de perto nem de longe, habilitado a discutir.

O que não há como entender são duas coisas muito simples.

A primeira, qual a utilidade de agir só ao fim de uma quinzena, isto é, quando o vírus já fez criação mais do que suficiente para assegurar uma, para ele, saudável e profícua expansão pelo sistema respiratório de umas boas centenas ou milhares de exemplares da tão descuidada e irreverente população tuga; e da outra, vítima ajuizada e inocente, também.

Independentemente da variação
Como entender, de facto, que decisões tão graves e tão penalizadoras para a economia de empresários, de consumidores, de todo o Estado, sejam tomadas com base em médias estáticas relativas a um período de tempo tão tardio e independentemente da variação ao longo do mesmo, alegando meras dificuldades na explicação de um critério, como iremos ver?

Evidentemente, se, por mera hipótese, no primeiro dia de uma quinzena, determinado concelho registar uma contagem de, por exemplo, cento e quarenta infetados e, no derradeiro, apenas noventa e sete, sendo a média móvel dos sete últimos dias consistentemente inferior ao longo da segunda semana, estamos perante uma situação obviamente resolvida ou em vias disso, jamais se justificando, em tal cenário, qualquer novo confinamento ou outra imposição.

A Elvas, valeu, apesar dos festejos que não soube evitar, ter uma população responsável que não esperou que as novas medidas restritivas fossem decretadas para, espontânea e rapidamente, pôr cobro à indesejada evolução. Mesmo assim, e graças a modelos obsoletos e, desde o início, descabidos, não teve como evitar o implacável e imerecido castigo, a exemplo, mais do que provavelmente, de muitos outros concelhos na mesma situação de serem punidos, não por a propagação do vírus estar a aumentar, mas por estar prestes a terminar!

Ora, se como na esplanada ouvi ao animado conversador, a quantidade de pessoas infetadas pelo Sars-Cov-2 na segunda semana da quinzena era inferior em cerca de metade à da primeira, que justificação poderá, em tal cenário, alguém invocar para impor novas medidas de restrição? Para tamanha incompetência e arbitrariedade, onde procurar explicação?

- x -

Traz-nos isto à segunda coisa que não há como entender: que, caso não se queria recorrer à análise da evolução da média móvel, os indicadores estatísticos utilizados nesta aparência de governação não estejam sujeitos a uma, ainda que elementar, ponderação em função do dia da quinzena, mais próximo do início ou do fim, em que cada leitura é registada.

Não seria lógico que os primeiros dias tivessem um peso reduzido na decisão e os últimos um peso incomparavelmente maior, assim se tornando fácil ajustar, de forma automática e objetiva, o número relevante para a decisão final conforme estivesse a aumentar ou a diminuir a quantidade de novas infeções?

Fatídica Quinzena em Elvas
De facto, os números dessa desnecessariamente fatídica quinzena em Elvas perdem todo significado perante o facto de a sequência de leituras diária significar, insofismavelmente, que estariam em queda abrupta as infeções – a comprovar-se, já se sabe, a exatidão daquilo que ouvi naquela ocasião. Mas, mesmo que não se comprove, haverá múltiplas situações destas por esse País fora, e é delas que aqui, em abstrato, aqui me ocupo, tendo como mote o exemplo de Elvas, independentemente de os tais valores que ouvi por alto estarem certos ou não.

3. Como Resolver Objetivamente a Questão?

A parte mais triste disto tudo é que, segundo li na imprensa, terá o Governo rejeitado este critério fundamental da aceleração ou desaceleração do contágio*), que teria, muito facilmente, evitado estas situações profundamente injustas e injustificadas que a tantos a própria sobrevivência dos negócios poderão custar, apenas aplicando o do nível de incidência, o dos concelhos circundantes e o do surto localizado.

A justificação terá sido a de que o critério da aceleração do contágio seria pouco objetivo, ou difícil de explicar.

Numa abordagem apenas destinada a ilustrar quão fácil seria, até para um amador como quem aqui escreve, dotar o critério rejeitado da necessária objetividade e facilitar a correspondente explicação, aqui deixo aqui duas sugestões muito simples de aplicar, e que os especialistas facilmente afinarão.

- x -

A primeira, consiste na observação da evolução, ao longo da quinzena (duas semanas) e, a partir do dia em que tal seja possível, da média móvel dos últimos sete dias (sete, para incluir, obrigatoriamente, os desvios próprios dos fins de semana): registando-se uma diminuição constante da média móvel ao longo do período (Quadro 1 infra, Cenário A), não serão aplicadas quaisquer novas restrições, independentemente da média geral absoluta e estática apurada no termo da quinzena.

Quadro 1

Caso esta simulação correspondesse a dados reais de Elvas (com uma população de cerca de 23.000), a média real de 115,64 das duas semanas corresponderia a cerca de 503 novos infetados por cem mil habitantes [(115,64 : (23.000 : 100.000)].

No entanto, no Cenário A do Quadro 1, cada uma das médias móveis nos últimos sete dias - de 124,43 > 121,86 > 119,57 e assim sucessivamente até 106,86 - teria sido, consistentemente, inferior à anterior, pelo que nenhum agravamento da situação haveria de ser aplicado a este concelho com mais de 480 novos infetados por cem mil habitantes.

- x -

Quantidade de Novos Casos Registada em Cada Dia
A segunda (Quadro 2), afeta, a cada um dos dias da quinzena, uma ponderação, que começa em 1,00 no primeiro dia e é multiplicada por 1,50 por cada dia que passa (1,50 no segundo dia, 2,25 no terceiro e assim sucessivamente). Por este valor de ponderação - a ser afinado por quem entende da matéria - é multiplicada a quantidade de novos casos registada em cada dia, assim resultando a quantidade relativa ao primeiro dia da quinzena (1,00 no exemplo) muitíssimo menos relevante do que a do décimo quarto (194,62).

Para o cálculo da média será, assim, utilizado esse valor ponderado, em lugar do absoluto, o que fará com que, no Cenário A do Quadro 2, os 140 casos do primeiro dia tenham um peso de 140 (140 x 1) e os 97 do último dia tenham um peso de 18,878 (97 x 194m92); ou seja: que conte muito mais a redução efetiva do número de casos no último dia do que o valor mais elevado no primeiro, como deve contar numa situação clara de progressivo controlo da infeção.

A soma destas quantidades ponderadas é, então, dividida pela soma das ponderações, do que resulta, no Cenário A (incidência da doença a descer), uma média diária ponderada de 103,46, substancialmente diferente da média aritmética não ponderada de 115,64 resultante da aplicação do modelo que suponho ser o atualmente utilizado – pelo menos, assim está descrito de forma simplista. 

Quadro 2

Esta retificação ao modelo determinaria que não mais fossem, indevida e injustificadamente, aplicadas restrições sem qualquer utilidade prática em concelhos onde, apesar de a média da quinzena ser superior ao limiar mínimo estabelecido para que as medidas não sejam agravadas, a incidência de novos contágios estaria, inequivocamente, a descer.

Novamente no caso de a simulação se referir a Elvas, a média ponderada dos 14 dias de 103,46 corresponderia, desta vez, a 449 casos por cem mil habitantes [(103,46 : (23.000 : 100.000)], assim não havendo lugar a qualquer agravamento da classificação de risco.

- x -

É, até, bem simples!
Em suma: qualquer que fosse, destes dois, o critério complementar aplicado – ou ambos -, sempre ficaria salvaguardada a posição dos concelhos bem comportados, ou seja, daqueles que, tendo passado por uma situação de alguma gravidade durante um curto período de tempo, rapidamente lhe houvessem posto cobro de forma espontânea, assim resultando injusta e abusiva qualquer punição que, a destempo, viesse a ser-lhes aplicada.

Complicado? Claro que não! É, até, bem simples!

Se não foi por desnorte, incompetência ou desinteresse, por que será que pelo menos um destes tão simples como evidentes retoques não foi introduzido no modelo em vigor, antes tendo-se vindo a insistir, cegamente, na aplicação continuada de tão descabidas e desnecessárias sanções a concelhos que já tanto tiveram de sofrer quando para tal havia plena justificação?

Para cúmulo, sendo a explicação a dificuldade de explicação do critério, num governo que dá emprego a não poucos assessores de comunicação!

Mistérios de uma agora gasta e há muito desnorteada governação...

Sic transit gloria mundi...

sábado, 17 de julho de 2021


Seleção das Quinas: Ordem para Recuar!

"Apesar das suas academias, dos campus, das cidades do futebol,das catedrais do futebol,
o futebol ensina pouco mais do que o supérfluo,o ostentatório, o inútil, o artificial,
sem esquecer todas aquelas coisas feias que acabam por colocar
algumas das suas mais destacadas personalidadesdebaixo da alçada da justiça criminal
"


      1. O Futebol e eu
      2. Desculpas para Todos os Gostos
      3. Preguiça, Cansaço ou Ordem para Abrandar?
      4. Lágrimas sem Suor

Futebol Profissional
O Futebol e eu

Percebo menos que nada de futebol, nem é coisa que particularmente aprecie.

Não sendo dotado, senti-me, justificadamente, nos píncaros quando depois de aturados esforços lá consegui absorver toda a matéria relacionada com a difícil problemática do fora de jogo; vibrei com a novidade do VAR – vídeo-árbitro, para quem disto ainda menos entende do que eu -; e o zénite da minha realização como futebolista de poltrona ocorreu quando, há dias, ouvi o termo trivela e, de uma só vez, consegui entender o que significava, para o efeito recorrendo a um desses filmezinhos que no YouTube ilustram tudo e mais alguma coisa, embora nem sempre com a fiabilidade que seria desejável.

Há muito se desconfiava, e os acontecimentos recentes cada vez melhor ilustram, que o assim chamado futebol profissional de profissional pouco tem além da utilidade de a si atrair a exaltação dos ânimos, melhor ou pior a contendo no perímetro dos estádios e assim permitindo desviá-la de situações em que poderia acabar por se tornar socialmente mais prejudicial ainda, se possível for.

Quanto ao mais, o que a imprensa tem vindo a divulgar da conduta supostamente cívica de uma generosa quantidade dos mais relevantes soit disant empresários e dirigentes do futebol chaamado profissional apenas lança, progressiva e, ao que parece, justificadamente, o futebol num pantanal de descrédito relativamente a qualquer plano eticamente sustentável em que o queiramos posicionar.

Num tal cenário, não me sinto elevado, orgulhoso - o orgulho era pecado, mas agora é qualidade, ao que parece -, enaltecido por qualquer feito glorioso da Seleção Outrora Campeã em Título, da Seleção das Quinas, da Seleção de Todos Nós, já que, além de um importante veículo de marketing para as trocas comerciais internacionais, se limita ela a agregar o que de supostamente melhor existe num meio que, manifestamente, em nada contribui para elevar os espíritos, a qualidade humana ou o conhecimento relevante e válido, científico ou social, que deveria estar na base de qualquer atividade e, até, da própria essência e razão de ser da espécie humana.

Quatro-três-três
Como país do terceiro mundo que, pelo menos ao nível das mentalidades, Portugal é, não espanta que os blocos noticiosos abram, por vezes, com importantíssimas notícias de tão intelectual e espiritualmente desinteressante vertente da vida em sociedade, o mesmo acontecendo com as primeiras páginas de certa imprensa escrita supostamente direcionada a outras clientelas, mas que sabe bem que os elevados espíritos desses diferenciados leitores são, também – ou especialmente – indefetíveis adeptos desses futebóis; e, por vezes, de alguns outros, também.


Desculpas para Todos os Gostos

Isto esclarecido, há que dizer que também tenho olhos na cara, que sei o que é correr, empenhar-se. Sei o que é acreditar, sei o que é querer e, como qualquer espetador incapaz de resolver complexos enunciados aritméticos como quatro-quatro-dois ou quatro-três-três, vejo bem quando alguém corre com vontade, quando está focado no jogo, puxa pelos companheiros ou, inversamente, se limita a provocar faltas, a fazer fita quando o adversário não leva cartão, ou a descarregar no árbitro uma frustração a que a diminuta intensidade de certos encontros dificilmente alguma vez dará razão.

Quando assisto a jogos como o Croácia-Espanha ou o Holanda-República Checa nos oitavos de final do Euro 2020 (e um…), vem-me à memória o vivo contraste com a primeira parte do nosso jogo nos mesmos oitavos de final, no qual o lusitano onze, às arrecuas, dobrava o corpo a meio, em pose aflita, estacionando o autocarro em frente à baliza sempre que, também adormecida, a Bélgica tinha a bola e dava uns passitos em frente - com ar não muito ameaçador.

Bem vistas as coisas, se a garbosa Seleção das Quinas não tivesse caído nesse jogo, teria caído noutro qualquer, tamanha era a falta de vontade no campo, de coragem, de ousadia, de energia; de alegria, sobretudo, que nestas coisas tanta falta faz para que aquela hora ou duas não redunde num monumental frete para atores, espetadores e outros que tais.

Felizmente, caíram os nossos guerreiros com a Bélgica, o lhes permitirá, pelo resto das suas mui desportivas e bem remuneradas vidas, dizer aos amigos, filhos e netos que perderam contra o número um do ranking da FIFA, o que alguma coisa do desaire permitirá disfarçar; e poderão, até, dizer que também a França, campeã do Mundo em título, caiu nos oitavos de final, que a poderosa Alemanha também não resistiu e que do terrível Grupo F ninguém viveu para contar, além da infinidade de desculpas que em ocasiões destas é hábito ouvi fazer ecoar.

O pior – de que rapidamente se irão esquecer - é que a França caiu, mas caiu com estrondo, frente a uma incansável e valorosa Suíça, precisamente o tal adversário supostamente mais fraco que o sábio Selecionador Nacional dizia nos oitavos de final preferir enfrentar...

Notoriedade de Méritos Duvidosos
Preguiça, Cansaço ou Ordem para Abrandar?

Ora, num espetáculo em que a assistência parece transbordar de alegria e os jogadores, com vantagem, uma boa dose dela poderiam usar, este Selecionador Nacional, a única vez que lhe vi um sorriso foi naquele também desengraçado outdoor em que dizia já ter ido ao Fluviário de Mora. Quando lá foi, espero que não tenha sofrido e resmoneado muito durante a visita, ou os peixinhos terão, por certo, ficado tão enjoados, tão desmotivados como, no jogo decisivo, a nossa Seleção parecia estar.

Não haverá, mesmo, alternativa viável? É que este homem, que tudo leva a crer ser bom e sério, parece ter já aprendido, no meio do futebol, o velho truque dos políticos que nele se misturam cada vez mais: nunca arriscar e, quando a coisa dá para o torto, assumir, teoricamente, as responsabilidades, na prática, as consequências rejeitar.

Talvez com o inconfessável propósito de esbracejar procurando manter-se à tona de uma notoriedade de méritos duvidosos, antes e durante o desafio mostravam-se às câmaras da televisão alguns outrora craques, hoje recauchutados, fora de prazo e que, talvez para parecerem ainda jovens, seguem os tiques de penteado daqueles que ainda mexem, assim se demonstrando, também aqui, que, apesar das suas academias, dos campus, das cidades do futebol, das catedrais do futebol, o futebol ensina pouco mais do que o supérfluo, o ostentatório, o inútil, o artificial, sem esquecer todas aquelas coisas feias que acabam por colocar algumas das suas mais destacadas personalidades debaixo da alçada da justiça criminal.

Na final, ganha-se ou perde-se; no plano desportivo, evidentemente, já que o abundoso pecúlio percebido por quantos vão ficando pelo caminho também não será, propriamente, coisa de se desprezar…

Mas aquele jogo dos oitavos de final era capital, era, como qualquer outra eliminatória, uma final, já que, sem o ganhar, a Seleção Outrora Campeã em Título levaria para casa apenas uns trocos no bolso e o amargo de boca de nem ter chegado à final em que um tudo ganha e, do outro, rapidamente ninguém se irá lembrar, o que, depois de tanta luta, deita qualquer um abaixo, dentro e fora do campo, nos tais desportos que, como os de bola, lá vão servindo para fingir que, pelo menos naquilo, somos tão bons ou melhores do que aqueles que dizem saber analisar e comentar.

Naquele nosso jogo dos oitavos, não havia chama, vontade, equipa; apenas uma exibição muito cerebral e calculista por parte de uma dúzia de milionários doutores da bola, cheios de táticas na cabeça, mas, talvez com uma ou outra exceção, sem garra, sem capacidade de dar vida à competição.

Ou teria o Técnico dos Empates dado contrária instrução?

Portugal passava bolas entre peões que faziam lembrar bonecos inanimados de um jogo de matraquilhos; outras seleções corriam, corriam que não se fartavam - coisa que, no futebol como no resto, os Portugueses de hoje parecem já não ter grande capacidade ou vontade de fazer – e, quando caiam, era com a satisfação, não apenas do dever cumprido, mas também de ter procurado ultrapassar em muito esse dever.

Demonstração de Boçalidade
O onze português finalmente reagiu, na segunda parte, já o caldo estava entornado.

Dir-se-á, como sempre, que o que importa não é o espetáculo, mas sim ganhar. Até pode ser verdade, mas desde que se ganhe, ou, nem pelo espetáculo, da vitória moral a memória irá perdurar.


Lágrimas sem suor

Estariam os excelentíssimos e mimados futebolistas sentidos com o facto de, por uma natural demonstração de boçalidade por parte de quem deveria saber estar e, nesse campo, não é, seguramente, o campeão, terem os mais altos magistrados da Nação acabado por não assistir àquele espetáculo de tamanha falta de desportiva abnegação? Duvido.

Independentemente de quem possa estar a assistir, correr do princípio ao fim exige forma física, persistência, trabalho árduo, acreditar para além do possível, coisas com que apenas um ou outro dos futebolistas da Seleção Outrora Campeã em Título parece comprometer-se e, assim sendo, nos faz desconfiar que, mais uma vez, a ordem do Selecionador Nacional não terá sido para atacar, mas para aguentar.

A Croácia caiu nos oitavos frente à Espanha, mas caiu de pé, “como as árvores" e após prolongamento. A República Checa desfez a muito forte Holanda. Até a fraquinha Ucrânia eliminou a Suécia e apenas caiu frente à finalista Inglaterra, que tão caro vendeu a derrota, também.

Portugal, caiu sentado a fazer contas de somar, com uma equipa a ouvir, desolada, apelos e preces do tristonho e lamuriento Selecionador Nacional.

Esperar-se-á, assim sendo, que fiquemos comovidos com o facto de alguns destes milionários da bola terem ido para o balneário chorar?

No Fim do Dia
No fundo, se o futebol é, para quase todos nós, o mais importante da vida de todos nós, não espanta por aí além que o pouco empenhado desempenho da Seleção das Quinas seja, de alguma forma, o espelho da maior parte de nós, que lá vamos trabalhando nos nossos empregos, mas somos incapazes de nos unir e de agir de forma responsável numa situação de grave emergência sanitária a nível nacional.

Feitas as contas - ou no fim do dia, como agora é chic dizer... -, ainda bem que caímos cedo: em plena pandemia - do que muita gente parece que já se esqueceu -, com uma parte expressiva população composta por inconscientes e básicos alarves capazes de tudo sacrificar a uma comemoração parola, e na vivência de uma das mais tristes e amadoras desgovernações de que sou capaz de me lembrar, ainda bem que não houve oportunidade para grandes festividades, ou o grande vencedor seria, uma vez mais, o famigerado índice de propagação.

Mas, por que me ralo com isto eu, que nem gosto de futebol?

- x - x -

A Câmara Municipal de Lisboa era, nos termos da lei,
obrigada a impedir as comemorações do Sporting

Veja aqui porquè!

quarta-feira, 14 de julho de 2021


Konrad Adenauer

Konrad Adenauer sobre a diferença entre céu e horizonte

Todos vivemos sob o mesmo céu,
mas nem todos temos o mesmo horizonte
"

"Wir leben alle unter dem gleichen Himmel,
aber wir haben nicht alle den gleichen Horizont
"





Afinal, Deus existe mesmo, ou não passa de pura invenção de um ser humano que desespera com a efemeridade da sua existência?

NÃO PERCA uma reflexão lógica, fundamentada, sobre o tema porventura mais elementar e decisivo da vida humana.





A existir um deus, será ele o representado
no teto da Capela Sistina? Jeová? Alá? Manitou?
Ou nenhum destes?

segunda-feira, 12 de julho de 2021


O Costa d'África


Cartaz do Filme O Costa d'África
Imagem: Memoriale*)
Farsa portuguesa de 1954, dirigida por João Mendes e com roteiro de Henrique Santana*), Vasco Santana*) e Francisco Ribeiro*).

Trata-se da penúltima obra cinematográfica com Vasco Santana, provavelmente, a mais bem conseguida produção portuguesa da época, sendo um filme em que a tradicional ingenuidade pobrezinha dá lugar a um trocadilho magistralmente conseguido em torno das peripécias de um rude português, então negociante em África, de visita a um sobrinho na Metrópole.

Merece especial destaque o desempenho de Erico Braga*), no papel de Barão de Espinhosel, sem esquecer a cena da cabina telefónica, com a eterna Teresa Gomes*)em mais um inconfundível papel. Integram, ainda, o elenco principal Laura Alves*)e Ribeirinho.

Algumas passagens serão suscetíveis de causar arrepios a alguns mais radicais autoproclamados defensores das minorias, o que poderá ter levado a que o filme fosse menos divulgado do que outros que o não merecessem tanto. Mas "O Costa d'África" deve ser olhado, não como uma defesa do racismo, antes como uma sátira que visa, bem pelo contrário, ridicularizar a personalidade de pessoas bastante elementares que viviam a explorar economicamente as populações das colónias portuguesas de então.

Não deixe de ver, se lhe faz falta uma boa gargalhada e não é daqueles que, para se darem uma aura intelectualoide, aturam xaropadas indescritíveis em alguns dos chamados filmes de qualidade, e coram de vergonha quando não conseguem evitar o riso com os menos elaborados filmes velhinhos de produção portuguesa.



* *

Gargalhadas à parte, o antirracismo continua a ser, para uns, uma nobre causa que cumpre defender; para outros, um mero palco privilegiado para exibir o oportunismo de quantos procuram, a todo o custo, uma montra, ou uma aparência e militância que permita adiar por mais uns tempos a extinção política.

(continua aqui)

sábado, 10 de julho de 2021


De Mãos Dadas: Défice de Comunicação e Défice de Soberania

"Se se pretende educar uma população
e elevar o nível da sua consciência ética e cívica,
há que fazê-la governar por pessoas competentes
e de reconhecidamente elevada qualidade humana:
não, nunca, por
tugas elementares que,
nada tendo de excelente, devemos tratar por Excelência
apenas por serem amigos de alguém democraticamente eleito
"


          1. A Política e a Vital Importância da Comunicação
          2. A Comunicação Política em Tempo de Pandemia
          3. Do Desempenho do Segundo Mais Alto Magistrado da Nação
          4. O Bombo da Festa                                     
          5. As Contradições de Odemira
          6. Inabilidades Avulsas na Comunicação
          7. O Primeiro Responsável pela Governação
          8. O Estado da Nação

 

Eduardo Cabrita
1. A Política e a Vital Importância da Comunicação

Todos dependemos, em menor ou maior grau, do Estado em que estamos imersos.  Literalmente imersos, em certos casos quase afogados; e tanto maior é o mergulho quanto mais impositivo é o Estado, mormente por via da muito justificada insegurança que lhe incute a incompetência genética grudada a certos órgãos ditos de soberania, em diversas épocas, sedes e áreas do governo ou da administração.

Essa incompetência decorre, essencialmente, da abundância e da proliferação, nos mais diversos lugares, de indivíduos oportunistas, ambiciosos, gente de defeituosa formação profissional e, sobretudo, humana, políticos feitos à pressa, abundância essa que fortemente contrasta com a escassez de pessoas devidamente formadas, educadas e, sobretudo, com aquele verdadeiro espírito de missão que, ingenuamente, alguns de nós ainda acabam por, ingenuamente, associar às coisas da governação.

A insegurança endémica - impossível de erradicar de militantes desnorteados que, uma vez eleitos deputados, certos partidos destacam para altas funções governativas -, leva os partidos aos quais incumbe governar a, cada vez mais, querer estar presentes onde não são chamados, a intrometer-se em aspetos do foro privado ou familiar de cada cidadão, nas decisões mais corriqueiras da vida quotidiana e, no plano público, em tudo quanto lhes parecer suscetível de dar visibilidade e de fazer os governantes e os Partidos que os lá poem parecer indispensáveis e insubstituíveis, na ilusória crença de que essa aleatória e tonta azáfama os ajudará a ganhar cada próxima eleição.

Crença ilusória, porque, da verdade indiscutível de não ser possível governar sem comunicar resulta, inevitavelmente, ser impossível governar bem sem comunicar bem; e resulta, também, que, quando se comunica mal, mesmo que se governe mais ou menos bem, sempre o comum dos mortais ficará com a ideia, certa ou errada, de que se está a governar pior do que, efetivamente, poderá estar a acontecer.

Ocorre, assim, que a comunicação, verbal e não verbal, dos incompetentes e, também, dos competentes que comunicar não sabem, acaba por se tornar, progressivamente, tão insatisfatória que redunda, fatalmente, num efeito desastroso que, seguramente, não explica o peso das intenções de voto que sondagens certamente muito rigorosas e cientificamente elaboradas possam, continuamente, assegurar a partidos aparentemente fadados à eternidade no exercício das suas funções, e aos quais, embora nada tendo contra, cada vez encontremos menos razões para agradecer.

2. A Comunicação Política em Tempo de Pandemia

Em política, não é verdade que o que importa é que falem de nós, mesmo que digam mal de nós.

Muito pelo contrário, aplica-se a velha contrariedade atribuível à mulher de César: para se ser, importa parecer, sobretudo quando nem se vislumbra qualidade numa governação da qual todos os dias damos por nós a acreditar em cada vez mais do muito mau que se vai ouvindo dizer.

Graça Fonseca
Um bom exemplo poderá ser o que se passa no país da malograda Seleção das Quinas, no qual a população se sente cada vez menos governada, mais baralhada, menos tranquila e, sobretudo, muito pouco motivada a seguir leis e recomendações, incluindo as de carácter sanitário, que nos convidam a usar sempre máscara, a guardar distanciamento, a não apertar a mão e a aos ajuntamentos dizer “Não!”.

A vontade de nos portarmos bem desvanece-se, nomeadamente, quando, num cenário de emergência sanitária, a comunicação foi, durante longo tempo, assegurada por um sujeito a quem parecia restar apenas uma centelha de vida, como que acabado de arrancar a um sono reparador*), e que, talvez incomodado por lhe ter caído o barrete de dormir, ia soltando palavras entrameladas num arrazoado desconexo e lamuriento*), proferido perante audiências ávidas de estímulo, de segurança, de confiança e de motivação para continuar a acreditar que, contra esta coisa da COVID, valia a pena lutar.

Também não ajuda que uma senhora algo cambaleante, com o ar escanzelado e idoso de uma rígida e implacável mestre-escola de antanho e de palmatória na mão, discorra dias seguidos e horas a fio sobre temas sem novidades que o sejam realmente, procurando, porventura, disfarçar a inutilidade do seu desinteressante e ineficaz esforço comunicacional com um desfilar de toilettes eventualmente apropriado a outras ocasiões*), mas não quando, num tempo já muito sofrido, se trata de transmitir uma imagem de concentração, de seriedade e de rigor no por ela trabalho desenvolvido numa área fundamental.

No meio de muito disparate junto, o que dizer, então, de uma Direção-Geral que, no início de um mês em que se realizava sessenta mil testes diários da COVID-19, afirma que o objetivo é chegar aos cem mil*) para, no fim do mesmo mês e em vez dos tais cem mil, os iniciais e reais sessenta mil terem, ao invés, descido para menos de trinta mil? Claro que, em alguma medida beneficiada por essa efetiva redução de testes, a contagem diária de novos infetados lá acabou por cair para níveis muito convenientes a quem pretendia, à viva força, desconfinar: quanto menos testes se fizer, menos infetados se irá encontrar.

Agora, lançando novamente a confusão, vêm peritos dizer que é necessário reforçar a vacina de toma única da Jansen, ao mesmo tempo que a própria Farmacêutica garante que assim não é.

Que dizer, também de um INFARMED que, numa semana, muda duas vezes de opinião quanto à perigosidade de determinada vacina, ao sabor daquilo que vai ouvindo lá de fora, até parecendo que apenas pela televisão é informado, e mal?

Tudo isto numa área “onde, sem esquisita erudição, é melhor não tocar semelhantes matérias”.

Seria, também, imperdoável não referir aqui o fiasco dos fiascos, que à República terá custado bom dinheiro: quase toda a gente ficou sem saber como funcionaria a Stayaway Covid *) – se funcionasse -, mesmo depois de essa milagrosa e indispensável aplicação muito badalada ter sido nas televisões e nos discursos ministeriais, e de a população se ver ameaçada com a devassa dos telemóveis e com a aplicação de sanções a quem neles a não instalasse.  Da Stayaway Covid, poucos meses decorridos e muitos milhares de euros deitados fora, ninguém sabe o que é, já ninguém ouve falar.

Procurando trazer alguma humanidade à coisa, uma Ministra da Saúde de aspeto jovem e aparentemente cheia de boas intenções – e que agora, ao que parece, apenas sonha com o dia em que se irá embora - dirigia-se às câmaras com a timidez de uma colegial na sua primeira e mal preparada prova oral; e, até falando, por vezes, com as mãos atrás das costas*), dizia, já no início de Março e perante uma audiência ávida de soluções, que ainda era cedo para se perceber o que tinha acontecido… no Natal passado. Isto, quando todos - menos, pelos vistos, a dita Senhora - há muito sabíamos ter sido o facilitismo governativo que nos pôs a circular no Natal por esse País fora, o que o vírus muito agradeceu.

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Eduardo Ferro Rodrigues
Certo é ser obrigação de quem governa pronunciar-se sobre tudo aquilo que sai da normalidade, já que o silêncio indevido deixa sempre a sensação de que se considera estar o anormal dentro da normalidade.

Mas, deixar a esta gente tão mal preparada o cuidado de comunicar o que deveria ser uma mensagem límpida e inequívoca, inspiradora daquela tão necessária dose de confiança nestes dias vitais, apenas lança a confusão e aumenta o descrédito de uma governação já de si trôpega, amadora, deixada à sua sorte por quem tem, claramente, lá pela Europa demasiadas coisas em que pensar, “a bem da Nação” desgovernada que por cá teve de deixar.

3. Do Desempenho do Segundo Mais Alto Magistrado da Nação

Se, como no Partido Socialista há quem pretenda, a Assembleia da República é o coração da democracia*), cumpre, para que se mantenha saudável, livrá-la das gorduras, do colesterol, o que se revela particularmente difícil quando é dirigida por um histórico militante socialista constantemente chamado à atenção – pelos vice-presidentes, pela secretária, e, até, pela dirigente da bancada do partido a que pertence – pelo seu patente desconhecimento, do Regimento, e pelas consequentes irregularidades na condução dos trabalhos do plenário, deixando a ideia de que muitas mais seriam se não fosse o diligente desempenho de quem o assessora em tão altas funções.

Talvez por tudo isto já poucos lhe liguem, no Parlamento, quando, esgotado o tempo, os manda calar...

Além do mais, essa importante figura do Estado arrasta-se, literalmente, nas cerimónias públicas em frente às câmaras de televisão e apresenta, no Parlamento, um ar permanentemente exaurido, por vezes bufando o ar num gesto de enfado que podem alguns confundir com boçalidade e falta de educação, o que não ajudaria no que se refere à eficácia da parlamentar comunicação.

Depois, diz coisas, profere apartes e desabafos que mais valeria guardar para si, como é o caso do último mimo que acabou por fazer com que ficasse apeado em Lisboa, tal como o Presidente da República*), tendo antes um infeliz ministro sido enviado a Sevilha para ficar associado ao desaire da nossa também enfadada Seleção.

Sendo a pessoa bem conhecida e tudo isto há muito sabido – além do facto de se estar a, digamos, marimbar para o segredo de justiça*) e com este, quem sabe, para outros pilares do funcionamento da democracia e do Estado -, não poderemos deixar de nos questionar sobre as verdadeiras razões na base da eleição do dito militante para um segundo mandato, depois de um primeiro que, com a qualidade do seguinte, dificilmente poderia ter permitido, sequer,sonhar.

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Que qualquer um possa candidatar-se a Presidente da República, assim se correndo o risco de o mesmo qualquer um, ainda que iletrado, pouco educado e intelectualmente pouco dotado, vir a ser eleito, é um mal da Constituição para o qual já aqui chamei a atenção*).

Mas, sendo a segunda figura do Estado Português – teoricamente, pelo menos, já que, por vezes, chega a parecer que é um certo ostensivamente abastado e arrogante jogador de futebol -, o Presidente do Parlamento é eleito pelos seus pares, supostamente mais letrados, educados e dotados do que a generalidade de uma população para a qual saber dar uns toques na bola parece importar bem mais do que estar apto a dirigir eficazmente o principal órgão legislativo da Nação.


4. O Bombo da Festa

Escravatura em Odemira

Não param os partidos, a imprensa, toda a gente de bater no monolítico Ministro da Administração Interna, exemplo ímpar de fidelidade canina ao seu amigo Primeiro-Ministro.

Nada empático, de ar sempre zangado e façanhudo, um dos governantes mais essenciais à manutenção da ordem pública comunica pior que mal, movimenta-se atabalhoadamente e aos arranques como um robot; tem, globalmente, uma linguagem corporal que afasta, quase causa alergia e gera, seguramente, estupefação. 

Em situações para ele incómodas, responde de forma enviesada ou assobia para o lado, como perante os inaceitáveis excessos a que assistimos nas comemorações da vitória do Sporting na chamada Liga NOS; ou no caso do crime de ofensas corporais extremamente graves cometido por elementos afetos a órgãos sob sua administração e que levaram à morte de um cidadão estrangeiro, procurando, neste caso, como em outros, justificar o injustificável com chavões proferidos de punhos fechados e em tom mais adequado a um militante perorando num comício perante a multidão, do que a um alto quadro do Estado desculpando-se pelas suas imperfeições. Tempos depois, como o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras o tinha deixado ficar mal, manda eliminá-lo, integrá-lo, o que a ato tão ditatorial quanto irracional quisermos chamar.

A completa falta de aparência da mais ténue humanidade no caso do atropelamento mortal de um funcionário da BRISA pela viatura oficial em que o Ministro seguia, e a contradição entre versão oficial do Ministério da Administração Interna (MAI) e a da Concessionária da autoestrada em que o sinistro ocorreu, não podem deixar de suscitar as maiores dúvidas quanto à eficácia política da obstinação do Primeiro-Ministro em manter em funções tal personagem*). A menos, naturalmente, que mais ninguém de confiança  aceite ocupar o difícil lugar, de má memória no que aos mais recentes titulares diz respeito*).

A viatura acidentada imobilizou-se a escassos metros da vítima, que ficou mesmo ali ao pé, e não houve um momento da mais elementar humanidade que impulsionasse o Ministro e sua companhia a precipitar-se para junto do sinistrado.

O homem não só nem saiu do carro para ver o que se tinha passado – e não será fácil imaginar qual teria sido a reação espontânea, em idênticas circunstâncias, do Presidente da República… -, como não se interessou, mais tarde, pela família da vítima. Até emitiu um comunicado sugerindo que seria do próprio trabalhador vitimado toda a responsabilidade pelo sucedido; e, mesmo quando convidado pelo Presidente a dizer alguma coisa que fosse, apenas respondeu, perante as câmaras da televisão, com um seco: “Não! Não!

A cereja no topo do bolo terá, porém, sido a afirmação da Guarda Nacional Republicana (GNR) quanto ao facto de ter sido impedida, por ordem superior, de efetuar, na viatura sinistrada, todas as diligências de prova que entendeu necessária*) . Ora, sabendo-se quem é o superior hierárquico máximo da Guarda – o MAI -, não será difícil adivinhar de onde terá vindo a ordem superior.

Que um político proeminente, atolado até aos ouvidos em suspeitas de nepotismo*) - e que, provavelmente por isso mesmo, tenha sido convidado a não se recandidatar a deputado – venha a terreno falar de imoralidade para defender o dito ministro*), não será, talvez, a melhor forma de lhe limpar a imagem, também…

Graça Freitas
Se se pretende educar uma população e elevar o nível da sua consciência ética e cívica, há que fazê-la governar por pessoas competentes e de reconhecidamente elevada qualidade humana: não, nunca, por tugas elementares que, nada tendo de excelente, devemos tratar por Excelência
apenas por serem amigos de alguém democraticamente eleito.

Num outro episódio mediático, as conclusões, porventura precipitadas, a que a generalidade da população parece ter chegado quanto à nomeação do cônjuge do dito Ministro para um alto cargo de controlo e supervisão também não ajuda a formar a tal imagem de isenção e idoneidade em que o exercício da soberania deverá, desejavelmente, assentar. Mas, enfim, dado que, por tanto terem as más-línguas falado de nepotismo, o cônjuge, outrora Ministra teve de abdicar do lugar, é considerado normal e saudável nesta nossa infeliz e manipulada democracia que, de alguma forma, o Partido o houvesse de compensar*).

O que mais espanta é que, em plena audição parlamentar, o dito cônjuge, questionado quanto a alguma entidade reguladora europeia ter como administrador “um familiar direto de um ministro” – não uma mulher” –, se tenha manifestado ofendido enquanto mulher e vítima de “tentativa de menorização” por “machismo e misoginia”, apenas tendo sido timidamente chamada a sua atenção para o desfasamento da resposta relativamente à pergunta formulada.

Trata-se de mais um episódio de exploração notoriamente abusiva da estafada lengalenga feminista para justificar o injustificável*), e para alguém se insurgir, como que por automatismo, contra um tema com que não tinha sido confrontado.

Como se o que transparece do desempenho do Ministro não bastasse, por si só, para lhe retirar toda a legitimidade substantiva para se manter no lugar, faltava, para piorar as coisas, esta nova vertente familiar.

5. As Contradições de Odemira

Igualmente danoso para a imagem da governação não deixa de ser o facto de o mesmo Ministro da Administração Interna se achar no direito de ordenar a forças de segurança que irrompam à bruta, com armas e canídeos, por uma propriedade privada a fim de dela o Estado tomar posse, numa desesperada, incompetente e autoritária tentativa de resolver uma situação de emergência sanitária nascida de outra situação, porventura bem mais grave, de aparente exploração de trabalho quase escravo de imigrantes amontoados em contentores apinhados de beliches arrendados a preço do ouro por pessoas indignas de ser chamadas empresários.

Também não terá ajudado o facto de uma ministra procurar justificar a anterior inércia governativa sobre este tema da quase escravatura com o facto de os empresários cumpridores não haverem denunciado às autoridades o que se passava noutras empresas, assim demonstrando a Ministra que, ao mais alto nível do Estado, ainda se confunde a atividade empresarial com a de informador, outrora essencial ao funcionamento da polícia política em tempos que até custa recordar. Isto, tratando-se de uma situação de exploração de humanos cuja existência era, patentemente, impossível o Governo ignorar.

Escravatura em Odemira

No rescaldo, não pode haver grandes dúvidas quanto ao facto de, com o seu estilo cáustico e ar façanhudo, o desajeitado e ensimesmado Ministro da Administração Interna se ter convencido – vá lá saber-se como ou porquê - de que os proprietários de segundas habitações de férias não hesitariam em disponibilizar as suas casas para acolher imigrantes confinados: é que um dos piores vícios da maior parte dos ditadores de pacotilha consiste em, à força de tanto pensar que todos devemos pensar como eles, acabarem por se convencer de que, efetivamente, assim pensamos. O que é um erro crasso, claro está.

A jovem Ministra da Presidência justificava, entretanto, a entrada de rompante de forças de segurança, às quatro da manhã, numa propriedade privada em Odemira, com alegadas dificuldades em assegurar adequada tradução aos trabalhadores migrantes; mas, mesmo às quatro da manhã e, supostamente, contando eles já com a tal tradução tão difícil de assegurar, os embasbacados realojados à força – alguns dos quais falavam inglês e poderiam, facilmente, servir de intérpretes junto dos outros - não faziam a mais pequena ideia do que se estava a passar.

Desconheciam, nomeadamente, a razão pela qual estavam os miseráveis tugúrios que habitavam a ser invadidos e eles de lá removidos contra vontade, como se se tratasse de coisas ou de animais.

Já para a GNR, o facto de haverem os trabalhadores sido desalojados a desoras deveu-se a não especificadas “razões de segurança”. Para o Presidente da Câmara Municipal de Odemira, terá sido, antes, por causa da necessidade de articular, com representantes da massa insolvente – que, mais do que provavelmente, dormiam a sono solto nessas horas impróprias -, tão precipitada e achaboucada intervenção.

Ah, como seria bom para a tranquilidade de todos nós que certas pessoas não contornassem tanto a verdade, e o Estado falasse todo a uma só voz!

Toda esta exploração humana se refere, ainda para mais, a uma zona onde a sempre atenta Secretária de Estado da Integração e das Migrações considera viver-se um notável exemplo de integração de migrantes que para cá vêm trabalhar*).

Assim sendo, quantas mais “desconhecidas” e exemplares Odemiras como esta por esse Portugal iremos, ainda, encontrar?

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A tarefa de qualquer Governo minimamente civilizado e cívico não se resume a cuidar dos interesses daqueles que pagam impostos: cabe-lhe, também - e principalmente - zelar por aqueles para quem, por nunca terem tido o direito de viver plenamente, o dia mais importante da vida é, porventura, o da morte, já que, da vida, pouco ou nada de bom terão para recordar.

Odemira foi, é, apenas mais uma etapa do processo de declínio e entropia de um Governo de um só homem, por este temporariamente deixado à sorte e por conta de cada um dos desarticulados elementos de uma heterogénea amálgama que não merece o nome de equipa, que só não é remodelada porque, se estes são maus, o Primeiro-Ministro bem sabe que outros que viessem de fora do seu círculo bem piores poderiam ser ainda.

Em equipa que ganha, não se mexe.

Mas esta não ganha, só (nos) empata, e bem mereceria uma boa mexida, para se manter na competição. Perdão, na suposta governação.

Inabilidades Avulsas na Comunicação
6. Inabilidades Avulsas na Comunicação

Noutro tempo e lugar, a Ministra da Justiça mostrou-se notoriamente incapaz de entender que, perante a opinião pública, se não é corrupto ou aldrabão, é incompetente quem aparece como procurando, em benefício de mais uma daquelas tão cobiçadas candidaturas europeias, encobrir erros curriculares básicos*) que alguns não deixarão de aproveitar para denegrir a imagem de todo um país, muito especial se esta nebulosa sobre a área da Justiça pairar.

Calar demasiado, fugindo, simultaneamente, à questão formulada e às mais elementares normas da cortesia, também não será o mais adequado a uma Ministra da Cultura que, questionada sobre a pressão social e económica sentida pelos profissionais do setor que tutela, se limitaria a sugerir que se reunissem para uma bebida ao fim da tarde*);  ou quando o apagado ministro da tutela e a exuberante deputada orientadora - ex-Ministra da Administração Interna nomeada pelo mesmo Partido  Socialista - ficam, meses a fio, mudos e quedos perante uma alegada semelhança de quarenta e seis por cento, por plágio, na dissertação de mestrado apresentada numa universidade privada portuguesa por um recém-empossado magistrado do Supremo Tribunal de um país irmão*).

Tampouco ajudará, entre tantos outros episódios, que uma jovem governante diga, em determinado dia, que sobre determinado assunto nem valerá a pena falar para, apenas dois dias decorridos, se não coibir de, discursando perante outros jovens do mesmo partido que ela, adiantar pormenores sobre o mesmo determinado assunto do qual, na antevéspera, nem queria ouvir falar, talvez ignorando que, como terá dito um presbítero português do século XVII, “consiste a virtude do silêncio não em cessar o ofício de falar, mas em calar e falar a seu tempo”; ou que a mesma jovem venha, agora, anunciar, com horas de antecedência e o ar hesitante e comprometido de quem sabe estar a fazer asneira e à espera de que não lhe ralhem muito, medidas de utilidade duvidosa e de formulação confusa tendo como alvo setores vitais para a economia nacional, designadamente a restauração e a hotelaria*).

Além do Primeiro-Ministro e, quando muito, do Ministro dos Negócios Estrangeiros, quem tem autoridade, entre toda esta gente, como nunca tanta foi?

Sem autoridade, não há soberania. É como se o Governo não existisse: alguém faz coisas, muitas delas disparatadas, mas a ninguém pode ser associada uma governação efetiva. E os ministros e secretários de estado são tantos, tantos...

As contradições entre mensagens no Governo e na Administração são já encaradas com naturalidade por uma população convenientemente anestesiada pela desconexa ação de quem, excetuando os quase sobrepostos faits divers do originados no Ministro da Administração Interna, parece limitar a sua ação visível à gestão de uma pandemia que parecia ter entrado em velocidade de cruzeiro, mas que as comemorações da vitória do Sporting Club de Portugal na Primeira Liga de Futebol, viabilizadas pela Câmara Municipal de Lisboa*), vieram, agora nas camadas mais jovens, fazer acelerar.

Na primeira Primavera da COVID, era ouvi-los elogiar, uma vez mais, o tal civismo do povo português que ainda bem pouca gente alguma vez terá tido o privilégio de, ao menos, vislumbrar. Vê-se, agora, o impacto negativo da comunicação hipócrita e inábil de quem os males estruturais da sociedade portuguesa teve, então, medo de salientar e de, contra os seus perigos, a restante população alertar.

Além da gestão da pandemia, nada mais parece interessar, atualmente, à política que não seja garantir que, desta vez, não se deixa de aproveitar até ao tutano os fundos europeus que aí estarão para chegar*), e até darão para fazer, daqui a cinco anos, uma festa de arromba para comemorar os cinquenta anos de uma democracia que ainda ninguém chegou a entender no que irá dar, enchendo, entretanto, os bolsos de um coordenador e de uma data de penduricalhos que, pelas benesses da romaria a que, provavelmente, uma escassa meia dúzia irá acorrer, nem se lembrarão de qualquer agradecimento expressar.

Perante o prolongado mutismo do Primeiro-Ministro sobre o assunto, a nomeação unilateral – sem consultar os outros partidos ou, até, o primeiro Presidente da República eleito em democracia - do principescamente remunerado comissário executivo das comemorações do quinquagésimo aniversário da revolução de 25 de Abril de 1974 chocou o País inteiro*). O País inteiro, menos o Partido Socialista, que parece julgar-se o dono das comemorações, tal como a Associação 25 de Abril se julgou dona do aniversário comemorado em 2021*).

Tiques ditatoriais de um Partido que se julga “o dono disto tudo”; e com alguma razão, já que os nada parecem entender, mesmo em casa própria, de política ou do ofício de governar.

O Primeiro Responsável pela Governação
7. O Primeiro Responsável pela Governação

A anarquia está em toda a parte, quando a responsabilidade não está em parte alguma*), e a verdade é que, nestes primeiros seis meses de 2021, enquanto o Primeiro-Ministro andou – e muito bem - a larear a Presidência Portuguesa por essa Europa fora, ficou o País à mercê de um punhado de desarticulados governantes, manifestamente incapazes de, sem o treinador, dar conta do recado.

Num tal cenário, não pode deixar de vir ao espírito o desnorte e o quase silêncio da Administração da Benfica SAD quando há poucos dias, abruptamente deixou se poder contar com os bons ofícios de um presidente com um estilo de governação também monolítico e centralizador.

Aparentemente, ninguém capaz havia para deixar a governar cá na terrinha, onde a irresponsabilidade reinava e os lobos iam tomando conta de um povoado guardado por gente com ar inseguro, como a Ministra da Presidência nas suas comunicações hesitantes, tíbias e desconexas, em que já ninguém entende quem entender se não faz.

É verdade que, no que à popularidade diz respeito, o sorriso, ainda que tenso e fechado, de um primeiro-ministro pode valer milhares de votos contra desiludidos, perdidos, estafados e sisudos oponentes; tal como para assegurar uma certa boa-vontade dos contribuintes pode servir, de vez em quando, o permanente sorriso de um Ministro das Finanças, por muito malquista que a sua atuação possa ser.

O que a maior parte dos políticos não entende, porém, é que o sorriso – mas um sorriso franco, aberto – e um discurso coerente e firme são componentes essenciais da comunicação.

Ora, o Primeiro Ministro já deu sinais de irascibilidade*) e, pelos vistos, aprecia, entre os seus amigos, o estilo, começando pelo eterno Ministro da Administração Interna que, teimosamente, o primeiro se obstina, não apenas em, contra tudo e contra todos, manter em funções, como até em elogiar na sua atuação.

Vale também, quanto a irascibilidade, a pena lembrar o Secretário de Estado Adjunto e da Energia que, referindo-se ao programa da RTP Sexta às Nove, disse, com todas as letras, que "estrume, só mesmo essa coisa asquerosa que quer ser considerada um programa de televisão"*).

Chegam as eleições autárquicas e, apesar de amigos, Primeiro-Ministro e Ministro da Administração Interna andam de candeias às avessas*), defendendo cada um deles o seu modelo de votação, enquanto o primeiro e o Ministro das Infraestruturas e da Habitação – como eles gostam de nomes compridos… - se envolvem numa sempre negada mas evidente peleja*), a que agora se junta, para ajudar à festa, a normalmente apagada chefe da bancada parlamentar do Partido Socialista.

A agir assim, não será de admirar que o cidadão comum acabe, progressivamente, por comparar quem o governa a egocêntricos indivíduos sem rei nem roque, sem rumo, incapazes de, primeiro, planear e, depois, resolver eficazmente os imprevistos, mais não lhes restando do que o recurso a tiques ditatoriais de quem parece sempre preferir entrar à força, através de requisições civis e outras medidas extremas. Falam o menos possível, como quem tem culpas no cartório ou não está inteiramente à vontade com a sua consciência – ou, mais simplesmente, não faz a mínima ideia de como atuar -, em lugar de convidar, não apenas à negociação, mas à própria colaboração de pessoas eventualmente habilitadas a encontrar formas alternativas de resolução.

Também em nada beneficia a credibilidade do Primeiro-Ministro o silêncio – ou o falar tardio - em questões sensíveis, como a da passagem de informações aos russos pela Câmara Municipal de Lisboa. “Não devemos juntar à demência do real a tolice de uma explicação*), mas há limites para aquilo que o CEO do País pode calar; e dentro desses limites não se inclui, seguramente, o silêncio quanto à detenção e às acusações que impendem sobre o recandidato à presidência da dita Nação Benfiquista a cuja comissão eleitoral de honra o dito CEO teve a imprudência de se associar*).

Danos reputacionais na Europa
Não pode, sobretudo, manter o silêncio sobre estes e outros casos, relativamente aos quais são, para Portugal, gravosos e evidentes os danos reputacionais na Europa por onde andou, durante seis longos meses, a deambular.

Depois, quando a falta de coordenação política permite que a autonomia ministerial vá longe demais, alguns ajustes têm de ser feitos, como a desautorização do Ministro da tutela no caso da nomeação do presidente do conselho de administração da TAP*), com todo o impacto mediático negativo que consigo acarretou.

Ora, voltando à mulher de César – o romano, não o açoriano -, a soberania, para ser efetiva, depende muito da aparência de qualidade e de consistência no seu exercício, que atitudes pouco ou nada edificantes por parte de quem tem obrigação maior de saber estar não contribuem para dignificar. Isto acontece especialmente quando lugares de topo de um ministério ou de uma câmara municipal forem ocupados por militantes diletos do Secretário-Geral do Partido que, esquecendo-se de que quem começa como figurante raramente chega a astro, nem tentam disfarçar as suas candidaturas a uma mais ou menos rápida sucessão de quem poderá ter-se esquecido de que, em política, é insensato dar força a alguém sem, ao mesmo tempo, nos prepararmos para mais tarde poder vencê-lo.

Será distanciamento, ou uma já muito expressiva debilidade política do Primeiro-Ministro no seio do próprio Partido Socialista? O recente incidente com a Concelhia do Porto dá que pensar*) tal como não pode deixar de fazer pensar a indigitação, para presidir ao novíssimo Banco de Fomento, de um putativo conselheiro financeiro de um certo empresário recentemente detido para interrogatório e de cuja comissão de honra, na recandidatura à presidência da Nação Benfiquista, o mesmo Primeiro-Ministro fez parte *). E, tanto tempo depois, ainda falam da mulher de César, coitada...  

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O Governo tem lepra.

Está a cair aos bocados, com ministros a precisar de ser removidos*), e outros a querer ir, recatadamente, tratar das suas vidinhas*), em lugar de, independentemente do eventual mérito de um ou outro, estar a deixar desgastar a imagem pela incontrolável e justificada irrisão que o ridículo de que se reveste, em Portugal, o exercício da soberania, suscita em milhões de desgovernados que por aqui andam a penar.


8. O Estado da Nação

O défice de soberania que inquina uma qualquer estrutura governativa e parlamentar eivada de impreparados arrivistas - alguns dos quais pouco mais terão feito na vida do que arrastar-se pelo pantanal dos órgãos partidários e afins e, outros, lambuzar-se com as benesses e proventos proporcionados pelos mesmos – decorre da perda de legitimidade para governar e legislar por parte de quem, em lugar de refletir sobre as questões de fundo e planear estrategicamente grandes opções de acordo com uma linha coerente e bem definida, mais parece preocupar-se em cuidar de, sob o ponto de vista da popularidade fácil, maximizar o aproveitamento mediático de emergências com as quais, patentemente, está impreparado para lidar e satisfatoriamente resolver.

Recorre-se, assim, à velha tática de pintar o quadro mais tenebroso em que os governados sejam capazes de acreditar para, em seguida, aparecer como o obreiro de… coisa nenhuma.

Num tal quadro, o facto de, no topo da pirâmide, poder estar alguém que pareça carregar às costas um aeroporto móvel que ora vai ser construído aqui, como sem dúvida alguma ali, como desta vez é que é mesmo acolá e, quando enervado ou irritado, come metade das palavras que pensa, não agravará muito, talvez, o enorme dano causado pelos seus seguidores mediante uma comunicação institucional tão pobre como a que estas linhas procuraram caracterizar.

No mesmo cenário, não será de admirar que na população se instale a convicção crescente de que a democracia poderá não passar de uma excelente ideia com um péssimo resultado, pelo qual ninguém parece querer responsabilizar-se.

Défice de Soberania
Que pessoas habitarão um país em que, para algumas das mais altas funções do Estado, os partidos não conseguem arregimentar gente menos incompetente e mais adequada do que esta? Será que, afinal, o mal não é exclusivo do tal Partido de que já nem se consegue ouvir falar, e cujas pessoas e valores de antigamente apenas conseguimos, com nostalgia, recordar?

Não estamos em presença de um simples e pontual défice de autoridade, mas já de um inilidível défice de soberania, desde há meses agravado, e de que maneira, pelo défice de escrutínio democrático decorrente da redução drástica da quantidade de debates parlamentares, redução essa da responsabilidade, em conluio, do Partido Socialista e do Partido Social Democrata, contra toda a restante oposição e perante um primeiro veto presidencial, cuja verdadeira mensagem nem houve o cuidado de respeitar*).

Portugal continua, assim, em imparável deriva para o paraíso de oportunistas e de incompetentes em que meia dúzia quer transformá-lo, como acontece em qualquer pseudodemocracia que, a tais abusos e desmandos, verdadeira e eficaz oposição não saiba concertar.

Já as sondagens – com cujos indicadores tantos se admiram – são bem fáceis de explicar: mal ou bem, lá vão estes socialistas formados à pressa levando o barco, ora a um porto, ora a outro, às apalpadelas, cedendo aqui, cedendo acolá, sem rumo definido, enquanto as tripulações alternativas que governar se propõem, além de claramente incapazes, nem têm, ao menos, quem as saiba comandar.

Em quem mais iriam os Portugueses, num tal cenário, votar?

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Quando, algures, aos primeiros raios de Sol do último Sábado de Fevereiro e fazendo vista grossa ao dever geral de confinamento, mais de quarenta por cento dos habitantes saem de casa para, pelo paredão da praia, ir caminhar; quando, por parte de quem supostamente governa, é flagrante a pusilanimidade perante a oligarquia do futebol, a ponto de, com os novos casos de COVID a triplicar, termos ficado sem as romarias dos Santos e as inerentes receitas comerciais, por causa das imprudentes e ilegais comemorações de uma final estrangeira da Champions e da muito tuga vitória do Sporting na Liga NOS*), algo está a funcionar mesmo muito mal, quer ao nível da soberania, quer ao da indispensável e subjacente necessidade de comunicar.

Como escreveu um autor irlandês da atualidade, num trecho bem ilustrativo da comunicação política que por aí vai:

Vivemos numa cultura de advocacia extrema, de confronto, de julgamento e de veredicto.
A discussão cedeu lugar ao debate. Comunicar transformou-se numa competição de vontades. O discurso público tornou-se obnóxio e insincero. Porquê?
Talvez seja porque, no fundo, debaixo de todo este palavreado,
tenhamos chegado a um ponto em que sabemos que sabemos... nada.
Mas ninguém está disposto a dizê-lo
”.

Sic transit gloria mundi


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