Merece especial destaque o segundo andamento da "Sétima", sabendo embora que
tal distinção é injusta para com tudo o mais que, durante cinco horas, deleita
o ouvido do mais empedernido rapper.
segunda-feira, 26 de julho de 2021
As Nove Sinfonias de Beethoven, por René Leibowitz
sábado, 24 de julho de 2021
Coisas que Se Nos Colam à Pele
“As viaturas do Ministro da Administração Interna, do Ministro do
Ambiente
e do Primeiro-Ministro andam para aí a abrir
que nem loucas nas autoestradas,
descarregando alguns dos mui ilustres transportados, a culpa para cima de
motoristas que,
agindo na melhor tradição daqueles que os educaram, apenas aceleram para
ao patrão agradar”
1. Dos Vícios Tolerados e Seus Efeitos Expressamente
Condenados
Quando um bem conhecido norte-americano escreveu que “uma vez adquirido um hábito, ninguém deve lançá-lo pela janela, mas ampará-lo na descida, degrau a degrau *)” referia-se, por certo, àquelas coisas a que o nosso cérebro ou o nosso organismo se habituam a consumir sem qualquer benefício conhecido para eles.
Acontece com o álcool, com o tabaco e com uma infinidade de outros mais ou
menos nocivos estupefacientes, causando aos ditos cérebro e organismo danos
por vezes irreparáveis em proveito exclusivo de quantos fazem transbordar as
respetivas bolsas graças à exploração do trabalho mal pago de largos milhares
de desgraçados que dependem, para sobreviver, dos proventos de um trabalho
quase escravo a que se sujeitam sabendo, embora, quão nocivo o resultado será
para o chamado consumidor final daquilo que colhem, destilam ou refinam
para sobreviver.
Não se referia, seguramente, o tal norte-americano a hábitos socialmente bem
mais perniciosos, daqueles que não apenas prejudicam quem os adquire e uma ou
outra vítima inocente do fumo do tabaco, de uma criminosa agressão que, por
muito grave e condenável, nem por isso deixa de ser pontual ou, pelo menos,
limitada no alvo e nos eventuais lesados por arrastamento ou proximidade.
Isto, sabendo, como bem se sabe, que a proliferação de certos comportamentos
ocasionais agressivos e de consequências inenarráveis, acabam por se tornar
chagas sociais que cumpre e urge erradicar, sob pena de acabar completamente
subvertida a ordem social.
Todos estes hábitos que são causa direta ou indireta de tão nefastos efeitos
não deixam de gerar na comunidade a descontraída sensação – ou, pelo menos, a
ilusão – de que sempre haverá como os desencorajar, como os controlar ou como
os seus efeitos mitigar a ponto de o coletivo se não sentir ameaçado a menos
que conheça um caso próximo ou lhe tenha sofrido os efeitos na pele.
Fora isso, não apenas são tais vícios tolerados, como até há quem tudo faça
para tornar alguns deles socialmente naturais ou, no mínimo, considerados como
devidos a doenças ditas comportamentais - embora nascidas de comportamentos
censuráveis e evitáveis desde a génese -, por este processo meramente
cosmético passando a ter a dignidade de patologias e tornando-se, pelo facto,
os seus ditos portadores a merecer epítetos próprios de quem padece de
verdadeiras e inevitáveis enfermidades, genéticas ou contraídas.
Passou, desta forma, a louvar-se o que é objetivamente condenável; e a
promover-se, também.
2. “Não Me Comprometa”
Existe, no entanto, algo bem mais grave que não tem raízes nos genes, ou na
vontade de experimentar sentida por um adolescente desacompanhado, num
inultrapassável desgosto de amor, no desespero de alguém que pensa que apenas
lhe resta “dar de beber à dor”.
São coisas que se nos colam à pele, que estão culturalmente enraizadas e
disseminadas por toda uma população habituada, durante décadas a fio, a ser
governada e gerida por incompetentes e corruptos caciques numa ditadura
plenamente assumida pelos seus protagonistas num pensamento lapidar: “Aqueles que concordarem com o programa da Ditadura praticam ato patriótico
colaborando; os que não concordam são livres de proclamar a sua discordância
mas, no que respeita a atuação política efetiva, evitaremos que nos
incomodem demasiadamente”.
Colam-se à pele dessa população que, banida a ditadura, se foi, também há
décadas a fio, habituando a ser governada e gerida, entre outros, por alguns
incompetentes e corruptos caciques que só agora, graças à coragem e ousadia de
uns quantos e a um agora mais apurado sentido de oportunidade política de
outros, vão sendo desmascarados e, até, aqui e ali, efetivamente, confinados
atrás de grades que nada têm a ver com as de uma pandemia.
A dependência do caciquismo labrego e bacoco dos tempos da famigerada PIDE/DGS
continua, não obstante, a correr pelos caminhos portugueses, a correr da pena
dos portugueses, a correr nas artérias e veias dos portugueses.
A
miúfa endémica - eufemisticamente chamada temor ou respeito -
por uma hierarquia superior que jamais o soube ser, continua a condicionar, a
ditar a forma como os portugueses pensam, decidem, agem ou omitem, tentam
alijar responsabilidades na crença que esperam não seja vã de que nada lhes
aconteça e ninguém, pelo seu silêncio, os arrelie.
Um conhecido programa de humor de um País irmão incluía uma personagem que passava o tempo a dizer “Eu não fiz nada, meu Amigo, não sei nada, se disser que eu fiz eu nego, ene, é, gê, ô, n-e-g-oooo. Não me comprometa! *)”. Retratava esta convicção de que, não agindo, não nos manifestando, não tomando partido, não denunciando condutas que a lei proíbe, podemos levar, tranquilos, a nossa vidinha e há-dem continuar a tratar de nós e a zelar por nós aqueles que são eleitos e pagos para isso; e que nada fazer não faz mal, porque quem se tramou foi sempre quem fez alguma coisa.
Como, sabe-se lá porquê, nesta nossa terrinha o indispensável Direito não é
ensinado nos níveis escolares mais básicos nem nos assim-assim, a maior parte
das gentes continua convencida de que o que dá cadeia é fazer o que não
se pode, não lhes passando pela cabeça que quem não faz o que pode por quem se
encontra em estado de necessidade é igualmente punível ou, na linguagem que
melhor entendem, pode ir dentro.
Um emigrante ucraniano encontrou a morte em circunstâncias nada humilhantes
para ele, mas que o são profundamente para cada um de nós.
Havia indícios quase insofismáveis de que, naquele dia no Aeroporto Humberto
Delgado, vários cidadãos alistados nas fileiras do Serviço de Estrangeiros e
Fronteiras (SEF) ou ao serviço de entidades externas por ele contratadas
tinham estado em situação de ter intervindo ou, pelo menos, de ter pedido
ajuda para aquilo que, pelos gritos do infeliz, era impossível não desconfiar
que estaria a acontecer.
Pois, apesar disso e vá lá saber-se porquê – talvez por estarem os seus
funcionários ainda imbuídos do tal temor do caciquismo que inquina quer
ditaduras, quer supostas democracias como a nossa -, optou o Ministério
Público por não acusar esses portugueses pelo menos por omissão de auxílio,
crime punível com pena de prisão até um ano nos termos do n.º 1 do art.200º do
Código Penal Português, já para não falar de eventuais cumplicidades ou
conluios, passíveis de bem mais pesada sanção.
Teve, assim, de ser o tribunal que, em primeira instância, julgou e condenou os agressores diretos e por ele condenados de deixar claro que "há um conjunto de pessoas cuja atuação não fica isenta de reparos *)" e determinado a extração das correspondentes certidões e subsequente remessa ao Ministério Público para que contra elas os cabíveis inquéritos-crime instaurasse.
Vem, então, agora a imprensa anunciar, com fanfarra e bandeira, que “o Ministério Público (MP) está a dar passos no sentido de vir a sentar no banco dos réus mais pessoas pela morte de Ihor Homenyuk no Aeroporto de Lisboa *)”, como se o Órgão Judiciário o houvesse feito espontaneamente, adequadamente, como lhe competia, sem esperar, do tribunal, o implícito e nada elogioso reparo.
Que razões estarão na base daquilo que poderá não ter passado de uma tentativa
de resolver rapidamente e com o menor prejuízo para um certo e já
desacreditado governante a questão?
4. A Cultura da Indiferença
Se o problema for encarado de um ponto de vista meramente casuístico, o
Tribunal fez, do ponto de vista técnico-jurídico, o que lhe competia fazer, ao
determinar a extração de certidões.
Poderemos, porém, acalentar alguma esperança de que episódios pontuais e
isolados como este contribuam, ainda que só um pouco, para uma mudança de
mentalidades cada vez mais indispensável num país desgovernado por
desgovernados autoproclamados governantes que, magistralmente aproveitando a
velhinha cultura social herdada da ditadura, continuam a permitir que coisas
com esta aconteçam, que a cultura da indiferença se sobreponha, quase sempre,
à cultura humanista pela qual que o Partido Socialista diz pugnar e que, se a
memória me não falha, noutros tempos, era apanágio de quantos nele escolhiam
militar?
Que chegou ao Partido, ao Governo, ao Parlamento a indiferença pelas pessoas,
por tudo quanto não seja ganhar a próxima eleição já todos sabemos. Disso
tivemos, uma vez mais, a confirmação quando, num curto espaço de tempo,
soubemos que as viaturas do Ministro da Administração Interna, do Ministro do
Ambiente e do Primeiro-Ministro andam para aí a abrir que nem loucas
nas autoestradas – só? – em situações que a lei está longe de
contemplar, descarregando alguns dos mui ilustres transportados, quando
apertados pelos jornalistas, a culpa para cima de motoristas que, agindo na
melhor tradição daqueles que os educaram, apenas aceleram para ao
patrão agradar, para manter o lugar: tal como alguns inspetores e
seguranças do SEF ficaram calados ao ouvir o grito de morte de Ihor Homenyuk
para aos superiores não desagradar, para o emprego não arriscar.
Quando a impunidade e a indiferença servem que nem uma luva a quem governa e
delas não parece ter capacidade ou vontade para se livrar, quanto à tal
indispensável e urgente mudança de mentalidades, o que podemos,
efetivamente, esperar?
“Mas como estas penas se ouvem tantas vezes e nunca se veem,
são tão mal cridas, como nós estamos experimentando”
* *
Tudo isto radica, naturalmente, na clamorosa falta de sentido de estado de que enferma boa parte da chamada classe política portuguesa.
quarta-feira, 21 de julho de 2021
Daniel Oliveira
segunda-feira, 19 de julho de 2021
Castigos Inúteis da COVID
“Complicado? Claro que não! É, até, bem simples!
Se não foi por desnorte, incompetência ou desinteresse,
por que será que pelo menos um destes tão simples
como evidentes retoques não foi introduzido no modelo em vigor,
antes tendo-se vindo a insistir, cegamente,
na aplicação continuada de tão descabidas e desnecessárias sanções
a concelhos que já tanto tiveram de sofrer quando para tal havia plena
justificação?”
3. Como Resolver Objetivamente a
Questão?
Há pessoas que falam pelos cotovelos e, algumas delas, não só falam pelos
cotovelos como o fazem em voz impossível de deixar de ouvir por alguém que
esteja menos de uma boa dúzia de metros afastado. Foi assim que anteontem
tomei conhecimento de uma história insólita, quando beberricava,
descontraidamente, numa esplanada um líquido qualquer.
O sujeito da voz tonitroante tinha decidido jantar em Elvas, no regresso de
uma deslocação profissional algures ao Alentejo.
Procurou na Internet um restaurante que correspondesse às suas preferências, e
também pela Internet ficou a sabe que Elvas iria entrar, no dia seguinte, na
situação de risco muito elevado de contágio pelo vírus Sars-Cov-2.
Assim, e como quem o atendeu no restaurante, era algo dado à conversa,
interessou-se o viajante palrador pelas razões que teriam levado aquele fim de
um Alentejo quase imune à doença a apresentar uma tão elevada quantidade de
novos doentes COVID, ao que o outro retorquiu que os infetados eram, na sua
maioria, jovens finalistas em festejos de final de ano letivo.
Ora, gostando o tuga de comemorar desabrida e descontroladamente como gosta e entendendo que, mesmo nestes tempos terríveis, o que importa é viver plenamente com tudo aquilo a que tem direito, razão não haveria para que o efeito destas folias em Elvas, Alentejo, diferisse, nas devidas proporções, do descalabro estatístico resultante das loucuras que se seguiram à mais do que esperada vitória do Sporting Clube de Portugal na Liga NO, loucuras essas cometidas perante a completa passividade do Ministério da Administração interna e da Câmara Municipal de Lisboa.
Dispôs-se o nosso tagarela a aprofundar a questão, ao que o seu interlocutor
no restaurante informou que tinha Elvas atingido, na quinzena que então
terminara, uma taxa de incidência superior a 480 novos infetados por cem mil
habitantes, razão pela qual os alarmados responsáveis por nos salvar a todos
da pandemia tinham decretado novas proibições que iriam, uma vez mais, dar
cabo do negócio dos restaurantes, agora operados por pessoas habilitadas, além
de servir refeições, também a, sem qualquer formação específica, vigiar a
forma como os clientes realizavam os indispensáveis autotestes que lhes
confeririam, se negativos, o direito a desfrutar da refeição.
Como Elvas tem uma população de cerca de 23.000 habitantes, os cerca de 130
casos reais absolutos correspondem a cerca de 520 por 100.000 habitantes,
donde a decisão de regredir no desconfinamento.
2. Ligeireza e Arbitrariedade Redundam em Castigos Inúteis e Injustos
Fazer qualquer coisa implica esforço, já se sabe; mas não poder fazer implica
também, pelas privações que daí advêm, da qual a privação de receitas do já
tão martirizado comércio, entre outros setores, não será, por certo, a mais
desprezível.
Para que alguém aceite confinar-se, privar-se, para que a lei seja por todos -
ou quase todos - aceite e cumprida, tem, também, de ser racional e clara, tem
de fazer sentido, para que os destinatários nela vejam algum propósito
credível e com uma probabilidade de eficácia que justifique um sacrifício já
enorme: não pode, ao invés, ficar nas mãos de amadores incapazes de planear
seja o que for com ponderação e seriedade; de pessoas impreparadas,
irresponsáveis, precipitadas, politicamente desesperadas, até.
Claro que o ideal teria sido, nas datas em que as comemorações eram
previsíveis, vigiar o cumprimento da lei que já proibia os ajuntamentos para
evitar novas doenças COVID. Tal não tendo acontecido, não pode pôr-se em causa
que, no interesse de todos, teria sido necessário reagir quando se ultrapassou
o patamar legalmente fixado, e isto independente de a tal contagem absoluta de
cento e vinte ser cientificamente válida para o efeito ou não, coisa que não
estou, de perto nem de longe, habilitado a discutir.
O que não há como entender são duas coisas muito simples.
A primeira, qual a utilidade de agir só ao fim de uma quinzena, isto é, quando
o vírus já fez criação mais do que suficiente para assegurar uma, para
ele, saudável e profícua expansão pelo sistema respiratório de umas boas
centenas ou milhares de exemplares da tão descuidada e irreverente população
tuga; e da outra, vítima ajuizada e inocente, também.
Evidentemente, se, por mera hipótese, no primeiro dia de uma quinzena, determinado concelho registar uma contagem de, por exemplo, cento e quarenta infetados e, no derradeiro, apenas noventa e sete, sendo a média móvel dos sete últimos dias consistentemente inferior ao longo da segunda semana, estamos perante uma situação obviamente resolvida ou em vias disso, jamais se justificando, em tal cenário, qualquer novo confinamento ou outra imposição.
A Elvas, valeu, apesar dos festejos que não soube evitar, ter uma população responsável que não esperou que as novas medidas restritivas fossem decretadas para, espontânea e rapidamente, pôr cobro à indesejada evolução. Mesmo assim, e graças a modelos obsoletos e, desde o início, descabidos, não teve como evitar o implacável e imerecido castigo, a exemplo, mais do que provavelmente, de muitos outros concelhos na mesma situação de serem punidos, não por a propagação do vírus estar a aumentar, mas por estar prestes a terminar!
Ora, se como na esplanada ouvi ao animado conversador, a quantidade de pessoas
infetadas pelo Sars-Cov-2 na segunda semana da quinzena era inferior em cerca
de metade à da primeira, que justificação poderá, em tal cenário, alguém
invocar para impor novas medidas de restrição? Para tamanha incompetência e
arbitrariedade, onde procurar explicação?
- x -
Traz-nos isto à segunda coisa que não há como entender: que, caso não se
queria recorrer à análise da evolução da média móvel, os indicadores
estatísticos utilizados nesta aparência de governação não estejam sujeitos a
uma, ainda que elementar, ponderação em função do dia da quinzena, mais
próximo do início ou do fim, em que cada leitura é registada.
Não seria lógico que os primeiros dias tivessem um peso reduzido na
decisão e os últimos um peso incomparavelmente maior, assim se tornando
fácil ajustar, de forma automática e objetiva, o número relevante para a
decisão final conforme estivesse a aumentar ou a diminuir a quantidade de
novas infeções?
3. Como Resolver Objetivamente a Questão?
A parte mais triste disto tudo é que, segundo li na imprensa, terá o Governo rejeitado este critério fundamental da aceleração ou desaceleração do contágio*), que teria, muito facilmente, evitado estas situações profundamente injustas e injustificadas que a tantos a própria sobrevivência dos negócios poderão custar, apenas aplicando o do nível de incidência, o dos concelhos circundantes e o do surto localizado.
A justificação terá sido a de que o critério da aceleração do contágio seria
pouco objetivo, ou difícil de explicar.
Numa abordagem apenas destinada a ilustrar quão fácil seria, até para um
amador como quem aqui escreve, dotar o critério rejeitado da necessária
objetividade e facilitar a correspondente explicação, aqui deixo aqui duas
sugestões muito simples de aplicar, e que os especialistas facilmente
afinarão.
- x -
A primeira, consiste na observação da evolução, ao longo da quinzena (duas
semanas) e, a partir do dia em que tal seja possível, da média móvel dos
últimos sete dias (sete, para incluir, obrigatoriamente, os desvios próprios
dos fins de semana): registando-se uma diminuição constante da média móvel ao
longo do período (Quadro 1 infra, Cenário A), não serão aplicadas
quaisquer novas restrições, independentemente da média geral absoluta e
estática apurada no termo da quinzena.
Quadro 1
Caso esta simulação correspondesse a dados reais de Elvas (com uma população
de cerca de 23.000), a média real de 115,64 das duas semanas corresponderia a
cerca de 503 novos infetados por cem mil habitantes [(115,64 : (23.000 :
100.000)].
No entanto, no Cenário A do Quadro 1, cada uma das médias móveis nos últimos
sete dias - de 124,43 > 121,86 > 119,57 e assim sucessivamente até
106,86 - teria sido, consistentemente, inferior à anterior,
pelo que nenhum agravamento da situação haveria de ser aplicado a este
concelho com mais de 480 novos infetados por cem mil habitantes.
- x -
Para o cálculo da média será, assim, utilizado esse valor ponderado, em lugar do absoluto, o que fará com que, no Cenário A do Quadro 2, os 140 casos do primeiro dia tenham um peso de 140 (140 x 1) e os 97 do último dia tenham um peso de 18,878 (97 x 194m92); ou seja: que conte muito mais a redução efetiva do número de casos no último dia do que o valor mais elevado no primeiro, como deve contar numa situação clara de progressivo controlo da infeção.
A soma destas quantidades ponderadas é, então, dividida pela soma das
ponderações, do que resulta, no Cenário A (incidência da doença a descer), uma
média diária ponderada de 103,46, substancialmente diferente da média
aritmética não ponderada de 115,64 resultante da aplicação do modelo que
suponho ser o atualmente utilizado – pelo menos, assim está descrito de forma
simplista.
Quadro 2
Esta retificação ao modelo determinaria que não mais fossem, indevida e
injustificadamente, aplicadas restrições sem qualquer utilidade prática em
concelhos onde, apesar de a média da quinzena ser superior ao limiar
mínimo estabelecido para que as medidas não sejam agravadas, a incidência
de novos contágios estaria, inequivocamente, a descer.
Novamente no caso de a simulação se referir a Elvas, a média ponderada dos 14
dias de 103,46 corresponderia, desta vez, a 449 casos por cem mil habitantes
[(103,46 : (23.000 : 100.000)], assim não havendo lugar a qualquer agravamento
da classificação de risco.
- x -
Complicado? Claro que não! É, até, bem simples!
Se não foi por desnorte, incompetência ou desinteresse, por que será que pelo
menos um destes tão simples como evidentes retoques não foi introduzido no
modelo em vigor, antes tendo-se vindo a insistir, cegamente, na aplicação
continuada de tão descabidas e desnecessárias sanções a concelhos que
já tanto tiveram de sofrer quando para tal havia plena justificação?
Para cúmulo, sendo a explicação a dificuldade de explicação do critério, num governo que dá emprego a não poucos assessores de comunicação!
Mistérios de uma agora gasta e há muito desnorteada governação...
Sic transit gloria mundi...
sábado, 17 de julho de 2021
Seleção das Quinas: Ordem para Recuar!
o futebol ensina pouco mais do que o supérfluo,o ostentatório, o inútil, o artificial,
sem esquecer todas aquelas coisas feias que acabam por colocar
algumas das suas mais destacadas personalidadesdebaixo da alçada da justiça criminal"
2. Desculpas para Todos os Gostos
3. Preguiça, Cansaço ou Ordem para Abrandar?
4. Lágrimas sem Suor
Não sendo dotado, senti-me, justificadamente, nos píncaros quando depois de
aturados esforços lá consegui absorver toda a matéria relacionada com a
difícil problemática do fora de jogo; vibrei com a novidade do VAR –
vídeo-árbitro, para quem disto ainda menos entende do que eu -; e o
zénite da minha realização como futebolista de poltrona ocorreu quando, há
dias, ouvi o termo trivela e, de uma só vez, consegui entender o que
significava, para o efeito recorrendo a um desses filmezinhos que no
YouTube ilustram tudo e mais alguma coisa, embora nem sempre com a
fiabilidade que seria desejável.
Há muito se desconfiava, e os acontecimentos recentes cada vez melhor ilustram, que o assim chamado futebol profissional de profissional pouco tem além da utilidade de a si atrair a exaltação dos ânimos, melhor ou pior a contendo no perímetro dos estádios e assim permitindo desviá-la de situações em que poderia acabar por se tornar socialmente mais prejudicial ainda, se possível for.
Quanto ao mais, o que a imprensa tem vindo a divulgar da conduta supostamente
cívica de uma generosa quantidade dos mais relevantes
soit disant empresários e dirigentes do futebol chaamado profissional
apenas lança, progressiva e, ao que parece, justificadamente, o futebol num
pantanal de descrédito relativamente a qualquer plano eticamente sustentável
em que o queiramos posicionar.
Num tal cenário, não me sinto elevado, orgulhoso - o orgulho era pecado, mas
agora é qualidade, ao que parece -, enaltecido por qualquer feito glorioso da
Seleção Outrora Campeã em Título, da Seleção das Quinas, da
Seleção de Todos Nós, já que, além de um importante veículo de
marketing para as trocas comerciais internacionais, se limita ela a
agregar o que de supostamente melhor existe num meio que, manifestamente, em
nada contribui para elevar os espíritos, a qualidade humana ou o conhecimento
relevante e válido, científico ou social, que deveria estar na base de
qualquer atividade e, até, da própria essência e razão de ser da espécie
humana.
Quando assisto a jogos como o Croácia-Espanha ou o Holanda-República Checa nos
oitavos de final do Euro 2020 (e um…), vem-me à memória o vivo contraste com a
primeira parte do nosso jogo nos mesmos oitavos de final, no qual o
lusitano onze, às arrecuas, dobrava o corpo a meio, em pose aflita,
estacionando o autocarro em frente à baliza sempre que, também
adormecida, a Bélgica tinha a bola e dava uns passitos em frente - com
ar não muito ameaçador.
Bem vistas as coisas, se a garbosa Seleção das Quinas não tivesse caído nesse jogo, teria caído noutro qualquer, tamanha era a falta de vontade no campo, de coragem, de ousadia, de energia; de alegria, sobretudo, que nestas coisas tanta falta faz para que aquela hora ou duas não redunde num monumental frete para atores, espetadores e outros que tais.
Felizmente, caíram os nossos guerreiros com a Bélgica, o lhes permitirá, pelo resto das suas mui desportivas e bem remuneradas vidas, dizer aos amigos, filhos e netos que perderam contra o número um do ranking da FIFA, o que alguma coisa do desaire permitirá disfarçar; e poderão, até, dizer que também a França, campeã do Mundo em título, caiu nos oitavos de final, que a poderosa Alemanha também não resistiu e que do terrível Grupo F ninguém viveu para contar, além da infinidade de desculpas que em ocasiões destas é hábito ouvi fazer ecoar.
O pior – de que rapidamente se irão esquecer - é que a França caiu, mas caiu
com estrondo, frente a uma incansável e valorosa Suíça, precisamente o tal
adversário supostamente mais fraco que o sábio Selecionador Nacional
dizia nos oitavos de final preferir enfrentar...
Não haverá, mesmo, alternativa viável? É que este homem, que tudo leva a crer
ser bom e sério, parece ter já aprendido, no meio do futebol, o velho truque
dos políticos que nele se misturam cada vez mais: nunca arriscar e, quando a
coisa dá para o torto, assumir, teoricamente, as responsabilidades, na
prática, as consequências rejeitar.
Talvez com o inconfessável propósito de esbracejar procurando manter-se à tona
de uma notoriedade de méritos duvidosos, antes e durante o desafio
mostravam-se às câmaras da televisão alguns outrora craques, hoje
recauchutados, fora de prazo e que, talvez para parecerem ainda jovens,
seguem os tiques de penteado daqueles que ainda mexem, assim se
demonstrando, também aqui, que, apesar das suas academias, dos campus,
das cidades do futebol, das catedrais do futebol, o futebol ensina pouco mais
do que o supérfluo, o ostentatório, o inútil, o artificial, sem esquecer todas
aquelas coisas feias que acabam por colocar algumas das suas mais destacadas
personalidades debaixo da alçada da justiça criminal.
Na
final, ganha-se ou perde-se; no plano desportivo, evidentemente, já que o
abundoso pecúlio percebido por quantos vão ficando pelo caminho também não
será, propriamente, coisa de se desprezar…
Mas aquele jogo dos oitavos de final era capital, era, como qualquer outra
eliminatória, uma final, já que, sem o ganhar, a
Seleção Outrora Campeã em Título levaria para casa apenas uns trocos no
bolso e o amargo de boca de nem ter chegado à final em que um tudo ganha e, do
outro, rapidamente ninguém se irá lembrar, o que, depois de tanta luta,
deita qualquer um abaixo, dentro e fora do campo, nos tais desportos que, como
os de bola, lá vão servindo para fingir que, pelo menos naquilo, somos tão
bons ou melhores do que aqueles que dizem saber analisar e comentar.
Naquele nosso jogo dos oitavos, não havia chama, vontade, equipa; apenas uma exibição muito cerebral e calculista por parte de uma dúzia de milionários doutores da bola, cheios de táticas na cabeça, mas, talvez com uma ou outra exceção, sem garra, sem capacidade de dar vida à competição.
Ou teria o Técnico dos Empates dado contrária instrução?
Portugal passava bolas entre peões que faziam lembrar bonecos inanimados de um
jogo de matraquilhos; outras seleções corriam, corriam que não se fartavam -
coisa que, no futebol como no resto, os Portugueses de hoje parecem já não ter
grande capacidade ou vontade de fazer – e, quando caiam, era com a satisfação,
não apenas do dever cumprido, mas também de ter procurado ultrapassar em muito
esse dever.
Dir-se-á, como sempre, que o que importa não é o espetáculo, mas sim ganhar. Até pode ser verdade, mas desde que se ganhe, ou, nem pelo espetáculo, da vitória moral a memória irá perdurar.
Lágrimas sem suor
Estariam os excelentíssimos e mimados futebolistas sentidos com o facto de,
por uma natural demonstração de boçalidade por parte de quem deveria saber
estar e, nesse campo, não é, seguramente, o campeão, terem os mais altos
magistrados da Nação acabado por não assistir àquele espetáculo de tamanha
falta de desportiva abnegação? Duvido.
Independentemente de quem possa estar a assistir, correr do princípio ao fim exige forma física, persistência, trabalho árduo, acreditar para além do possível, coisas com que apenas um ou outro dos futebolistas da Seleção Outrora Campeã em Título parece comprometer-se e, assim sendo, nos faz desconfiar que, mais uma vez, a ordem do Selecionador Nacional não terá sido para atacar, mas para aguentar.
A Croácia caiu nos oitavos frente à Espanha, mas caiu de pé, “como as árvores" e após prolongamento. A República Checa desfez a muito forte Holanda. Até a fraquinha Ucrânia eliminou a Suécia e apenas caiu frente à finalista Inglaterra, que tão caro vendeu a derrota, também.
Portugal, caiu sentado a fazer contas de somar, com uma equipa a ouvir, desolada, apelos e preces do tristonho e lamuriento Selecionador Nacional.
Esperar-se-á, assim sendo, que fiquemos comovidos com o facto de alguns destes
milionários da bola terem ido para o balneário chorar?
Feitas as contas - ou no fim do dia, como agora é chic dizer... -, ainda bem que caímos cedo: em plena pandemia - do que muita gente parece que já se esqueceu -, com uma parte expressiva população composta por inconscientes e básicos alarves capazes de tudo sacrificar a uma comemoração parola, e na vivência de uma das mais tristes e amadoras desgovernações de que sou capaz de me lembrar, ainda bem que não houve oportunidade para grandes festividades, ou o grande vencedor seria, uma vez mais, o famigerado índice de propagação.
Mas, por que me ralo com isto eu, que nem gosto de futebol?
- x - x -
A Câmara Municipal de Lisboa era, nos termos da lei,
obrigada a
impedir as comemorações do Sporting
quarta-feira, 14 de julho de 2021
Konrad Adenauer
mas nem todos temos o mesmo horizonte"
"Wir leben alle unter dem gleichen Himmel,
aber wir haben nicht alle den gleichen Horizont"
Afinal, Deus existe mesmo, ou não passa de pura invenção de um ser humano que desespera com a efemeridade da sua existência? NÃO PERCA uma reflexão lógica, fundamentada, sobre o tema porventura mais elementar e decisivo da vida humana. |
A existir um deus, será ele o representado
no teto da Capela Sistina? Jeová? Alá? Manitou? Ou nenhum destes? |